sábado, 28 de março de 2009

Verdades e mentiras

Religião não se discute. Concordo quanto ao plano filosófico da questão. Mas existem fatos curiosos sobre a Igreja Universal (1) Apostólica Romana, enquanto instituição que transcendem a discussão metafísica. Diziam eles, e até hoje afirmam que o seu primeiro papa foi Pedro. Aquele mesmo, Simão Pedro, o pescador. O que é uma mentira deslavada.
A Universal Romana também relata que o próprio Cristo fundou aquela igreja. O que também é outra declaração sem um fundamento real. São mentiras repetidas milhões de vezes ao longo de séculos, no intuito de se transformarem em verdades. Ao se procurar pesquisar o tema na internet, se esbarra em uma lista “oficial” de papas que começa com Pedro e continua com uma série deles até o surgimento de quem teria sido o primeiro papa, que, segundo os historiadores foi Leão I, no ano de 440. É importante lembrar que até então, não existiam papas... Esta é uma verdade. O papado, que no ano de 609 passa a ser o poder central e absoluto, foi a razão da grande cisão no seio do movimento religioso católico, provocado por divergências quanto ao poder quase “divino” do cargo, e que originou a criação de outro ramo da igreja universal: a Ortodoxa. E esta é outra verdade.
Mas, comecemos pelas origens daqueles que seguiram as pregações de Cristo. Houve uma chamada Igreja Primitiva. Esta não é citada pelas fontes ligadas ao catolicismo. A Igreja Católica começa somente alguns séculos depois, o que torna impossível que Pedro tenha sido o seu primeiro representante. E, a partir de Constantino (272/337), o Império Romano oficializa o catolicismo, não deixando de incorporar comportamentos pagãos (romanos) ao seu ritual, que se refletiram na veneração a imagens, como Maria ou os santos. Mas o certo é que a partir deste momento a igreja assume o poder político. Ao conquistar Roma, ela, literalmente chega ao centro do pensamento no mundo ocidental.
Posteriormente, um de seus grandes filósofos, Agostinho, teorizou uma série de cânones que a sustentam, como o pecado original, por exemplo. Depois vieram os sete pecados capitais. É deveras importante lembrar que nenhum deles está nas Escrituras... No entanto, a própria Bíblia sofre outro ataque, pois a Igreja Romana acrescenta-lhe os livros Deuterocanônicos, que só constam na sua versão. Enquanto seus bispos discutiam o sexo dos anjos, os católicos chegaram a condenar a leitura do livro, à medida que avançavam na adaptação deste às suas necessidades filosóficas, ou a verificar que o amplo conhecimento dele atrapalharia as suas ambições políticas. O Concílio de Toulouse em 1229 oficializou a medida.
Em 1095 surgem as indulgências. Por intermédio destas ter-se-ia que pagar para ser perdoado e entrar no reino dos céus. Um verdadeiro “comércio de almas”, que originou alguns séculos depois, outra grande ruptura no cristianismo: a Reforma Luterana.
Todavia, de todas as grandes barbaridades cometidas pelos universais romanos, a maior delas foi a Inquisição, criada em 1186. Uma perseguição política que varreu todo e qualquer tipo de oposição aos seus princípios, este acontecimento marcou a história durante alguns séculos, exterminou milhões de indivíduos, e pode ser considerado o maior assassinato em massa conhecido na história da humanidade. Outra verdade incontestável numa história repleta de mentiras.

(1) A palavra “católica” vem do grego e significa universal.

domingo, 22 de março de 2009

Breves

O pior não é o BBB, mas a massificação da “tripla Bosta”. Você entra na internet e lá estão o eliminado da noite anterior e outras coisinhas mais. Não se assiste, mas não se escapa.

Os chineses acharam um fóssil de dinossauro com plumas. Dinossauro ou destaque de escola de samba?

A popularidade do sr. da Silva caiu pela primeira vez no segundo mandato. A despencada de 5%, deve-se à crise e suas consequências...

Herr Bento XVI foi à África. É o samba do papado doido em grande estilo.

Barack Obama declarou em programa de TV que sua perícia no boliche poderia colocá-lo nas Paraolimpíadas. Declaração que criou um problema sério para ele mesmo.

E o senado brasileiro que tinha mais de cem diretores? Devia ter até diretor para limpeza de privadas. Aliás, justiça seja feita: este tinha muito trabalho mesmo!

O que agravou a rejeição à casa parlamentar por parte da população, que recentemente já se havia deparado com notícias como as horas extras durante o recesso e outros castelos, não propriamente de areia.

