Jorge Vital de Brito Moreira
— Mas os índios têm como
nós uma alma imortal — disse Nando.
— Os índios não sei se
têm. Ou se ainda têm. Nós, eu sei que não temos.
Este diálogo entre o padre Nando e o antropólogo Fontoura no Alto Xingu
se encontra no romance Quarup de Antônio
Callado.
No dia 26 de Janeiro de 1917
(há 96 anos) nasceu Antônio Callado no Rio de Janeiro. No dia 28 janeiro de 1997 (há 17 anos), morreu
aos 80 anos, no mesmo estado do Brasil. Antônio Callado foi um jornalista,
romancista, dramaturgo, biógrafo, e autor do Quarup (2), um dos romances mais importantes da história social e
política do Brasil contemporâneo .
Este texto tratará de recordar
e fazer uma homenagem a Antônio Callado através de sua obra escrita e trechos
de uma entrevista inédita. Aspire Kuarup representando um modesto (embora
simbólico) para ele: Callado finalmente não só escreveu seu romance Quarup em defesa dos índios brasileiros,
mas ele foi e continua sendo um dos mais importantes brasileiros ilustres do
Brasil (3), um verdadeiro herói da nossa
gente.
Um
esboço biográfico
Antônio Callado, formou-se em
Direito em1939, mas nunca praticou atividade na área jurídica. No ano seguinte,
ele começou a trabalhar na imprensa carioca, nos jornais O Globo e O Correio da Manhã.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ele se mudou-se para a Inglaterra, onde
trabalhou na BBC de Londres até 1947.
Após a libertação da cidade de Paris, do domínio alemão, trabalhou no serviço
brasileiro da Radiodifusão francesa.
Callado revelou que na Europa
descobriu "a sua tremenda fome do Brasil" e, por isso, tentou
incansavelmente ler literatura brasileira, começando a alimentar o desejo de
voltar para o Brasil para conhecer o interior do país. Em seu retorno ao Brasil,
viajou por várias regiões brasileiras para fazer suas grandes reportagens. No
Nordeste escreveu sobre o movimento revolucionário das ligas camponesas e seu
líder, Francisco Julião. No Norte (Xingu), escreveu sobre a vida e a cultura
dos índios do Brasil no século XX.
Callado trabalhou como
editor-chefe do Correio da manhã (1954-1960),
quando foi contratado pela Enciclopédia
Britânica como chefe da equipe que desenvolveu a primeira edição da Enciclopédia Barsa, publicada em 1963.
Em 1968, proibido pela ditadura militar de escrever para os
jornais brasileiros viajou para a Indochina para fazer reportagens sobre a
Guerra do Vietnã (4) para o Jornal do
Brasil.
Em 1974, Callado deu aulas nas
universidades de Cambridge (Reino Unido) e Columbia (EUA). Em 1975, ele deixou
o trabalho de redator jornalístico para dedicar-se profissionalmente à
literatura brasileira.
Callado havia feito sua estréia
na literatura em 1951 com a criação de peças de teatro, que foram encenadas com
grande sucesso de crítica e público. A peça mais bem sucedida foi Pedro Mico que, anos mais tarde, foi
transformada num filme popular devido a ter o rei Pelé (nosso “rei do futebol”)
como seu protagonista.
Seus primeiros romances também
foram escritos na década de 50, mas sua ficção sofreu um grande desenvolvimento
na década de 1960 e 1970, período em que foram publicadas as suas principais
narrativas.
Identificado entre os
intelectuais brasileiros que se opunham e resistiram ao golpe militar de 1964 e
à ditadura militar, foi preso quatro vezes. Antônio Callado sempre revelou nas
suas narrativas um forte compromisso político, especialmente no romance Quarup, que muitos críticos consideram o
mais otimisticamene engajado dos romances daqueles décadas.
