quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Ainda sobre Michael Löwy: seu novo livro


O livro “Revolta e Melancolia” percorre música, literatura, artes plásticas, filosofia. Rousseau, Goethe, Stravinski, Rosa Luxemburgo, Tolstói, Marx, Balzac compõem a trama da análise. Os autores propõem um conceito abrangente de romantismo como estrutura mental, forma de ver o mundo. Nessa concepção, o romantismo teria dimensões não apenas nas artes e na filosofia, mas na economia e no pensamento político, bem como nas ciências humanas. Seria também algo maior do que um movimento temporal do início do século XIX, mas uma estrutura de pensamento identificável já a partir de meados do século XVIII e perdurando até os dias atuais.
Esta concepção mais abrangente de romantismo dos autores explica o fenômeno como uma reação à modernidade capitalista. Uma reação interna, portanto operante com a própria visão de mundo gerada pelo capitalismo. Uma reação tradicionalista, que idealiza um passado (imaginado) naquilo que ele tinha de não-capitalista e de pré-capitalista. Para chegar a esta idéia os autores partiram do campo das análises marxistas da sociedade e da cultura, especialmente as teorias literárias de Lucáks e Lucien Goldman, apesar destes autores apresentarem uma visão diferente sobre o romantismo.
Para os autores, o romantismo não é só um movimento artístico do século 19: está nas jornadas de Maio de 1968, na luta ambiental, nas artes no Brasil dos anos 1960, na resistência armada às ditaduras militar na América Latina, em protestos contemporâneos na Europa, nos EUA e na América Latina.
A ênfase está no que os sociólogos definem como romantismo revolucionário –“o que não deseja uma volta ao passado, mas uma volta pelo passado, em direção à utopia futura”, diz Löwy.
Publicado em francês originalmente em 1992, o livro interpreta manifestações de oposição ao avanço capitalista. “Naturalmente o romantismo se transformou. Suas formas são diferentes das do século 19 e das de 30 anos atrás. Mas a análise continua válida. O romantismo é uma crítica à civilização burguesa, que continuará a existir enquanto persistir a burguesia”, afirmam os autores.

1. Michael Löwy nasceu em São Paulo em 1938. Licenciou-se em Ciências Sociais na USP em 1960 e doutorou-se na Sorbonne, sob a orientação de Lucien Goldmann, em 1964. Vive em Paris desde 1969, onde trabalha como diretor de pesquisas no CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) e dirigiu um seminário na École des Hautes Études en Sciences Sociales. Considerado um dos maiores pesquisadores das obras de Karl Marx, Leon Trotski, Rosa Luxemburgo, György Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin, tornou-se referência teórica para militantes revolucionários de toda a América Latina. É autor de livros traduzidos em 25 línguas, entre os quais “Marxismo, Modernidade e Utopia” e Walter Benjamin: aviso de incêndio”.

2. Robert Sayre nasceu nos Estados Unidos e vive na França desde 1980, onde é professor emérito de English and American Studies na Universidade de Paris Est Marne-la-Vallée. Realizou seus estudos avançados na Columbia University e lecionou na Harvard University. Autor de diversos artigos e sete livros, alguns em parceria com Michael Löwy, publicou, recentemente, La Modernité et son ‘Autre’: récits de la rencontre avec l’Indien en Amérique du Nord au 18e siècle”.

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