quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O dragão da incompetência contra o santo cineasta



Antes de mais nada, havia escrito esta postagem para ser a Pensata de domingo último, mas por razões de força maior tive que me ausentar e somente voltei hoje.

Começo com uma nota de estímulo e esperança às lutas das massas contra o capitalismo em todo o mundo. Os acontecimentos ocorridos em Oakland (Califórnia), um dos cinco maiores portos dos Estados Unidos, a partir de uma greve geral dos trabalhadores, foram uma demonstração de grande repercussão que até a mídia do sistema não conseguiu esconder, tal a sua expressão e força. Assisti na TV, no mesmo dia (quarta feira) em que ocorreram. Notícias não divulgadas, mas chegadas a mim, falam de cerca de 100 presos e mais de 3000 presentes aos protestos.
Os trabalhadores e os estudantes estadunidenses estão de parabéns pela coragem em enfrentar forças policiais poderosas e sofisticadamente equipadas, que têm usado de grande violência na repressão contra os justos protestos ao vampiresco capital financeiro. Enquanto isso, os acampamentos em Wall Street continuam e já inspiraram manifestações em mais de 2.000 cidades ao redor do planeta; inclusive uma no Vale do Anhangabaú (São Paulo) que já completou um mês. E esta semana ocorreram protestos dentro do Congresso, em Washington e ocuparam a sede de um importante banco em Nova Iorque. A luta continua!

Desde que li a notícia de que Nelson Motta ia publicar uma biografia de Glauber Rocha, pensei com os meus botões, e cheguei a comentar em foro íntimo: “isto vai dar merda!”. E não é que deu? Motta não tem nada a ver com cinema, muito menos o cinema novo, muito menos ainda com Glauber Rocha. E tem mais, sua “praia” é a música... Jamais foi de esquerda para que possa compreender um pouquinho do universo de Glauber e de toda aquela geração de cineastas revolucionários. E só foi à Bahia como “turista acidental”.
Finalmente na sexta feira foi publicada na Folha Ilustrada Online uma matéria assinada por Fábio Victor, e editada às 21h10m, com o título de: “Amigos de Glauber apontam erros, e Nelson Motta corrige biografia”, que transcrevo (na íntegra) abaixo:
“Amigos de juventude de Glauber Rocha (1939-1981) apontaram erros na biografia do cineasta baiano escrita pelo jornalista Nelson Motta, ‘A Primavera do Dragão’, recém publicada pela Objetiva. Motta desculpou-se, e a editora informou que vai corrigi-los na próxima reimpressão.
Quem detonou o caso, noticiado pelo portal ‘Terra Magazine’, foi o historiador e poeta Fernando da Rocha Peres, 75, amigo de juventude de Glauber e um dos personagens citados no livro.
Peres é erroneamente identificado na obra como sendo ‘Bananeira’, apelido de outro amigo de Glauber na mesma época, o jornalista Fernando Rocha, e aponta o que seriam outros erros pontuais na biografia.
As histórias atribuídas a ‘Bananeira’, cujo nome é citado mais de 40 vezes no livros, são na verdade de Peres, que Glauber diz ter entrevistado na Bahia em 1989 --o historiador diz que não se recorda-- e ter a fita guardada.
Peres enviou um telegrama à Objetiva com o seguinte texto: ‘Senhor editor: recebi dois exemplares não solicitados do livro 'A Primavera do Dragão', do sr. Nelson Motta. Agradeço a oferta editorial. Tenho a dizer que o livreco é feio, mal escrito e mentiroso e mais houvera adjetivos’. Não recebeu resposta diretamente. Mas autor e editora se manifestaram.
Nelson Motta divulgou uma carta em que pede desculpas aos dois Fernandos, o historiador e o jornalista, por ter confundido um com outro, ‘um equivoco que lamento e será corrigido na próxima edição (1), mas em nada afeta a narrativa em que o protagonista absoluto é outro Rocha: Glauber’.
O jornalista desculpou-se por outro erro pontual, de ter identificado a atriz Sonia Pereira, do filme ‘Mandacaru Vermelho’, como Sonia Coutinho --na verdade uma escritora.
A editora Objetiva informou que ‘fará as mudanças conforme instruções do autor na próxima reimpressão, que é iminente (....), até o dia 15 de novembro.’
Disse ainda que os exemplares em circulação não serão recolhidos. A tiragem inicial de ‘A Primavera do Dragão’, lançado no fim de setembro, foi de 20 mil exemplares. A Objetiva diz não ter fechado o primeiro balanço de vendas.
Em entrevista à Folha, Fernando da Rocha Peres, professor emérito de história da UFBA (Universidade Federal da Bahia) com vários livros publicados, entre os quais uma biografia do poeta Gregório de Mattos, creditou os problemas apontados a uma certa folclorização da cultura baiana.
‘É um livro pouco sério, e a Bahia é séria. Não é um balneário para os cariocas virem se divertir. O problema é que certos indivíduos assentados no divã das celebridades imaginam que a Bahia é um balneário.’
Definida por Nelson Motta como uma biografia romanceada da adolescência e juventude de Glauber Rocha, ‘A Primavera...’ vai até 1964, com a boa recepção em Cannes de ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’.
‘Não existe biografia romanceada. Biografia é um gênero histórico. Biógrafos têm que se assentar em documentos. Podem se valer em entrevistas, mas as entrevistas têm que ser transcritas com fidelidade e ter a autorização dos entrevistados’, criticou Peres.
Motta afirma que a ideia do seu livro surgiu de uma entrevista com a mãe de Glauber, Lúcia Rocha. Em 1989, o jornalista foi a Salvador e teve várias outras conversas com amigos do cineasta.
Diz que abortou o projeto ao saber que Zuenir Ventura já preparava uma biografia de Glauber, mas o retomou quando o amigo desistiu do projeto, e fez novas entrevistas para juntar às que fizera 23 anos atrás.
O ‘Terra Magazine’ ouviu outros amigos de juventude de Glauber, entre eles João Carlos Teixeira Gomes, autor de uma biografia referencial do cineasta, ‘Glauber Rocha, Esse Vulcão’.
Alem dos erros pontuais, há críticas generalizadas ao tom jocoso dos relatos do livro em torno da chamada ‘Geração Mapa’, que liderou a vanguarda artística nos anos 60 na Bahia.
Os amigos contestam a descrição de ‘atentados terroristas’ planejados por Glauber e sua turma na Salvador dos anos 50/60 --como o ataque a um navio espanhol atracado no cais, o sequestro de um empresário e banqueiro e o fuzilamento do então governador Juracy Magalhães.
O tom empregado por Motta no livro, porém, é claramente zombeteiro, não de relato histórico.
‘As 'conspirações de araque' (...) que obviamente não eram sérias, apenas fantasias anarquistas de jovens movidos a cerveja e alegria, me foram relatadas pelo artista plástico Calazans Neto, pelo escritor João Ubaldo Ribeiro e pelo cineasta Orlando Senna, em entrevistas gravadas, às gargalhadas. E também pelo próprio Glauber Rocha, sempre às gargalhadas, como lembranças de exercícios de imaginação de jovens inteligentes e abusados. Não dá para levar a sério, nem era para isto, mas mostra o espírito, o humor e a imaginação de Glauber e de alguns de seus amigos’, escreveu Nelson Motta na carta de resposta.”
É isso aí, Nelson Motta: cada macaco no seu galho! Era preferível ter escrito uma biografia de Caetano Veloso, que alem de músico, é de direita... Como você.

