Uma história banhada em sangue
O massacre em Columbine,
no condado de Jefferson, Colorado, em abril de 1999 deixou 15
mortos e cerca de 50 feridos. Apesar de centenas de outros anteriores ao longo
da história estadunidense, foi a partir dele que se iniciou um debate mais sério
acerca da questão do porte de armas nos Estados Unidos. Mas isto é um longo
imbróglio que tem origens no texto da própria Constituição daquele país... E
que nunca conseguiu evoluir.
Indo de um lado ao outro, crescemos neste mundo, sob
influência do cinema hollywoodiano que glorificou o pistoleiro, o “gatilho mais
rápido” no duelo de rua, em que o “mocinho” nem sempre um “bom moço”, mas um criminoso
que marcava no cabo de seus Colts o
número de vítimas que eliminava. Para alem disso, o western tambem tornou heróis os matadores de índios; aqueles que
possibilitaram um dos maiores extermínios da história no mundo moderno.
A história dos Estados Unidos mitificou figuras como Buffalo
Bill, David Crocket ou o General Custer, só para lembrar alguns, que foram
assassinos de nativos, cujas terras foram arrancadas a tiros de revólveres,
fuzis e canhões numa lambança de sangue sem precedentes. Para alem disso criou
dezenas de cowboys alegóricos, desde
Tom Mix a Roy Rogers ou Gene Autry, que tambem povoaram os seriados dos cinemas
e as páginas das histórias em quadrinhos, muito populares, principalmente a
partir dos anos 1930.
Nos EUA, três de seus presidentes foram assassinados. Claro
que todos com armas de fogo! Fora a violência racial, o racismo ostensivo contra
os negros e outras minorias raciais que ceifaram milhares de vidas numa curta
história de pouco mais de dois séculos.
Mas voltando à Constituição, a segunda emenda, de 1791, garante
o porte de armas a qualquer estadunidense. Compram-se armas de todo tipo em
supermercados, postos de gasolina ou qualquer loja que as venda. Sem necessidade
de comprovar absolutamente nada do indivíduo que as adquire. Segundo cálculos,
existem mais de 300 milhões de armas de fogo em solo dos Estados Unidos, nas
mãos de sabe-se lá quem...
Isto, torna imensurável os crimes em massa ocorridos ao
longo dos anos. Somente neste ano (2012), foram sete (1), sendo que este
último, ocorrido 6ª feira, 14 de dezembro, na Sandy Hook, uma escola para crianças até os nove anos em Newtown, pequena e (outrora) pacata cidade,
de pouco mais de 20.000 habitantes no estado de Connecticut, próximo a Nova Iorque, provocou a morte de 27 vítimas;
a maioria entre seis e sete anos de idade.
A questão não é o gesto em si. Mas o crime maior, que há por
trás dele e possibilita que ele aconteça com a facilidade com que ocorreu. E a
doença social que faz parte dele. O maior problema é que os mais conservadores
não admitem tocar na emenda da Constituição, achando-a inalterável. O que faz
com que o “banho de sangue” continue.
1. Em 2 de abril, um atirador
matou sete pessoas e feriu três ao fazer disparos na universidade de Oakland,
Califórnia.
Em 20 de
julho, atirador mascarado matou 12 pessoas, ferindo 58 quando abriu fogo
contra espectadores do filme da série “Batman, o Cavaleiro das Trevas", em
Denver, Colorado.
Em 5 de
agosto: um atirador matou seis pessoas durante o culto de domingo de um
templo “Sikh” em Oak Creek, Wisconsin, antes de ser morto por um policial.
Em 24 de
agosto: duas pessoas foram mortas e oito ficaram feridas num tiroteio no
lado de fora do Empire State Building, Nova Iorque.
Em 27 de
setembro, um ex-funcionário matou cinco pessoas e tirou a própria vida em
tiroteio numa empresa de Minneapolis, Minnesota.
Em 21 de
outubro, três pessoas são mortas em um SPA em Milwaukee, Wisconsin, incluindo
a ex-mulher do atirador, que tambem se matou.
E finalmente este narrado acima em 14 de dezembro, na escola primária
Sandy Hook em Newtown, Connecticut...
3 comentários:
Excelente resumo do que acontece naquilo.
Só esqueceu de falar no 'teatrinho' de Obama. rsrsrsrsrs
É a cultura da violência.
Os EUA sempre a cultivaram com bastante afinco e dedicação.
A propósito do massacre das crianças nos Estados Unidos, reproduzo aqui trecho de comentário de Mauro Santayana publicado no blog Tribuna da Internet: “Uma sociedade que envia seus jovens ao mundo inteiro para matar, em nome dos negócios, não pode espantar-se com os massacres de seus adolescentes e suas crianças, como o de Columbine, e agora o deNewtown, em Connecticut. Muito da cultura norte-americana tem sido, desde a guerra deliberada contra os índios e o avanço para o Oeste, uma cultura da morte. Para formar exércitos de assassinos, é necessário adestrar seus possíveis integrantes para matar sem vacilações. Para isso é preciso criar os mitos, como os do heroísmo, da coragem, da ousadia, da força física, da astúcia dos predadores, contra os povos indefesos do mundo inteiro. É preciso reduzir o homem ao réptil que foi na origem dos tempos.”
Prossegue Santayana: “Ao mesmo tempo, essa sociedade tem dado ao mundo excepcionais pensadores, escritores e cineastas que, de certa forma, procuram compensar a brutalidade construída para a defesa dos poderosos titãs das finanças e das corporações industriais que, há mais de cem anos, vem conduzindo a economia e a política internacional, em seu proveito.”
E conclui: “A idéia de matar é estimulada nos americanos desde a infância. Na adolescência, a arma de fogo, para muitos, é símbolo da masculinidade. E esse apego à violência e ao sangue tem sido exportado ao mundo inteiro pela sua fantástica indústria do entretenimento, na literatura, no cinema e, mais recentemente, nos jogos eletrônicos e nos enlatados da televisão.”
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