Este blogue é uma miscelânea de pensamentos sobre os mais variados assuntos. Tem recuerdos, críticas variadas, abordagens da situação política e social no Brasil e no mundo, pensamentos diversos, contos, lixo cultural. Tudo sem sequência e sem compromisso de continuidade.
domingo, 22 de outubro de 2017
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
domingo, 15 de outubro de 2017
Pensatas (preocupantes) de Domingo
Diante da repercussão dos pronunciamentos do general Mourão sobre uma nova intervenção militar no país para conter a corrupção caso as instituições políticas não consigam resolver a situação, um jornal foi atrás de respostas para questões sobre o tema que achei interessantes e transcrevo abaixo:
A Constituição prevê
possibilidade de intervenção militar “constitucional”?
Sim, mas não para tirar os políticos do poder com o
objetivo de “limpar” o país da corrupção. Isso seria um golpe de Estado.
A Constituição Federal prevê, nos artigos 15 e 142,
que as Forças Armadas podem ser acionadas, pelo presidente da República a
pedido de qualquer um dos três poderes, para garantir a lei e a ordem. A
Constituição não estabelece quais seriam essas situações, mas há certo consenso
de que se trata de casos de segurança pública, graves distúrbios e ameaça
externa.
Esses artigos constitucionais costumam ser citados
por defensores de uma intervenção política dos militares como argumento para
justificar que a tomada de poder pelas Forças Armadas teria base
constitucional. Não tem. Além de a Constituição prever que o comando continua a
ser dos civis nesses casos, é preciso destacar que Exército, Marinha e
Aeronáutica só podem ser acionados para garantir a ordem constitucional – e não
para subvertê-la.
A Constituição também estabelece, no artigo 5.º,
que é crime inafiançável a ação de militares contra a ordem constitucional e a
democracia.
Existe a possibilidade real de ocorrer um golpe militar no país?
Em princípio, não há possibilidade iminente. Mas
há alguns elementos que sugerem que alguma chance existe e não é mera teoria da
conspiração.
O comandante do Exército, general Eduardo Villas
Bôas, foi enfático ao negar a possibilidade de haver articulação ou desejo na
corporação de intervenção no país. “Desde 1985 não somos responsáveis por
turbulência na vida nacional e assim vai prosseguir. Além disso, o emprego
nosso será sempre por iniciativa de um dos poderes [Executivo, Legislativo ou
Judiciário]”, afirmou.
Apesar disso, uma declaração do general Mourão
insinua que o discurso oficial não é exatamente o que pensa o comando. Ele
disse que o Exército tem “planejamentos muito bem feitos” para uma intervenção
no país.
Além disso, praticamente todos os presidentes
posteriores à ditadura trataram os militares (e seus interesses) com muita
cautela – o que demonstra certo receio em desagradar a caserna.
Qual a representatividade do general Mourão no Exército?
O general Mourão ocupa um cargo importante. Desde
2015, é secretário de economia e finanças do Exército. Mas ele tem um perfil de
polemista que desagrada diversos outros oficiais.
Sua transferência para a função atual, mais
burocrática do que operacional, já havia ocorrido porque ele se envolveu em
outra polêmica política. Quando ocupava o Comando Militar do Sul, criticou a
então presidente Dilma Rousseff ao ser questionado sobre o impeachment. Disse,
à época, que “a mera substituição da presidente da República não trará mudança
significativa no status quo” e que “a vantagem da mudança seria o
descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Além disso, promoveu uma
homenagem póstuma ao coronel Brilhante Ustra, condenado pela Justiça por
tortura durante o regime militar.
Os militares, na hipótese de voltarem ao poder, “consertariam” o país?
Qualquer afirmação seria mera futurologia. Em
geral, imagina-se que os generais tenham um alinhamento com a direita. Mas não
se sabe exatamente qual seria o projeto político dos comandantes das Forças
Armadas para o país: o que pensam sobre economia, investimentos sociais, nem
mesmo o que fariam para “acabar” com a corrupção e para tirar o país da crise
política.
