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Negros em plantação de algodão no sul dos EUA em fins do século XIX. |
Assisti, ao vivo e em preto e branco à evolução das lutas sociais dos negros por terras, naquele país, acima do Rio Grande. Sem trocadilhos, naqueles anos 60 do século passado não existia televisão a cores no Brasil. E os jornais de cinema também não eram em technicolor.
Lembro que um amigo meu, certa vez contou-me um caso que aconteceu com ele justo na década de 1960, quando fazia seu Mestrado no estado de Illinois, e, em determinada ocasião resolveu pegar um ônibus e passar uma folga mais prolongada em alguma praia quentinha da Flórida.
Viagem longa... Atravessando um país continental num ônibus da Greyhound.
Encontrava-se dormindo à noite quando foi despertado pelo motorista. Sonolento ouviu o cara, um tanto aflito, a lhe pedir que fosse para uma cadeira na frente do veículo. Meio sem compreender nada, sonolento, virou-se para o outro lado, suspendeu o cobertor encobrindo o rosto e tentou reembalar o seu pacífico sono. Entrementes, o sujeito não saiu do seu lado. Depois de algum tempo o motorista explicou-lhe que estavam entrando em um estado em que as leis proibiam negros de andar nos coletivos em lugares à frente dos brancos.
Resumo da ópera: após alguns minutos de discussão, meu amigo inconformado e resmungando foi obrigado a trocar de poltrona com o “sub” cidadão de cor parda, que, humildemente dirigiu-se à poltrona que ele sabia ser o “seu lugar”.
Para nós brasileiros, este caso parece absurdo porque o racismo aqui é camuflado e hipócrita. Mas por aquelas plagas, este pensamento era, e creio, é até hoje comum. Pelo menos à população branca e ignorante lá pelos lados do Mississipi, Missouri, Alabama e outras paragens de um país até hoje atrasado, que o vento nunca conseguiu levar.
E por falar nisso, no início de sua campanha, chegava a pensar se Mr. Obama, caso eleito, chegaria ao final do seu mandato. Afinal, quatro presidentes estadunidenses já morreram de forma violenta em pleno exercício do poder, a saber: Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John Kennedy; o que me lembra sempre de que é tradicional e parte da “democracia” local. Para além dos atentados que não resultaram, no caso os de Gerald Ford e Ronald Reagan. Será que teve mais algum?
Mas quando digo “... chegaria ao final, etc”, é porque acreditava que ele poderia ser minimamente coerente com o seu discurso.
Hoje, noto que a “quase todos” decepcionou, em igualmente “quase todos” os sentidos. Levei algumas “boas porradas” neste blogue, quando punha em dúvida que ele fosse “peitar” o establishiment. As pessoas botavam muita fé nele. Apostavam nele. Nunca ligaram sua brilhante campanha à força da propaganda (advertising e marketing), armas fortes do capitalismo ianque.
No entanto, ele é apenas o representante da ala Democrata do “Partido Único”, na “ditadura da burguesia” vigente nos Estados Unidos (1). Está certo que esta corrente é menos à direita do que a Republicana. Os Democratas têm uma tendência “social-democrata”, reformista, de certo modo estatizante. Uma esquerda “cor de rosa”...
Mas o que se tem visto nos EUA, em especial na eleição executiva, é muito semelhante ao que ocorreu no Brasil. Como o sr. Lula da Silva, Obama foi posto na presidência do país única e exclusivamente para conter as revoltas populares.
Porém, o simples fato de ser um nigger (2), pode levar correntes mais radicais da direita, tipo os chamados “hate groups” da vida, a cometer atos de uma loucura doentia e alucinada que tanto marcam a história daquele país (3).
Aguardemos, pois, os fatos e o desenrolar da história. Somente isto poderá nos dizer se o “sonho” de Martin Luther King poderá algum dia se tornar uma realidade. Ou se aquele seu “dream” tão enfático num dos mais belos, cadenciados e emocionantes discursos que jamais tive(mos) a oportunidade de assistir continuará sendo, na verdade apenas mais um capítulo do “american nightmare” estadunidense.
2. O termo NIGGER, é, provavelmente a mais ofensiva palavra em inglês. Seu grau de intensidade tem aumentado acentuadamente nos últimos anos, embora tenha sido usado de forma pejorativa desde a Guerra Revolucionária...
3. Um colega de Faculdade definia os EUA como “uma criança que havia crescido demais no tamanho, mas não na cabeça”. Se pensar bem é isso mesmo!
