quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O governo Barack Obama e o escândalo dos 16 trilhões de dólares


Um artigo do Professor Jorge Moreira sobre a crise nos Estados Unidos.

Como vocês já devem saber, no dia 02 de agosto de 2011, o Presidente dos Estados Unidos da America, Barack Obama elogiou o acordo de controle do orçamento de 2011 (Budget Control Act of 2011) para combater a dívida de quase 15 trilhões de dólares, com as seguintes palavras: “Não podemos equilibrar o orçamento às custas das mesmas pessoas que tem suportado a carga mais pesada dessa recessão econômica”.
Por incrível que possa parecer, isso é exatamente o que o presidente Obama e seu grupo de assessores de Wall Street acabam de fazer e continuarão fazendo contra a classe trabalhadora e a classe média dos EUA.
Muitos já sabemos que a retórica populista (1) de B. Obama (que se caracteriza pelo cinismo e pela demagogia) está funcionando para legitimar uma administração presidencial que trabalha a favor dos interesses da classe dos grandes capitalistas (os proprietários dos bancos e dos meios de produção), porém contra os interesses e direitos da classe média e da classe trabalhadora que votou nele.
Durante várias semanas do mês de julho, a atenção do povo dos EUA e da população mundial estava concentrada no melodramático acordo entre Barack Obama e o Congresso no qual o presidente se comprometeu a aplicar um duro programa de ajuste fiscal, concentrado no corte dos programas sociais (saúde, educação, alimentação) por 2.5 trilhões de dólares porém conservando o nível atual do gasto militar e quem sabe a sua possível expansão. Em troca deste grande presente aos republicanos, à Secretaria da Defesa, ao Pentágono e à industria armamentista, o governo Obama recebeu a autorização para aumentar o endividamento do país a 16.4 trilhões de dólares
Enquanto o acordo entre o presidente e o Congresso atraia a atenção da opinião pública mundial, quase ninguém se deu conta do gigantesco escândalo financeiro que sucedia no país, pois nada foi divulgado à respeito pela grande mídia dos Estados Unidos (ACB, CBS, CNN, NBC), nem pelo monopólico conglomerado informativo da News Corporation de Rupert Murdoch.(2)
A seguir, tratarei de informar aos leitores, fazendo um resumo da história do mencionado escândalo financeiro: o escândalo (também qualificado pelos analistas críticos como “o grande assalto de 16 trilhões de dólares”) teve lugar no Banco Central dos Estados Unidos (conhecido em inglês como Federal Reserve - Fed), pois este concedeu, durante aproximadamente 2 anos e meio, empréstimos secretos (às grandes corporações e a empresas do setor financeiro) no valor de 16 trilhões de dólares (3), uma quantia de dinheiro maior que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cujo valor atual está em torno 14.5 trilhões de dólares.
A revelação do escândalo dos 16 trilhões de dólares é o resultado da primeira e única auditoria (4) realizada pela Oficina Governamental de Prestação de Contas (Government Accountability Office, GAO) no Banco Central dos EUA (Fed) desde a sua fundação em 1913 até os nossos dias.
Sem dúvida que a descoberta deste gigantesco assalto secreto ao dinheiro público provoca reações indignadas que se fortalecem quando a administração de Obama assegura que não tem dinheiro para empregar em saúde, educação, alimentação e infra estrutura. Assim, imediatamente aparece a pergunta suspeitosa: e de onde apareceram esses 16 trilhões de dólares para garantir que os donos do grande capital não percam um centavo de dólar de suas propriedades, dos seus investimentos, dos seus lucros e juros?
Retornando ao Budget Control Act of 2011 podemos observar que se a farsa encenada pela Casa Branca e o Congresso foi capaz de esconder o escândalo no Federal Reserve, mas não foi capaz de evitar que a idílica imagem (que o governo e as corporações querem seguir propagando mundialmente: a imagem de que os EUA gozam de uma excelente saúde econômico financeira) entrasse em um rápido processo de deteriorização.
Em poucas palavras, a veracidade da informação sobre a dívida de 15 trilhões de dólares dos EUA, possibilitou que o povo estadunidense e a opinião pública mundial começassem a fazer a distinção entre a ficção e a realidade em que vivemos, percebendo que a denominada “fortaleza” do sistema econômico e político dos EUA não passa da produção de um grande mito (5) para legitimar o capitalismo.
A informação sobre a dívida do pais, também permitiu que a Standard & Poor’s (S&P), uma das mais importantes agencias de avaliação de riscos de ações e de bônus (6), fosse obrigada (para evitar a completa falta de credibilidade na sua competência) a rebaixar, pela primeira vez na história, a qualificação AAA (nota máxima dada aos bônus dos EUA) para a qualificação AA+. Desta forma, S&P pretende estar dando conta do maior risco que supõe os bonus estadunidenses para os inversores.
No entanto, vários analistas econômicos (principalmente os neo keynesianos) consideram que os cortes no gasto público poderiam levar os Estados Unidos a uma nova recessão porque aparecem no exato momento em que a economia vem mostrando sinais crescentes de desaceleração.
Em oposição à consideração neo keynesiana, a S&P considerou que os cortes acordados entre a Casa Branca e o Congresso não foram suficientemente severos e por isso levanta as dúvidas sobre a capacidade de pagamento dos EUA como potencia mundial. Estas são as palavras que foram usadas pela S&P para justificar a desqualificação: “O rebaixamento está motivado porque o acordo fiscal obtido pelo Congresso e a Administração é bem pequeno em relação ao que seria necessário para estabilizar a dinâmica da dívida do governo a médio prazo.”
Logicamente que este rebaixamento da qualificação dos bônus dos EUA tem recebido criticas completamente hostis por parte dos funcionários da administração Obama porém devemos simplesmente perguntar: que outra coisa vamos esperar dos funcionários que trabalham para a administração senão defendê-la?
Dado que este conjunto de eventos tem levantado sérias dúvidas sobre o “bom” estado de saúde do sistema capitalista, os líderes europeus comunicaram que deverão adiantar a reunião dos ministros de Finanças do Grupo G-7 devido a pressão crescente que estão exercendo os fundos especulativos sobre as bolsas e os títulos públicos dos Estados Unidos e Europa.
Assim, pelo seu lado desmistificador, o acordo possibilitou, mesmo contra a vontade da classe dominante, que o povo de EUA tenha tido uma rara oportunidade para tomar consciência da debilidade da base econômica do sistema capitalista; consciência que também tem conduzido ao relativo enfraquecimento da ideologia hegemônica que se caracteriza por usar, abusar e manipular as palavras como “democracia”, “liberdade”, “livre mercado”, “oportunidades iguais para todos”, “sonho americano”, etc., para legitimar a continuidade do sistema.
Enquanto a polêmica continua entre aqueles que procuram salvar o capitalismo da bancarrota global e total, podemos constatar mais uma vez que as teorias do valor, do dinheiro e da acumulação capitalista expostas por Karl Marx no livro O Capital são as únicas teorias que nos proporcionam uma fundamentada explicação teórica das crises capitalistas alem da motivação ético política para lutar por uma nova sociedade, oposta e radicalmente diferente da ordem social capitalista vigente.