Apesar disso, é possível especular, com boa dose
de base factual, que a “intervenção saneadora” dos militares iria acirrar a
crise política, com possíveis efeitos na economia. Os oposicionistas
denunciariam o golpe e trabalhariam para restabelecer a ordem constitucional.
Greves poderiam ser deflagradas.
Isso só não iria ocorrer se houvesse repressão.
E, nesse caso, o custo de supostamente “consertar” o país seria levar a nação a
uma ditadura. E, como ocorreu após 1964, o acirramento do regime poderia levar
o país a um conflito armado interno.
Além disso, o governo militar, para ter um mínimo
de estabilidade, também teria de estabelecer alianças com segmentos da
sociedade, inclusive com lideranças políticas – o que derrubaria o argumento de
que as Forças Armadas iriam “limpar” o país dos políticos. A ditadura militar,
por exemplo, fechou essas alianças. Inclusive com políticos que se envolveram
em suspeitas de corrupção – Paulo Maluf é um exemplo.
Também é improvável que um regime militar
conseguisse acabar com a corrupção – no máximo iria conseguir diminuí-la. É
preciso lembrar que também houve casos de corrupção no período da ditadura que
vieram a público apesar da censura que existia à época.
Dentre os defensores da ideia da intervenção
militar há quem pregue a necessidade de as Forças Armadas tomarem o poder para
sanear o país rapidamente e, para logo depois, devolver o governo aos civis. O
golpe de 1964 começou com esse discurso. E os militares só entregaram o poder
aos políticos em 1985. E o Brasil que teve de ser administrado pelos civis
estava em péssima situação econômica, com inflação alta e dívida externa
crescente. E a corrupção não havia acabado.
domingo, 8 de outubro de 2017
Pensatas de Domingo. O “caso” do Nelson Rodrigues
Este
texto foi publicado no Jornal do CCRJ (Clube de Criação do Rio de Janeiro) em
1998 e no blogue “Casos da Propaganda” em 2006.
A campanha de TV do Banco
Nacional naquele ano de 1979 ficou inédita. Quer dizer, na verdade entrou no ar
uma colcha de retalhos com cenas - nada inéditas, se bem que inesquecíveis - de filmes que marcaram época na história do
banco. Até aí tudo bem. Afinal era uma campanha de aniversário e o que foi pro
ar não deixou a gente envergonhado não. Mas é que a campanha original, a que o
Favilla(1) e eu tinhamos bolado era simplesmente do caralho. Tinha depoimentos
de pessoas que estiveram de alguma forma envolvidas com um banco que sempre
apoiou a cultura, os esportes, etc. Entre elas João Saldanha, Grande Otelo e
Nelson Rodrigues. E com um detalhe: a gente produziu parte da campanha em vídeo
somente para mostrar ao cliente.
A gravação do Grande Otelo por
exemplo foi tão emocionante que deixou gente chorando e arrepiada. Foi desses
momentos inesquecíveis. A do João Saldanha teve uma característica marcante que
foi o seu cronômetro mental. A gente pedia: fala aí 10 segundos e ele falava 10
segundos. Depois a gente pedia para ele falar 35 segundos e ele falava os 35
segundos cravados. Foi uma coisa fantástica.
Mas o melhor mesmo foi o dia em
que nós fomos fazer o vídeo com o Nelson Rodrigues. Foi tudo marcado no
apartamento dele lá no Leme. Chegamos pontualmente na hora marcada. Aquele clima
de se estar na casa de um gênio era uma coisa emocionante. Entramos e lá estava
o dito cujo sentadão numa poltrona, com aquela voz que ninguém igualou até
hoje. Aquele falar compassado, aquele tom cavernoso. O pessoal da produtora
montando toda a parafernália de som e luz. Um puta dum reboliço no ar.
