Com
este GEAB (1) Nº 61 completar-se-ão seis anos que a cada mês a equipe do
LEAP/E2020 (2) compartilha com os seus assinantes e os leitores do seu comunicado
público mensal suas antecipações sobre a evolução da crise sistêmica global. E
pela primeira vez, por ocasião do número de janeiro que apresenta uma síntese
das nossas antecipações para o ano que decorrerá, nossa equipe antecipa um ano
que não se traduzirá unicamente por um agravamento da crise mundial mas que
será também caracterizado pela emergência dos primeiros elementos construtivos
do "mundo após a crise", para retomar a expressão de Franck Biancheri
no seu livro "Crise mundial: A caminho do mundo de amanhã".
Segundo o
LEAP/E2020, 2012 será com efeito o ano da grande perturbação geopolítica
mundial: um fenômeno que será sem qualquer dúvida portador de graves
dificuldades para grande parte do planeta mas que permitirá igualmente a
emergência das condições geopolíticas propícias a uma melhoria da situação nos
próximos anos. Ao contrário dos anos anteriores, 2012 não será um ano
"perdido", preso ao "mundo de antes da crise", por falta de
audácia, de iniciativa e de imaginação por parte dos dirigentes mundiais e pela
grande passividade dos povos desde o princípio da crise.
Havíamos qualificado 2011 como o ano implacável pois fez explodir em
estilhaços as ilusões de todos aqueles que pensavam que a crise estava sob
controle e iam poder retomar seus "pequenos negócios quotidianos"
como no passado. E 2011 foi implacável para numerosos dirigentes políticos,
para o setor financeiro, para os investidores, para as dívidas ocidentais, para
o crescimento mundial, para a economia dos EUA e para a ausência de governança
da Eurolândia. Aqueles que se acreditavam intocáveis ou inamovíveis descobriram
brutalmente que a crise não poupava nada nem ninguém. Esta tendência vai
certamente prosseguir em 2012 pois a crise não respeita tão pouco o corte do
calendário gregoriano. Os últimos "intocáveis" vão experimentar:
Estados Unidos, Reino Unido, dólar, títulos do tesouro, dirigentes russos e
chineses, etc... Mas 2012 verá igualmente afirmarem-se, sobretudo no seu segundo
semestre, as forças e os atores que permitirão em 2013 e nos anos seguintes
começar a reconstruir um novo sistema internacional, refletindo expectativas e
relações de força do século XXI e não mais as dos meados do século XX. Quanto a
isto, 2012 vai ser o ano da grande perturbação com a transição entre o mundo de
ontem e o de amanhã. Como ano de transição, será uma mescla entre o pior e o
melhor. Mas, ainda assim, segundo a nossa equipe, será o primeiro ano
construtivo desde 2006.
Neste GEAB Nº 61 apresentamos igualmente os 35 temas/acontecimentos, que são
também recomendações, que antecipamos caracterizarem o ano de 2012: 20 temas em
alta e 15 temas em baixa. Esta lista pode muito concretamente ajudar o leitor
do GEAB a preparar-se para o decorrer. Reduzir o tempo perdido em ler artigos
sobre assuntos que já são secundários em termos de impacto sobre o rumo dos
acontecimentos, ou ao contrário aproveitar o tempo para aprofundar temas que
amanhã estarão no cerne das próximas evoluções, não se deixar apanhar de
surpresa pelas grandes evoluções do ano que vem, é para isso que serve esta
lista dos 35 "Up and Down"
de 2012. Com uma percentagem de êxito que varia entre 75% e 85% nos últimos
seis anos, esta antecipação anual é, portanto, uma ferramenta de ajuda à
decisão particularmente concreta para os próximos doze meses.
