Por Alice Rawsthorn (1)
Tradução de Erika Brandão, para “Antena UOL”
“Se te contassem sobre uma organização que começou do zero há pouco mais de quatro meses e que já se expandiu para mais de 1.500 cidades mundo afora, você não ficaria impressionado? Foi o que imaginei.
Uma entidade tem realizado este feito desde 13 de julho de 2011, quando os ativistas canadenses do grupo Adbusters se proclamaram os “redentores, rebeldes e radicais” que iriam "armar barracas, cozinhas e barricadas pacíficas" e ocupar Wall Street durante alguns meses. No dia 17 de setembro, duas ocupações semelhantes se iniciaram em São Francisco e centenas de outros grupos e outros lugares, rapidamente, seguiram o mesmo caminho.
Apesar das severas retaliações contra o movimento "Occupy" em algumas cidades, incluindo o esfacelamento do acampamento de Wall Street, o movimento agora é um fenômeno global. Outros grupos ativistas, como os que lutam pelos direitos dos gays, dos negros, das mulheres, pela paz ou pelo meio ambiente, tradicionalmente vêm usando elementos do design para provocar o reconhecimento do público, sejam nomes, slogans ou símbolos. O movimento "Occupy" também os usa, mas eles surgiram de outra maneira.
Como um movimento sem líder e que é celular ao invés de hierárquico em sua estrutura, o "Occupy" depende da internet e de sites de mídias sociais, como Twitter e Facebook, para abastecer seu crescimento. Os diferentes elementos de sua identidade em relação ao design foram definidos pela criatividade com a qual seus apoiadores utilizaram estas tecnologias.
Identidade universal
Comecemos pelo nome. Ao batizar o primeiro assentamento de “#Occupy Wall Street”, os Adbusters estabeleceram um precedente com o qual outros grupos poderiam instantaneamente inventar suas próprias versões de “Occupy” em diferentes lugares: "Occupy Paris", "Occupy Poughkeepsie" e assim por diante.
Adotar um nome customizável é um modo eficiente de identificar tão diversa coleção de pessoas e causas. Cada novo grupo pode chamar atenção para o movimento global com a primeira parte do seu nome, enquanto defende sua própria identidade com a segunda parte. A recorrência da palavra “occupy” é ideal para maximizar o impacto nas redes sociais, assim como o acréscimo do “#“, o símbolo da hashtag (2) que permite que usuários do Twitter procurem tweets com um tema comum.
Com ou sem a hashtag, a palavra “Occupy” é uma boa escolha para um movimento global. Ela é traduzida facilmente do inglês para várias línguas, entre elas “occuper” em francês, “occupare” em italiano e “ocupar” em português. E a palavra está firmemente enraizada na história dos movimentos de protesto, das ocupações de fábricas por grevistas nos Estados Unidos nos anos 1930 aos protestos passivos dos estudantes no final dos anos 1960 em todo o mundo.
Em resumo, “occupy” é um exemplo estelar do que é conhecido como uma marca “guarda chuva” no marketing e é o que os anticorporativistas do movimento poderiam descrever como “vencê-los em seus próprios jogos”.
Igualmente versáteis são os slogans adotados pelos defensores do "Occupy". “Somos os 99%” era originariamente uma referência à concentração de riquezas pessoais nos Estados Unidos entre o 1% mais rico da população, mas o bordão é aplicável em outros países também.
A frase explica um complexo conceito econômico de maneira clara e persuasiva, mas é conciso o bastante para estar nos tweets sem exceder o limite dos 140 caracteres. Outro slogan popular é o esperto e diplomático: “Desculpem os transtornos. Estamos tentando mudar o mundo”. As palavras variam de grupo para grupo, mas o significado e o humor são os mesmos.
Simbolismos
É quando falamos de simbolismos visuais que a abordagem do "Occupy" difere dos outros movimentos ativistas, a maioria dos quais associados a temas específicos.
O triângulo cor de rosa, que uma vez identificou prisioneiros homossexuais em campos de concentração nazistas, tornou-se o símbolo global dos direitos dos gays. O punho cerrado e levantado do movimento black power vem da antiga Assíria, onde tal gesto significava unidade ou oposição e, também, foi usado como o emblema da revolução russa e dos direitos da classe trabalhadora.
Já o símbolo circular da paz foi criado em 1958 por um ativista anti nuclear britânico, Gerald Holtorn. As linhas internas são baseadas nos sinais visuais da linguagem semafórica para as letras “n”, de nuclear, e “d”, de desarmamento. Ambientalistas adotaram o verde como cor de assinatura, assim como o arco íris que aparecia na bandeira dos barcos de protesto do Greenpeace também simbolizam os direitos gays.
