domingo, 4 de abril de 2010

Cachimbadas de domingo

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Como diminuíram as tabacarias do Rio de Janeiro! Aliás, creio eu ser um fenômeno nacional. E por que não dizer mundial? Em parte, consequência do “antitabagismo fascistóide” que nos assola, e, por outro lado, penso eu, que cachimbo saiu de moda. Embora o vendedor da Gryphus – tabacaria da cidade em que compro meus tabacos – garanta que teem muitos jovens aderindo ao velho hábito.
Eu me torno até meio repetitivo, mas uma vez contei neste blogue que houve um tempo em que existiam dezenas de quiosques e lojinhas, para alem das grandes tabacarias, claro, onde se podiam comprar cachimbos e tabacos da melhor qualidade por essas bandas cariocas. Nesta época cheguei a ter mais de 50 cachimbos e fumava com frequência o saudoso (1) Balkan Sobraine e os Dunhill (2) que foram os primeiros a sumir do mercado.
Mas acabou que desapareceram quase todas as espécies de fumos importados. Havia muitos holandeses e de outras nacionalidades. Hoje apenas se encontram nas tabacarias o Half & Half e algumas variedades de Borkhum Riff. Não me pergunte por que, mas é isso mesmo.
É verdade que aumentou, e muito, a variedade de tabacos tupiniquins. Mas o certo é que os preços destes tambem aceleraram de forma assustadora. Hoje compra-se um Half & Half por 22 a 24 reais. Mas por outro lado bons fumos nacionais estão na casa dos R$ 14,00 pra cima. O negócio é fumá-los. Até porque se escolhendo bem são de boa qualidade e comparáveis aos estrangeiros... À exceção do velhos e bons Dunhill de Latakia. Estes são incomparáveis!
Quanto aos cachimbos, continua a existir em grande variedade. E muito embora os nacionais tenham melhorado muito, existindo alguns de briar (3), os europeus ainda são superiores. Mas estão bastante caros. No entanto, faz algum tempo que não compro cachimbos novos, até porque ainda tenho uma coleção com mais de trinta.

(1) Era um fumo constituído por uma mistura de folhas claras e escuras de Virgínia com uma seleção de Macedonia, e enriquecido com folhas de Latakia, fabricado pela Gallagher (Londres) que, infelizmente o retirou de produção...

(2) Os Dunhill continuam a ser fabricados, mas os seus importadores (sabe-se lá porque) não mais os distribuem.

(3) "Briar" é a denominação em inglês (em francês bruyère) para a madeira da parte entre a raiz e o tronco (vulgarmente conhecida como "cepo"), da “Erica arbórea”, árvore pequena que cresce na região mediterrânea. A sua raiz destaca-se pela longevidade, resistência ao calor e boa aparência.

8 comentários:

André Setaro disse...

O blog impressiona pelo leque de opções temático: ora um comentário de um filme, ora a nostalgia de um tempo pretérito, ora a visão crítica dos fatos contemporâneos, ora o resgate de fatos passados etc. E, além do mais, ainda que bissextamente, aulas de cachimbo, as já tradicionais 'cachimbadas'.

Não estou cachimbeiro, sabe você, e, confesso, hoje sou um ignaro na matéria. Mas já fui um fumante de cachimbo na minha juventude. Mais por imitação, 'modismo', do que, propriamente, como apreciador de suas delícias aromáticas.

O que me levou a largar o cachimbo foi a companhia desagradável de um outro cachimbeiro, que dava mais aulas de pernosticismo, quando fumava, do que de cachimbadas elegantes e charmosas. O 'dito cujo', sujeito de pedantismo externo e 'espaçoso', fez-me ver, e refletir, sobre o 'estar-cachimbeiro'.

Mas sei que é um prazer incomensurável para seus apreciadores, como você.

Jonga Olivieri disse...

Sobre o "Novas Pensatas" eu digo em sua definição: "Este blogue é uma miscelânea de pensamentos sobre os mais variados assuntos. Tem recuerdos, críticas variadas, abordagens da situação política e social no Brasil e no mundo, pensamentos diversos, contos, lixo cultural. Tudo sem seqüência e sem compromisso de continuidade."
Em outras palavras, ele se propões exatamente a ser um "leque", comobem disseste.

Tambem deixei o cachimbo (naquela época) por ter conhecido esta mesma pessoa que o fez abandoná-lo. Passei a achar algo esnobe, pretencioso, tal as poses que ele fazia...
Voltei somente uns 15 anos depois, quando tinha alguns fios brancos na cabeça, e, por razões de saúde abandonei o cigarro.
Mas é prazeroso curtir o velho hábito.
Nota-se pelos meus "papos de cachimbeiro" que hoje virou algumas baforadas de domingo.

André Setaro disse...

Não vou nomear o cachimbeiro pernóstico, pessoa hipócrita que enganou meio mundo com sua máscara de simpatia falsa. Se, na juventude, o dito cachimbeiro enrolava com seu puxasaquismo, o tempo, senhor da razão, juiz supremo, fez ver a sua crueldade e brutalidade. Mas, porque o tempo também é sábio, o cachimbeiro de antigamente amarga solidão e ostracismo completos.

Jonga Olivieri disse...

E uma figura deplorável!
Uma vez esteve aqui no Rio e hospedou-se em minha casa. Porque entrou, deitou as malas mum canto e ficou. 'Just like that', sem convite, sem nada.
Sujeitinho espaçoso, abusado, incoveniente.

Ieda Schimidt disse...

Dá vontade de fumar cachimbo quando leio estes teus papos de cachimbeiro.
Sabia que tem muita mulher fumando?
E como tu conhece as marcas. Tanto de cachimbo quanto das qualidades de fumos.

Jonga Olivieri disse...

Inclusive existem cachimbos apropriados e fabricados exclusivamente para o sexo feminino...
É uma questão cultural. Nós estranhamos, mas na Europa vi muitas mulheres fumando cachimbo.

maria disse...

Estava esperando assitir o filme para postar um comentário aqui. Oxêm menino, como você conseguiu captar tudo o que Heneke tenta nos transmitir nesta verdadeira obra-prima do cinema.
Mas sai arrazada do cinema.

Jonga Olivieri disse...

Mas o filme mostra realmente um quadro que nos faz pensar o que foi a base de formação do fascismo, tanto de direita quanto o de esquerda (stalinismo).
E isto é violência, mais violência, mais violência, mais violência...
Ad infinitum.