Salvador López Arnal (1)
Traduzido para Novas Pensatas por Jorge
Vital de Brito Moreira
É
uma nota de Reuters que foi
reproduzida no jornal espanhol El País [2]; una nota, no
geral, afável e pouco crítica com a indústria nuclear e seus porta-vozes mais
destacados. A informação publicada é uma exceção.
O
ponto crucial da história: "recrutadores" contratados, free-lancers, ou na folha de pagamento de
"grandes" corporações procuram
pessoas desabrigadas que cobram menos que o salário mínimo japonês para
realizar tarefas (trabalhos) muito arriscadas na sinistra usina central de
Fukushima. Sem contemplação.
Seji
Sasa percorre, "a estação de trem de Sendai, uma cidade no norte do Japão,
todas as manhãs, antes do amanhecer”. Procura indigentes, pessoas sem-teto que dormem entre caixas de papelão,
tentando se proteger do frio do duro inverno japonês. Não é, evidentemente, um
assistente social. Ele é um liquidador ... desculpem, desculpem, queria dizer
um recrutador. Homens pobres, desinformados, desesperados, no limite de toda a
estação de trem, são trabalhadores potenciais ( "peões ", escreve a Reuters, o mesmo termo - "peão não
qualificado "- que se usava para chamar os trabalhadores como meu pai no
fascismo ) que Sasa, o recrutador, enviará a empreiteiros (contratistas) de Fukushima
. A remuneração que obtém: US $ 100 dólares por cabeça. Quase como nos cartazes
dos filmes de cowboys (caubois)
imperiais.
Na
realidade, pensando friamente, é um procedimento. Tecnicamente impecável. Força
de trabalho legalmente contratada, salário mínimo muitas vezes. Oferta e
demanda. Dá-me e eu dou. Trabalhando sem
proteção (com proteção seria mais caro) na limpeza de resíduos radioativos. Falamos
, não é preciso lembrar, da terceira maior economia do mundo, até recentemente,
a segunda, um ponto de referência para muitas corporações e para
muitos países, a vanguarda tecnológica do mundo, produtora de muitos dos lixos
que abundam nas cidades das grandes megalópolis (as antigas cidades).
Um
"argumento” racionaliza a situação ou permanece no quarto se for
conveniente ventilá-lo: se vamos correr
riscos, por que não arriscar a vida de quem tem menos saúde, menos vida pela
frente e uma vida menos satisfatória? A vida
deles não vale menos, muito menos , do que a dos outros, se falamos com
franqueza econômicoexistencial? De fato,
o esforço realizado em Fukushima "é dificultado por falta de supervisão e
da escassez de trabalhadores”. Então, qual é o problema?
Em
janeiro, outubro e novembro de 2013, "gangsters japoneses foram presos e
acusados de se infiltrar na rede de subcontratados da descontaminação do
gigante da construção Obayashi Corp"
e também de enviar, de forma ilegal,
"a trabalhadores para o projeto financiado pelo Governo". Em outubro
passado, Sasa o liquidador-recrutador “recrutou vários sem-teto na estação de
trem de Sendai, que acabaram limpando o chão e os detritos radioativos na
cidade de Fukushima por menos que o salário mínimo, de acordo com a
polícia" e com os relatos das próprias pessoas envolvidas. Algum problema,
algo muito para se opor? Sasa é um profissional, como aqueles que retratava o
Sr. Tarantino, outro profissional, em Pulp
Fiction. Não admiramos os bons
profissionais? Não apreciamos a qualidade e eficácia do seu trabalho? Este é
mais um. A vida é dura, não é um lugar para os fracos.
As
pessoas contratadas, diz a Reuters,
"tinha acabado de trabalhar com uma cadeia de três empresas intermediárias
para Obayashi." A corporação em questão é uma das mais de 20 principais
construtoras envolvidas nos projetos do governo japonês para remover a radiação.
Então?
A
onda de prisões demostrou , além disso, "que os membros das maiores
organizações criminais do Japão, Yamaguchi-gumi,
Sumiyoshi-kai e Inagawa-kai tinham
estabelecidos agências de recrutamento no mercado negro a serviço de
Obayashi". É claro que nem a corporação, nem a TEPCO, nem o governo
japonês sabia nada sobre isso. Leiam,
leiam: "Estamos levando muito a sério o fato de que estes incidentes
continuam ocorrendo um atrás do outro." Declarou Junichi Ichikawa, um
porta-voz de Obayashi. Não só isso: a companhia, a empresa de construção
humanista, ajustou o controle de seus subcontratados menores, a fim de excluir
os infratores (yakuza). A preocupação
pelos direitos trabalhistas no posto de comando. Sim, Ichikawa acrescentou:
"Havia aspectos do que estávamos fazendo, que não foi longe o suficiente.”
