domingo, 3 de janeiro de 2010

Pensata para o primeiro domingo do ano

Olhando ao redor, verificamos como vivemos de convenções. Comecemos pela própria passagem de ano. Tem gente para as quais a questão da cor da roupa com que vai entrar na transição de um ano para outro é fundamental. Mas, pelo menos para nós que vivemos no sudeste, não é uma real passagem de ano, pois ocorre uma hora antes, motivada pelo horário de verão. Tudo e apenas uma convenção.
Aliás, este período de final de ano e suas “festas” é assim. Não condeno os cristãos que comemora(va)m a vinda de seu messias, mas é ridícula a forma na qual a festa se transformou, um evento “pagão” de trocas de presentes é no que se resume o natal nestes tempos em que passamos. Será uma convenção céltica? Ou de romanos na antiguidade?

Tem apenas algumas semanas que li sobre a opinião de alguns especialistas a garantir que o tal novo traçado da linha 2 do metrô do Rio ia ser caótico por uma simples razão: não aumentaram a quantidade de novos vagões, impossibilitando que o intervalo entre composições continuassem (pelo menos) nos atuais quatro minutos. Além disso, afirmavam que esses novos trens só chegarão em 2011.
E eles tinham toda razão. Pelo menos no primeiro dia da operação o transporte tornou-se um caos, e teve gente que atrasou mais de três horas o seu percurso habitual. Depois não obtive mais informações. Curiosamente a mídia calou-se sobre a questão. Eu andei um dia na linha 1 e estava tudo aparentemente bem porque foi no dia 30, véspera de um feriado em que o movimento era pequeno.

Foi um imensurável prazer rever “La Dolce Vita” de Fellini, realizado em 1960. Quer dizer, praticamente 50 anos atrás.
À sua época foi polêmico ao abordar questões que o tempo até superou, mas é importante levar-se em consideração o contexto “moral” daquele período.
Devemos nos lembrar que setores mais reacionários da igreja romana e da sociedade italiana “cairam de pau” no trabalho do diretor. Dois anos depois, Fellini realizou em “Boccaccio 70” um excelente episódio “As tentações do dr. Antônio”, no qual aborda o falso moralismo com uma maestria digna de sua genialidade.
Temos mesmo que tirar o chapéu para o saudoso Federico Fellini e sua obra.

6 comentários:

André Setaro disse...

Segundo melhor juízo, quem não viveu a época do lançamento mundial de 'La dolce vita' não pode dimensionar a importância histórica dessa obra monumental. Na época, adolescente, não pude entrar porque 'rigorosamente proibido até 18 anos'. Mas em todo lugar que ia somente se falava de 'La dolce vita': família, colégio, colegas, jornais, revistas, et caterva. Lembro-me que comprei uma revista chamada 'Filmes Franceses' que 'fotonovelizou' 'La dolce vita' em quadrinhos fotografados. Aluno do Salesiano, colégio de padres, ouvi, numa missa obritatória dos domingos, o padre falar, na 'prática', contra a obra de Fellini, julgando-a imoral, uma vergonha, e pedindo aos fiéis que não a fossem assisti-la.

Na verdade, trata-se do discurso de um moralista sobre a decadência do século XX e, por extensão, da civilização ocidental. Mas não é isto o que estamos a viver hoje?

Anos depois, numa reprise, tive o grande prazer, com êxtase, de ver esta obra-prima. Que pretendo procurar, nesta preciosidade da edição que você ganhou, para comprar.

Jonga Olivieri disse...

Uma prova de que o filme de Fellini foi atacado pelos setores mais retrógrados é a deste padre, no púlpito, a condenar a obra do grande mestre do cinema.
E, como disse, os que a veem hoje sem um conhecimento pelo menos histórico da época, não entenderão toda a sua abrangência, pois a decadência de costumes já superou e muito a realidade de 50 anos atrás. Em meio século tudo transformou-se em grande escala.
Concordo quanto ao moralismo de Fellini. Mas era um moralista com a visão da denúncia dos costumes. E não da repressão aos mesmos. Tinha uma visão ampla e realistica da situação por que passava a sociedade.
Uma obra fantástica.

Ieda Schimidt disse...

Os seres humanos sempre viveram de convenções através dos tempos.
Claro que quando se referes a contradições como a do horário de verão torna-se evidente o quanto elas são contraditórias. Mas, convenções são convenções mesmo. Convenciona-se e fica valendo.
Fellini foi mesmo um dos grandes diretores do cinema em todos os tempos. Quero assistir A doce vida, pois nunca tive a oportunidade de ver.
Mas, afinal o que houve com o metro do Rio?

Jonga Olivieri disse...

O metrô do Rio fez uma modificação no traçado da linha 2, que, antes parava na estação Estácio e agora vai direto a Botafogo.
Mas para isso funcionar "nos trinques" teria que ter aumentado o número de vagões.
O fato de não ter tomado esta medida, acabou causando alguns problemas que parecem são sérios...

maria disse...

Não posso crer que se viva sem convenções. Mas...
Também não assisti A Doce Vita. Mas queria ver e você me fez curiosa de conhecer essa tão falada obra do cinema.

Jonga Olivieri disse...

Talvez eu tenha sido infeliz na colocação sobre convenções.