quarta-feira, 5 de maio de 2010

Série Amarela – 2

O caso Aída Curi

Na noite de 14 de julho de 1958, Aída Curi, uma jovem de 23 anos, encontrava-se a caminhar pela Rua Miguel Lemos com uma coleguinha ao voltar da escola. Foi paquerada por dois rapazes de boa aparência. Um deles se chamava Ronaldo Guilherme de Souza Castro. O outro, Cássio Murilo Ferreira. Eles a convidaram para ouvir músicas no apartamento de um amigo, na Avenida Atlântica.
Como o amigo deles não se encontrava em seu apartamento, Cássio Murilo sugeriu que fossem para o terraço do prédio apreciar a vista de Copacabana à noite. Subiram com a moça para o terraço e começaram a tentar agarrá-la. Ela resistiu... Instantes depois, havia um corpo estendido na calçada da Avenida Atlântica.
Poucos dias após o início das investigações, a polícia, chegou aos dois jovens.
A população então começou a conhecer os personagens da tragédia e a realidade que os cercava.
Aída Curi foi apresentada como um doce e ingênua garota, muito religiosa (antiga aluna de um colégio de freiras), ótima aluna e que gostava de tocar piano.
Cássio Murilo foi apontado como o típico bad boy. Desocupado, já havia sido expulso de um colégio por tentar levantar saias das colegas.
De Ronaldo, se disse tudo sobre sua vida pregressa. De ter participado do roubo de um carro pertencente à Secretaria de Agricultura, E que fora expulso de vários colégios, acusado de agressões.
Em agosto, saiu o laudo pericial que indicava que a jovem teria sofrido torturas antes de ser subjugada.
Em fevereiro de 1959, iniciou-se o julgamento. A defesa de Ronaldo sustentava a tese de negativa de autoria, argumentando que Aída pulara do terraço. Após 32 horas daquele que foi considerado pela imprensa como “um dos mais dramáticos da história do Tribunal do Júri”, saiu a sentença: 37 anos para Ronaldo. Cássio, considerado até pelo juiz do caso como o verdadeiro assassino, não pode ser julgado por ser menor de idade.
O resultado causou verdadeira comoção no público presente à sala de julgamento e na multidão que esperava o veredicto nas imediações do fórum. O delírio foi quase que unânime.
A defesa apelou e um novo julgamento aconteceu no mês de março de 1959, demonstrava uma alteração nas expectativas da população. Em virtude do depoimento de uma testemunha (dona Lecy) e de diversas reportagens na imprensa que colocavam em dúvidas certezas antes estabelecidas, o comportamento da massa já não era tão agressivo.
O depoimento da perícia, ajudou Ronaldo. Pressionado pelo advogado de defesa, o perito teve que admitir que a marca no rosto dela poderia ter sido provocada por esmagamento do corpo contra a parede do prédio. Ele ainda afirmou que não podiam ser comprovadas as marcas de dentes nos seios da jovem, como anteriormente fora dito.
Ronaldo foi absolvido por seis votos contra um. Saiu da sala de julgamento sob aplausos do público, a maioria jovens quq passaram a tratá-lo como herói.
Como desfecho do caso Aída Curi, houve ainda um terceiro julgamento (por apelação da promotoria), cujo resultado pode ser entendido como um “meio termo” entre os dois anteriores. Ronaldo foi julgado por homicídio simples e tentativa de estupro, sendo condenando a uma pena de seis anos.
Cássio Murilo, por ser menor, foi encaminhado ao SAM (1), de onde saiu direto para prestar o serviço militar. Alguns anos depois, ele seria acusado de ter matado um vigia de automóveis, fugindo para o exterior até que a pena pelo assassinato fosse prescrita.

(1) Iniciais de “Sistema de Assistência ao Menor”, hoje substituído pela FEBEM.

9 comentários:

André Setaro disse...

Menino ainda, lembro-me ter acompanhado pelos jornais e, principalmente revistas ilustradas, o caso da Aída Curi (ou seria Cury?). A revista 'O Cruzeiro' deu em grande destaque e Carlos Heitor Cony escrevia muitas crônicas sobre o caso (ainda hoje, volta e meia, fala de Aída Curi na sua coluna da Folha). Também David Nasser, entre outros.

