sexta-feira, 20 de maio de 2011

As mortes e a morte de Osama Bin Laden: matar vários camelos com uma cacetada.


O texto abaixo é de autoria do Professor Jorge Vital de Brito Moreira, baiano que estudou Ciências Sociais na UFBa; fez estudos de pós-graduação em Sociologia (México) e Literatura (EUA) onde recebeu o titulo de doutor (Ph.d) com uma tese sobre o escritor Antonio Callado.
Nos EUA, tem ensinado na University of California San Diego (La Joya), University of Minnesota, Washinton University, Lawrence University e University of Wisconsin.
Tem publicado ensaios (sobre diferentes escritores brasileiros e latinoamericanos) e é autor-colaborador do livro Notable Twenty Century Latin America Women (2001).
Em 2007, publicou na Bahia o livro Memorial da Ilha e Outras Ficcões romance e contos).
Atualmente escreve artigos e ensaios para o destacado diário www.rebelion.org de grande circulação em Espanha e América Latina.

Na madrugada do dia 02 de maio de 2011, Barack Obama, o presidente dos EUA, anunciou o assassinato de Osama Bin Laden por comandos militares estadunidenses.
A notícia da morte do suposto cérebro dos atentados que destruiu as torres gêmeas de Nova York em 11 de setembro de 2001, propagou-se pelos meios de informação massiva dos quatros cantos do mundo.
Apesar da pompa, circunstancia, e suposta veracidade da notícia, as diferentes versões da morte por parte dos funcionários do governo, começaram a produzir suspeitas, dúvidas e questionamentos relacionados com a falta de integridade do governo de EUA para falar a verdade.
Assim, a desconfiança também se propagou pelo mundo em forma de perguntas embaraçadoras: porque o governo do presidente Barack Obama se desfez do "suposto" corpo de Bin Laden tão rapidamente? Porque jogou o corpo no mar (aos tubarões) impedindo, desta forma, uma identificação e confirmação independente da versão oficial dos EUA? Quais são os objetivos ocultos por detrás da notícia e da subsequente manipulação do publico pelo governo?
Mas o questionamento não se refere apenas à mensagem do presidente (verdade ou mentira?) mas aos mensageiros (a mídia em geral) que a divulgaram. Assim, estamos obrigados a responder também a pergunta: porque a grande mídia dos EUA continua propagando os discursos das autoridades governamentais sem ter nenhuma prova real de que elas estão falando a verdade?
Será que a mídia dos EUA (e internacional) nunca aprenderá dos seus abomináveis erros do passado recente? Acaso, esqueceram da sua responsabilidade e cumplicidade (direta e indireta) pela propagação das mentiras do Governo Bush/Cheney; mentiras que conduziram ao assassinato de milhões de seres humanos no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão? A julgar pela rapidez com que a mídia endossou as últimas mentiras dos EUA, da OTAN e da ONU (tocando os tambores de guerra) em prol do bombardeio contra a Líbia e o assassinato dos filhos e netos de Gadaffi, a grande imprensa escrita e falada não aprendeu (ou não quer aprender) absolutamente nada.
As perguntas expressam a permanente indignação daqueles estadunidenses que não perderam o sentido crítico nem a consciência moral diante dos enganos, traições e manipulações criadas pelas mentiras oficiais dos presidentes dos EUA. Desde a questionada legitimidade (1) do primero governo Bush/Cheney, o número de críticos do governo estadunidense vem aumentando significativamente. Atualmente muitos deles se encontram bem vacinados contra o vírus da mentira e da hipocrisia do governo e da sua grande mídia.
O questionamento sempre embaraçará aos responsáveis: quem poderá esquecer o relato produzido pela administração Bush e Cheney sobre as armas de destruição massiva existente no Iraque de Sadam Hussein e a acusação de que Hussein foi um dos responsáveis pela destruição das torres gêmeas de Manhattan, Nova York, no dia 11 de setembro de 2001?
Quem poderá esquecer a farsa do dia 5 de fevereiro de 2003, montada no Conselho de Segurança da ONU pelo Secretário de Estado de EUA, Colin Powell, por George Tenet (diretor da CIA), por John Negroponte (o criador dos esquadrões da morte na América Latina) e pelos neo-cons (do Governo Bush-Cheney), para legitimar a invasão do Iraque e os crimes de guerra contra o povo do Iraque?
