terça-feira, 30 de dezembro de 2008

De quem é a Palestina?

O fim da II Guerra Mundial levou ao desaparecimento das influências coloniais francesa e britânica no mundo árabe, enquanto o rápido declínio destes antigos impérios transformava a política do Oriente Médio. Os territórios que lhes haviam sido concedidos pela Liga das Nações após a I Guerra Mundial tornaram-se independentes. Entre eles a Síria, a Jordânia, o Líbano e o Egito. O mandato inglês sobre a Palestina terminou e um território judeu foi criado. O Estado de Israel surgia em 1948.
Em 1947, ao fim do mandato britânico, já era evidente a violência entre árabes e judeus. Para conciliar esta situação, a ONU propôs e foi aceito um Plano de Partilha da Palestina, para a formação de dois estados: um judeu e outro árabe. Plano este que até hoje não foi cumprido.
Entretanto, a criação do Estado de Israel, em paralelo à consolidação de Nasser no comando do Egito, foram fatores marcantes para a modernização da região. Até porque, em seu início os israelenses estavam imbuídos de um ideal igualitário e socializante, o que lhes trouxe a simpatia de parte do mundo dito progressista. A formação de Kibutz (1) em território do novo país, que não aceitava dinheiro circulante dentro de sua área e outras medidas avançadas e inovadoras era um novo dado comportamental para a humanidade.
Mas, o Sionismo, em seu nascedouro era um movimento político que defendia o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado Judaico. Ele se desenvolveu a partir de finais do século XIX, em especial entre judeus de várias regiões da Europa, sobre a pressão de pogroms (2) e de um forte anti-semitismo. Particularmente após o famoso “caso Dreyfus” (3).
“O estado judaico” (1895) de Theodor Herzl, fundador do movimento, pregava que o problema do anti-semitismo só seria resolvido quando os judeus dispersos pelo mundo pudessem se reunir e se estabalecer num estado nacional independente. A dispersão dos judeus pelo mundo (a chamada diáspora), foi o principal argumento para o estabelecimento de uma pátria judaica na Palestina. Surgia o Nacionalismo Judaico.
Embora não se especificasse de início o local exato, a tese do retorno ao lugar de origem ganhou muitos adeptos por ter forte apelo religioso baseado na redenção do povo de Israel na “terra prometida. No entanto, quando o movimento sionista moderno se consolidou, a Palestina já era cultural e etnicamente uma nação árabe, enraizada por uma consistente e longa migração iniciada por volta do ano 350 de nossa era.
Mas, afinal, de quem é a Palestina? Poderia ser de judeus e árabes, se os primeiros não tivessem se apossado de forma brutal e possessiva do território. Desde o início da ocupação sionista, iniciou-se a demonstração de uma dura realidade e conflito. Tanto que, em novembro de 1975, com a violência a estrapolar, a Assembléia Geral da ONU aprovou a resolução de nº 3379 que contém uma clara censura : “O sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial”.

(1) A origem da palavra Kibutz vem de Kvutzá, que, traduzindo do hebraico, significa grupo, comunidade. Sua origem provém de jovens imigrantes judeus da Europa Oriental inspirados pelo socialismo.
(2) Pogrom consiste em um ataque violento a grupos raciais específicos, com a destruição do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). O termo tem sido usado para denominar atos de violência em massa, contra minorias étnicas.
(3) Famoso caso de erro judicial na história da França, com fortes características de anti-semitismo e fraude jurídica. Envolveu Alfred Dreyfus (1859-1935), capitão do exército francês, numa acusação de espionagem, por terem sido encontrados documentos com a sua caligrafia (falsificada). Foi condenado à prisão perpétua, mas em 1898, encontraram-se evidências de sua inocência e provada a culpa de um major francês. O caso envolveu Emile Zola, que publicou o famoso “Eu acuso” em defesa do oficial e mobilizou toda a opinião pública francesa.

13 comentários:

Stela Borges de Almeida disse...

Parabéns pela postagem com informações sobre a crise histórica do Oriente Médio. Dada a complexidade do tema, recorro sempre que preciso aos trabalhos do Edward Said. Considero um mapa de difícil precisão de dados, vale, porém, sua intenção de afirmar-se contra discriminações, sempre e onde houver.
Um grande abraço Jonga.

Anônimo disse...

Esta sua análise da problem´tica da palestina, do sionismo e do racismo neste post é muito esclarecedora.
Acho que hoje fiquei conhecendo de tudo isso um pouco mais. Porque não é tão simples assim Você concorda?

Jonga Olivieri disse...

