terça-feira, 10 de maio de 2011

Teses e provas sobre o pensamento de Trotsky


Os diversos textos abaixo são muito importantes para que se entenda a principal teoria de León Trotsky, a “Revolução Permanente” e como ele estava correto em suas críticas a Stalin. A capa acima foi uma publicação minha quando o “Marxists Internet Archives” (MIA) ainda não havia traduzido o livro para o português, como seguem nos trechos do primeiro capítulo abaixo.
É conveniente lembrar que as situações citadas pelo autor referem-se às condições e conflitos históricos da época, finais dos anos 1920, início dos 30.

(...) A teoria da revolução permanente exige, na atualidade, a maior atenção da parte de todo marxista, uma vez que o desenvolvimento da luta ideológica e a da luta de classe fez o problema sair definitivamente do domínio das recordações de velhas divergências entre os marxistas russos, para apresenta-lo em ligação com o caráter, os laços internos e os métodos da revolução internacional em geral...
...Quaisquer que sejam as primeiras etapas episódicas da revolução nos diferentes países, a aliança revolucionária do proletariado com os camponeses só é concebível sob a direção política da vanguarda proletária organizada como partido comunista (1)...
... A revolução socialista não pode realizar-se nos quadros nacionais. Uma das principais causas da crise da sociedade burguesa reside no fato de as forças produtivas por ela engendradas tenderem a ultrapassar os limites do Estado nacional. Daí as guerras imperialistas, de um lado, e a utopia dos Estados Unidos burgueses da Europa, de outro lado. A revolução socialista começa no terreno nacional, desenvolve-se na arena internacional e termina na arena mundial. Por isso mesmo, a revolução socialista se converte em revolução permanente, no sentido novo e mais amplo do termo: só termina com o triunfo definitivo da nova sociedade em todo o nosso planeta...
... Com a criação do mercado mundial, da divisão mundial do trabalho e das forças produtivas mundiais, o capitalismo preparou o conjunto da economia mundial para a reconstrução socialista (2)...
... A teoria do socialismo num só país, brotada no estrume da reação contra Outubro, é a única que se opõe, de maneira consequente e definitiva, à teoria da revolução permanente.
Ao tentarem os epígonos, compelidos pela crítica, limitar à Rússia a aplicação da teoria do socialismo num só país, por causa de suas peculiaridades (extensão territorial e riquezas naturais), as coisas só fazem piorar, em lugar de melhorar. A renúncia à atitude internacionalista conduz, inevitavelmente, ao messianismo nacional, isto é, ao reconhecimento de vantagens e qualidades peculiares ao país, capazes de lhe conferir um papel que os demais países não poderiam desempenhar.
A divisão mundial do trabalho, a subordinação da indústria soviética à técnica estrangeira, a dependência das forças produtivas dos países avançados em relação às matérias primas asiáticas etc., etc., tornam impossível a Construção de uma sociedade socialista autônoma e isolada em qualquer região do mundo...
... A teoria do nacional-socialismo degrada a Internacional Comunista, que fica reduzida ao papel de arma auxiliar na luta contra a intervenção armada. A política atual da Internacional Comunista, o seu regime e a escolha dos seus dirigentes correspondem perfeitamente à sua decadência e transformação num exército de emergência, que não se destina a resolver, de maneira autônoma, as tarefas que se lhe apresentam...
... O programa da Internacional Comunista, obra de Bukhárin, é eclético do princípio ao fim. É uma tentativa desesperada de ligar a teoria do socialismo num só país ao internacionalismo marxista, que não pode, entretanto, ser separado do caráter permanente da revolução mundial (3). A luta da Oposição de Esquerda por uma política justa e um regime são na Internacional Comunista indissoluvelmente ligadas à luta por um programa marxista. A questão do programa, por sua vez, é inseparável da questão das duas teorias opostas: a teoria da revolução permanente e a teoria do socialismo num só país (4). O problema da revolução permanente já ultrapassou, há muito tempo, o limite das divergências episódicas entre Lênin e Trotsky, inteiramente esgotadas pela história. Trata-se, agora, da luta entre as idéias fundamentais de Marx e de Lênin, de um lado, e o ecletismo centrista, de outro lado.

