Longe de mim estar defendendo o PT, mas de forma
muito clara, há algum tempo está em andamento uma campanha, encabeçada pela grande
imprensa burguesa, de ataques ao governo e de desgaste da presidente, na
verdade da candidata Dilma. A disputa eleitoral, que deveria se transformar num
embate entre projetos, não aparece desta forma, mas como um contínuo martelar
de acusações contra o governo federal: a corrupção, o aparelhamento da máquina
pública, a má gestão, o centralismo, o descontrole das obras públicas, a mansidão
com manifestações sociais que atentam contra a propriedade privada e quebram
bancos e lojas.
A crítica ao governo federal deve ser feita, mas
os problemas apontados precisam ser enfrentados na raiz, isto é, na própria
forma como o sistema de representação política brasileira foi capturado pelo
poder econômico. Nas últimas eleições para o Congresso Nacional, parlamentares
eleitos foram financiados majoritariamente por empresas que se engajaram em
algum tipo de financiamento eleitoral. E isso tem um preço.
O presidencialismo cobra seu preço e as
distorções no nosso sistema político representativo são reais. Mas o que se vê
é a manipulação da opinião pública. Ocorre que a verdadeira agenda da direita
concentradora tem de ficar escondida do eleitorado. Como ela ganharia a eleição
prometendo privatizações, arrocho salarial e desemprego? E já que os
verdadeiros interesses não podem ser apresentados, o foco passa a ser o combate
à corrupção, a necessidade de honestidade, a maior capacidade de gestão para
aperfeiçoar o desempenho do Estado.
Segundo os ideólogos da direita, a
economia vai mal e o país está sendo levado para uma fase ruim. O PIB é baixo.
A inflação é alta. As exportações fraquejam. A balança comercial vai para o
vermelho. O investimento caiu. Os ativos na Bolsa de Valores e as taxas de juros
caíram. Os aumentos reais de salários e o maior investimento nas políticas
sociais pressionam os custos. O superávit primário está ameaçado e o país
caminha para um cenário de baixo crescimento que precisa ser evitado. Esse é o
discurso formulado pelo capital, especialmente pelo setor rentista.
A proposta, na realidade é aumentar os juros
da dívida pública e o superávit primário. Em seguida, reduzir salários e os
benefícios previdenciários, e flexibilizar os contratos de trabalho,
destituindo direitos. O aumento do desemprego para pressionar os salários é
desejável. Haverá também privatizações, aumento nas tarifas públicas e cortes
no orçamento das políticas sociais, abrindo espaço para as empresas privadas
ampliarem sua presença no setor. Como anunciado, o novo governo eleito assinará
tratados de livre comércio para internacionalizar nossa economia, isto é, abrir
o mercado brasileiro ainda mais para as grandes corporações transnacionais,
destruindo a indústria nacional, o pequeno e médio empresário. Essa abertura
envolve a redução de tarifas de importação e a livre circulação dos fluxos de
capitais, tão a gosto do capital especulativo financeiro.
Essas propostas estão sendo aplicadas na Grécia,
na Espanha, em Portugal, na Itália, e não teem nada de original. Elas obedecem
aos interesses e ao comando das grandes corporações multinacionais e da
acumulação financeira. Qualquer veleidade de autonomia ou de projeto de desenvolvimento
deve ser engavetada.
Mas, contrariando a análise, o brasileiro está
melhor do que antes, há mais empregos, seu salário melhorou, as políticas
sociais melhoraram. O motor da economia é, e sempre foi, o mercado interno. A
novidade não está no andar de cima, com seu consumo de elite. A novidade está
no ingresso de dezenas de milhões de brasileiros no mundo do consumo,
alimentando um mercado de produtos de massa, circuitos curtos de produção e consumo,
gerando emprego e bem estar. Tudo isso implicou a redução do ganho dos rentistas.
E para tudo isso é necessário ganhar as eleições
e assegurar o controle do Estado.
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