domingo, 27 de maio de 2018

Pensatas de Domingo e a greve dos caminhoneiros


A greve dos caminhoneiros, uma categoria heterogênea que engloba motoristas autônomos e empregados de grandes empresas de transporte de cargas, além de paralisar parcialmente o país, ameaçando o fornecimento de combustíveis e alimentos, abriu um importante debate no interior da esquerda: devemos apoiar ou não a paralisação dessa categoria? Há uma justa desconfiança entre a vanguarda classista em apoiar a greve dos caminhoneiros, tanto porque o grosso da categoria apoiou o golpe parlamentar em 2016, como por seu histórico no Brasil e no mundo em ser uma marionete da reação burguesa. Devemos ter claro que essa categoria é tradicionalmente manipulada pela direita e também controlada por empresas do setor de transporte, ainda que nesse momento seja porta-voz da justa denúncia do aumento dos combustíveis. Possui um peso social e econômico enorme, sobretudo num país continental como o Brasil, ultra dependente do transporte rodoviário para circular as mercadorias. Nestas condições, podem tornar-se um fator de desestabilização política agora e até mesmo nas vésperas das eleições presidenciais de outubro, ainda mais que o movimento é controlado por uma burocracia mafiosa dirigida por setores direitistas. Nesse sentido é necessário que os trabalhadores com tradição de luta entrem em cena, para protestar contra o aumento do custo de vida para colocar nas mãos dos lutadores sociais o combate direto contra a carestia, acaudilhando atrás de si os setores mais atrasados e desorganizados do povo trabalhador. Entretanto é preciso reconhecer que o protesto contra o aumento dos combustíveis ganhou rapidamente a simpatia popular, na medida em que o povo trabalhador sente na pele e no bolso que a elevação dos preços da gasolina, álcool, diesel e do gás de cozinha geram o aumento do custo de vida das massas, capitalizando o ódio popular contra o governo Temer. Os caminhoneiros lutam pela redução do preço do diesel, não encamparam a bandeira popular de baixar os preços dos demais derivados do petróleo, justamente porque são uma categoria cortada pelos interesses patronais. Limitam-se a reivindicar o corte de impostos para que o Tesouro Nacional absorva a redução do diesel na bomba. Apesar disso, sua pauta não é reacionária, mas limitada porque não aponta a necessidade da redução e congelamento do preço de todos os combustíveis, do gás de cozinha e muito menos se colocam contra a privatização da Petrobras, em resumo, não chamam a unidade popular para derrotar o governo golpista neoliberal. Nesse sentido, suas reivindicações devem ter o apoio crítico e parcial dos trabalhadores no embate com o cartel dos combustíveis controlado pelo imperialismo estadunidense e europeu. A esmagadora maioria das direções dos caminhoneiros são direitistas e devem ser combatidas vigorosamente pelos lutadores de esquerda. Para que esse movimento não caia completamente nas mãos da direita reacionária é preciso que os trabalhadores organizados entrem em cena, particularmente os petroleiros e os sem-terra, com bloqueios das estradas e a ocupação das refinarias, o que coloca concretamente a questão da unidade com os caminhoneiros, que terão que se unir aos operários e explorados ou se voltar unicamente a sua limitada pauta corporativa. O movimento operário não pode ficar alheio e vendo “de camarote” a conjuntura nacional se polarizando. Tem de entrar neste movimento com suas pautas e seus métodos de luta. Os sindicatos operários teem de mobilizar sua base agora, sobretudo a CUT, apesar do grau de burocratismo, para levantar a luta pela derrubada do governo Temer e a demissão imediata de Pedro Parente, para que a Petrobras seja controlada pelos trabalhadores. Como o PT somente aposta no circo eleitoral apesar da prisão de Lula, vem tendo um papel completamente nulo diante dessa conjuntura, com grande parte de seus apoiares acusando a greve de ser um “Lockout” reacionário, o que não é verdade. A entrada do movimento operário pode levar essa greve dos caminhoneiros a dar um giro a esquerda, inclusive com potencial para uma Greve Geral. As pautas principais teem de estar relacionadas a estatização completa da Petrobras, fim da emissão de seus papéis nas bolsas, ligando a outras pautas como cancelamento da reforma trabalhista etc. A direção pelega defende uma pauta pró-patronal em muitos pontos mas em parte deles há concordância com vários anseios populares, no entanto, se o movimento operário entrar em luta, pode levá-la para um curso progressivo, com as pautas operárias, ligando a questão da estatização completa e de fato da Petrobras a demandas proletárias. Os trabalhadores não podem ficar alheios: tem de disputar a direção, ou pelo menos buscar influenciar este movimento, tirando-o da influência patronal e pequeno-burguesa. Existem claramente contradições no movimento dos caminhoneiros. Mas o efeito mais importante dela é certamente, ter colocado em crise a política de Temer-Parente de completa entrega da Petrobrás. Esta é uma posição justa e revolucionária diante da greve dos caminhoneiros, nem virar as costas para o movimento, nem manter uma linha principista “no fio da navalha” nesta complexa conjuntura, o que passa pela denúncia vigorosa da Lava Jato patrocinada pela Casa Branca e apoiada por grande parte dos caminhoneiros, uma operação político-judicial que contribuiu em muito nos últimos anos por manter o Brasil um país eternamente submisso política e economicamente às potências imperialistas e as “Sete Irmãs” (cartel das transnacionais do petróleo). Ao mesmo tempo é preciso se colocar frontalmente contra a repressão das FFAA e das “forças federais” (PF, PRF) anunciada contra os caminhoneiros em greve, porque uma investida repressiva contra o movimento reforça o ataque da burguesia e seu Estado policial contra o conjunto do movimento operário e camponês, pavimentando as condições para no futuro ser desatado um golpe militar no país.

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