1. À época ainda era o partido que, na concepção de Trotsky deveria comandar a revolução mundial.

2. O próprio Marx havia dito isto numa etapa anterior do capitalismo. Trotsky a repetiu, mas hoje isso está mais claro ainda.

3. Note-se a visão internacionalista de L. T. quanto à revolução que se oponha ao poder burguês, este sim em contradição com a globalização.

4. A história contou o que aconteceu ao stalinismo e sua política suicida e irresponsável de “construir o socialismo num só país”...

7 comentários:

André Setaro disse...

O que aconteceria com a União Soviética se Trotsky tivesse tomado o poder? As coisas não teriam tomado o rumo que tomaram. Sei-o 'trotquista', e as teses e provas sobre o pensamento do revolucionário atestam a sua lucidez e a sua coragem de enfrentar os obstáculos para a superação de toda uma estrutura claudicante.

Joseph Losey filmou 'O assassinato de Trotsky', com Richard Burton no papel de Trotsky, Alain Delon, e a bela Romy Schneider (a Sissi de minha infância, que teve trágico final de vida). O filme é um dos menores desse grande cineasta. Mas, mesmo assim, vale a pena. Não sei se pode ser encontrado em DVD.

Jonga Olivieri disse...

Oi André. Devido a situações por que passo, não tenho acordado cedo. Ao final, acordo tarde e com o humor alterado. Coisa da vida!
Mas indo aos fatos. Sua primeira pergunta é instigante. Trotsky jamais tomaria o direcionamento de Stalin. Iria se preocupar com a revolução como um todo.
Acontece que o mundo, principalmente a Europa estava à beira de mudanças. A Alemanha, a Hungria e em tantos outros aconteceram movimentos proeminentemente de esquerda que acabaram abortados. Executaram os “espartaquistas” na Alemanha e frearam os avanços nos outros países.
Mas até que ponto a visão “umbelical” dos acontecimentos na URSS de se voltar para si mesma na construção de seu deturpado e “monstruoso socialismo num só país” não influíram no despencar de tudo isso? Creio que a resposta é: Trotsky teria investido nisto.
O desdobrar desses acontecimentos teriam sido impossíveis de se prever. Mas caso a burguesia vencesse não teria acontecido o absurdo que foi a “burocracia soviética” nem a consolidação de um “capitalismo estatal” na URSS, que, simplesmente foi o que aconteceu, daí dize-lo monstruoso porque o stalinismo criou uma máquina absurda e realmente monstruosa.
E Trotsky anteviu tudo isto!

Jonga Olivieri disse...

E monstruoso o foi também nas suas práticas. E o filme de Losey nos mostra isto. Também não sei porque nunca o vi à venda, Mas quem sabe, procurando nas vendad via internet o encontremos?
Vou tentar na Travessa ou na Livraria da Folha. Teem um sistema bom de entrega. Encontrei Cle´patra de Bressane na internet. Eles teem filmes que não costuma estar nas prateleiras.

Joelma disse...

Fenomenais os pensamento de Trotzky em relação aos erros que se foram acumulando com o tempo e se transformando naquilo que foi a União Soviética.
Está tudo escreito aí, nas linhas e nas sub-linhas.

Jonga Olivieri disse...

Não é à tôa que Deutscher o apelidou de "o Profeta".
Sua trilogia é composta de três livros em que o primeiro é "O profeta armado", o segundo "... desarmado" e o terceiro"... no exílio".
Em todos o profeta é importante porque Trotsky deixou a sua marca em ter antevisto a tragédia soviética!

Mário disse...

Não pode ficar dúvida que Trotsky foi profético em suas acusações sobre Stalin. Nunca li A Revolução Permanente, mas a julgar pelos trechos do primeiro capítulo expostos aqui pode-se julgar o restante do livro.
Acredito que alguém estava atento aos acontecimentos. E este alguém foi ele. Afinal porque morreu assassinado da forma que foi?

Jonga Olivieri disse...

Mas não foi o único que Stalin matou. Ele exterminou toda a velha guarda bolchevique... Todos aqueles que foram pouco a pouco se opondo às suas posições. Alguns antes, outros depois de Trotsky.