Callado era também conhecido
por escrever manualmente os seus romances, mantendo uma rotina de trabalho, com
horário rígido para todas as suas atividades, que incluíam dois passeios por
dia pelas ruas do Rio de Janeiro. Ele mandou fazer uma mesa portátil que
carregava por todos os cômodos, o que lhe permitia escrever em qualquer lugar do
seu apartamento. Antônio Callado me disse, na entrevista que me concedeu, que
não discutia ou comentava o seu trabalho com ninguém, até que estivesse terminado.
Callado recebeu várias
condecorações e prêmios no Brasil e no exterior e foi eleito em 1994 para
ocupar o lugar número oito da Academia Brasileira de Letras. Seus trabalhos
ficcionais e não ficcionais foram traduzidos para o inglês, francês, alemão,
espanhol e outras línguas internacionais.
Callado morreu dois dias depois
de completar 80 anos. Do seu casamento com Jean Maxine Watson, uma trabalhadora
inglesa (BBC), teve três filhos (incluindo a atriz, cineasta e escritora Tessy
Callado). Callado casou-se novamente em 1974, com a jornalista e escritora Ana
Arruda.
Breves
comentários sobre alguns de seus textos
Iniciamos este texto
mencionando a natureza social e política do romance Quarup em sua busca para encontrar a expressão nacional da autêntica
identidade brasileira, mas a transcendência ética, politica e estética desta
narrativa não esgota o significado da produção textual (de obras menos
conhecidas) do romancista. Callado, este extraordinário escritor e jornalista
brasileiro, produziu ao longo de sua vida de intelectual engajado, outros
textos significativos e essenciais para a compreensão da história "não
oficial" do Brasil .
Entre seus trabalhos publicados
incluem-se nove romances(5), oito peças teatrais(6), inúmeras reportagens para
jornais (7), contos, biografias, além de adaptações de seus romances e peças
para o cinema e a televisão brasileira (8).
Suas obras de ficção exploram e
expressam o meio social de seu tempo: a ditadura militar, os movimentos guerrilheiros,
a teologia da libertação, o uso das drogas, a liberdade sexual, a pedagogia
emancipadora de Paulo Freire, a opressão e a repressão política, a corrupção
governamental, a luta das nações indígenas brasileiras contra o seu extermínio pela
civilização branca, ocidental e cristã, o direito à vida e a identidade cultural
dos indígenas e da população oprimida do Brasil.
Desde a publicação em 1954 de
seu primeiro romance(9) Assunção de
Salviano tematizando as questões religiosas e políticas, os críticos
literários começaram a perceber a novidade de sua narrativa que foi reafirmando-se
com a publicação de seu segundo romance, A
Madonna de Cedro (1957). Mas foi com o terceiro romance, Quarup, que Antônio Callado ganhou
definitivamente o reconhecimento nacional e internacional.
A narrativa Quarup representa a dupla crise da nação brasileira num determinado momento histórico
através da crise existencial do padre católico Nando ("Ando/não ando")
e a crise existencial da vida social e política do Brasil. As duas linhas
ficcionais da história brasileira estão integrados alegoricamente no caminho/descaminho
do padre Nando (da sua consciência, dos seus amores, das suas duvidas e
vacilações e nas experiências angustiantes do seu processo histórico), na sua travessia através dos mitos (indígenas,
mestiços e brancos) e dos rituais que dão sentido as ações políticas nas
diferentes regiões geográficas brasileiras (Norte, Nordeste, Sudeste).
A partir da publicação do Quarup, romancistas, poetas, críticos
(nacionais e estrangeiros) começaram a escrever sistematicamente sobre a importância
literária do escritor/jornalista Antônio Callado. Apesar da existência da
pesada censura imposta pela ditadura militar a inteligência brasileira, a
cultura nacional continuou contando com autores (revolucionários ou rebeldes)
que divulgaram a importância dos romances de Callado. Notáveis escritores e
diretores de cinema como Glauber Rocha, o poeta Ferreira Gullar, os críticos
literários como Franklin de Oliveira, Antônio Houaiss, o economista Celso
Furtado (todos perseguidos pela ditadura militar) e uma nova geração de
críticos literários como Ligia Chiappini Morais Leite, Davi júnior Arrigurci
contribuíram com ensaios críticos (10) para mostrar a originalidade e a coragem
política da representação da história do Brasil do romance Quarup, Reflexos do Baile
e outras narrativas do autor.