Eu era muito criança quando aconteceu aquela manifestação toda. Mas quem não reviu a lgum dia quase querend o chorar o discurso de Luther King?
ResponderExcluir"I have a dream......" depois novamente "I have a dream...." e novamante "I have a dresm".
Você defimiu muito bem aquele discurso como cadenciado. Acho que foi a melhor definição que já vi sobre ele. a sua cadencia
Tem mesmo uma linda cadência aquele discurso. E notava-se a emoção de Martin Luther King ao falar. Lindo. Uma passagem belissima da luta da humanidade por direitos iguais e a liberdade do gênero.
ResponderExcluirSabe que você tem razão? Obama decepcionou geral. Mas eu acredito que a crise que Bush largou como batata quente nas mãos dele ajudou muito as falhas que vem acumulando.
ResponderExcluirComo você disse, só o tempo dirá se o American Nightmare vai continuar ou se Ubama conseguirá fazer alguma coisa.
Olha só Joelma, pode anotar:
ResponderExcluir1. Obama não conseguirá fazer nada.
2. E se conseguir, algum "hate group" entrará em ação, e ele certamente sofrerá um atentado.
3. Ninguém chega à presidência dos Estados Unidos impumemente. Em outras palavras, para chegar àquele posto já está comprometido. só pra não dizer comprado, que é a palavra certa.
Já está completamene amarrado aos interesses dos grupos financeiros e industriais que o elegeram, com os bilhões de US$ que gastaram na campanha eleitoral mais cara do mundo!
Pleno domingo de carnaval. Fui ao cinema a tarde e estava vazio e tranqüilo. Os Blocos já haviam saído mais cedo e eu cheguei numa boa.
ResponderExcluirGostei quando cheguei em casa e abri este blog que um amigo meu anotou num guardanapo de papel uma noite qualquer dessas no balcão do Bracarense.
E te conto tudo isto porque justamente hoje, ao chegar em casa eu abri o teu link e descobri um dos melhores blogs (que tu aportuguesas para blogue) que já vi. E olha que acompanho alguns bons.
Quero te parabenizar por este post e por outros que li an passant, mas que me agradaram bastante.
"Pensatas de Domingo Sobre o 'Pesadelo' Estadunidense" é muito bom, bem escrito e bate com o que eu penso sobre a "democracia" norte-americana. Indo mais à frente, a "democracia" tal e qual a conhecemos na sociedade burguesa contempoânea. Esta da pós-derrubada do Muro de Berlim e derrocada da União Soviética.
Fique certo de que prometo que vou continuar a ler o teu blog (ou blogue).
Luiz Paiva
Gostei muito do suas posições, caro Luiz.
ResponderExcluirPor acaso você gosta das teses de Trotsky? Ou as conhece?
Caso queira é fácil, vá ao MIA (Marxists Internet Arquive) na internet e procure no índice 'Leon Trotsky' vai encontrar quse toda a b=obrra de Trotsky (e também outros pensadores ligados ao pensamento de Marx).
Abraços e obrigao pelo interesse.
O site é: http://www.marxists.org/
ResponderExcluirE o nome da página é "Marxists Internet Archive".
Escolha a língua na barra superior, caso não queira em inglês.
Exemplo: clicando em português vai abrir outra página em que embaixo tem uma indicação para escolher o autor. Selecione Trotsky e aparecerá o que existe em português no MIA.
Caso fale inglês, terá uma quantidade maior de obras à sua disposição.
Mas existem muitas obras em espanhol e catalão, línguas muito parecidas com a nossa.
É isso aí!
Muito obrigado.
ResponderExcluirEmbora conheça um pouco das idéias de Trotsky, não conhecia o site e por isso mesmo vou acessar.
Coma a suas dicas ficou mais fácil.
L.P.
Tudo muito claro. Tudo muito explicado e comprovado pelos acontecimentos nos EUA.
ResponderExcluirE a historinha do seua migo é chocante.
Essa historinha foi-me contada pelo Constantino, um amigo que não vejo há anos da época em que morei em Sampa.
ResponderExcluirE ele tinha uma outra muito interessante. Na cidade (em Illinois) que ele morava só haviam reidido dois brasileiros. Coincidentemente naquela mesma ocasião.
Ele, filho de europeus, um metro e 90 de altura.
E um outro, Barriga Verde, desscendente direto de alemães, um pouco mais alto do que ele.
E os gringos olhavam para eles espantados.
Quando diziam que não sabiam que os brasileiros eram tão altos, eles respondiam que aquela era a estatura média da população no Brasi.