domingo, 28 de setembro de 2014

Pensatas de domingo e as verdades e mentiras sobre o Estado Islâmico



Documentos vazados recentemente do Wikileaks revelam que os EUA armaram grupos radicais islâmicos na Síria. Bashar al-Assad tentou se aproximar de Washington em 2010 para conter a Al-Qaeda e o ISIS, mas Obama continuou financiando seus opositores.
E de fato, o Estado Islâmico brotou do financiamento ocidental a alguns grupos sunitas, que se apresentaram para combater o gerenciamento de Bashar Al-Assad na Síria, no contexto da contenda interimperialista entre EUA e Rússia, que atirou aquele país em uma sangrenta guerra civil. Grande parte do armamento inicialmente utilizado pelo ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante, hoje somente Estado Islâmico) veio de grupos armados pelos EUA e depois cooptados por Abu Bakr al-Baghdadi, o auto-proclamado Califa Ibrahim, líder do EI.
A fundação do Estado Islâmico está vinculado à agenda dos EUA para retalhar o Iraque e a Síria em mais dois territórios separados: uma república islâmica árabe e a República do Curdistão. Esse projeto conta com apoio dos israelenses e das ditaduras e monarquias absolutas do Kuwait, Catar, Arábia Saudita e Emirados.
Assim, ascensão do EI é o resultado direto da intervenção imperialista na região. Mais uma vez, são os estadunidenses e os sionistas israelenses que desencadearam o “extremismo” no Oriente Médio. Depois da invasão do país em 2003, e da queda do sunita Saddam Hussein, trataram de estimular a violência sectária entre sunitas e xiitas para conseguirem controlar a situação. Em 2007, diante de uma iminente derrota militar, que levaria a uma retirada humilhante, os EUA entraram em acordo com as milícias xiitas e com o Irã (de maioria xiita). Os guerrilheiros xiitas foram incorporados ao Estado iraquiano, e, com ajuda do Irã, os EUA conseguiram manter alguma estabilidade no território ocupado. Por isso que, agora, enquanto os EUA já bombardeiam o Estado Islâmico, a coalizão que já existe (na prática) é com o Irã. Justamente o Irã, o maior “inimigo” do imperialismo na região; que viu-se obrigado a se aliar ao Irã porque este acabou se tornando o país mais estável da região.
Mas, no centro da luta no Oriente Médio se encontra o controle do petróleo. As monarquias do Conselho do Golfo Pérsico, lideradas pela Arábia Saudita, vendem o petróleo em dólares devido a acordos que datam da década de 1970. Sobre essa base se sustenta a ditadura do dólar em escala mundial, que por sua vez sustenta os lucros dos monopólios estadunidenses. O governo dos Estados Unidos emite enormes volumes de moeda sem lastro, impactando em cheio as pressões inflacionárias no mercado mundial.
Por outro lado os discursos “humanitários” e “democráticos” de Obama são intoleravelmente hipócritas, já que proveem do líder de uma potência imperialista que há cerca de um século saqueia e promove genocídios em todo o mundo árabe. Barack Obama, cuja “falta de ação” estava sendo duramente criticada pelos falcões republicanos e até ex-colaboradores democratas (como a anterior secretária de Estado Hillary Clinton), anunciou, às vésperas do 13º aniversário dos ataques de 11 de setembro, uma ofensiva “para meses, talvez anos” contra o EI.
O mais gritante, no entanto, é a parcialidade da grande mídia burguesa quanto às notícias dessas ofensivas imperialistas na região e mesmo do que é o EI em sua essência. Tal e qual à época do movimento xiita no Irã, não se sabe mais o que é real ou apenas fruto de uma massiva “propaganda” política (de guerra). Lembremo-nos que, para nós que pouco conhecemos o islamismo, foi construida uma (muitíssimo) falsa ideia do que é ser xiita!
Imprensa que, aliás, tem sido de tamanha parcialidade pró-EUA que não deixa nenhuma margem a debates e/ou questionamentos. E isso tudo, envolto em brumas e mistérios quanto às origens do movimento, claro que procurando ocultar o envolvimento imperialista em seu surgimento, como já o fora quanto à Al-Qaeda.