Após a publicação do Quarup (apesar da forte censura e do fato
de ter sido preso quatro vezes por se opor ao golpe e à ditadura), Callado
continuou sua produção literária de resistência ao regime militar,
intensificando a denúncia do autoritarismo através da exaltação do movimento de resistência
popular.
Seus três romances posteriores,
Bar Don Juan (1971), Reflexos do Baile (1976) e Sempreviva (1981) tematizavam (cada um
na sua forma e estilo específicos) a grande e trágica derrota dos movimentos
populares de esquerda que se manifestava na censura, prisão, tortura,
desaparecimento e assassinato estabelecidos no Brasil após o golpe militar de
1964. Assim, Callado reafirmou sua imprescindível presença dentro da narrativa
brasileira, renovando os seus romances para representar implícita e
explicitamente as novas situações que a mudança histórica exigia.
Bar
Don Juan, por exemplo, medita sobre o decadência do compromisso
político de intelectuais e líderes revolucionários, sob a situação de absoluta infâmia
moral de uma ordem social que dependia do uso da tortura para destruir a luta
(pela mudança social e política do Brasil) dos movimentos políticos de
resistência à ditadura militar.
Reflexos
do Baile, por sua vez, expressa a incapacidade da resistência de
compreender (pela censura e absoluta falta de transparência) o processo de
desenvolvimento da luta política contra a ditadura devido à alienação e
fragmentação extremas dos valores nacionais sob a (des)ordem militar.
Sempreviva,
por sua vez, retrata a profunda fragmentação interna (esquizofrenia social) dos
revolucionários na sua luta contra espiões, agentes policiais e “dedos duros”,
que perseguiam, torturavam e assassinavam, nas fronteiras do Brasil, os
militantes políticos que tratavam de reingressar ao pais “ilegalmente”. O romance revela o bestial processo de des/mascaramento
de todos os indivíduos que operavam sob uma situação infernal em que vivíamos
sob o domínio militar.
Posteriormente, Antônio Callado
escreveu mais dois romances sobre a realidade nacional e o destino da cultura
indígena: A Expedição Montaigne
(1982) e Concerto Carioca (1985) que
tematizam a vida da nação brasileira no estágio irreversível da relação
destrutiva entre a cultura indígena e a cultura branca no processo de
desenvolvimento da modernização capitalista da nação. A representação da
decadência da realidade indígena e a tonalidade destas últimas narrativas de
Callado, expressam uma visão cética, profundamente pessimista sobre a
continuidade e preservação da natureza brasileira para a sobrevivência da
cultura indígena num futuro próximo.
No seu ultimo romance, Memórias de Aldenham House (1989),
Callado muda de temática. Procurando descansar da fantasia exata (da Utopia) para
a grande nação brasileira (sonhada por Villa Lobos, Darcy Ribeiro, Glauber
Rocha, Oscar Niemayer e outros grandes brasileiros), Callado, nessa ficção,
tematiza o trabalho de correspondente na cidade de Londres: talvez, para sonhar
uma ficção de um outro Brasil; de um novo país cuja realidade social ainda poderia
ser capaz de superar a tragédia e o desastre nacional deixado por 21 anos de
ditadura militar.
Para os leitores interessados em
conhecer as diferentes formas do trabalho literário de Antônio Callado,
fornecerei, nas notas de pé de paginas, uma lista das obras ficcionais e não
ficcionais do escritor brasileiro.