NOTAS

1) Vejam meu texto “Populismo, Colonialismo, Imperialismo em duas películas de Glauber Rocha: “Terra em Transe” y “Der Leone Have Sept Cabeças” publicado pela revista rebelion.org em 31 de julho de 2011, no link: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=133231  
2) Rupert Murdoch é proprietário de um gigantesco monopólio industrial, News Corporation, que opera por todo o planeta na área de comunicação, internet, entretenimento, publicidade e compreende centenas de meios de informação que incluem canais de TV, televisão a cabo, televisão por satélite, produtoras e distribuidoras de filmes, revistas, jornais, livros, eventos esportivos, paginas na web, etc.
Entre as suas propriedades mais conhecidas se encontram a 20th Century Fox; o Wall Street Journal; o Fox News Channel; a Fox Broadcasting Company (Fox); o Fox Movie Channel; o Fox Soccer Channel; o National Geographic Channel; a Editora Harper Collins, etc.
Entre essas, o Fox News Channel está considerado como um dos canais de TV mais fraudulentos e perigosos ideologicamente dos EUA.
O Fox News Channel ajudou George Walker Bush a legitimar a grande fraude eleitoral contra o vice presidente Al Gore, propagando uma vitória inexistente dos republicanos nas eleições de 2000. O Fox News Channel também ajudou a propagar a mentira do governo George W. Bush de que Sadam Husseim possuía armas de destruição massiva fazendo propaganda para a invasão do Iraque. A Fox News Channel também colaborou na campanha de intimidação contra jornalistas que não concordavam com a política externa de Bush, especialmente depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. No Brasil, Rupert Murdoch controla o sistema NET Sky de TV a cabo e satélite.
Recentemente, em julho de 2011, Murdoch teve que fechar, na Inglaterra, seu tablóide “News of the World” devido ao escândalo provocado pela revelação de que este funcionava sistematicamente através do uso de grampos ilegais que invadiam a privacidade de personalidades destacadas (tais como os membros da família real inglesa, artistas, políticos, e cidadãos comuns da sociedade inglesa.
Para se ter uma imagem adequada da articulação criminosa entre a ditadura da mídia e a do poder econômico das corporações dos EUA, recomendaria aos leitores que assistissem o filme intitulado “O Informante” (The Insider) com os atores Al Pacino e Russell Crowe.
3) Vejam a seguir parte da informação do REPORT: GOVERNMENT ACCOUNTABILITY OFFICE (GAO) AUDIT OF THE FEDERAL RESERVE’S EMERGENCY ACTIONS postado por 4closureFraud em 21 de julho de 2011
The Fed Audit
WASHINGTON, July 21 –The first top-to-bottom audit of the Federal Reserve uncovered eye-popping new details about how the U.S. provided a whopping $16 trillion in secret loans to bail out American and foreign banks and businesses during the worst economic crisis since the Great Depression.
Vejam o link do website “4closureFraud”:
4) Normalmente, as auditorias dos bancos, empresas e corporações capitalistas tem sido realizadas por companhias de auditoria e consultoria tributaria tais como Arthur Andersen, Deloitte Touche Tohmatsu, KPLM e outras que têm sido acusadas freqüentemente de cometer crimes financeiros por apoiar técnicas contáveis e fiscais fraudulentas .
Em 2002, por exemplo, o governo dos EUA, abriu inúmeras investigações contra os executivos (CEOs) de Arthur Andersen por estarem envolvidos no escândalo e na bancarrota da Enron Corporation; escândalo conhecido como “o maior fraude financeiro e empresarial da historia” dos EUA. Devido a este escândalo, a companhia Arthur Anderson foi penalizada criminalmente, deixando de operar nos EUA.
No entanto seus ativos, seus clientes e seus funcionários foram adquiridos pela Deloitte que também tem sido acusada de incorrer nos mesmos tipos de crimes contáveis que a empresa Arthur Anderson.
