Salvador López Arnal
Traduzido para Novas Pensatas por Jorge Vital de Brito Moreira
Discípulo
de Manuel Sacristán Luzón (1), destacado lutador anti franquista, comunista
democrático com arestas libertárias, reconhecido estudioso da obra de Bartolomé
de Las Casas, Francisco Fernández Buey [FFB], nasceu em Palencia, em 1943.
Entre
1952 e 1960, ele estudou o colegial no Instituto Jorge Manrique em sua cidade
natal. Lá ele conheceu dois professores que o marcaram profundamente: José
Rodriguez Martinez e Xesús Alonso Montero.
Entre
1961 e 1966, estudou Filosofia na Universidade de Barcelona. Foi então que ele
conheceu Manuel Sacristán e tornou-se um líder admirado do movimento estudantil
democrático. As duas primeiras manifestações que ele participou resume
praticamente os eixos essenciais da sua trajetória política: a primeira, em
1962, foi em solidariedade com a luta dos mineiros asturianos; a segunda, um ano mais tarde, para protestar
contra o assassinato do líder comunista Julian Grimau pela ditadura do General
Franco.
Nesse
mesmo ano, iniciou sua militância na organização universitária do PSUC (Partido do Socialismo Unificado de Cataluña) e entre 1965 e 1966, contribuiu para a criação
do Sindicato Democrático dos Estudantes da Universidade de Barcelona (SDEUB).
Francisco F. Buey foi delegado do
sindicato clandestino e ajudou a organizar
“La Capuchinada” (2) uma decisiva reclusão dos estudantes que foram
duramente reprimidos pela policia barcelonesa do regime franquista.
Francisco
Buey foi preso três vezes em 1966, tendo estado várias semanas na “Prisão
Modelo” de Barcelona. O franquismo abriu
contra ele um processo disciplinar por
três anos, sob a reitoria do farmacologista fascista Garcia Valdecasas;
Francisco Buey foi despojado da bolsa de estudo com a qual tinha podido estudar
desde o colegial , e foi obrigado a fazer o serviço militar no deserto do
Saara, então colônia espanhola. Na África, incapaz de voltar ao continente, permaneceu
de janeiro de 1967 a maio de 1968.
Após
seu retorno, em agosto de 1968, casou-se civilmente com a historiadora Neus
Porta com quem teve um filho, o professor, ensaísta e escritor Eloy Fernández
de Porta. FFB foi novamente preso em 11 de setembro de 1968, acusado de soltar
pombas com bandeiras vermelhas de quatro barras (a bandeira não independentista
da Catalunha).
FFB
andou foragido a maior parte do ano de 1969 pelo estado de emergência introduzido
pelo regime de Franco e sob a acusação de ter organizado - com Manuel Sacristán
e outros companheiros - a comissão de
treinamento do PSUC. Salvou-se da prisão
graças à habilidade do advogado Josep Solé Barbera, outro lutador memorável contra a ditadura de Franco. Durante
esse ano e o seguinte, FFB ganhava a vida traduzindo (principalmente do francês
e do italiano para o espanhol) para as editoras Ariel, Península, Fate e Grijalbo.
Em 1970, ele ajudou a organizar a reclusão dos intelectuais catalães no
Mosteiro de Montserrat em reação ao Conselho de Guerra contra um grupo de revolucionários vascos.
Durante
1971-72 pode terminar o curso de Filosofia e Letras com Prêmio Especial da Licenciatura.
Em 1973, começou a ensinar no Departamento de História da Filosofia da Universidade
de Barcelona como assistente do professor Emilio Lledo.
Durante
o período 1974-1975, colaborou na organização do movimento PNNS, foi membro da
sua Coordenadoria Estadual, e ajudou a organizar uma das maiores greves de
ensino sob o franquismo. Como resultado, ele foi expulso novamente da
universidade, depois de ter sido readmitido pouco depois da morte do general criminoso
Francisco Franco que morreu em novembro de 1975.
Em
1976, ele passou a trabalhar na Faculdade de Economia da Universidade de Barcelona
como assistente de Manuel Sacristán. Simultaneamente, lecionava na Escola de
Sociologia da Província de Barcelona e foi quando ele começou a escrever seus
primeiros ensaios- “Escritos sobre Gramsci” e “Conhecer a obra de Lenin”, sem
abandonar seu compromisso poliético, colaborando na fundação das Comissões de
Ensino dos Trabalhadores.
Em
1977, com Manuel Sacristán, Jacobo Muñoz, Rafael Argullol e outros companheiros,
fundou a revista Materiales e começou
a trabalhar na revista El Viejo Topo.
