Posto aqui este artigo
publicado, quarta-feira,
08 de Agosto de 2012 no Observatório da Imprensa de Mario Doraci Pinheiro
(1).
No
auge dos movimentos sociais de 1960, o Brasil era visto como um terreno
propício ao socialismo apoiado por parte da igreja católica progressista. As
comunidades eclesiais de base se expandiram ao lado dos importantes conflitos
no campo a partir de 1966. Consciente do perigo, e alertado por forças
externas, o poder político brasileiro foi tomando conta do problema social
concretizado com a colonização da Amazônia de 1971. O objetivo do presidente
Emílio Médici e das forças armadas era somente desviar os conflitos agrários,
lotando aviões da FAB de camponeses rumo à Amazônia com promessas de terra
barata.
Mas
a Amazônia não é a terra prometida. Onde os camponeses foram instalados não
havia escola, hospital, transporte, contato com a civilização – enfim, enviados
àquele mar verde para morrer de malária e outras doenças que a distância não
cura. Com os meios de comunicação nas mãos e sob controle, era preciso dominar
a igreja católica de seus focos esquerdistas e os pentecostais eram minoria, de
direita, não ofereciam resistência.
Entre
1971 e 1972, inaugurava-se também a Teologia da Libertação por teólogos
latino-americanos, com o mexicano Gustavo Gutierrez e o brasileiro Leonardo
Boff puxando a fila. Esta nova teologia inaugurou a chamada teologia de
reflexão marxista. A imprensa, sobretudo italiana, dava grande importância ao
tema quando o assunto já estava nas mãos de Joseph Ratzinger, o atual papa. A
igreja católica da Europa considera então a Teologia da Libertação como uma
saída do marasmo conservador para desempoeirar o Vaticano. João Paulo II,
eleito em 1978, e muito próximo da Opus
Dei, tratou de tomar as rédeas da igreja de Pedro. Para João Paulo II a
teologia da libertação era estéril por causa da leitura marxista e em 1984 o
teólogo Boff era condenado ao silêncio e os dois seminários fundados por Helder
Câmara em Recife, inseridos na comunidade, foram fechados.
A
Opus Dei é vista pela imprensa
francesa como “uma igreja dentro da igreja” – os jornalistas Jacques Kermoal e
Jean Duflot publicaram o livro de jornalismo investigativo Entre Dieu et
Cesar. A enorme conta a ser paga pelo Vaticano causou calafrios nos
cofres da poderosa sede romana do catolicismo.
A Obra entra em cena
Era
preciso curar as feridas da economia católica, revidar contra a Teologia da
Libertação e sua influência pela opção preferencial pelos pobres. Foi então que
o fundador da Opus Dei, José María
Balaguer, aparece com o milagre da multiplicação do dinheiro. Aliado de
Francisco Franco e influente nos bancos e universidades espanholas, Balaguer
tinha notoriedade e respeito financeiro. A Opus Dei paga a conta do Vaticano (a
dívida tinha sido instituída na organização do concílio Vaticano II) e em
contrapartida o papa canoniza Balaguer (morto em 2000) num período curto, dizem
os vaticanistas, sem o advogado do diabo. João Paulo II faz então uma investida
conservadora na América Latina para acabar com a igreja popular.
O
papa polaco tinha suas razões de odiar o socialismo/comunismo porque crescera
com o regime. Mas a imprensa internacional não deu muita atenção quando dom
Oscar Romero foi assassinado em 1980, nem quando 23 religiosos foram mortos na
Guatemala em 1985. O interesse da imprensa era a cobertura massiva ao padre
polaco Jerzy Popielusko, que lutava contra o regime comunista no leste europeu.
Popielusko teve direito a 78 artigos e 2.957 artigos no New York
Times, três na revista Time e Newsweek, contra sete artigos e duas colunas dedicadas
aos 23 religiosos assassinados.
De
acordo com a pesquisadora em ciências sociais Anne Haller, da Universidade de
Estrasburgo, a investida de Karol Woytila na América Latina favoreceu o
crescimento das igrejas pentecostais e abriu uma concorrência pelo campo
espiritual. A Opus Dei facilitou a
difusão de tudo o que é conservador, volta do latim, rigor na liturgia
católica, procissões, renovação carismática, contra o aborto, contra
homossexuais, contra o casamento gay
e inaugurou novas casas de formação de padres, embora as vocações estejam em
crise por uma série de quesitos morais não respeitados por bispos e padres.
João Paulo II conseguiu se impor em assuntos religiosos com a política na
América do Sul, mas na Itália teve que se calar quando as regalias do Vaticano,
assinadas por Benito Mussolini em 1929, foram ameaçadas de serem revistas caso
o papa insistisse nas proposições de leis contra o aborto.
Desde
então, a Opus Dei tenta ter uma boa
relação com a imprensa. Mas se o papa precedente e o atual condenaram a
Teologia da Libertação, o jornal Osservatore Romano de fevereiro traz uma entrevista do
bispo responsável pela Congregação da Doutrina da Fé, dom Gerhard Ludwig
Müller, segundo o qual a entidade católica estaria tentando rever os erros
cometidos em nome da ética e criticando o tradicionalismo católico. A igreja
católica vive hoje um momento de baixa por causa da pedofilia e outros abusos
enquanto os crentes saboreiam o sucesso do paraíso pentecostal.
1. Mario Doraci Pinheiro é
jornalista, radicado na França, e mestre em Sociologia da Comunicação.
2 comentários:
Excelente a foto do papa! Foi você que fez?
Sim Cantídio. Peguei uma foto e a manipulei no Photoshop... É a face real deste canalha!
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