quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Convergências e divergências em Davos e Belém

Os dois fóruns, o Social Mundial em Belém e o Econômico Mundial em Davos, mais uma vez aconteceram. O primeiro a defender as posições dos países pobres, a ecologia e as preocupações sociais, com base em sua “Carta de princípios”. O segundo com o objetivo de reunir e congregar os abastados da economia mundial.
Desta feita, porém, em Davos aconteceu uma programação pobre em comparação com as edições anteriores, suprimindo champanhes, caviares e outras superficialidades como a presença de estrelas da música e do cinema na cidade suíça. “Definindo o mundo pós-crise”, o seu tema central já resume um pouco de suas preocupações, que sucedem à orgia neoliberal que assolou o capitalismo. As estrelas da edição de 2009 do encontro em Davos, foram estadistas e políticos. E a razão disso reside no clima recessivo e no colapso do modo de funcionamento do sistema financeiro.
Um dos incidentes que marcou o fórum, foi o protesto do primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, quanto aos ataques de Israel à Faixa de Gaza, que provocou uma discussão acirrada com Shimon Peres e fez Erdogan ser aclamado como herói em sua volta a Istambul. Outro foi a manifestação em Genebra contra a proibição a ela mesma, ou seja à sua realização como desagravo à globalização, bem como à realização do encontro na Suíça.
“Um outro mundo é possível” (1) foi o tema central em Belém do Fórum Social Mundial. Para os organizadores, após a “crise do sistema capitalista”, o desafio dos participantes da edição deste ano foi tentar mostrar que mundo é este. Ou que mundos são estes, já que a pluralidade foi uma marca do fórum.
É importante ressaltar que hoje são realizados fóruns sociais locais, regionais, nacionais e temáticos em várias partes do mundo. As realizações dos fóruns sociais das Américas, cuja última edição foi na Guatemala em 2008 foi uma demonstração deste esforço.
Além do presidente brasileiro, outros quatro chefes de Estado americanos marcaram presença neste Fórum Social Mundial. Evo Morales (Bolívia), Hugo Chavez (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai) participaram de um debate na quinta-feira (29) focados no tema a “América Latina e a crise financeira internacional”.
Chávez mais uma vez levantou a bandeira da independência da América ao sul do Rio Bravo atacando os Estados Unidos e sua política dominadora. Duvidou das possibilidades de Obama alterar substancialmente as relações daquele país com o mundo, o latino-americano em particular, e afirmou que Bush passou para a história como terrorista e torturador.
Grupos manifestaram-se publicamente a favor da união dos países americanos do sul durante a presença destes presidentes no fórum.
Como um dos destaques, 28 de janeiro foi o “Dia da Pan-Amazônia”, englobando os 500 anos de resistência, conquistas e perspectivas afro-indígena e popular, com a participação de tribos amazônicas, e várias manifestações e debates.Este fórum dedicou-se a levar ao mundo as vozes da Amazônia (até por acontecer nela) e se constituiu de diversas atividades neste sentido, como testemunhos de habitantes da vasta região que engloba diversos países do continente, conferências e homenagens, celebrações e mostras culturais.
O Fórum Social Mundial em Belém não alterou o seu objetivo, que foi sempre o de congregar os países e povos carentes ao redor do planeta em ações de co-responsabilidade e a luta pelo equilíbrio ecológico, e, propôs inclusive uma economia “solidária”, que não promova o “consumismo”.Já o Fórum Econômico Mundial, em Davos, pela primeira vez estendeu suas preocupações para a presença do Estado como regulador dos excessos do capital “desatinado”, volátil e especulativo. Um fórum, pode-se dizer, de auto-críticas, que aconteceu em momento de fragilidade nos conceitos que lhe deram origem. De alguma forma, uma convergência para a crise que se estende pelo mundo a partir dos EUA, originada pela “bolha” do mercado imobiliário naquele país. Obviamente com óticas bastante divergentes.

(1) Um tema que surgiu em Porto Alegre durante o I Fórum, e continua sendo o mote para as lutas e desafios a que se propõe o movimento.

8 comentários:

Ieda Schimidt disse...

De fato os fóruns aconteceram. E também de fato o de Davos foi um espelho da crise que eles próprios causaram e estimularam. O cassino das especulações, como foi rotulada a ciranda finenceira das Bolsas de valores deu no que deu: o neo-liberalismo em cheque. Mate, de fato.
Já Belém, talvez tenha se perdido por não apresentar um proposta escrita e mais conclusiva sobre tudo isto. Uma oportunidade perdida.

André Setaro disse...

Ainda bem que está de volta com lúcidos e coerentes comentários sobre os fatos mais marcantes do mundo.

Jonga Olivieri disse...

Gostei do seu posicionamento, gauchita.
Eu ainda não havia atinado para isto. Em outras palavras: por que não houve uma conclusão em vista de uma situação tão óbvia?
Uma situação, aliás, que o próprio FSM sempre e abertamente observou.

Jonga Olivieri disse...

Obrigado pelos "... lúcidos e coerentes comentários...", André, mas somente lembrando que como observo no cabeçalho deste blogue, ele se constitui de "... recuerdos, críticas variadas, abordagens da situação política e social no Brasil e no mundo, pensamentos diversos, contos, lixo cultural. Tudo sem seqüência e sem compromisso de continuidade."

Anônimo disse...

Pouco soube deste forum social mundial. O Financeiro ainda deram algumas notícias como esta do corte de luxos e mordomias. A coisa tá feia.
Otávio

Jonga Olivieri disse...

Otávio. Até concordo que a mídia foca mais o fórum de Davos. Mas acho que até foi divulgada alguma coisa sobre o de Belém nos principais jornais. Era só uma questão de procurar.

Anônimo disse...

O Forum Social Mundial deu um banho no de Davos este ano.
Como você ressaltou ele se manteve coerente aos seus princípios enaqunto o outro descambou.

Jonga Olivieri disse...

É, Davos teve que rediscutir suas origens, pois surgiu com a apologia do neoliberalismo. E este ano foi o ano da 'berlinda'.