Por outro lado, neste GEAB Nº 61 a nossa equipe analisa em profundidade a
natureza e as consequências de uma possível QE3 que a Reserva Federal dos EUA
lançasse em 2012. Esperada por uns, temida por outros, a QE3 geralmente é
apresentada como a arma final para salvar a economia e o sistema financeiro dos
EUA que, ao contrário do discurso dominante nestas últimas semanas, continuam a
degradar-se. Que o Fed se lance ou não no QE3, isto será sem qualquer dúvida o
grande acontecimento financeiro de 2012 cujas consequências marcarão
definitivamente o sistema financeiro e monetário mundial. Este GEAB Nº 61 vos
permitirá fazer uma ideia precisa acerca da questão.
O QE3 desempenhará um papel determinante na
grande perturbação geopolítica mundial de 2012 pois este ano verá nomeadamente
as últimas tentativas das potências dominante do “mundo anterior à crise” de
manter o seu poder global, quer em matéria estratégica, econômica ou
financeira. Quando utilizamos o termo "últimas" estamos a querer
sublinhar que após 2012 a sua potência estará demasiado enfraquecida para ainda
poderem pretender manter esta situação privilegiada. A recente degradação da
maior parte dos países da Eurolândia pelo S&P é um exemplo típico destas
tentativas de última instância: pressionados pela Wall Street e pela City, e
devido às suas necessidades insaciáveis de financiamento, os Estados Unidos e o
Reino Unido chegaram ao ponto de empreenderem uma guerra financeira aberta
contra os seus últimos aliados, os europeus. Trata-se de suicídio político pois
esta atitude obriga a Eurolândia a reforçar-se integrando-se cada vez mais e
dissociando-se dos Estados Unidos e do Reino Unido; enquanto a imensa maioria
dos dirigentes e das populações da zona euro compreenderam finalmente que havia
uma transatlântica e trans Canal da Mancha contra si. A este respeito, o
LEAP/E2020 apresentará suas antecipações "Europa 2012-2016" no GEAB
Nº 62 que aparecerá em 15 de Fevereiro de 2012.
Num outro registro, as tentativas de criar uma
"pequena guerra fria" com a China ou de estender uma armadilha ao Irã
sobre a questão da livre circulação no Estreito de Ormuz decorrem do mesmo
reflexo. Voltaremos ao assunto com mais pormenores neste GEAB Nº 61.
A grande perturbação de 2012 é também a dos povos. Pois 2012 também será o ano
da cólera dos povos. É o ano em que eles vão entrar maciçamente na cena da
crise sistêmica global. O ano de 2011 terá sido um "préaquecimento"
em que pioneiros terão testado métodos e estratégias. Em 2012 os povos irão
afirmar-se como as forças motivadoras das grandes perturbações que vão marcar
este ano charneira. Eles o farão de maneira próativa porque criarão as
condições para mudanças políticas decisivas via eleições (como será o caso em
França com a expulsão de Nicolas Sarkozy) ou via manifestações maciças (Estados
Unidos, Mundo Árabe, Reino Unido, Rússia). E também o farão de maneira mais
passiva gerando o temor junto aos seus dirigentes, obrigando-os a uma atitude
"preventiva" para evitar um grande choque político (como será o caso
na China ou em vários países europeus). Em ambos os casos, seja o que for que pensem
as elites dos países afetados, é um fenômeno construtivo pois nada de
importante nem de duradouro pode emergir desta crise se os povos nela não se
envolverem.
A grande perturbação de 2012 será ainda o colapso acelerado do poder dos bancos
e das instituições financeiras ocidentais, uma realidade que descrevemos neste
GEAB contrariando o discurso populista atual, o qual esquece que o céu
estrelado que contemplamos é uma imagem de uma realidade desaparecida desde há
muito. A crise é uma aceleração tal da História que muitos ainda não
compreenderam que o poder dos bancos com que se inquietam é aquele que eles
tinham antes de 2008. É um assunto que pormenorizamos neste número do GEAB. Ao
mesmo tempo, continua-se a ver os investidores fugirem das bolsas e dos ativos
financeiros, nomeadamente nos EUA.
E
a grande comoção será também a chegada do BRICs à maturidade. Após cinco anos
de ensaios e experimentações, em 2012 eles vão começar a pesar fortemente e próativamente
nas decisões internacionais. Eles constituem sem qualquer dúvida um dos atores
essenciais para a emergência do mundo pós crise. E um ator que, ao contrário
dos Estados Unidos e do Reino Unido, sabe que o seu interesse é ajudar a Eurolândia
a atravessar esta crise.
