domingo, 24 de janeiro de 2010

Javalís nas estradas

Neste domingo achei melhor falar de amenidades. Afinal, tambem fazem parte da vida da gente...

Sempre me refiro à culinária portuguesa como um ponto alto daquele país. A começar pelos pratos de frutos do mar. A Cataplana de Tamboril é alguma coisa inesquecível. Huuumm! E o Arroz de Mariscos? Sai da frente! Tem a Sapateira, também conhecida por Santola (1), um caranguejo enorme e que possui um sabor ímpar, além de uma quantidade de carne proporcional ao seu tamanho. Sem falar no bacalhau. Eles sabem preparar um peixe e servir moluscos com um delicioso acerto.
Mas os “enchidos” (embutidos) portugueses tambem são muito bons. Como a Morcela, a Alheira, o Chouriço de Vinho e uma infinidade de outros. Tem também os “estufados”, que na linguagem local veem a ser os nossos assados. E a caça! Por ser regulamentadíssima, tem épocas em que se pode caçar uma determinada espécie. É muito comum passar na estrada e ver um caçador com sua presa pendurada de um lado e uma espingarda do outro. Uma cena que pode parecer meio chocante, mas que está dentro da lei. Ou seja, acontece na ocasião em que a caça a um determinado tipo de animal está permitida.
Isso me faz lembrar um passeio que fizemos a Viseu, uma cidade linda e antiga na Região Central. Ali, nasceu aquele que é considerado o Asterix português. De nome Viriato, chefe de uma tribo lusitana que enfrentou e derrotou os romanos várias vezes em torno de 140 A.C. O herói tem um monumento ao lado de um dos terrenos onde foi travada uma importante batalha. Neste local, também existem ruínas de uma fortaleza romana da época. Na segunda noite em que lá estávamos, passando de carro por uma estrada ao voltar para o hotel, deparei com uma placa que dizia: “Há Javalí”. Parei no acostamento, não acreditando o que havia visto. Naquela época, era raro encontrar aquela carne no Brasil. Dei meia volta e parei na porta do restaurante, sendo que, pela primeira vez saboreei a dita iguaria com a mesma vontade e gula de um Obelix. Foi inigualável. A carne, grelhada e acompanhada de batatas, pimentões e cenouras era um primor.
Porém, a história mais interessante e um tanto quanto exdrúxula em relação aos javalís, ouvi de meu patrão português, que era um caçador inveterado. Caçava desde criancinha. E quando ia fazê-lo, na sua terra natal, em Trás-os-Montes, envergava sua indumentária de caçador, complementada por um chapéu adornado com uma pena lateral, quase igual àquele do Robin Hood. E lhe apetecia muito caçar javalís. Claro, é o ponto alto em matéria desse esporte. Uma ocasião, após uma frustrada incursão em que não resultou uma boa caça, passava pela estrada à noite, quando de repente, se lhe atravessou um javalí à frente. Não titubeou e lançou o seu Mercedes em cima do animal, quase conseguindo o seu intento. Sortudo, o javalí conseguiu escapar e embrenhar-se mata adentro. Afinal, um dia tem que ser o da caça...

(1) Santolas também são comuns na Irlanda e no Chile.

4 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Foi bom falar de amenidades. O caso contado por ti do teu patrão é muito bom.
E a cozinha portuguesa é mesmo excelente.

Jonga Olivieri disse...

Sim, é um caso muito interessante. E o mais engraçado é que aconteceu de fato. Foi contado por ele.

maria disse...

Deve ter sido uma emoção muito grande encontrar um prato de javali numa taverna à la Asterix.
Será que o portuga não pensou que podia acabar com o mercedes dele?

Jonga Olivieri disse...

Bom, a taverna não era propriamente no estiloa Asterix. O clima, sim.
Quanto ao Mercedão do patrão... Acho que ele nem pensou nisto. É o instinto do caçador...