sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Loucuras no oriente


Robert Fisk escreve: “um ataque a Teerã seria loucura. Por isso mesmo, não exclua a possibilidade”:

“Se Israel atacar o Irã esse ano, Israel – e os EUA – darão prova de serem ainda mais doidos do que seus inimigos acreditam que sejam. Sim, Mahmoud Ahmadinejad, o presidente iraniano, é doido, mas Avigdor Lieberman, que parece ser ministro dos Negócios Exteriores de Israel, também é. Talvez queiram fazer favores um ao outro.
Mas por que Israel bombardearia o Irã, e atrairia sobre a própria cabeça a fúria simultânea do Hezbollah libanês e do Hamás — sem falar na Síria? E, isso, também sem lembrar que Israel atrairia para o fundo do mesmo buraco e para o mesmo tiroteio o ocidente – a Europa e os EUA.
Talvez seja porque vivo no Oriente Médio há 36 anos, mas pressinto alguma tramóia no ar. Até Leon Panetta, nada menos que secretário de Defesa dos EUA, anda dizendo que Israel talvez ataque o Irã. E também a CNN – e seria difícil achar mais antiga criadora de tramóias –, e até o velho David Ignatius (1), que não está no Oriente Médio há uma ou duas décadas, repete que Israel talvez ataque o Irã, “informação” colhida, como sempre, de suas “fontes” israelenses.
Já esperava esse tipo de conversa, quando passava os olhos pelo The New York Times Magazine da semana passada – e não é propaganda, porque não quero que os leitores de The Independent percam tempo e energia lendo aquelas bobagens – e encontrei um alerta, escrito por um “analista” (nunca consegui entender o quê, exatamente, é um “analista”) israelense, Ronen Bergman, do jornal israelense Yedioth Ahronoth.
Eis aqui a isca de Bergman, bem no estilo da antiga toada da velha propaganda de guerra: ‘Depois de falar com muitos (sic) altos líderes israelenses e comandantes (outro sic) militares e da inteligência de Israel, estou convencido de que Israel realmente atacará o Irã em 2012. Talvez na pequena e cada vez menor janela de tempo que ainda resta, os EUA decidam, afinal, fazer alguma coisa, mas do ponto de vista de Israel, a esperança já é quase nenhuma. Em vez de esperança, o que se vê é a mesma combinação, tão típica dos israelenses, de medo e tenacidade, a feroz convicção, certa ou errada, de os israelenses sempre têm de se defender sozinhos.’
Ora essa! Primeiro, qualquer jornalista que preveja ataque de Israel contra o Irã põe o próprio pescoço na guilhotina. Segundo, jornalista que preste – e há muitos em Israel – perguntaria a si mesmo, antes de escrever: Para quem estou trabalhando? Para o meu jornal? Ou para o meu governo?
Panetta, que já mentiu aos soldados dos EUA no Iraque, quando lhes disse que estavam lá por causa do 11 de Setembro, deveria saber jogar o jogo com mais competência. A CNN também. E Ignatius é para ser esquecido. Mas… que conversa é essa, em geral? Nove anos depois de invadir o Iraque – aventura muitíssimo bem sucedida, como não se cansam de repetir até hoje –, porque Saddam Hussein tinha “armas de destruição em massa”, lá estamos nós, aplaudindo que Israel bombardeie o Irã, por causa de outras “armas de destruição em massa”, ainda mais improváveis.
Não duvido que, segundos depois de ouvir o noticiário, os redatores grotescos que redigem os discursos de Obama já estarão metendo mãos à obra para encontrar as palavras certas de apoio a um ataque israelense. Se Obama pode trocar a defesa da liberdade e dos direitos dos palestinos ao próprio Estado pela própria reeleição, não há dúvidas de que poderá apoiar a agressão israelense, na esperança de que o mantenha na Casa Branca.
Mas, se os mísseis iranianos começarem a chover sobre os navios de guerra dos EUA no Golfo – para não falar das bases norteamericanas no Afeganistão –, os redatores de discursos de Obama terão, aí sim, muito mais trabalho. Que, pelo menos, não deixemos que britânicos e franceses entrem nessa.”
  
1. David Ignatius é colunista estadunidense, muito conhecido por suas ligações com a inteligência israelense; aparece lembrado aí, por causa de matéria intitulada “Is Israel preparing to attack Iran?”, 2/2/2012, publicada no Washington Post, que foi comentada ontem em vários jornais do mundo, precisamente pelo tom de desabrida propaganda de guerra.

5 comentários:

Joelma disse...

Obama está torcendo para a "guerrinha" acontecer na hora certa e assim reforçar sua reeleição. Tudo coordenadinho para acontecer no momento exato.
O resto é figuração!

Mário disse...

Trata-se de uma loucura nesmo. Loucura, a vontade de Israel em dizimar quem quer que se oponha à sua hegemonia na região!
Tem que ser apenas o nazi-sionista estado de Israel a imperar como potência atômica no pedaço. O resto que ponha suas barbinhas de molho.

Jonga Olivieri disse...

Exatas duas horas depois do comentário da Jô, Mário fecha o círculo de "mandanças" naquelas paragens...
Na verdade EUA e Israel, em outras palavras o imperialismo não permitindo que "estranhos" possam sequer se manifestar, que dirá interferir na hegemonia. hehehe!
Afinal, quem manda ali?

Anônimo disse...

Robert Fisk, que eu não conheço, prova aqui ser um jornalista consciente e muito consciente também da situação reinante no Oriente Médio, estopim da próxima guerra.Melhor dizendo: próxima Grande Guerra. Ou se pensa que podera ser em outro lugar?
J.R.

Jonga Olivieri disse...

Grande persepção lógica das coisas, meu caro Luiz!