Um
retrato de memória e uma entrevista
Em 1994, tive a sorte de
conhecer e entrevistar o escritor Antônio Callado com o objetivo de concluir a
minha tese de doutorado (11) para University of Minnesota. Como um tributo
especial à figura desse escritor excepcional (e excepcional lutador em defesa
dos pobres e oprimidos), divulgarei (pela primeira vez para os leitores
brasileiros) em homenagem ao 17º aniversário do seu falecimento, um pequeno
trecho da entrevista com o escritor.
Entrevistei Antônio Callado numa tarde quente
do dia 13 de agosto de 1994, no seu apartamento, no bairro do Leblon, no Rio de
Janeiro. Não o conhecia pessoalmente
mas, através do escritor João Ubaldo Ribeiro, a entrevista foi
marcada sem nenhum contratempo
Cheguei,
pontualmente, às 14 horas, conforme combinado previamente por telefone. Depois de um cordial aperto de mão, me pediu
para sentar no seu estúdio de trabalho: uma pequena sala, branca, simples e
austera, mas aconchegante. Perguntei se
podia gravar a entrevista e ele falou que não haveria problema. Enquanto instalava o gravador lhe mostrei as
perguntas. Depois de ler as perguntas me
disse: "—De fato, eu pensei que você queria uma entrevista mais rápida...
estou com medo de que seja uma coisa um pouco extensa." Por um momento
pensei que tivesse que voltar numa outra oportunidade. Buscando resolver o problema do tempo, fiz
uma proposta alternativa: "—Então vamos para as perguntas centrais." Ele
respondeu simplesmente: "—Isso." Daí por diante, a entrevista foi se
desenvolvendo quase sem interrupções, de
forma espontânea, tranquila e sincera, como a voz e a personalidade do Antônio
Callado.
Durante 2 horas e 20
minutos, Callado falou da sua vida de escritor/jornalista, dos seus romances,
da Academia Brasileira de Letras, da literatura brasileira, das dificuldades
políticas e econômicas do país, da herança da ditadura militar, da sua
perplexidade diante dos problemas do Brasil, das dificuldades deste para
realizar-se como nação moderna. No fim da
entrevista me disse: "—Eu gostei da nossa conversa. Em qualquer outra ocasião
estou à sua disposição. Pode, inclusive, voltar aqui, se for o caso, porque não
tem problema. Não faça cerimônia. Gostei
da nossa conversa."
Durante a
entrevista, minhas perguntas foram orientadas pelo meu interesse em entender a
relação entre a história social e a produção cultural do Brasil moderno nos
anos 60-80. Em termos mais concretos, tratei de que as minhas perguntas me
ajudassem a compreender melhor a presença da história contemporânea do Brasil
nos romances de Antônio Callado. Antes
de viajar para o Rio de Janeiro para entrevistá-lo, li todos os romances do
escritor, tratando de analisá-los e interpretá-los no contexto cultural
brasileiro. Li os livros de crítica literária
sobre ele, disponíveis nas bibliotecas e livrarias do Brasil e dos Estados
Unidos. Escrevi alguns artigos e ensaios
sobre os romances do Callado e a produção cultural (música e cinema) do Brasil
nas décadas de sessenta, setenta e oitenta. Mas vamos a entrevista:
"Eu realmente pensei, naqueles tempos dos anos
60, que o Brasil estivesse fazendo uma última experiência do tipo autoritário e
que dali fosse partir para uma importante organização da sua vida. Nós aturamos
um regime militar que estava começando quando eu escrevi o Quarup em 67 e me pareceu certo de que o Brasil com o adiantamento
que já tinha do ponto de vista cultural, do ponto de vista econômico, tudo
junto, que aquela experiência fosse a última e que dali pra frente a gente
realmente fosse ter um tipo diferente de vida.
Isso, infelizmente, não aconteceu."
(Entrevista concedida em 13 de agosto de 1994.)
