domingo, 5 de fevereiro de 2017

Complemento às Pensatas de Domingo



Na verdade o que matou dona Marisa?

Dona Marisa não morreu em função de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), esse foi apenas o instrumento à mão utilizado por algo infinitamente maior e mais cruel que a seguiu ininterruptamente desde o momento em que se recusou permanecer na sua socialmente predestinada condição de miserável. O que matou dona Marisa foi o ódio destinado àqueles que não se calam, foi a intolerância daqueles que não admitem serem contestados, foi o preconceito de quem jamais admitiu que um pobre possa vencer na vida, foi a megalomania de um judiciário podre e o escárnio dos que tem aversão a tudo que é legítimo, legal e democrático.

Diariamente pessoas morrem no mundo inteiro pelo simples fato de sua condição social, de sua raça, de seu gênero, de sua etnia, de sua crença ou de seus ideais. Morrem, enfim, por serem considerados “diferentes”, “inferiores”, “descartáveis”. Quem compartilha dessas sandices não é menos responsável do que aqueles que de fato espancaram, lincharam ou puxaram o gatilho. Da mesma forma, são responsáveis diretos pelos que sofrem e morrem de depressão, de desilusão, de angústia, de solidão e de suas terríveis consequências físicas e psicológicas.

E assim foi com dona Marisa. Perseguida, humilhada, invadida na sua privacidade, alvo dos mais vergonhosos comentários, a mulher que ajudou a construir um Brasil mais justo resistiu aos seus carrascos enquanto pôde, mas uma hora o resultado de tantas feridas abertas cobraria o seu preço. A morte de dona Marisa precisa ser vingada. Mas como certamente ela exigiria, não deve ser jamais com as mesmas armas que a mataram.

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