Este texto de Jorge Vital de Brito Moreira é um importante depoimento de um
brasileiro morando no exterior por cerca de 30 anos e suas observações sobre aspectos
da nossa atualidade.
Estou de volta à Gringolândia: regresso de uma viagem ao
Brasil e gostaria de escrever umas linhas relatando um pouco da experiência de
um brasileiro/estadunidense no nosso grande país. Estive um mês e quinze dias
em terras brasileiras e durante este período realizei/realizamos duas
extraordinárias viagens por cidades dos estados da Bahia e Pernambuco. Como
tenho muita coisa pra contar vou dividir este relato em duas partes: na
primeira parte darei uma visão geral da viagem; na segunda, darei uma visão
mais particular e detalhada das relações sociais e humanas (amizade, família e
pessoas nas ruas) no Brasil.
Parte I
O percurso da primeira viagem compreendeu, por um lado, as
importantes cidades de Salvador, Feira de Santana, Senhor do Bomfim, Juazeiro,
Santana do Sobrado, Sobradinho, Casa Nova e Remanso, no estado da Bahia. Por
outro lado, no estado de Pernambuco, o percurso começou na moderna, ampla e
arejada cidade de Petrolina, e incluiu as importantes cidades de Santa Maria de
Boa Vista, Cabrobó, Belém do São Francisco e Petrolândia. Depois de Petrolândia,
voltamos ao estado da Bahia onde visitamos a famosa e importantíssima cidade de
Paulo Afonso. Logo, atravessamos as cidades de Cicero Dantas, Ribeira do
Pombal, Tucano até chegarmos a cidade de Araci. De Araci regressamos a Salvador,
depois de parar em Feira de Santana (a princesa do sertão baiano).
Este grande percurso foi efetuado num automóvel da marca
francesa Peugeot e contou com a presença do amigo e professor aposentado,
Israel Pinheiro (o proprietário do veículo) e do seu filho Gabriel Pinheiro,
enquanto eu, acostumado carona nas
viagens pelo Brasil, ajudava a dirigir o automóvel quando o jovem Gabriel se
cansava e o pai dormia no “berço esplendido” do banco traseiro do automóvel.
Chegar no Rio São
Francisco, ver a barragem do Sobradinho, conhecer as obras de transposição do
Rio São Francisco e visitar a cidade e hidroelétrica de Paulo Afonso, constituíam-se
no objetivo central da viagem por Pernambuco e Bahia.
Antes do começo da viagem, passei a primeira semana da
minha visita na cidade do Salvador onde tive a oportunidade de observar alguns
importantes fenômenos que atraíram imediatamente a minha atenção. Um dos que
mais atraíram a minha atenção na cidade foi o enorme crescimento da população
soteropolitana. No estado da Bahia, não somente na cidade de Salvador, mas na
de Feira de Santana também, o aumento da população invadiu meus olhos, e,
acredito, invadirá os olhos de qualquer pessoa que tenha visitado o estado
nestes últimos anos.
O que mais me
impressionou no crescimento populacional foi a forma assimétrica, desorganizada
e caótica em que se processa a ocupação e o uso do solo pela população e pelos
transportes nestas duas cidades. Nas duas, a proliferação da população de baixa
renda (formada, de acordo aos conceitos da economia politica capitalista, pelo
proletariado super explorado e por seu exército industrial de reserva) se
evidencia de modo ostensivo na ocupação do espaço urbano via a extensa proliferação
das favelas de nossas cidades.
Um segundo fenômeno que magnetizou a minha atenção (em
quase todas as cidades que atravessamos de carro ou caminhando), foi o notório
aumento do numero de igrejas cristã-fundamentalistas (tais como a “Igreja
Universal do Reino de Deus”, “Testemunhas de Jeová”, “Igreja Batista’, e muitas
outras) não somente em Salvador e Feira de Santana mas em outras cidades do
estado da Bahia. Elas estão crescendo agressivamente por lá. Na minha viagem
anterior ao Brasil, eu costumava brincar com meus amigos dizendo: “Quando me
aposentar vou voltar pro Brasil e vou fundar uma igreja evangélica na cidade do
Salvador. Não existe melhor negócio para
ganhar dinheiro fácil na “Bahia de Todos os Santos”. Atualmente, meus amigos me
informam que a proliferação destas igrejas protestantes é um fenômeno que
pertence ao Brasil inteiro, não somente ao estado da Bahia. E o prof. Israel
Pinheiro, um dos grandes amigos baianos, acaba de me prevenir: - Seu Jorge, não
se surpreenda se o Brasil virar uma republica evangélica dentro de uns poucos
anos!
Um terceiro fenômeno que captou/captava a minha atenção foi
que o nosso país se encontra numa crise econômica, social e politica
assustadora. No nível econômico, a minha
experiência sensorial complementava o que eu já tinha lido nos negativos
dados empíricos da estatística nacional: estes dados mostravam a desaceleração
da economia agroexportadora, a queda na acumulação de capital, o aumento do
desemprego e a diminuição do valor dos salários nos custos de produção das
mercadorias brasileiras. No plano político, pude testemunhar a significativa
decadência do prestígio político do PT (Partido dos Trabalhadores e de seus
lideres atuais) e o avanço ideológico da direita antidemocrática (PMDB, PSDB e
outros partidos) e da sua abominável doutrina neoliberal dentro do Brasil.
Um quarto fenômeno que magnetizou a minha
atenção foi o relacionado com a extraordinária proliferação de motos como meio
de transporte popular (particular e público) e do uso dos sofisticados
telefones celulares nas principais cidades que percorremos: principalmente
entre a população (de média e baixa renda) nas cidades de
Salvador, Feira de Santana, Bomfim, Juazeiro, Petrolina, Casa Nova, Remanso,
Paulo Afonso. Na cidade de Juazeiro e Petrolina, a marcante impressão que ficou
foi a seguinte: quando estava nas ruas destas cidades não decorria um só minuto
sem que visse a intensa circulação de diversas motos, perto e longe do espaço
onde me encontrava fisicamente num determinado momento.
(Fim
da primeira parte)
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