domingo, 23 de agosto de 2009

Pensatas dominicais

Meu pai conta um caso passado na Bahia, em que um parente, em fins da década de 1960, reclamava que era um absurdo a indústria automobilística estar tornando o trânsito tão difícil. Pois em outros tempos, o tráfego fluia e ele podia estacionar o carro em qualquer lugar.
Independente de demonstrar as razões absurdas do transporte individual, dos pontos de vista da ecologia e ideológico (1), o “causo” acima refletia um outro grave problema, qual não seja o do egocentrismo social de uma elite brasileira ligada à formação agrário-oligarquica.

Será que Dilma resiste à investida de Marina? Bem, já divulgaram hoje as férias da Ministra-Chefe da Casa Civil, agora em setembro. Por que será?

Estive a conversar com meu primo André Setaro sobre bares do Rio. Sim senhor, existem nesta maravilhosa cidade bares que atravessam os tempos mantendo a qualidade. Começamos o papo porque havia me lembrado que ele gosta do Bracarense. E, na sexta-feira havia ido naquele bar com um casal amigo (mineiro) e sua encantadora filhota de quatro anos.
O Bracarense, de fato mudou muito. Sofisticou-se, até por estar numa região idem. Mas, apesar dos pesares que veem por trás desta sofisticação, ainda mantém um “quê” do velho boteco em que tomei chope em pé no início dos 1980. O bom é que a lourinha gelada continua muito bem tirada.
Mas daí ele se lembrou do Manolo... Aquele Manolo da Marques de Olinda, esquina com Bambina, lá pelos lados de Botafogo. Conheci este bar quando seu nome ainda era Olinda. Só que o espanhol Manolo já estava lá e tinha um polvo, que, sai da reta, já era delicioso.
Este foi um cuja sofisticação não atrapalhou em nada o seu desempenho. O Manolo, a exemplo do Olinda tem também um filé de primeira qualidade. E, pelo menos até pouco tempo atrás ,uma inequecível paella aos domingos.

(1) Apesar da geração de empregos e outros fatores, a indústria automobilística é uma das grandes deformações comportamentais geradas pelo sistema em busca de aprofundar o comportamento individualista. Mas indo para a ecologia. Tudo o que querem atribuir ao fumo, no fundo no fundo, é consequência direta da poluição provocada por esses monstrinhos de quatro rodas.

10 comentários:

André Setaro disse...

Verdade verdadeira no sentido kantiano é a seguinte: apesar de ter morado num Bahia tranquila, calma, maravilhosa, e que hoje, enfartada, somente oferece uma cultura rasteira e rastejante, com engarrafamentos monstruosos, o fato é que sempre fui frustrado por não ter morado no Rio de Janeiro. Quando comecei a ir - e ia de ônibus no "Vá e venha com a Penha" - à Cidade Maravilhosa sempre era um motivo de encantamento e, mesmo, de fascinação. Vavá Olivieri, nosso primo, que nasceu na Bahia, dizia que preferia ser lixeiro no Rio de Janeiro do que governador na Bahia. E se foi rápido estabelecer na cidade de Machado de Assis e Tom Jobim.

Passada a adolescência, vim a conhecer os fascinantes (sim, repito a expressão) bares e botecos cariocas. Conheci o "Veloso", antes de ser o agora caricatural e desinteressante "Garota de Ipanema". Bebi no "Degrau", comi o 'fillet-mignon' com batatas fritas do "Lamas" ainda no Largo do Machado. E quando saia do extinto e de saudosa memória Paissandú, tomava choppes nas pizzarias e bares das circunvizinhanças. O Rio era (ou ainda é?) uma festa!

Sim, o bar no qual comia o churrasco Oswaldo Aranha, da rua Marquês de Olinda, era o "Manolo's". Antes de morrer, todos deviam ter, nos arcanos de suas memórias, o paladar desta iguaria. Falar do chopp carioca me faz mal porque sinto uma frustração enorme por não poder encontrá-lo por esta soterópolis.

Veio à mente o "Alcazar" em Copacabana, assim como o "Lucas", sem falar na "Fiorentina". E mais. Muito mais.

Para encerrar este bapo dominical e vadio, devo dizer que os cinemas e os botecos cariocas seriam a prova cabal da existência de Deus. Mas, mesmo, assim, não acredito Nele.

