domingo, 25 de novembro de 2012

Pensatas de domingo... Lembratas de Veríssimo



Não sou muito ligado em modas, nem tampouco tenho por hábito segui-las. Gosto da minha velha calça jeans, de uma camisa tradicional e por aí afora.
  
Lembro-me de uma ocasião em que, estava no aniversário de um sobrinho-neto, e o meu sobrinho virou-se para mim e disse: “Tio, esses seus óculos estão completamente fora de moda!” Bem, na época estavam começando a usar aqueles óculos ”compridinhos”, que eu detesto, primeiro porque minha lente é multifocal e aquela tripinha nunca me passou credibilidade. E segundo porque acho “estranho”, meio “suspeito” mesmo.
Fiquei a olhar para ele e não respondi nada... Deixei pra lá. Não estava com saco para explicar aquilo tudo numa mesa repleta de salgadinhos e uma cerveja gelada.
O fato é que, fora algumas armações mais arredondadas, uso um modelo de óculos que é, digamos... Tradicional.
  
Porem, sempre que acontece comigo alguma coisa do gênero, eu lembro do Luis Fernando Veríssimo (1). Isto porque ele publicou, certa feita, uma crônica que tocava justamente neste assunto.
Ele começava dizendo que teem épocas em que fica difícil encontrar roupas para comprar. É calça “boca de sino”, camisas justas demais, meias super coloridas. Bom, alguem aí pegou as calças “Saint-Tropez”? Essa eu me lembro bem. A cintura dela era baixa, dando a impressão que ia cair a qualquer momento. Ou de costeletas? Aquelas enormes... mea culpa, mas deixei-as crescer por um tempo, quando tinha lá meus 20 anos.
Com o Veríssimo não! Nem costeleta, nem bigode, nem calça pantalona. Nada, nadinha desses modismos. Houve uma época em que, segundo ele, tinha que ir ao alfaiate para confeccionar as suas calças e camisas, pois haviam sumido das lojas. Magina!
  
Mas o melhor mesmo é o que ele relata naquele texto. Lembra que, quando seus amigos se reuniam e reviam fotos, cada um ficava mais sem graça com as verdadeiras “fantasias” que usaram no passado; cada uma mais ridícula do que a outra. Enquanto isso, ele, Veríssimo estava lá, do mesmo jeito que está hoje. Fora uns (poucos) cabelos brancos, claro!
  
Quando mais jovem, embora discretamente, ousei algumas aventuras. Como pantalonas, costeletas e bigodes. Tambem foi só!
E depois que li o artigo dele, fiquei mais atento ainda. Primeiro porque sinto-me melhor em roupas mais discretas. E depois porque não quero ver fotos com “oclinhos compridinhos” que daqui a alguns anos serão ridículos!
  
Obrigado Veríssimo!

1. A “lembrata” veio por conta do internamento do Veríssimo, em estado muito grave, na 4ª feira passada. 


9 comentários:

Nun'Alvares disse...

Ficamos a saber tambem aqui do ocorrido com o famoso filho -do tambem famoso Érico Veríssimo-, que tomou caminhos diferentes do pai, mas registou a sua marca com livros de um humor imcomparável.
Muito fixe a tua homenagem!

André Setaro disse...

Mais do que um simples humorista, Luis Fernando Veríssimo é um pensador, um observador inteligente e perspicaz das idiossincrasias da condição humana. Com graça, inteligência e espirituosidade, suas crônicas são reveladoras do absurdo do se 'estar-no-mundo' na acepção heiddegeriana. Triste a notícia de seu estado de saúde. Que saia logo desse cativeiro. A vida é uma sucessão de perdas.

Jonga Olivieri disse...

Acho "O Analista de Bagé" um primor do humor (sem intenção de rima, embora já a fazendo).
Poucas vezes ri tanto (sozinho) como com a leitura daquele livro.
Hoje, n'O Globo e no Estadão (baluartes do reacionarismo), Veríssimo perdeu um pouco de sua "liberdade" de expressão.
Mas mesmo assim o leio na 'web' sempre que posso, pois a sua veia de humor é inesgotável.
Que os deuses o preservem!

Anônimo disse...

Veríssimo é o rei do palavreado. Você falou no “Analista de Bagé”. Pois bem aí existem ‘pérolas’ de sua obra.
”Certas palavras tem o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias com todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.
Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria...
...Traquinagem deveria ser uma peça mecânica...
... Mas, nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar deveria ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deveriam sussurrar ao ouvido de mulheres...”
L.P.

Mário disse...

Maravilha. O Veríssimo deve estar precisando de nergias positivas como a sua e esta historinha que ele inspirou.

Manuel Pinto disse...

Vamos torcer, porque segundo novo boletim médico divulgado no fim da tarde, Veríssimo teve a sedação suspensa e começa a ter redução também no suporte respiratório.

Anônimo disse...

Esse Veríssimo é uma figuraça. Ainda bem que está melhorando!
Tavim

Alice Müeller disse...

Mas o bom mesmo é o conto "Palvreado", do qual me dei ao trabalho de copiar um trecho em http://www.beatrix.pro.br/index.php/palavreado-luis-fernando-verissimo/ Para quem quiser lê-lo por completo ´só ir neste link.

Um dia chega a Cântaro um jovem trovador, Lipídio de Albornoz. Ele cruza a Ponte de Safena e entra na cidade montado no seu cavalo Escarcéu. Avista uma mulher vestindo uma bandalheira preta que lhe lança um olhar cheio de betume e cabriolé. Segue-a através dos becos de Cântaro até um sumário – uma espécie de jardim enclausurado -, onde ela deixa cair a bandalheira. É Lascívia. Ela sobe por um escrutínio, pequena escada estreita, e desaparece por uma porciúncula. Lipídio a segue. Vê-se num longo conluio que leva a uma prótese entreaberta. Ele entra. Lascívia está sentada num trunfo em frente ao seu pinochet, penteando-se. Lipídio, que sempre carrega consigo um fanfarrão (instrumento primitivo de sete cordas), começa a cantar uma balada. Lascívia bate palmas e chama:

- Cisterna! Vanglória!

São suas escravas que vêm prepará-la para os ritos do amor. Lipídio desfaz-se de suas roupas – o sátrapa, o lúmpen, os dois fátuos – até ficar só de reles. Dirige-se para a cama cantando uma antiga minarete. Lascívia diz:

- Cala-te, sândalo. Quero sentir o seu vespúcio junto ao meu passe-partout.

Não é demais?

Jonga Olivieri disse...

Põxa, Alice Müeller e Luis ??? (L.P.)... Vocês gostam mesmo do Veríssimo.
Tambem amo esses trechos reproduzidos por vocês... São mesmo de rolar de rir!