1. O fato vem a comprovar que não existe preocupação dos editores em corrigir erros, simplesmente pela questão de não perder o dinheiro investido... Afinal, quantos erros existirão a mais?

6 comentários:

Mário disse...

Todo apoio aos movimentos contra o capitaslismo de Wall Street e outros ao redor do mundo.
No tocante a Nelson Mota, estou de acordo. Ele é um picareta e um veadinho que nem música conhece tanto!

Jonga Olivieri disse...

he he he !

Joelma disse...

Também acho o Nelson Motta um bobão! E penso a mesma coisa: metido a besta se ensaiou numa biografia complicada. O que que é isso!

Jonga Olivieri disse...

Taí, gostei do "bobão"!

André Setaro disse...

Aqui na Bahia os colegas de Glauber, que fizeram parte da Geração Mapa, ficaram indignados com as inverdades e a troca de informações erradas cometidas por Nelson Mota. Houve grande repercussão a ponto de a editora Objetiva, que editou o livro, declarar que vai reimprimi-lo com os erros sanados.

Jonga Olivieri disse...

Nelson Motta meteu o seu bedelho onde não foi chamado.
Quem é este "porralouca" para ousar a narrar a vida de Glauber Rocha !!!
Um mediocre burguesinho, sem vergonha. E mais, publicou um livro "mal escrito e mentiroso e mais houvera adjetivos", segundo palavras de Fernando da Rocha Peres.