O livro “Revolta e Melancolia” percorre música,
literatura, artes plásticas, filosofia. Rousseau, Goethe, Stravinski, Rosa
Luxemburgo, Tolstói, Marx, Balzac compõem a trama da análise. Os autores
propõem um conceito abrangente de romantismo como estrutura mental, forma de
ver o mundo. Nessa concepção, o romantismo teria dimensões não apenas nas artes
e na filosofia, mas na economia e no pensamento político, bem como nas ciências
humanas. Seria também algo maior do que um movimento temporal do início do
século XIX, mas uma estrutura de pensamento identificável já a partir de meados
do século XVIII e perdurando até os dias atuais.
Esta concepção mais abrangente de romantismo dos
autores explica o fenômeno como uma reação à modernidade capitalista. Uma
reação interna, portanto operante com a própria visão de mundo gerada pelo
capitalismo. Uma reação tradicionalista, que idealiza um passado (imaginado)
naquilo que ele tinha de não-capitalista e de pré-capitalista. Para chegar a
esta idéia os autores partiram do campo das análises marxistas da sociedade e
da cultura, especialmente as teorias literárias de Lucáks e Lucien Goldman,
apesar destes autores apresentarem uma visão diferente sobre o romantismo.
Para os autores, o romantismo não é só um
movimento artístico do século 19: está nas jornadas de Maio de 1968, na luta
ambiental, nas artes no Brasil dos anos 1960, na resistência armada às ditaduras
militar na América Latina, em protestos contemporâneos na Europa, nos EUA e na
América Latina.
A ênfase está no que os sociólogos definem como
romantismo revolucionário –“o que não deseja uma volta ao passado, mas uma
volta pelo passado, em direção à utopia futura”, diz Löwy.
Publicado em francês originalmente em 1992, o
livro interpreta manifestações de oposição ao avanço capitalista. “Naturalmente
o romantismo se transformou. Suas formas são diferentes das do século 19 e das
de 30 anos atrás. Mas a análise continua válida. O romantismo é uma crítica à
civilização burguesa, que continuará a existir enquanto persistir a burguesia”,
afirmam os autores.
1. Michael
Löwy nasceu em São Paulo em 1938. Licenciou-se em Ciências Sociais na USP em
1960 e doutorou-se na Sorbonne, sob a orientação de Lucien Goldmann, em 1964.
Vive em Paris desde 1969, onde trabalha como diretor de pesquisas no CNRS
(Centre National de la Recherche Scientifique) e dirigiu um seminário na École
des Hautes Études en Sciences Sociales. Considerado um dos maiores
pesquisadores das obras de Karl Marx, Leon Trotski, Rosa Luxemburgo, György
Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin, tornou-se referência teórica para
militantes revolucionários de toda a América Latina. É autor de livros
traduzidos em 25 línguas, entre os quais “Marxismo, Modernidade e Utopia” e “Walter Benjamin:
aviso de incêndio”.
2. Robert
Sayre nasceu nos Estados Unidos e vive na França desde 1980, onde é professor
emérito de English and American Studies na Universidade de Paris Est
Marne-la-Vallée. Realizou seus estudos avançados na Columbia University e
lecionou na Harvard University. Autor de diversos artigos e sete livros, alguns
em parceria com Michael Löwy, publicou, recentemente, “La Modernité et
son ‘Autre’: récits de la rencontre avec l’Indien en Amérique du Nord au 18e siècle”.
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