Não devemos esquecer que naquele cinco de fevereiro, diante das câmaras de TV, o Secretário de Estado Colin Powell, para justificar a guerra contra o Iraque, fez um discurso que permanece como o maior ataque terrorista já executado contra a verdade histórica, ao afirmar que EUA tinham provas conclusivas de que Saddam Hussein possuía Weapons of Mass Destruction (armas de destruição massiva) e que era necessário invadir o Iraque para desarmá-lo. Para as pessoas que não conhecem a farsa e discurso fraudulento do governo dos EUA, poderão assisti-lo no link: http://www.youtube.com/watch?v=Nt5RZ6ukbNc&NR=1
Mas voltando às inúmeras mortes de Bin Laden ainda pode-se perguntar: quantas vezes escutamos as autoridades (dentro e fora dos EUA) afirmarem que Bin Laden estava morto, não pelas armas dos militares ocidentais, mas sim por uma infecção renal que lhe tomou a vida.
Os orientais que estavam bem informados da vida de Osama Bin Laden, afirmaram no devido momento que ele sofria de graves problemas renais; que para estar vivo, ele tinha sido internado diversas vezes por sérios problemas nos rins; que ele tinha que ser ajudado permanentemente por uma máquina de diálises que transportava para todo lugar por onde viajava. Um exemplo: em 2001 o jornal francês Le Figaro difundiu e reforçou a versão da sua morte por problemas renais.
Esta versão também foi reforçada pelas notícias da própria mídia dos EUA. De acordo com a “CBS News” (o programa de notícias da gigantesca corporação mediática CBS), Bin Laden foi internado nas vésperas de 11 de Setembro por problemas renais.
Outras declarações, como a de um líder talibã, publicadas por Pakistan Observer, nos fins de 2001, confirmam que depois do ataque de EUA contra o Afeganistão em Tora Bora, Osama Bin Laden escapou, mas faleceu em dezembro de 2001, por não poder receber tratamento medico adequado enquanto fugia.
No dia 31 de janeiro de 2010, o jornal espanhol El País também apresentou uma entrevista que reforçava a mesma versão: Sultan Tarar, o “mão direita” do líder talibã Mulá Omar, afirmou que Bin Laden morreu de câncer dos rins entre maio e junho de 2002.
Esta versão já tinha sido anunciada pelo presidente de Paquistão, Pervez Musharraf, que afirmou em janeiro de 2002 ao canal de notícias estadunidense CNN (outra gigantesca corporação midiática dos EUA) quando disse: ''Francamente, acredito que ele está morto porque estava gravemente enfermo dos rins”.
Também existem outras versões da morte de Bin Laden como a de Benazir Butto (2 vezes primeira ministra do Paquistão) que, em novembro de 2007, revelou, na sua entrevista a BBC, que Osama Bin Laden foi assassinado por Ahmed Omar Saeed Sheik. Esta revelação foi omitida da entrevista original pela BBC (1)
O que muitos jornalistas sérios tem divulgado é que depois de 2001, todos os vídeos que mostram Bin Laden vivo, foram considerados falsos pelos especialistas. Quanto às mensagens de áudio, os especialistas duvidam da sua autenticidade pois foram originadas por fontes duvidosas ou suspeitas.
Outras fontes de informação sobre Bin Laden, provém de agentes dos serviços de inteligência dos EUA (Steve R. Pieczenik, Dale Watson, Robert Bear e outros) de Israel, de Arábia Saudita, de Afeganistão, do Paquistão, que em algum momento, no passado, também afirmaram a morte de Bin Laden.
Todo o anterior, nos leva de volta às duvidas, a desconfiança e a suspeitas em relação à capacidade do presidente Barack Obama de estar falando a verdade sobre a morte de Osama Bin Laden: porque o governo do presidente Barack Obama se desfez do “suposto” corpo de Bin Laden tão rapidamente? Porque jogou o corpo no mar (aos tubarões) impedindo, desta forma, uma identificação e confirmação independente da versão oficial dos EUA?
No dia 10 de maio, por exemplo, os noticiários do canal latino Univisión e do canal estadunidense CNN informaram que os filhos legítimos de Bin Laden duvidavam da morte do pai e que solicitaram à ONU uma investigação para determinar a verdade de tal alegação. Representados pelo filho Omar Bin Laden, os familiares também expressaram que se o que Barack Obama afirmou sobre o assassinato do seu pai sucedeu verdadeiramente eles vão demandar o presidente por autorizar um assassinato de um homem desarmado.
Dado que a desconfiança sobre a versão do presidente não para de crescer entre os céticos e críticos do governo, deve-se então perguntar pela utilidade (função ou funções) que esta notícia teria e terá para assegurar um segundo mandato presidencial de Barack Obama.