De repente Nelson, o próprio, o
dito cujo, himself, diz que queria
ver o texto do comercial. E ele enfiou a cara no texto. Leu, releu, parou,
olhou em todas as direções e perguntou: “De quem é esse texto?”. Favilla
levantou-se e encaminhou-se à mesa da sala de jantar, onde o mestre estava
sentado. Humildemente, tal qual fosse um aluno na sala de aula levantou o dedo
e disse que era dele. Ele virou-se lentamente na sua direção e retrucou: “Esse
texto tem um problema grave...”. - Todos gelaram atônitos. - “...Nelson
Rodrigues não é um dos maiores autores de teatro do Brasil... Nelson Rodrigues
é o maior autor de teatro do Brasil!”. Finalizou, olhando em torno com ar
desafiante. Foi um tal de conserta daqui, pigarreia dali, até que o silêncio
instalou-se por alguns infindáveis segundos na sala.
O que se seguiu foi um tentar
desfazer o que se tinha feito, um jogar panos quentes, uma sucessão de justificarivas
e sorrisos amarelos, “não é nada disso” e por aí afora. E a gente vendo a hora
do cara falar “não ga-ra-vo” no melhor estilo Alberto Roberto(2). O que afinal
de contas e graças aos deuses, ou sei lá o quê, acabou não acontecendo. Ufa!
Bom, a verdade é que, alterado o
texto, o comercial foi gravado e ficou supimpa. Como aliás ficou toda aquela
campanha que acabou não saindo. Well, as
a matter of fact eu sei lá quantas campanhas do cacete a gente cria e não
vão para o ar. Faz parte da vida de publicitário. A Y&R tem até uma
premiação interna em Nova Iorque para esse tipo de trabalho. Mas a verdade é
que dói quando eu me lembro desta inédita na minha vida. E na do Favilla, do
Eugênio e sua produtora. Enfim... coisas da propaganda.
1. O redator que trabalhava comigo.
domingo, 1 de outubro de 2017
Imperialismo, luta de classes e luta racial na música de Jimi Hendrix
Jorge Vital de Brito Moreira
Meu amigo,
Como
jovem guitarrista, você me pergunta o que eu penso de Jimi Hendrix como músico,
compositor, guitarrista; em poucas palavras, o que eu penso de Hendrix como um
criador e produtor internacional de cultura popular, dentro da área da musica
pop, do blues e do rock tanto estadunidense como mundial.
Não tenho uma
resposta elaborada para a sua pergunta, mas acredito que uma resposta adequada
deveria incluir tanto a dimensão artístico musical como a dimensão ideológico
política porque a existência das contradições decorrentes da luta de classes e
da luta racial nos EUA, denunciada e expressada pela música de Jimi Hendrix,
continuam aprofundando-se na atual conjuntura sócio-econômico-politica do povo
estadunidense.
Do ponto de
vista ideológico político, a vitória do milionário supremacista, racista,
guerreirista Donald Trump ao governo dos
EUA, colocou mais lenha na fogueira da guerra de classes e na guerra racial
(que já vinha ardendo a altas temperaturas desde a fracassada presidência de
Barack Obama) já que os supremacistas
brancos dos EUA se sentem empoderados com a eleição de Trump.
Um dos momentos significativos dessa atual
conjuntura, foi a recente decisão individual do jogador de futebol americano/mulato
Colin Kaepernick de se ajoelhar, antes de cada jogo, durante a execução do hino
estadunidense para protestar contra a opressão, a desigualdade e a brutalidade
racial das pessoas negras e de outras minorias, que geraram um conjunto
de respostas de atletas, políticos, jornalistas e do público em geral, com
muitos o apoiando (incluindo outros jogadores e ativistas) enquanto outros
afirmavam que ele desrespeitava a bandeira e a honra da nação.
O
presidente Trump, durante um comício no estado do Alabama, criticou os
protestos dizendo que os jogadores que realizavam esses protestos eram
"filhos da puta", além de agressivamente denominar o gesto de
"antipatriótico", defendendo que os times deveriam demitir quem se
recusar a ficar de pé durante a execução do hino nacional.
Voltarei ao hino
norte americano e a dimensão ideológica e politica da música de Jimi Hendrix um
pouco mais adiante neste texto, mas agora, neste ponto, eu gostaria de mencionar que como um amante fiel da música popular e
erudita (clássica) que sou, tenho acumulado algumas experiências e algum
conhecimento sobre a história da música executada pela guitarra (acústica e
elétrica) durante o século XX: por essas razões, poderia dar-lhe uma resposta
que penso teria algum interesse para
você e para alguns outros interessados no assunto.
