"Dentro da globalização tem-se a tendência a
flexibilizar a produção, espalhando a produção por várias partes do globo.
Dessa forma, uma das consequências da globalização é dar novo destino ao
espaço, que pode se valorizar, revalorizar ou desvalorizar, mas em qualquer um
dos casos criando um novo (referencial) simbólico". (Heitor Ney
Mathias, economista, em "As ruínas da cidade industrial")
A etapa globalizada do capitalismo “pós moderno”, em plena “barbárie”, mostra
uma coisa que de há muito se suspeitava: o capital não tem mais pátria.
Surgindo nos burgos (um burgo designa uma cidade
comercial, que se desenvolvia fora das muralhas do núcleo urbano primitivo,
senhorial), a burguesia organizou-se a partir da Idade Média, culminando na
formação de países e nações, tais como os conhecemos hoje.
O feudalismo tinha uma composição muito distinta de nações (um feudo
é uma porção de terra concedida por um senhor a um vassalo em troca de
obrigações de fidelidade mútua). Os “países” eram aglomerados de feudos que se
identificavam através de língua e costumes, muito mais do que por sentimentos
patrióticos. As guerras eram muito mais religiosas, e, quando entre feudos, apenas
para a ampliação daqueles que buscavam crescer. A partir da revolução burguesa,
particularmente na Inglaterra e na França, o sentimento patriótico começou a se
incorporar à ideologia da burguesia e seus interesses econômicos mais
imediatos. O conceito nação, tal e qual o conhecemos, começou a se consolidar
então.
Mas, a burguesia,
ao alcançar a sua etapa imperialista, iniciou uma transformação gradual em que
ao capital, não havia mais o interesse em se manter aprisionado a fronteiras.
Poder-se-ia dizer
que, na evolução deste processo, nos dias de hoje, o capital multinacional teria
mais interesse em se manter e ter suas sedes em plataformas oceânicas estabelecidas
em águas internacionais, nas quais não teria necessidade de fidelizar-se a
nenhuma nação. Alem do que estaria livre de impostos e outros compromissos.
Karl Marx previa
a necessidade de uma revolução proletária ser de cunho internacionalista,
baseado no fato de que os interesses desta classe explorada não eram nacionais.
Outrossim, naquela época, à burguesia era necessàrio manter pátrias para defender
suas propriedades. Todavia, Marx não chegou a presenciar o desenvolvimento do
capitalismo em sua etapa imperialista, tendo ele morrido antes deste
acontecimento.
Coube aos
pensadores do Materialismo Histórico entre finais do século XIX e início doXX viver
este período. Vladimior Ilitch Ulianov (Lenin), escreveu em 1916 “Imperialismo,
fase superior do capitalismo”, no qual já apontava distorções no comportamento
da burguesia, como a do empresário Basil Zaharoff, que, numa guerra entre a
Turquia e a Rússia czarista, armava simultaneamente os vasos de guerra de um
dos países, e a defesa costeira da outra. Era um marco do capitalismo sem
pátrias nem bandeiras. E uma nova forma de lucro incessante.
Hoje, Zaharoffs
existem às centenas. A internacionalização do capital, retirou da burguesia os
interesses nacionais, o que pressupõe a existência de uma “Internacional
Capitalista”. Por outro lado, a formação das elites operárias nos países mais
desenvolvidos, criou um sentimento nacionalista no proletariado. Um nó górdio
no pensamento de Marx. Um novo desafio aos caminhos das mudanças sócioeconômicas
que podem propiciar o fim da exploração do homem pelo homem.
A atrofia da praxis, pós Marx, gerado principalmente através
do poder exercido pela burocracia soviética, também colaborou para que saídas para
esta “arapuca” se tornassem mais difíceis. No século XX, alguns pensadores
Materialistas Históricos independentes reposicionaram a questão, mas, suas
palavras foram difíceis de ser ouvidas, abafadas tanto pela burguesia, quanto
pela momenkatura na URSS. Sempre me
refiro ao livro de Michael Lowy e Daniel Bensaid, intitulado: “Marxismo,
modernidade, utopia”, uma publicação da Xamã Editora, que faz uma análise muito
atual da situação. E que merece ser lido por quem tenha algum interesse pelo
assunto.
Enquanto isso,
temos que tentar sobreviver, na “barbárie” do sistema vigente, sabendo que os “capitalistas
de todo o mundo estão unidos”. Se é que isto seja mesmo possível. E aí, a
principal contradição de um internacionalismo impossível de se consolidar.
2 comentários:
E diria mesmo que não existem mais nações, porém grandes grupos do capitalismo internacional que controlam os países.
Esta é a "moral da história"...
Postar um comentário