Oh, meu Deus!
Parte
do problema de controlar o dinheiro do contribuinte em Fukushima, a Reuters observa, "é o grande número
de empresas envolvidas na descontaminação" desde os principais
contratistas que lideram o mercado aos pequenos empreiteiros. Desconhecemos o
número total. Mas temos algumas evidências “nas dez cidades mais poluídas e numa
estrada que percorre o norte além dos portões da fábrica destruída em Fukushima,
a Reuters disse que 733 empresas
estavam trabalhando para o Ministério do Meio Ambiente”. Mais de setecentas!
Não é este, talvez, o plano estratégico de toda a corporação que se respeita?
Vamos subcontratar, vamos subcontratar, para explorá-los no mar!
A Reuters
também contou 56 subcontratados nas listas do Ministério do Meio Ambiente
japonês - contratos que totalizam 2.500 milhões de dólares- nas áreas com mais radioatividade.
Se não fosse aprovados pelo Ministério da Construção "não teria sido
possível conseguir licitações em qualquer outra obra pública”. Mas a realidade
impõe suas regras. Uma lei de 2011, que regulamenta a descontaminação, colocou
sob o controle do Ministério do Meio Ambiente “o maior programa de gastos desta instituição".
Pronto, está solucionado! Essa mesma lei também reduziu os controles sobre os
licitadores, permitindo que as companhias ganhassem contratos de limpeza de
radiação sem a publicação obrigatória dos mesmos nem do certificado exigido
para participar nos trabalhos públicos e na construção de estradas".
Ninguém tinha de ser exigente, nem ser tão requintado, não são bons tempos para
estúpidas poesias. Direto ao coração da obra e das trevas! Os direitos trabalhistas
são obstáculos a incomparável modernidade! São reclamações de homenzinhos fracos
e estúpidos!
A
Reuters "encontrou cinco
empresas que trabalham para o Ministério do Meio Ambiente mas não puderam ser
identificadas". Elas não estavam registadas no Ministério da Construção. “Não
tem um número de telefone ou uma página web"
e não foi possível "encontrar um único Registro corporativo que revelasse
seu dono". Não havia tampouco o Registro de tais empresas no banco de dados
da Teimou Databank, a principal empresa
de pesquisa de crédito. E daí? Tudo claro, transparente, limpo, humanista,
integrador, como o próprio capitalismo, isso sim, na medida do possível. Só
nessa medida!
Que
maravilha a chuva em Sevilha e o trabalho radioativo em Fukushima! Que
aconteceu com a industria que foi e continua segura, eficaz, humanista com
segurança garantida com pura enrolação (conversa fiada)?
Quanta
razão tinha Rosa Luxemburgo: socialismo ou barbárie! Quantas razões esgrimia Francisco Fernández Buey, quando
insistia nas dimensões anti-humanistas do capitalismo sem freios, sem princípios
e à obsolescência do ser humano como bandeira e programa de todos os dias! E
assim, sem alteração, até o desastre final, a menos que os desfavorecidos do
mundo gritem: Nem um passo atrás ! Não em nosso nome!
1) Salvador López Arnal, professor de
matemática da UNED e professor instrutor
dos ciclos de formação em informática IES Puig Castellar de Santa Coloma de
Gramenet (Barcelona), é filósofo e autor de livros sobre o estado da ciência,
da cultura e da política no mundo de hoje. Salvador escreve regularmente para a
revista El Viejo Topo, Rebelion.org, Marx Espai, Sin Permiso e é editor, junto
com Joan Benach e Xavier Juncosa, do documentário "Sacristán
Integral" (El Viejo Topo, Barcelona). López Arnal é neto do cenetista
(membro da Confederación Nacional del Trabajo) assassinado em maio de 1939 -delito:
“rebelião militar”-: José Arnal Cerezuela.
2 comentários:
Muito bom esta postagem de Salvador Lopez Arnal.
Quer dizer: por trás do acidente a sem-vergonhice do sistema.
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