André Setaro disse...

Gostava muito daqueles botecos que ficam nas transversais de Copacabana (não sei nos dias atuais pela violência e pela decadência do famoso bairro): Siqueira Campos, Prado Junior, Duvivier, etc. Qualquer um em que se entrasse havia sempre um chopp gelado, com tensão, espuma bem dosada, a lhe esperar. E uns quibes, uns bolinhos, uns queijinhos, alguns capazes de tirar qualquer desgosto. Nestes botecos, geralmente, bebe-se em pé há, segundo um estudioso do 'beber chopp', uma certa maneira correta de postura quando em pé, num boteco, a tomar um chopp. Parece que o mundo se acende e sua imaginação delira. Se entra amargo, sai mais alegre, mais preparado para aguentar as agruras e mazelas da vida.

Volto-me para a minha cidade vazia de encantamentos chopistas. O jeito é escolher uma boa cervejinha. Aprecio a 'verdinha', a Heineken, mas não é encontradiça nos bares soteropolitanos da vida. Modéstia à parte, tenho um fornecedor particular.

Jonga Olivieri disse...

Você lembrou bares imortais do Rio, como o Alcazar e sua cozinha espanhola (maravilha), ou o Lucas (a um quarteirão, quase vizinho) e seus pratos alemães.
No Lucas, esbarrava sempre com o Oscar Niemeyer, cujo escritório de arquitetura fica no outro lado da esquina.
O Manolo (é sem "s" mesmo), como os outros, é alguma coisa que quem entra e prova não esquece jamais.
Quanto ao Rio, e apesar da anti-propaganda dos paulistas invejosos, continua sendo uma festa.

Jonga Olivieri disse...

Botequim é a melhor coisa do mundo.
O chamado "pé sujo", este em que a gente fica em pé e come essas "especiarias" como o famoso "joelho", ou o "risolis de galinha"... Ou ainda a "orelha de porco no meio de grãos de feijão".
Costumo dizer que "dobradinha" e "mocotó" ou "rabada com agrião" tem que ser em botequim. E é mesmo.
E o "clima" é bom, todos bebem alegremente um chopinho ou uma cerveja entremeada de bons golos de pinga.

Ieda Schimidt disse...

Não. Não creio que a Dilma resista a Marina.
A retirada de cena já é um prenúncio de sua problemática e a complexidade da questão.
Aliás, tu notaste que ela está de peruca, não?

Conheci o Bracarense na última vez que estive aí no Rio de Janeiro.

Jonga Olivieri disse...

Essa de peruca, taí uma coisa que eu não havia reparado...

maria disse...

Você tem razão; Querem jogar a culpa de tudo no cigarro e esquecem da poluição causadoa pelas carros, onibus e caminhões.
Outro dia mesmo levei uma barrufada de um monstrinho velho que Deus me livre.

Jonga Olivieri disse...

Este é um problema sério, Mary.
E merece uma postagem especial, pois veja que os índices da poluição gerada pelo cigarro são mínimas em relação ao que causam os milhões de motores a explosão ao redor do mundo.
Na década de 1970, o Brasil tinha pouco mais de dois milhões de veículos. Hoje, produzimos mais do que isto em um ano.
No mesmo período circulavam nos EUA uns 70 milhões de automotores. Hoje, no Brasil, o número está próximo disto e por lá a quantidade supera os 200 milhões, É tudo um absurdo!!!
E tem mais: este negócio de fumante passivo e um galhofa. Tudo isto precisa ser bem passado a limpo.

André Setaro disse...

"Tudo o que querem atribuir ao fumo, no fundo no fundo, é consequência direta da poluição provocada por esses monstrinhos de quatro rodas."
Assino embaixo.

Jonga Olivieri disse...

Em outubro de 2008, publiquei neste blogue "O desastre Henry Ford", artigo que já fôra postado no antigo "Pensatas" em maio de 2007.
Ali tento entender um pouco do fenômeno e do comportamento individualistas, estimulados pelo sistema e suas classes dominantes, mas que levou ao maior desastre que a humanidade tem presenciado: o da poluição desenfreada do planeta, levando-o à destruição; bem mais próxima do que possamos pensar.

O automóvel, além de tudo seria totalmente desnecessário, caso houvesse uma mentalidade adequada para o transporte de massas (energizado) sobre trilhos.