Para começar devemos informar que o índice de aprovação do governo de Barack Obama estava decrescendo notavelmente, encontrando-se, antes da notícia da morte do líder de Al-Quaeda, no nível mais baixo de sua presidência. Alguns dias depois do anúncio do assassinato de Bin Laden, o índice de aprovação do governo Obama subiu aos 60%, ou seja ao índice mais alto obtido por ele nestes anos da sua presidência.
Assim, pode-se afirmar que o governo Obama necessitava urgentemente de um golpe publicitário para aumentar o índice de aprovação do seu governo no exato momento em que está lançando o seu nome como candidato a presidente com o objetivo de obter um segundo mandato nas próximas eleições estadunidenses.
Em síntese, este gigantesco golpe publicitário procura monumentalizar o governo, afirmando implicitamente que a presidência de Barack Obama está, finalmente, vencendo a guerra contra o terrorismo. Assim, a morte de Bin Laden seria a prova cabal do sucesso da presidência e por essa razão, Barack Obama merece ser eleito para um segundo mandato (2)
Além disso, o golpe publicitário do assassinato de Bin Laden quer alcançar outros objetivos a curto e a medio prazo. Vejamos alguns deles:
1- Produzir a aparência de vitória quando a essência está nos falando do fracasso e da derrota (como no caso da guerra do Vietnã), das guerras de EUA no Iraque, Afeganistão e Paquistão.
2- Diminuir o grau de resistência da maioria dos estadunidenses ao aumento do orçamento militar deste ano para continuar financiando as guerras falidas do complexo industrial militar (e do Pentágono) em detrimento (cortes no orçamento) dos programas sociais.
3- Esconder o peso dos custos das guerras do governo Obama/Bush no aumento da divida externa dos EUA a 15 trilhões de dólares; e os novos gastos da atual guerra dos EUA, da OTAN e da ONU contra a Líbia.
4- Escamotear a ilegalidade do presidente estadunidense para bombardear à Líbia e assassinar os filhos e os netos de Muamar al-Gadaffi sem a aprovação previa e legal do congresso estadunidense.
5- Disfarçar o ataque da administração Obama aos direitos legais e humanos da Wikileaks, de Julian Assange e do soldado Bradley Manning, e assim evitar a discussão sobre a ilegalidade do uso da tortura (3) contra Manning para puni-lo pelo suposto vazamento (leaking) do vídeo que mostra o assassinato da população civil e de jornalistas pelos soldados americanos desde um helicóptero Apache.
A informação do ataque Talibã (que assassinou no dia 13 de maio a pelo menos 80 paquistaneses, a maioria composta de militares), em vingança pelo anuncio do assassinato de Bin Laden, contribuiu para reforçar a hipótese dos que pensam que o golpe publicitário foi tramado para provocar as reações violentas da Al-Qaeda e Talibãs e de esta forma justificar que os EUA nunca saiam do Iraque, do Afeganistão e do Paquistão.
Dado todo anterior, para evitar sermos enganados sistematicamente pelo poder, é imprescindível estar sempre atento para considerar a diferença entre a aparência e a essência dos fatos e fenômenos relatados pelos governos.
Dado o uso dos truques e efeitos cinematográficos que os governos dos EUA aprenderam nos filmes de Hollywood; dado o poder da publicidade e da propaganda a favor dos presidentes e seus discursos; e dada a cumplicidade da mídia com o estado capitalista e a civilização ocidental e cristã, atualmente é muito fácil produzir relatos e discursos em que a aparência está em completa contradição com a essência, como Daniel Elsberg, Julian Assange, Wikileaks e o The National Security Archive estão cansados de mostrar.(4) Em poucas palavras é necessário sempre continuar com as perguntas embaraçosas:
Porque o governo do presidente Barack Obama se desfez do “suposto” corpo de Bin Laden tão rapidamente? Qual são os objetivos ocultos por detrás da notícia e da subseqüente manipulação do publico pelo governo? Porque a grande mídia dos EUA continua propagando os discursos das autoridades governamentais sem ter nenhuma prova real de que elas estão falando a verdade?
Assim, leitores e amigos, se queremos descobrir a verdade por detrás dos relatos dos governos dos EUA, vamos ter que pensar sempre criticamente e atuar coletivamente para poder resistir às escandalosas mentiras do estado capitalista.

