A morte de Chávez e
o futuro da Venezuela
“As oligarquias e o império estão em festa,
enquanto aqueles que lutam pela igualdade sofrem. Desejo muita força ao povo
venezuelano neste momento. Muita força e muita unidade para lutar por nossa
liberdade, para trabalhar pela igualdade dos povos do mundo e contra as forças
imperialistas”.
Evo Morales, presidente da
Bolívia
Em agosto de
2007, escrevi no antigo e saudoso Pensatas uma matéria intitulada Em
defesa de Chaves em que destaco que: “Todo dia os jornais têm desfilado uma batelada de críticas ao governo de
Hugo Chávez, numa clara intenção de denegrir sua imagem, em conluio com a
estratégia de Bush e seus asseclas de isolar o político em sua busca por uma
política independente e contrária aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos
sobre a América...”
Na realidade a situação pouco mudou ao longo do tempo. A
oposição chegou a afirmar que a doença de Chávez havia sido uma farsa com fins
eleitoreiros. E ridicularizaram ao máximo a sua imagem, sempre caricaturizando e
ridicularizando as atitudes anti imperialistas do ex-presidente venezuelano.
Mas, pelo contrário, circulam versões de que o cancer de Chávez foi provocado
por algum tipo de envenenamento, coisa que não é de todo descartável, bastando
para tanto lembrar as tentativas do imperialismo no passado de envenenar ou
contaminar Fidel Castro.
Na mesma postagem eu disse: “...Hugo Chávez adquiriu uma projeção que transcende o
quadro da sua revolução bolivariana, em terras de Venezuela. As suas tomadas de
posição projetaram-no como uma liderança aclamada por setores mais esclarecidos
no continente americano, como também respeitado e admirado pelas forças
progressistas em todo o mundo...”, o que é uma realidade.
A prova disto foi a repercussão
de sua morte em nível internacional e a própria mídia burguesa não podendo
ignorar a sua importância... Apesar de continuarem a criticar a política
interna do país, a posse do vice Maduro y
otras cositas mas. E apesar tambem da constante defesa de Jimmy Carter à transparência
do sistema eleitoral venezuelano. É importante lembrar que Chávez promoveu mais de dez
eleições, com ampla participação popular e com extremo rigor de controle (internacional)
sobre a lisura das urnas. E que ganhou todas.
“Não teve líder na história de nossa pátria
mais vilipendiado, mais atacado que Hugo Chávez”, afirmou Nicolás Maduro, nesta
sexta-feira (08/03), durante a cerimônia oficial de funeral do líder
venezuelano. “Jamais em 200 anos se mentiu tanto sobre um homem...”, disse o
presidente em exercício, em seu discurso de homenagem.
“Para as forças progressistas do mundo
inteiro, Chávez foi o dirigente que mostrou que a revolução é possível. A
Venezuela é hoje o país do mundo mais próximo daquilo que pode ser definido
como uma revolução. Revolução como um processo profundo, radical, de
transferência de poder e de riqueza de elites privilegiadas para a classe
trabalhadora, para as grandes massas da população”, explica o professor do
curso de relações internacionais da Universidade
Federal do ABC Igor Fuser.
A
desigualdade foi reduzida em 54%. A pobreza despencou de 70,8%, em 1996, para
21%, em 2010, e a extrema pobreza caiu de 40%, em 1996, para 7,3%, em 2010. São
números assombrosos, sem dúvida. Números que colocam a Venezuela como o país
que mais evoluiu no cumprimento das Metas do Milênio, segundo a ONU.
Educação, o
principal determinante da saúde e da pobreza, foi onde o governo bolivariano
colocou ênfase especial, atribuindo-lhe mais de 6% do PIB. O resultado é que,
hoje, a UNESCO reconhece a Venezuela como país livre de analfabetismo. Do
jardim de infância à universidade, a educação é gratuita. 72% das crianças
frequentam escolas públicas e 85% das crianças e adolescentes em idade escolar
frequentam a escola. Há milhares de novas escolas, entre as quais se incluem 10
novas universidades. Após o chavismo, a Venezuela é o segundo país da América
Latina e o quinto no mundo com maior proporção de estudantes universitários.