Com uma Eurolândia estabilizada e dotada de uma governabilidade sólida, o fim
de 2012 apresentar-se-á portanto como uma primeira oportunidade de fundar as
bases de um mundo cujas raízes já não mergulharão mais no pós Segunda Guerra
Mundial. Ironicamente, é provavelmente a reunião de cúpula do G20 de Moscou, em
2013, a primeira a efetuar-se fora do campo ocidental, que concretizará as
promessas da segunda metade de 2012.
Reproduzido de Boletim 61 Controvérsia
1. GEAB – Globe Europe Antecipation Bulletin.
2. LEAP/Europe 2020 (Laboratório Europeu de Antecipação Política)
foi criado para analisar e antecipar desenvolvimentos econômicos globais a partir
de uma perspectiva européia e publicar um boletim com previsões mensais de
economia . Foi
fundado em 1997. O LEAP/E2020 afirma ser o primeiro site europeu de
antecipação, independente de qualquer governo ou lobby. http://www.leap2020.eu/English_r25.html
14 comentários:
A propósito desta temática, acabo de ler a opinião do economista Fernando Sarti, diretor da Escola de Economia da UNICAMP.
“Independentemente da crise, os países emergentes passaram a ser também protagonistas nas relações mundiais, e isso não mudará mais. A crise é parte desta mudança, assim como uma evidência clara de que ela aconteceu”, analisa ele.
A transferência dessas multinacionais para os emergentes determinou a entrada, principalmente da China, na cadeia econômica mundial. Com isso, a “periferia” também passou a consumir.
Com essa mudança, que, segundo o economista, condicionou uma nova dinâmica no mercado, as consequências da crise ainda são difíceis de prever.
“O que é certo é que tanto a Europa quanto os Estados Unidos sairão mais injustos e desiguais do que entraram”, diz ele. O economista afirma que, se a infra-estrutura dos países já era desigual, agora essas diferenças ficarão mais claras.
Certamente que o economista e professor da Unicamp, Fernando Sarti deve ter acesso a estes documentos do LEAP/E2020 e ao GEAB...
Pois seus pontos de vista se entrosam perfeitamente com eles.
Um documento da maior importância. Vou marcar este site!
E é para marcar mesmo!
muito importante saber que isso existe
Pois divulgue... Quantos mais souberem, melhor!
Coisa incrível, gostei demais!
L.P.
É realmente muito boa a referência e a fonte de pesquisa.
Atualmente, com o capitalismo cada vez mais selvagem, há uma impessoalidade e frieza impressionantes nas relações econômicas. Se o sujeito não paga a conta de luz, tem-na cortada 45 dias depois do vencimento. Sem dó nem piedade. Os juros dos bancos são extorsivos. Você pega 5.000 e acaba pagando mais de 20.000. Lembro-me que, antigamente, quando os priscos eram paraísos nada fiscais, a Circular (empresa de energia) somente cortava a luz após seis meses sem o pagamento, e, mesmo assim, com uma carta gentil sendo enviada para comparecimento do cliente ao escritório para conversar.
Estamos em plena decadência da Civilização Ocidental. Marx coça a barba, mas não a põe de molho.
Boa esta comparação entre épocas em que a situação somente agravou-se, alcançando a frieza de nossos tempos em que o capital é impessoal, em que o relacionamento humano desapareceu cedendo apenas a números.
Aqui, d'alem mar devo parabenizá-lo por descobrir esta preciosidade a singrar novos horizontes.
E nós que nos julgávamos navegantes e descobravadores ficamo-lhes mui gratos por tudo isto!
Ora pois... Espalhe por terras deste velho mundo que aí, dentro de casa, está havendo isto tudo!
E o link para o GEAB é super´prático mesmo!
Sim Suely, com ele você fica sempre inteirada dos dados do LEAP/E2020.
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