Do ponto de
vista da minha experiência pessoal, comunico-lhe que estudei violoncelo e
guitarra acústica (violão) no Brasil e que atualmente continuo praticando o
violão, o piano, o baixo elétrico e a harmônica, não somente dentro, mas também
fora de casa: em shows e pequenos concertos realizados no México e nos EUA,
onde, em geral, tenho tocado e interpretado música brasileira, latinoamericana,
estadunidense e inglesa.
Do ponto de
vista do meu conhecimento e prática como professor e crítico da cultura, tenho
estado analisando as relações entre cultura, ideologia, estética e política que
são expressadas, explícita ou implicitamente, na música, na literatura, no
cinema ou em qualquer outro discurso cultural produzido dentro do sistema
capitalista de produção da nossa sociedade
ocidental. Naturalmente que tanto no caso da literatura, do cinema ou de
outro discurso cultural, a crítica musical que me interessa deve tratar de
elaborar considerações sobre a linguagem musical e sobre as características
formais desta arte, se nossa intenção é a de esclarecer, através da crítica
didática, aos diferentes tipo de ouvintes desta arte magistral.
Assim, desde
os dois pontos de vista mencionados acima, eu lhe responderia, que nunca
escutei, nem tenho escutado; que nunca assisti, nem tenho assistido a nenhum
artista da guitarra elétrica (ou acústica) comparável criativa e tecnicamente a Jimi Hendrix. Posso
lhe assegurar que já escutei e tenho escutado a grandes artistas deste instrumento,
a verdadeiros virtuoses da guitarra acústica (como os brasileiros Rafael
Rabello, Baden Powell, os espanhóis
Andrés Segovia e Paco de Lucia) e da guitarra elétrica da musica de
blues e rock (como Eric Clapton, Stephen Ray Vaughan, Jimmy Page), da música de jazz e de blues (como Charlie Christian, Django Reinhardt, West
Montgomery, Joe Pass, George Benson) mas nunca ouvi, assisti, nem tomei
conhecimento de um artista tão genial na criação e execução musical da guitarra
como o falecido Jimi Hendrix.
Eu ainda
gostaria de sugerir que desde o especifico ponto de vista das relações entre
cultura, ideologia, estética e política, seria imprescindível que você
assistisse a apresentação de Jimi Hendrix no filme sobre o Festival de Woodstock de 1969 para obter uma imagem estupenda da
absoluta grandeza criativa, técnica e expressiva de Jimi Hendrix: Você poderia
observar como Hendrix utiliza a guitarra para denunciar, numa linguagem exclusivamente
sonora, a guerra e a política militarista do sistema capitalista imperialista
contra a população do Vietnã do Norte.
Em relação a
esta apresentação de Hendrix, gostaria de relembrar e descrever rapidamente
(mesmo com as limitações da palavra escrita) uma sequência de cenas de uma
parte da longa apresentação e exibição de Jimi Hendrix que se encontra neste
filme do Festival de Woodstock.
Nessa sequência
de cenas, o artista Jimi Hendrix está no palco acompanhado por sua nova banda
“Gypsy Sun and Rainbows” formada por cinco músicos: Bill Cox no baixo elétrico,
Mitch Michell na bateria, o guitarrista Larry Lee, os percussionistas Juma
Sultan and Jerry Velez. Hendrix está vestido numa jaqueta indígena azul e
branca com franjas das mesmas cores de estilo apache, usa calças blue jeans e
tem na cabeça uma faixa (bandana) vermelha sobre o cabelo preto estilo black power. No seu pescoço, vemos um
colar de couro com um broche de esmeralda, nas orelhas, duas argolas de prata e
dois anéis: o menor na mão direita, o maior na mão esquerda. Jimi tem entre as
mãos, uma guitarra Fender Stratocaster branca, pendurada do seu pescoço por uma
colorida correia vermelha e branca.