No Brasil, a Deloitte tem tido uma historia de recorrentes fraudes contáveis contra companhias brasileiras: Em 2003, por exemplo, a empresa Parmalat descobriu uma fraude de R$ 3.0 bilhões de reais, em 2008, a empresa Aracruz descobriu uma fraude de 1.95 bilhões de reais
Vejam olink http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/41059_ POR+QUE+A+DELOITTE+ERRA+TANTO
Recentemente, durante a audiência do presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, na Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) questionou o fato de que os envolvidos da Deloitte nas fraudes (que deixaram um rombo de R$ 2.5 bilhões de reais) ocorridas no Banco Panamericano do grupo Silvio Santos, não terem sido presos, mesmo tendo infringido a lei de Crimes Financeiros. O leitor poderá assistir a denúncia do crime da Deloitte vendo e ouvindo as palavras do Deputado José Aleluia no link de Youtube:
5) O mito é uma narrativa de caráter simbólico, relacionado a uma dada cultura humana (indígena, negra, branca, etc.) que organiza e dá sentido a pratica dos seres humanos. O mito procura explicar a realidade, os fenômenos naturais, as origens do mundo e do homem através da atuação de deuses, semi deuses e heróis. O mito está necessariamente associado a um rito pois o ritual é o modo de se pôr em ação o mito na vida do homem - em cerimônias, danças, orações e sacrifícios.
6) Tanto as qualificações (ratings) da S&P como as de agencias similares (Moody’s Analytics e Fitch Ratings) têm sido criticadas em várias ocasiões e muitos analistas põem em dúvida a sua credibilidade. O caso mais escandaloso é o da avaliação do banco Lehman Brothers, que recebeu boa nota poucas semanas antes de ir à bancarrota. As agências de avaliação de risco também não foram capazes de prever as falências dos bancos irlandeses e a quase bancarrota da Islândia, o país tido até então como o modelo de economia capitalista bem sucedida.
Para alguns críticos, a S&P, a “Moody’s Analytics” e a “Fitch Ratings” não têm a capacidade teórica, nem possuem a honradez ética para fazer avaliação de riscos já que não passam de “armações ideológicas” para ganhar dinheiro, mistificar a população e legitimar o sistema capitalista.
Para aqueles que desejam ter um retrato fiel, uma imagem precisa do processo de corrupção dos mais poderosos bancos, das agências de auditorias e das agências de avaliação dos EUA, e de sua impunidade na origem da crise e da recessão econômica que destruiu 20 trilhões de riqueza social, não deixem de assistir ao documentário “Inside Job“ (Trabalho Interno) .
Também recomendaria o ensaio que foi publicado em português aqui em Novas Pensatas e também na revista rebelion.org, no qual faço uma análise critica deste documentário .

4 comentários:

Mário disse...

Esta excelente matéria do Professor complementou a sua Pensata acrescentando números e fatos que estão por trás daquilo que Obama enconbre.

Fotografias e Vídeos de Tucha disse...

Concordo totalmente com as críticas feitas pelo Prof. Jorge ao sistema capitalista, mas é preciso apontar para uma saida. Apesar de todas as suas contradições, o capitalismo está em plena ascensão, ampliando o mercado mundial, os lucros e a exploração da classe trabalhadora. Esta, que julgávamos revolucionária, está cada vez mais calada, alienada e submissa à lógica do capital. O capitalismo sempre esteve em crise, mas é um sistema ágil e até os tempos atuais tem conseguido sobreviver ás grande pressões evolucionista. Até quando não sabemos. O Prof. Jorge poderia nos dar uma luz.

Jonga Olivieri disse...

Concordo, Mário. O assunto é o mesmo, mas o professor trás informações sobre o submundo do governo Obama.

Jonga Olivieri disse...

Saídas para formas que substituam o sistema capitalista passam por Marx. Mas veja bem, Tucha, o pensamento de Marx foi destorcido em excesso no século XX, principalmente pelo stalinismo.
Hoje tenta-se um reencontro com as suas propostas a partir de outros conceitos.
Creio que o professor deva concordar com este pensamento...