O movimento “Take the Square” (tome a praça), que surgiu na Espanha em meados de maio de 2011, quando grupos de ativistas ocuparam praças de diferentes cidades do país, estava de acordo com as convenções ao adotar um símbolo de flechas rosa e roxa apontando para um quadrado. Mas os vários grupos do "Occupy" adotaram uma vasta gama de temas com sucesso.
Entre os mais populares estão a hashtag e o punho erguido utilizados pelo “#OccupyWallStreet”. Novamente uma escolha esperta. O punho em riste evoca movimentos históricos de protesto, enquanto a hashtag traz um toque contemporâneo. Assim como o símbolo “@“ - um arcano de contabilidade, reinventado como estrela da era digital quando adicionado aos endereços de email -, o “#” foi ressuscitado pela tecnologia digital. Primeiro, sendo adicionado aos teclados de celular como botão de controle.
A presença da hashtag ali e nos teclados de computador (com exceção dos da Apple, o qual é obtido através do Alt e do 3) convenceram o Twitter que ele era ubíquo o bastante para se tornar uma marca de identificação.
Alguns grupos do "Occupy" adotaram o punho ou o hashtag como símbolos. Alguns outros usam ambos, inclusive "#OccupySeattle". Outros grupos inventaram seus próprios temas. Simpatizantes do "OcupyNoLa", em Nova Orleans, soletram seu nome nos banners com pontos pretos sólidos no lugar das letras “o”. Os acampamentos de Frankfurt e Chicago postaram imagens de suas cidades em seus sites. Ativistas do "Occupy" na irascível cidade escocesa de Glasgow adotaram, entusiasticamente, uma série surpreendente de símbolos sentimentais para o site, incluindo flores, um coração, um arco íris e o slogan “Occupy Glasgow Nicely”.
À medida que o movimento evolui é possível que mais grupos de "Occupy" adotem os mesmos símbolos. Ou eles podem chegar à conclusão que o protocolo do design dos protestos mudou e que, na era de redes sociais, eles podem dizer mais sobre as causas em que acreditam através do uso repetitivo de algumas palavras cuidadosamente escolhidas do que com imagens.”
1. Em sua coluna semanal, no “International Herald Tribune” Alice Rawsthorn explora novas direções em cada área de design e seu impacto sobre vidas humanas. Sua coluna tambem é distribuída para outros jornais e revistas em todo o mundo.
Nascida em Manchester, Alice formo-se em Arte e História da Arquitetura na Universidade de Cambridge. Posteriormente foi correspondente estrangeira em Paris, e de 2001 a 2006, foi diretora do Museu do Design, em Londres.
2. Hashtag = #
8 comentários:
A grande mídia de fato passou um "mata-borrão" no Movimento "Ocupar Wall Street".
Os grandes jornais impressos e os telejornais calaram-se quanto aoq ue acontece com esta verdadeira prévia de uma “Revolução Mundial” contra o capitalismo explorador, “vampiresco” na especulação do capital finenceiro, do qual Wall Street é um símbolo.
Mas é ótimo saber que ainda existem "canais" que ainda dêem notícias sobre o que acontece na “coxia” da revolução!
E o caso de, até na grande imprensa, como é o caso desta Alice Rawsthorn, no “International Herald Tribune”, edição de nada mais, nada menos do que o "New York Times".
Claro que é uma excessão, um “caso à parte”, mas... Está aí uma jornalista especializada em 'design' e moda a tecer comentários inteligentes e oportunos sobre "Occupy Wall Street" e outras ruas em outras cidades das mais variadas partes do mundo... Sem dúvida um mundo em transformação... De Atenas a São Francisco; de Nova Iorque a Vancouver!
Isto que hoje presenciamos , é, na minha opinião, mais importante do que os acontecimentos de 1968! Não que aqueles não tenham sido importantes. Mas é uma questão de “momento histórico”...
"Ocupar Wall Street". Será que estamos em novos tempos de esperança?
Quanto tempo não ouço falar do wall street, achei que tinha perdido força.
Bom saber que ainda esta em ação.
Que mulher! Que raciocínio claro e transparente.
E dizer que pensa em design. Uma coisa tão longe do que ela analisa!
Epa, péra lá...
Eu tambem sou da área, sou Diretor de Arte e trabalhei a vida toda em propaganda/publicidade.
E, para alem de ter consciência política, tenho senso estético e conheço 'marketing' o suficiente para prever as jogadas da burguesia!
Ela tambem demonstra isto... Exatamente isto...
Claro Prof. André Setaro.
A coisa lá tá feia para os "poderosos" do sistema. Tanto que, escondida a sete chaves!
É isso mesmo que eles querem que você (e todos nós) pense, Simey...
A mídia hoje nos manipula e os FDP's só informam apenas o que lhes interessa!
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