A presença
colorida e multiculturalista de Hendrix no palco do Festival de Woodstock já
mostrava o lado político, social, econômico e racialmente oprimido não somente
do próprio guitarrista Hendrix, mas de uma parte significativa da população
estadunidense. Assim, a maneira de vestir de Hendrix no palco expressava e
sintetizava a imagem das contradições e dos conflitos políticos, econômicos, sociais
e militares que eram escondidas pela imagem da bandeira dos EUA nos anos 60:
uma bandeira que representava claramente a decadência dos valores humanos da
nação estadunidense simbolizada pela guerra imperialista contra o Vietnã.
Diante deste
contexto histórico, Jimi Hendrix surpreende os espectadores e ouvintes quando
subitamente para de tocar suas composições musicais do gênero blue, rock, pop e começa a solar, numa
guitarra branca, as primeiras notas da
melodia de “Star Spangled Banner” (A Bandeira Estrelada), o hino nacional dos
Estados Unidos da América.
Segundos
depois de iniciado o solo, Jimi abandona a acostumada linha melódica da
primeira estrofe do hino e parte para a transformação
da segunda estrofe, alterando a sua linha melódica, desconstruindo lenta e
sistematicamente suas partes super conhecidas (que são sempre cantadas e
tocadas em todas as cerimônias civis, militares ou desportivas dos EUA) até converte-la
na sonoridade terrorífica das bombas,
dos gritos e dos gemidos produzidos pela
guerra dos EUA contra o povo vietnamita.
Musicalmente, Hendrix
representa a tragédia humana da guerra imperialista através de técnicas guitarristicas
(muitas das quais ele inventou e/ou aperfeiçoou) que eram pouco conhecidas e/ou
utilizadas durante os anos 1960.
Através da linguagem intrínseca e exclusivamente musical da guitarra elétrica, Jimi Hendrix faz artisticamente uma das maiores denúncias político-sonoras do imperialismo no século XX: uma denuncia que é equivalente no plano cultural à denuncia político-pictórica de Pablo Picasso da tragédia espanhola causada pelo fascismo franquista na guerra civil espanhola no seu painel “Guernica”.
Logicamente que depois da execução/desconstrução do Hino “Star Spangled Banner”, a direita politica conservadora dos EUA (furiosa com o desmascaramento do imperialismo estadunidense), manipulou as imagens (circenses) de Hendrix no concerto do Festival de Monterrey, e começou a denegrir (através da mídia corporativa) o extraordinário talento musical de Jimi Hendrix classificando-o de palhaço da guitarra e drogado (1).
Apesar da propaganda contra Hendrix e de sua performance circense (Jimi podia tocar a guitarra com a mão esquerda, com as cordas invertidas, podia tocar enquanto a guitarra se encontrava nas suas costas, podia tocá-la com seus dentes, podia tocá-la enquanto dava cambalhotas no palco como um equilibrista de circo, e no final da sua apresentação no Festival de Monterrey, Jimi, depois de atear fogo na sua guitarra, despedaçou o instrumento no chão do palco, jogando os restos da guitarra para a platéia), alguns dos maiores guitarristas do século XX (Pete Townshend, Eric Clapton, Jeff Beck) e muitos outros gênios musicais da música de Jazz (como Miles Davis e Gil Evans), afirmaram, depois da apresentação de Hendrix no Festival de Monterrey, que nenhum artista podia tocar a guitarra como Jimi Hendrix: alem de ser um solista fantasticamente talentoso, do “outro mundo”, sua técnica e sua criatividade, estavam muitos anos na frente dos melhores do seu tempo.
Apesar da relativa perda da importância do papel político do intelectual/cultural defensor dos pobres e dos oprimidos (tais como os revolucionários Karl Marx, Lenin, Trostky, Che Guevara, Gramsci, Lukacs, Sartre, Franz Fannon, Carlos Mariguela, Paulo Freire, Manuel Sacristán...) dentro dessa etapa de capitalismo neoliberal e globalizado dos nossos dias, me parece sumamente importante reivindicar e revitalizar a importância desse trabalho intelectual (teórico e prático) não somente no plano da filosofia, da literatura, da política, mas também reivindicar e revitalizar a importância do trabalho no plano artístico, musical-ideológico-político ante o sistema capitalista, de artistas como Jimi Hendrix, John Lennon e Frank Zappa (2).
