quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cultura, música e choque de gerações



Pouco conhecia de Amy Winehouse. Mas o fato é que sua morte trágica e prematura despertou em mim uma certa curiosidade; uma vontade de conhecer o trabalho dela. E foi o que aconteceu. Nos dias de hoje, com certas ferramentas na internet isto se torna mais fácil. E pouco a pouco fui descobrindo o seu trabalho e sua forma de se comunicar pela música.
Em função de seu trabalho, Amy me remeteu a pensar no quanto as gerações se diferenciam e no quanto ela representa no contexto deste tema. E também o quanto este emaranhado é complexo.
Vivemos hoje em um mundo em que as gerações mais novas se afastaram muito dos interesses por questões sociais e se renderam às drogas físicas e à religiosidade, a droga espiritual.
Isto, para a minha geração foi um choque violento. Mesmo compreendendo que tudo foi conduzido pelas classes dominantes como forma de alienação em massa fica difícil para nós de tempos em que se tentava mudar o mundo, aceitar o conformismo das religiões e o túnel escuro e sem fim das drogas.
No entanto passei a sentir e entender mais de perto este mundo em contato com as letras e músicas de Amy. E o mais interessante é que à medida que aprofundava este contato maior com o seu trabalho, senti o quanto de revolta há nele. Mesmo que uma revolta alienada, mas uma revolta muito grande. Aliás, o seu dramático final é uma prova contundente deste fato.
Tentando uma abordagem de seu trabalho, a origem (o soul) foi inicialmente a música negra estadunidense por excelência. Quando de seu surgimento no final dos anos 1950 ela representava uma expressão particular dos guetos afro-americanos.
Aos poucos foi tendo a adesão de brancos naquele país até que abraçou outros como a Grã Bretanha. Neste último iniciou sua trajetória na década de 1960 com os movimentos northern soul e modern soul e alcançou as bandas de blue-eyed que influenciaram de forma intensa os Beatles, por exemplo. A partir dos 1980, começaram a formar um gênero de soul particularmente britânico, alcançando também sucesso de vendas. O Simply Red foi um dos mais destacados naquele momento.
Amy desenvolveu o seu trabalho numa fase em que se consolidava a contra ofensiva e o soul britânico se impunha nos EUA.
Dotada de um carisma e gênero fortes, Amy e seu estilo particular passou a construir uma grande multidão de fãs em todo o mundo. De todas as suas músicas, a que gosto mais é a que postei acima (Reahab) e cuja tradução (1) segue abaixo.

Reabilitação

Tentaram me mandar pra reabilitação
Eu disse "não, não, não"
É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
Vocês vão saber, saber, saber
Eu não tenho tempo
E mesmo meu pai pensando que eu estou bem;
Ele tentou me mandar pra reabilitação
Mas eu não vou, vou, vou

Prefiro ficar em casa com Ray (Charles)
Não posso ficar 70 dias internada
Por que não há nada
Não há nada que possam me ensinar lá
Que eu não possa aprender com o Sr. (Donny) Hathaway

Não aprendi muito na escola
Mas sei as respostas não estão no fundo de um copo

Tentaram me mandar pra reabilitação
Eu disse "não, não, não"
É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
Vocês vão saber, saber, saber
Eu não tenho tempo
E mesmo meu pai pensando que eu estou bem;
Ele tentou me mandar pra reabilitação
Mas eu não vou, vou, vou

O cara disse: "Por que você acha que está aqui?"
Eu disse "não faço idéia
Eu vou, vou perder meu amor
Então eu sempre mantenho uma garrafa por perto"
Ele disse "acho que você só está deprimida,
Me dê um beijo aqui, amor, e vá descansar"

Tentaram me mandar pra reabilitação
Eu disse "não, não, não"
É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
Vocês vão saber, saber, saber

Eu não quero beber nunca mais
Eu só oh, só preciso de um amigo
Não vou desperdiçar dez semanas
Pra todo mundo pensar que estou me recuperando

Não é só meu orgulho
É só até essas lágrimas secarem

Tentaram me mandar pra reabilitação
Eu disse "não, não, não"
É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
Vocês vão saber, saber, saber
Eu não tenho tempo
E mesmo meu pai pensando que eu estou bem;
Ele tentou me mandar pra reabilitação
Mas eu não vou, vou, vou

1. Pena que a tradução perde algumas expressões em inglês que se confundem foneticamente (no, know e go) e dão um ritmo e excelente rima, mas, mesmo assim é a forma de mostrar o que ela quis dizer em português.

4 comentários:

Joelma disse...

Também acho a música de Amy muito marcante nesses tempos loucos pelos quais passamos.
Ela reflete a realidade dos dependentes de drogas mas com um senso crítico e uma visão underground da coisa. Entende`´E portanto crítica e irônica colocando em questão os valores estabelecidos pela sociedade como um todo.
Bom que você descobriu isto, nem que tarde!

Jonga Olivieri disse...

Concordo, aliás quando me referi à sua revolta é justamente no aspecto da crítica aos valores da sociedade.

Mário disse...

Pouco conhecia da música dela, mas me impressionou o toque negro em sua melodia. Inclusive nos seus acompanhantes. Daí tanto rítmo. E bom, claro!

Jonga Olivieri disse...

Para mim também, Amy Winehouse foi uma surpresa!