Enquanto isso, os bancos brasileiros vão muito bem, obrigado. Banco do Brasil, Itaú e Bradesco só foram superados em toda a América por dois gigantes estadunidenses.

Ainda bem que a nova ortografia decorrente do acordo entre os paises de língua portuguesa vai ter um prazo em que não serão consideradas as modificações. Fora o fim do trema e alguns hífens, ainda assimilei muito pouco.

Desculpem os leitores pelos possíveis erros, mas estou dentro do prazo legal para assimilar as mudanças da língua.

domingo, 15 de março de 2009

Questão de tempo

Tenho andado meio sumido. Peço aos meus leitores mais habituais que me desculpem pela quebra no andamento deste blogue. Razões de força maior me impossibilitam de dar continuidade ao pique que vinha mantendo anteriormente.
É, porém, motivo de explicações que devo a todos vocês que me leva a redigir estas breves linhas, esperando para que tudo volte ao habitual o mais breve possível.

domingo, 8 de março de 2009

O complexo industrial-alienante

Falando de crise cultural, o cinema passa por um momento delicado. A gramática cinematográfica encontra-se em xeque. O desenvolvimento, que teve a partir de Grifith, Eisenstein, Orson Welles, Resnais, para citar apenas alguns dos que o revolucionaram, acrescentando sempre toques de genialidade que o enriqueceram e conseguiram transformá-lo de simples caixinhas de diversão (nickel-odeons e outras em parques de diversões) ainda na alvorada do século XX, em uma reconhecida manifestação artística.
O cinema comercial de hoje, com a sua linguagem de videoclip (1) – o cineclip – a que assistimos não pode ser considerada uma evolução, mas sim um nó górdio na sua expressão. Por que? Simplesmente o que assistimos é um emaranhado de cenas confusas e pouco assimilávais que adulteram elementos básicos da cinematografia, que, numa narrativa torna-se fundamental ao entendimento.
Crescí ouvindo falar sobre o “complexo industrial-militar”, termo que, por incrível que pareça, foi batizado por Eisenwoher (general ianque, um dos responsáveis pela invasão da Normandia em junho de 1944), durante a sua presidência nos Estados Unidos, em dois mandatos, de 1953 a 1961. Ele se reportava à máquina criada para fabricar armas em uma escala cada vez maior, estimulando guerras localizadas e focos de luta armada no 3º mundo, escoradas pela Guerra Fria recém estabelecida. Naturalmente o presidente não se referiu à crise que então se estabelecia sobre o capital internacional, com os riscos de um novo crack, possibilitando à burguesia industrial, não somente estadunidense, como nas demais potências ocidentais uma válvula de escape para a produção de produtos manufaturados, com endereço e faturamento certos.
Parodiando o general-presidente, podemos dizer que o cinema vive hoje sob o domínio do “complexo industrial-alienante”, que vem a ser a oficialização da mediocridade barulhenta e inconseqüente das produções que inundam as telas. É muito importante salientar que a alienação faz parte do jogo estabelecido pelas classes dominantes para “burrificar” as massas. Não se limita, inclusive e apenas ao cinema, mas se estende por toda a área cultural, reforçando a tese de Marcuse sobre o homem unidimensional (2). A cultura no seu significado mais amplo e questionador, limita-se hoje a "guetos" culturais (que excluem as massas).
No tocante ao cinema, que é o tema abordado, após o desaparecimento dos grandes realizadores que enriqueceram o século vinte restaram muito poucos daqueles que viveram o boom das décadas de 1960 e 70. Vamos verificar, no entanto, que tem muita gente boa, que o “complexo industrial-alienante” tudo faz para deixar em segundo plano, bem escondidinhos debaixo do tapete. Podemos lembrar de Francis Ford Coppola, nome digno de se incorporar a esta lista. Krzysztof Kieslowski, polonês que filmou em França a trilogia Bleu, Blanc e Rouge, pode-se considerar um valor mais recente com características intrínsecas ao cinema. Nas mostras de cinema, temos visto surgirem excelentes diretores do nosso continente americano, além de provenientes de outros. Mas, findas as mostras, quem está exibindo os seus filmes? A referida indústria criminosa (e comercialóide), prefere deixar este pessoal de lado, isolando-os.
Quem já ouviu falar do indiano Shonali Bose? Ou do estadunidense Mauro Borrelli, do argentino Lisandro Alonso, do iraniano Babak Payami, do francês Benoit Graffin, da alemã Maria Speth, do russo Alexander Sokurov, ou do japonês Masahiro Kobayashi (3)? Pois bem, todos estiveram no IV FIC - Festival Internacional de Cinema de Brasília. Seria demais aqui enumerar o número total de outros jovens diretores que se apresentaram em outras mostras. É também impossível – a não ser que não façamos outra coisa na vida --, vê-los a todos em tão pouco espaço de tempo, e depois nunca mais ter a oportunidade de assistir e analisar suas obras no circuito comercial.
Mas para quê? Ao “complexo industrial-alienante” interessa a exibição de “Duro de matar” (1, 2, 3 ou 4.0), e outras obras do mesmo naipe, que evitam o raciocínio e/ou questionamento dos valores sócio-psicológicos da existência humana, coisa muito importante no processo de alienação. E depois ainda dizem que o velho Marx (o Karl) está superado. Freud explica. Leiam eles e me respondam...