Em relação à
saúde pública, é preciso ressaltar que a mortalidade infantil diminuiu de 25
por mil, em 1990, para apenas 13 por mil, em 2.010. Hoje, 96% da população já
tem acesso à água potável. Em 1998, havia 18 médicos por 10.000 habitantes,
atualmente são 58. Os governos anteriores ao de Chávez construíram 5.081
clínicas ao longo de quatro décadas, enquanto que, em apenas 13 anos, o governo
bolivariano construiu 13.721, um aumento de 169,6%. Barrio Adentro, o programa
de atenção primária à saúde salvou cerca de 1,4 milhões de vidas.
Um grande
mérito do governo Chávez tem sido o investimento na diversificação da atividade
produtiva, tanto no campo quanto na área industrial. Hoje (ao contrário do que
diz a mídia conservadora), o orçamento da Venezuela já é menos dependente do
petróleo do que na era pré-Chávez. Atualmente, cerca de 50% das receitas
venezuelanas veem da cobrança de impostos e não mais da venda direta de
petróleo e gás. Ainda falta muito para a Venezuela superar a sua dependência
econômica dessa commodity, mas o fato
concreto é que o governo Chávez fez mais do que todos os outros governos
anteriores.
A ideia era de que a morte de Chávez ia levar
a uma situação de caos, de tumulto na Venezuela, de luta desenfreada pelo
poder... O que nós estamos vendo é exatamente o contrário. É uma população
tranquila, triste, chorando a morte do seu grande líder, e numa situação
bastante definida. Haverá eleições, o sucessor designado por Chávez, Nicolás
Maduro, será candidato. E todas as pesquisas apontam que ele é o grande
favorito para ganhar as eleições.
4 comentários:
O seu texto "A morte de Chávez e o futuro da Venezuela" sobre Hugo Chávez é imprescindível para os brasileiros. Até o momento não li nada tão realista, tão esclarecedor e tão justo sobre a transcendência histórica de Chávez para a América Latina e o Terceiro Mundo. Seu resumo das conquistas socioeconômicas do governo de Hugo Chávez na Venezuela é extraordinário.
Sua demonstração do compromisso histórico de Chávez com um novo socialismo através das conquistas em beneficio do povo de Venezuela é simplesmente notável e coloca Chávez legitimamente na dimensão equivalente a de Fidel, Che Guevara, José Martin ou Bolívar.
Esta é a razão porque o governo imperialista assassinou a Hugo Chávez: os EUA já não aguentava a permanente desmoralização de NAFTA e do seu neoliberalismo, nem suportava a realidade do desenvolvimento de um novo socialismo no continente.
O governo estadunidense, utilizou de todos os seus poderosos recursos (os golpes militares, a bilionária propaganda do governo, da media corporativa dos EUA, da Europa, do Brasil, da América Latina; o gigantesco financiamento do Departamento de Estado estadunidense aos inimigos políticos de Chávez para retomar o poder). E como sabemos, o imperialismo foi sempre derrotado em todos as esferas socioeconômicas, mas sobretudo nos resultados contundentes das eleições venezuelanas.
Meus parabéns, amigo Jonga, pela dignidade e coragem de defender um líder revolucionário legítimo da América no lugar de promover o malabarismo corrupto de um oportunista (que vivia á sombra de Chávez) que chegou ao poder e continuou enganando e mentindo ao povo brasileiro para se locupletar.
Jorge
Vamos aguardar o chavismo pós-Chavez.
Ainda nesta semana vi comentários nesta nossa nojenta imprensa dizendo que Chávez não fez nada pela Venezuela. É muita cara de pau!
Poucos os que, como você, surgem para falar a verdade sobre Chavez.
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