domingo, 14 de setembro de 2014

Pensatas de domingo e o pensamento da direita sem disfarces



Longe de mim estar defendendo o PT, mas de forma muito clara, há algum tempo está em andamento uma campanha, encabeçada pela grande imprensa burguesa, de ataques ao governo e de desgaste da presidente, na verdade da candidata Dilma. A disputa eleitoral, que deveria se transformar num embate entre projetos, não aparece desta forma, mas como um contínuo martelar de acusações contra o governo federal: a corrupção, o aparelhamento da máquina pública, a má gestão, o centralismo, o descontrole das obras públicas, a mansidão com manifestações sociais que atentam contra a propriedade privada e quebram bancos e lojas.
A crítica ao governo federal deve ser feita, mas os problemas apontados precisam ser enfrentados na raiz, isto é, na própria forma como o sistema de representação política brasileira foi capturado pelo poder econômico. Nas últimas eleições para o Congresso Nacional, parlamentares eleitos foram financiados majoritariamente por empresas que se engajaram em algum tipo de financiamento eleitoral. E isso tem um preço.
O presidencialismo cobra seu preço e as distorções no nosso sistema político representativo são reais. Mas o que se vê é a manipulação da opinião pública. Ocorre que a verdadeira agenda da direita concentradora tem de ficar escondida do eleitorado. Como ela ganharia a eleição prometendo privatizações, arrocho salarial e desemprego? E já que os verdadeiros interesses não podem ser apresentados, o foco passa a ser o combate à corrupção, a necessidade de honestidade, a maior capacidade de gestão para aperfeiçoar o desempenho do Estado.
Segundo os ideólogos da direita, a economia vai mal e o país está sendo levado para uma fase ruim. O PIB é baixo. A inflação é alta. As exportações fraquejam. A balança comercial vai para o vermelho. O investimento caiu. Os ativos na Bolsa de Valores e as taxas de juros caíram. Os aumentos reais de salários e o maior investimento nas políticas sociais pressionam os custos. O superávit primário está ameaçado e o país caminha para um cenário de baixo crescimento que precisa ser evitado. Esse é o discurso formulado pelo capital, especialmente pelo setor rentista. 
A proposta, na realidade é aumentar os juros da dívida pública e o superávit primário. Em seguida, reduzir salários e os benefícios previdenciários, e flexibilizar os contratos de trabalho, destituindo direitos. O aumento do desemprego para pressionar os salários é desejável. Haverá também privatizações, aumento nas tarifas públicas e cortes no orçamento das políticas sociais, abrindo espaço para as empresas privadas ampliarem sua presença no setor. Como anunciado, o novo governo eleito assinará tratados de livre comércio para internacionalizar nossa economia, isto é, abrir o mercado brasileiro ainda mais para as grandes corporações transnacionais, destruindo a indústria nacional, o pequeno e médio empresário. Essa abertura envolve a redução de tarifas de importação e a livre circulação dos fluxos de capitais, tão a gosto do capital especulativo financeiro.
Essas propostas estão sendo aplicadas na Grécia, na Espanha, em Portugal, na Itália, e não teem nada de original. Elas obedecem aos interesses e ao comando das grandes corporações multinacionais e da acumulação financeira. Qualquer veleidade de autonomia ou de projeto de desenvolvimento deve ser engavetada. 
Mas, contrariando a análise, o brasileiro está melhor do que antes, há mais empregos, seu salário melhorou, as políticas sociais melhoraram. O motor da economia é, e sempre foi, o mercado interno. A novidade não está no andar de cima, com seu consumo de elite. A novidade está no ingresso de dezenas de milhões de brasileiros no mundo do consumo, alimentando um mercado de produtos de massa, circuitos curtos de produção e consumo, gerando emprego e bem estar. Tudo isso implicou a redução do ganho dos rentistas.
E para tudo isso é necessário ganhar as eleições e assegurar o controle do Estado.