A trajetória inteira desses extraordinários intelectuais e artistas da área musical, literária, pictórica e cinematográfica, sempre estiveram na mira da guerra cultural que a CIA e as ditaduras (no Brasil e na América Latina) estabeleceram na defesa do imperialismo norteamericano contra os movimentos de emancipação político-sócio-econômica-cultural do período: a luta dos povos oprimidos pelo socialismo, do movimento Black Power, do movimento pelos direitos civis, pela liberação das mulheres, do movimento Underground, do movimento Hippie e outros movimentos contraculturais de emancipação social e humana.
NOTAS
1) Eu concordo com o livro Addiction treatment (2018) de Van Wormer e Davis quando
declara que "Richard Nixon foi o primeiro presidente estadunidensa a
declarar a "guerra contra as drogas", e que esta foi uma estratégia
planejada para se separar da “guerra contra a pobreza" do liberal Lyndon Johnson. Mas gostaria de ir além do
livro de Van Wormer e Davis e afirmar que Nixon fez sua “guerra contra as drogas”,
não só para tentar destruir a resistência do movimento contracultural da década
de 1960 contra a Guerra do Vietnã, mas para ofuscar e ocultar sua notória
imagem de criminoso de guerra, uma vez que ele foi o responsável pelos
assassinatos de centenas de milhares de habitantes do Vietnã do Norte, enviando milhares de soldados americanos para
a morte durante a Guerra do Vietnã. O escritor britânico e jornalista de
investigação, Christopher Robbins, afirma em seu livro Air America (1985) que
quando Nixon lançou a guerra ilegal no Camboja, foi construída, dentro da sede da CIA no norte
de Laos, uma nova instalação, onde o ópio em massa era refinado em heroína e
enviada para o exterior.
O livro de Robbins, Air America (1985), foi transformado em um filme
americano muito popular com o mesmo nome "Air America", estrelado por
Mel Gibson e Robert Downey Jr., atores que pilotavam os aviões Air America da
CIA, em missões voadoras no Laos, durante as guerras do Vietnã e do Camboja.
Até onde sabemos, o movimento contra cultural da década de 1960, formado
por muitos movimentos progressistas (Civil
Rights, Anti-War moviment, Feminism moviment, New Left moviment, Hippie
moviment entre outros) foi sistematicamente atacado e reprimido pelas autoridades
estadunidenses: não só pelo criminoso Richard Nixon, que foi impedido (impeached)
pelo Congresso dos EUA, mas também pelos seguintes presidentes dos EUA, Ronald
Reagan, George Bush (pai), Bill Clinton, George W. Bush (filho) e Barack Obama.
Agora é a vez de Donald Trump.
2) Infelizmente não posso colocar a trajetória de produtores musicais internacionais como Paul McCartney, Mick Jagger, por exemplo, na mesma categoria em que se encontram Jimi Hendrix, John Lennon, e Frank Zappa, porque desde meu ponto de vista político-ideológico, foram cooptados pelo sistema capitalista ou capitularam diante da ideologia neoliberal e globalizada contra os movimentos de emancipação de seres humanos oprimidos pelo imperialismo internacional. Vejam por exemplo o caso das posições reacionárias do ex Beatle Paul McCartney defendendo verbalmente a política criminal e genocida do ex-presidente George W. Bush em sua guerra contra o povo do Iraque, Afeganistão ou a posição de McCartney legitimando a política genocida e reacionária do ex-presidente Barack Obama, através da realização de concertos musicais na Casa Branca para o deleite de Obama e sua família. A posição político-ideológica de Mick Jagger e dos Rolling Stones é notoriamente contraditória porque depois de compor uma música de rock denunciando a hegemonia politica neo-nazista dos neo-conservadores judeus (neo-con) durante a administração de George W. Bush, viajaram a Israel (o pais do apartheid colonizador e opressor da população palestina) para realizar concertos musicais naquele país sionista.
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