A discriminação, no caso da Palestina (por parte dos sionistas) é um fator histórico que remonta à religião e ao fato de o povo hebraico se achar o "escolhido por deus".
Isto, a princípio, quer dizer que os outros não são.
Um problema insolúvel.

Jonga Olivieri disse...

Concordo. A situação ali é muito complexa e envolve interesses do grande capital internacional.
Daí o apoio de Bush aos sionistas. daí o misterioso silêncio de Barack Obama... vamos ver depois.

Ieda Schimidt disse...

Brilhante a tua postagem.
Um 2009 também muito brilhante para ti e todos os teus!
Ieda Maria

Jonga Olivieri disse...

Brilhantes desejos os seus, gaúcha, que retribuo com carinho!

Eliana BR disse...

Essa questao da posse da Palestina é quentissima por aqui. a gente se arrisca a perder amigos, so de entrar numa conversa dessas. Eu também, como Stela, aprendo muito co E. Said. Os mapas que ele apresenta sao eloquentes.
Quanto a seu post, sempre pensei que Israel tivesse sido pensado desde sua criaçao como bi-nacional, quer dizer, um so Estado contendo duas Naçoes ( e nao dois Estados num mesmo territorio).E outro dia li, com referencia a essa questao, que os judeus nao aceitam a bi-ncionalidade - pelo menos os que participavam da reportagem - baseados no fato de que, como os arabes sao mas prolificos,os judeus estatisticamente serao engolidos dentro de algumas geraçoes.
Por outro lado, li um dia desses um artigo de um pesquisador de uma univ no sul da França sobre a construçao da identidade judaica através do estudo dos livros da Biblia. Muito interessante. quisera ter tempo pra me aprofundar no tema. E você ja viu o filme O mundo segundo Agfa, do filho cineasta de Moshe Dayan?
Bises,
Eliana

Jonga Olivieri disse...

Desde o início a proposta é de dois estados.
Esses ataques objetivam retardar negociações que estavam em curso... ou melar de vez.
Hoje ainda estarei postando um estudo sobre as relações entre sionistas e nazistas. Vale a pena ler...
Mas, falar em nazismo, essa teoria de que os palestinos são numericamente superiores não leva em conta o genocídio praticado contra eles. É o tal negócio do Mil olhos por um olho...
Quantos judeus morreram agora? Talvez quatro. Mas forma em torno de 400 palestinos. Nessa proporção!

Jonga Olivieri disse...

Aliás, não vi o filme do filho de Moshe Dayan, creio que Assi Dayan?
E talvez a tradução (se passou aqui) foi outra.
Pesquisei na web e vi que participou com ator/roteirista de outros filmes, mas só dirigiu um tal de "Os 92 minutos do sr. Baum" (1997).

Anônimo disse...

Questiono o comportamento de Adriano na Judéia. Mas, foi criada a Síria-Palestina. A quem pertence, então? Ao povo originário e expulso, ou àqueles que lá estão a séculos ? Eis a questão.

Jonga Olivieri disse...

Caro anônimo (anônimo mesmo), pois nem o nome coloca... creio que a história muda determinados parâmetros de propriedade "absoluta" sobre terras.
O que foi decidido no pós II Grande Guerra foi a criação de dois Estados autônomos e independentes um do outro. O que foi aplicado não tem nada a ver com isso...

Marcio disse...

O que seria de nós se não fosse o legado escrito deixado pelos antigos, o que seria da historia se os fatos não fossem revelados. Primeira aquela região não nunca foi o que chamam hoje de "palestina", e os tidos palestino não tem nada a ver com os árabes sunitas que receberam esse nome. Todo aquele território incluindo a Cisjordânia pertencia por ao Povo Hebreu. A historia conta isso, e nela não há menção de "povo palestino" isso tudo é balela historia forjada para polemizar. Os árabes sunitas que viviam na terra que hoje chamam de palestina, outra balela,não aceitou o acordo de dois estados enquanto os judeus sim, na verdade os árabes queriam tudo para eles; entretanto, o povo judeu tem historia, tem um legado e o que vocês que defendem dizem a respeito do "povo palestino"? Qual é a historia deles, suas raízes são de onde? A terra é do Povo Judeu sim, e será no tempo determinado em sua totalidade, do deserto do sinai ao Líbano. Queira ou não queira já foi determinado por Deus há milhares de seculos atrás. Duro é recalcitrar contra os aguilhões.

Marcio disse...

Espero que meu comentário não sofra intervenção preconceituosa pelo simples fato de eu expor minha opinião pessoal sobre o assunto. Grato