NOTAS

(1) E imprescindível não esquecer que Bush e Cheney, depois do escândalo de serem acusados de vencer as eleições presidenciais no estado da Florida (onde o governador era o seu irmão Jeb Bush) através de resultados eleitorais fraudulentos, foi legitimado por um tribunal composto de maioria republicana.

(2) Tão pouco devemos esquecer que Bush/Cheney foram eleitos para um segundo mandato presidencial apelando a uma política terrorista de combate ao terrorismo: quem pode esquecer o sistema de cores que foi inventado pelo procurador-geral dos EUA (US Atorney General), John Ashcroft, para assustar os estadunidenses? Com o pretexto de que Bin Laden e os terroristas preparavam um novo ataque aos EUA Ashcroft constantemente manipulava o sistema cada vez que era necessário mudar de cores para infundir pânico no público e obter um consenso favorável ao governo Bush. Assim, não foi difícil conseguir o segundo mandato; desta vez, sem apelar aos resultados eleitorais fraudulentos. Atualmente, os analistas e críticos políticos afirmam que o presidente Barack Obama aproveita todo o arsenal de mentiras, truques, manipulações e ilegalidades herdado da administração de George W. Bush para continuar no poder político.

(3) Quem poderá esquecer as mentiras do governo Bush quando estourou o escândalo produzido pela exibição das fotos das torturas produzidas pelos EUA contra os prisioneiros em Abu Ghraib e Guantánamo? Faz alguns anos temos sidos informados de que Bush, Cheney, Donald Rumsfeld teem sido acusados por grupos de direitos humanos de crimes de guerra e tortura. Recentemente, de acordo com a imprensa escrita e falada, George W. Bush, cancelou sua visita a Suíça por medo de ser aprisionado devido a ações legais que o acusam de torturas, um crime internacional.

4) Refiro-me aqui ao Nacional Security Archive of the George Washington University quando mostra documentos desclassificados depois de 20 anos (30, 40 anos) dos fenômenos e fatos históricos terem acontecidos. O web site oficial do Nacional Security Archive of the George Washington University é:

8 comentários:

iuri disse...

Esse texto nao precisa de comentario algum. as pessoas estao ocupadas com seus "grandes problemas" e acabam perdendo a oportunidade de ler(e saber) sobre algo de importancia historica(na minha humilde visao).Nao existem direitos humanos,existem direitos norte-americanos.Sua critica e de uma lucidez incomensuravel e deixaria Eduardo Galleano com vontade de escrever "As veias abertas da america do norte". Parabens "meu" tio,abracos.

Jonga Olivieri disse...

Pois Bem, Iuri, seu tio bem que poderia escrever o livro: "As veias abertas da América do Norte", pois a análise sobre as contradições de Obama e seu governo no tocante à "moerte" de Osama bin Laden são exaustivamente analisadas e comprovadas nesta postagem.
E é sempre bom um comentário para se confirmarem as ideias daquilo que é escrito.

Eliana BR disse...

Obrigada pelo ensaio.

Jonga Olivieri disse...

Agradeça ao professor Jorge Moreira, Eliana...

André Setaro disse...

Agradeço ao mestre Jorge Moreira tanta oportunidade de esclarecimento, análise e informação.

Joelma disse...

Um belo ensaio este do professor Moreira sobre o misterioso e súbito desaparecimento do corpo de Bin Laden. Você já havia levantado a suspeita num apostagem há alguns dias.

Jonga Olivieri disse...

Realmente eu já havia postado sobre a morte de Osama bin Laden. Mas, creio, o professor abordou a questão com profundidade e algumas referências importantes.

Mário disse...

Excelente!