É um grande exemplo para mostrar como os fatos atualmente apenas repercutem no seu momento instantâneo e depois são esquecidos. Antes as coisas eram diferentes. Um caso se prolongava na memória por muito tempo, sendo motivo de perplexidade e estupefação.

Nos dias que correm parece que a capacidade de indignação não existe mais.

Jonga Olivieri disse...

O pior dos tempos atuais é a volatidade de tudo. Dos acontecimentos, dos produtos, dos casamentos e até dos amores e amizades.
Tambem, veja bem, na época do caso Aída Curi, como você bbem recordou, a mídia era impressa. Havia TV no Rio, Sampa e Beagá, mas era a época dos "televizinhos"...
O mundo era outro. O caso da "Série Amarela 1" tambem foi nesta época.
Mas já ninguem fala mais no "Caso Isabella"... É capaz de mais uns meses a gente perguntar na rua e ninguem se lembrar de porra nenhuma sobre ele!

Ieda Schimidt disse...

Tenho alguma recordação de meus pais falando deste caso. E deve ser pelo que o André Setaro falou da repercussão do que aconteceu na imprensa (O Cruzeiro) da época.
Agora, é sério o que tu falaste sobre a volatidade dos acontecimentos e o pior, sentimentos nestes dias de "Barbarie". Afinal é barbárie mesmo

Jonga Olivieri disse...

Olha, Ieda Maria, as coisas hoje são relâmpagos... Acontecem e desacontecem em instantes. Somem no ar, evaporam-se.

Popeye disse...

Você pegou dois casos de fato marcantes naqueles tempos de 1950, a década em que nasci.
Este caso, lembro de ter visto em evistas velhas na casa de campo em Tersópolis, repleta de Cruzeiros, Manchetes, quadrinhos e Seleções do Digest Reader antigas.
Ali li sobre isso. Curioso, mas ja´uns 10 anos depois.

Jonga Olivieri disse...

As casas de campo, sítios e fazendas eram assim. Cheias de livros e revistas velhas.
Na de um parente meu tinha até um "gramofone" daqueles que tinham-se que dar corda com manivela e que tocavam discos de 78-RPM...

maria disse...

Taí um que eu nunca tinha ouvido falar. Mas também tem muito tempo. Ôxem!

Jonga Olivieri disse...

Sim Mary, isto é um caso do "tempo do onça"; Ou "dos que os bichos falavam"... Você nem era nascida!

Monsenhor MauricioCuri disse...

Prezado Sr. Jonga Olivieri, sendo eu irmão de Aída Curi, quero pedir encarecidamente ao responsável pelo Blog para fazer as necessárias retificações ao que aí está narrado: Aída não contava 23 anos nem estava acompanhada de uma “coleguinha”(era uma senhora de 36 anos), tampouco deixou-se “paquerar”, pois logo de início disse aos rapazes “que não queria conversa”, tendo eles arrebatado os seus óculos e bolsa(consta nos Autos do processo) ; nem foi ela procurar amigo deles em um apartamento e menos ainda “subiu com eles” ao terraço … O fato verdadeiro é que contava 18 anos, foi vítima de uma “curra”, tendo sido arrebatados seus pertences, óculos e bolsa ,levada à força e puxada para dentro do elevador,lutou para não ser violentada e após desmaio foi jogada do alto do prédio.Não era absolutamente “ingênua” : era devota da menina italiana Santa Maria Goretti e dizia ser capaz de imitá-la se um dia caísse nas malhas de pessoas com intenções perversas. No blog “Santos do Brasil”, poderá o senhor se inteirar dos detalhes corretos,pois os responsáveis pelo blog tiveram acesso às informações justas . Deixo igualmente o meu web site para que se possa ler o capítulo em português “Caso Aida Curi”,cujo autor sou eu mesmo.Agradeço a atenção do amigo que reputo honesto e , sem dúvida, de boa fé . Monsenhor Maurício Curi, irmão de Aída Curi, Vigário patriarcal para os melquitas católicos no Cairo e Pároco da Igreja Imaculada Conceição de Heliópolis, Cairo, Egito. Web site :
www. egliseimmaculee.com
Email : egliseimmaculee@yahoo.com