) foi o diretor de “Perâmbulo”, um curta do qual participei
em Salvador, Bahia (1966/7) e concorreu ao “Festival JB”, no cinema Paissandu,
de saudosa memória. E, para alem disso dirigiu dois longas: "O Anjo Negro"
(1973) e "Revoada" (em pós-produção), enviou-me hoje este poema
belíssimo de Hilda Hilst (1):
O tempo é
na verdade o do retorno.
Pensa como
se agora fôssemos argila
E
estivéssemos sós e mudos, lado a lado.
Por um
momento (se viessem chuvas)
Talvez se
misturasse o meu corpo com o teu
E um gosto
de terra úmida aproximasse
Brandamente
As nossas
bocas.
Que seja
assim lembrada a tua ausência:
Como se
nunca tivéssemos nascido
Sangue e
nervos. Como se nunca tivéssemos
Conhecido a
verdade e a beleza do amor.
Pensa como
seria se não fôssemos.
E não
houvesse o pranto, o ódio, o desencontro.
O tempo é
na verdade o do retorno.
Se não for
amanhã, será um dia.
O céu azul
e limpo, o mar tranquilo
Pássaros e
peixes, pássaros e peixes
1. Hilda Hilst (1930/2004)
Foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira, e é considerada
pela crítica especializada como um dos maiores escritores em língua portuguesa
do século XX.
5 comentários:
Que beleza!! Santa ignorância, mas eu não a conhecia.
Vou procurar saber mais dela. Juro que vou!
Maravilha. Hilda Hilst era de grande sensibilidade.
Como por exemplo:
"Colada à tua boca a minha desordem. O meu vasto querer. O incompossível se fazendo ordem. Colada à tua boca, mas descomedida Árdua Construtor de ilusões examino-te sôfrega Como se fosses morrer colado à minha boca. Como se fosse nascer E tu fosses o dia magnânimo Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer."
Vale lembrar que, neste já no ocaso 2012, ''Perâmbulo'' faz exatos 45 anos, indo célere, e fagueiro, para o seu meio-século. Como o tempo voa! É a angústia heiddergeniana de 'estar no mundo'. Mas Dona Emerenciana continua na sua máquina de costura.
'O Anjo Negro' é da mesma safra de 'Meteorango Kid' de André Luiz Oliveira.
Mas o sergipano que formou-se na UFBa em Ciências Sociais realizou tambem 'Monte Santo - O Caminho da Santa Cruz', 'Salvador em Película - Um Século de Memória', 'Memória em Película - A Bahia e o Estado Novo', e outros curta-metragens.
É crítico de cinema, ator, roteirista, dramaturgo e poeta.
Publicou tambem um livro retrospectivo sobre a obra de Walter da Silveira, um importante crítico de cinema baiano.
Gostei demais deste José Umberto Dias. Parabens por conhecê-lo!
L.P.
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