Esta
importante fase da vida de Miró é marcada pelas obras: O Carnaval de Arlequim,
1924-25, e Maternidade, 1924, pois inauguraram uma linguagem cujos
símbolos de fantasia remetem a uma mescla de estilos: A arte naïf e o
Surrealismo.
Naïf é a arte que é produzida por artistas sem preparação acadêmica na
arte que executam, o que não implica que a qualidade das suas obras seja
inferior. Caracteriza-se, em termos gerais, pela simplicidade e, por vezes,
ausência de alguns elementos ditos característicos pelo academicismo.
Carnaval do Arlequim, a notável pintura de Miró – que
revela inconfundivelmente seu estilo pessoal – consiste em inúmeros desenhos
que exprimem uma espécie de autoanálise. Esta, por sua vez, foi obtida através
de momentos de profunda concentração, abdicando inclusive de alimentar-se.
Mais tarde, ao recordar esse período de sua vida, em que alternava os
verões em Montroig e os invernos em Paris, o próprio Miró diria que havia uma
diferença básica entre eles e os colegas ligados ao surrealismo. Enquanto estes
utilizavam substâncias artificiais para "abrirem livremente as portas da
percepção", seu principal canal com o mundo da alucinação e do delírio era
mesmo a fome. "Eu voltava tarde da noite para casa e, por falta de
dinheiro, não jantava. Assim, rabiscava no papel as sensações que a fome
provocava em meu organismo", revelaria. Sem conseguir vender um número
suficiente de quadros que lhe permitisse uma vida apenas razoavelmente digna,
Miró chegou a enfrentar o rigoroso inverno de 1925 tremendo de frio, pois não
tinha recursos para sequer mandar consertar o aquecedor que estava quebrado.
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