Nesse mesmo ano, ele descobriu a ecologia social e juntou-se à Comissão
Antinuclear de Catalunha (CANC), ajudando a convocar os primeiros manifestações
ecologistas e antinucleares em Barcelona. Em 1979, também com Manuel Sacristán
e outros colegas, fundou a revista Mientras
tanto.
Entre
1980 e 1982, FFB terminou de escrever sua tese de doutorado, dirigido por José
María Valverde sobre o marxismo italiano dos anos sessenta (Contribuição Crítica
do marxismo cientificista), ligando-se ao Instituto Gramsci de Roma, através do
filosofo amigo Valentino Gerratana.
Entre
1983 e 1989, dirigiu uma cátedra interina na Universidade de Valladolid e viveu
lá, na cidade de Leon, durante seis anos. Nesse período, e em suas próprias
palavras: "1) Transformei-me em pacifista e entrei nos Comitês Anti-OTAN,
2); Fundei um Centro para o Estudo dos
Problemas da Paz e Desarmamento, vinculado à UNESCO; 3) Tornei-me um dos
primeiros objectores fiscais dos gastos militares e trabalhei em favor da objeção
de consciência; 4) Participei em várias conferencias gramscianas onde conheci e
me relacionei com a família de António Gramsci”.
Em
1990, ele retornou a Barcelona e ocupou a cátedra de Metodologia das Ciências
Sociais (que tinha sido ocupada anteriormente por Manuel Sacristán), da
Faculdade de Economia da UB. Ele continuou escrevendo, principalmente sobre os
movimentos sociais alternativos para a revista Mientras tanto e trabalhou com seu amigo e companheiro Octavi
Pellissa no Centro de Emprego e Documentação (CTD) de Barcelona.
Em
1993, ele estava ensinando ("e aprendendo"), em El Salvador e Equador,
com uma ONG de professores solidários da Catalunha. Foi quando lhe ofereceram
um cargo de professor de Ética e Filosofia Política da nova Faculdade de
Ciências Humanas da UPF (Universidade Pompeu Fabregas), faculdade, onde
permaneceu até o fim de seus dias. Na UPF, também foi diretor de uma cátedra da
UNESCO para o estudo das relações interculturais. A partir de 1998, dirigiu -
junto com o poeta, professor e ecosocialista Jorge Riechmann - uma importante
coleção dos "Clássicos do pensamento crítico" para a editora “Los
Libros de la Catarata”.
Desde 1975, FFB
trabalhou academicamente diversos temas: história da filosofia, filosofia da
ciência, filosofia das ciências sociais, história das ideias, história da
ciência e, destacadamente, em ética e filosofia política. Foi membro de
instituições acadêmicas como a Internacional
Gramsci Society e a New York Academy
of Sciences.
FFB
publicou em vida uns quinze livros e inúmeros prefácios, ensaios e artigos,
alguns deles traduzidos para línguas como o francês, italiano, inglês, alemão,
português, polonês, russo e chinês. Entre esses ensaios caberia destacar: Discursos para insubmisos discretos
[Escritos: 1976-1992], 1993; La gran
perturbación. Discurso del indio metropolitano, 1995; Ni tribunos. Ideas y materiales para un programa ecosocialista,
1996 [em colaboração con Jorge Riechmann]; Marx
(sin ismos), 1998 (2ª edición corregida, 1999); Leyendo a Gramsci, 2001; Poliética, 2003; Guía para una globalización
alternativa. Otro mundo es posible, 2004; Albert Einstein. Ciencia y conciencia, 2005; Utopías e ilusiones naturales, 2007; Por una universidad democrática., 2009. A editora El Viejo
Topo está prestes a publicar um livro póstumo: Humanismo y tercera cultura.
Ao
internacionalista ecopacifista Francisco Fernández Buey, falecido
prematuramente em agosto de 2012, um ano após a morte de sua esposa e parceira
Neus Porta, o turismo lhe parecia a praga da sociedade pós-moderna.
Notas
do Tradutor:
1) Manuel Sacristán Luzón
(Madrid, 1925-Barcelona, 1985), filósofo, lógico, professor, tradutor e
escritor é considerado o maior filosofo marxista espanhol do seculo XX. O professor e escritor Salvador Lopez-Arnal, já foi apresentado aos leitores de Novas
Pensatas, através do artigo “Manuel Sacristán, o compromisso do
filósofo”, publicado por este blogue em 8 de março de 2011.
2)
“La Capuchinada” foi o nome que
recebeu a reclusão dos estudantes no
convento de capuchinhos de Sarriá de em 1966, y que devido a sua
repercussão na mídia passou a ser conhecido pela imprensa da época como "La
Capuchinada".
Um comentário:
Excelente esta postagem do professor Jorge Moreira em que ele nos apresente um pensador marxista, para mim, até então desconhecido.
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