(1) Esta expressão eu li pela primeira vez em narrativa de André Setaro (blogue nos links ao lado), e a acho muito inteligente e explicativa.
(2) Na tese de Marcuse, a moderna sociedade industrial impõe uma racionalidade tecnológica de controle da consciência. O homem que se encontra inserido nela não é livre, tornando-se vítima da manipulação do seu pensamento através da mídia.
(3) Masahiro, cujo sobrenome nos remete a um grande diretor daquele país na década de 1960, que realizou a trilogia “Guerra e Humanidade”, um primor de realização em três episódios.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Crises e crises

Estamos vivendo tempos de crise. Bom, há a crise sistêmica na economia; inegável, explícita, aí na cara da gente. Demissões em massa, empresas fechando as portas. A economia estadunidense a estatizar (quem diria?) empresas bancárias, de seguros e outras.
Mas há crises que já se desenvolvem nos últimos anos – ou até décadas – e que estão se agravando a cada dia que passa. E a mais evidente delas é a crise cultural. Esta está nos solapando a vida pouco a pouco em progressão geométrica.
Quais são os novos valores na música? No cinema, quem está substituindo os grandes diretores que vão morrendo com o passar dos anos? E quanto ao teatro? Gente... olhando o cenário em torno é desesperador. Simplesmente a cultura estacionou na contramão do desenvolvimento. E estamos dando marcha à ré em alta velocidade.
A verdade é que sistemas, quando entram em colapso, arrastam atrás de si toda a superestrutura que os envolvem. Desde os anos 1970, o capitalismo se debate com uma crise que pipoca de diversas formas e maneiras aqui e ali, envolvendo um ou outro setor da economia. Essas pequenas crises desembocaram no seu ápice, que é a atual recessão mundial.
Todavia, antes desta falência, o plano cultural sofreu por antecipação o seu próprio debacle. Dos anos 1980 para cá, pouco surgiu que se justificasse como expressivo no mundo das artes. O fato é que uma renovação de valores tornou-se difícil. E para se comprovar isto, basta ligar o rádio, a TV ou ir a uma sala de exposições ou espetáculos.
Hoje, assistimos um festival de mediocridade que assola o planeta. De cabo a rabo... são as crises dentro da crise.

domingo, 1 de março de 2009

Leituras

Jornais, hoje, são mais lidos nos fins de semana. Curiosamente a população está perdendo o hábito deste tipo de leitura que marcou particularmente os séculos XIX e XX com muita intensidade. Detalhe: os leitores mais freqüentes estão acima dos 40 anos, pelo menos. A turma mais nova se informa mesmo via internet.
Mas a web se mostrou um espaço informativo instantâneo, imediato. Aconteceu, virou manchete, só para relembrar a chamada da antiga revista com o mesmo nome. Revista cujo formato viu-se superar ainda durante a sua existência, pelo de outras, como a Veja, que, inspirada na Time, deixou no passado o estilo Paris Match, da qual se apropriara.
Hoje, quando o fato está a suceder e já encontramos notícias nos informativos eletrônicos. Impressionante, mas a própria TV ficou para trás. Sua formatação obriga a interromper um programa para dar uma notícia extraordinária, ou então esperar o próximo telejornal. Danou-se! Neste meio tempo, os canais internáuticos já divulgaram e repetiram aquela notícia aos quatro cantos.
Voltando ao “velho” jornal impresso, quem o lê nos fins de semana também não é gente tão nova assim, estando acima dos trinta. Por isto, os próprios jornais, mantém suas páginas digitais bem atualizadas. Uma forma de estar se adaptando ao futuro sem perder a sua origem.
Quanto à televisão, por incrível que pareça também despenca a cada dia. Os próprios índices de audiência, que ficavam em patamares altos, hoje são bem menores, por uma razão muito simples: há menos aparelhos ligados. Principalmente depois que a internet tornou-se operacional nos celulares a coisa ficou mais braba ainda.