"Quando eu escrevi o Quarup, eu estava com a ideia de que eu realmente estava
participando de uma coisa importante nesse país. Não era verdade. Realmente,
não era verdade ou até agora continuo muito decepcionado com o que vem
acontecendo com o Brasil." (Entrevista em 13 de agosto de 1994.)
"E, até certo ponto, eu achei que estava
contribuindo para fazer uma coisa diferente, inclusive com a literatura. Eu não
acho que a literatura seja feita para isso. Não tenho nenhuma briga com as
pessoas que acham que a literatura não tem nada a ver com coisa nenhuma e que
você faz exatamente o que está dentro de você. Estou de pleno acordo; mas no
meu caso, a vida ao redor se manifesta pra mim com uma força um pouco grande
demais. Em outras palavras, eu não saberia escrever um livro que não tivesse a
ver com essa situação de um país emergente ou afundante como é o Brasil (também
não sei qual das duas coisas), mas, na realidade, é muito forte essa noção de
que alguma coisa tem que ser feita pra esse troço virar alguma coisa. Então,
aí, eu observo essa compulsão, como eu digo, em relação à escrita." (Entrevista
em 13 de agosto de 1994.)
Notas
1) De acordo com a antropologia
cultural, os índios do Alto Xingú não têm um deus; têm um herói que é conhecido
pelo nome de Maivotsinim. A partir do
relato verbal dos índios do Xingú, o mito pode ser simplificado no seguinte
relato: Quando o mundo começou, o mundo era o caos. Então veio Maivotsinim, o grande herói
transformador dos indígenas. Maivotsinin
veio para botar cada coisa em seu lugar: botar o mundo em ordem, botar os rios
para correr, separar os animais, cada coisa em seu lugar. Um dia Maivotsinim fez um arco e precisava de
corda. Só quem tinha corda era a
onça. Então ele tratou de pegar a corda
da onça, mas ele foi visto, e a onça ameaçou matá-lo. Então, Mavotsinim prometeu dar as filhas em
casamento à onça, para não ser morto. As
filhas dele ficaram com medo e não quiseram casar com a onça. Então ele pegou troncos de árvores e fez
várias filhas. Algumas também tiveram
medo da onça e não quiseram casar; uma morreu no caminho e só duas, afinal, se
casaram com a onça. Mas uma delas foi
morta pela mãe da onça porque se recusou a comer um piolho; e ela estava
grávida. De sua barriga a formiga tirou gêmeos, o sol e a lua.
O
sol e a lua, os gêmeos, queriam que a mãe voltasse a viver. Foram para a floresta cortar troncos de
árvores e fizeram uma festa, mas Maivotsinim lhes disse que não adiantaria; que
ela não voltaria a viver. "Isso só
é bom," disse ele, "para lembrar a mãe de vocês". E é por isso que até hoje os povos do Alto
Xingú cortam os troncos de árvore para encarnar seus mortos ilustres na festa
do Kuarup. Depois de ordenado o mundo, o
sol e a lua subiram ao céu. Como? Atiraram uma flecha que se fincou no
firmamento e outra flecha que se fincou na primeira, e outra e mais outra e
mais outra. Assim, fizeram uma escada
pela qual subiram. E lá ficaram para sempre deixando aqui em baixo o mundo dos
homens.
O
Kuarup é a maior festa ritual dos índigenas do Alto Xingú para homenagear os
mortos ilustres. Enquanto a festa é
preparada, os homens tocam a flauta 'tana' todos os dias, desde a manhã até o
pôr do sol. De fato, a festa é
constituída por muitas atividades: caçar e pescar em abundância para alimentar
os convidados, comer, beber, pintar os corpos, lutar, tocar flautas, dançar,
cortar os troncos de árvores e pintá-los para simbolizar os mortos ilustres. As imagens talhadas em madeira, pintadas e
enfeitadas, representam os ancestrais mortos, que são evocados durante a festa
e a são incorporados na comilança.
Assim, o ritual Kuarup dramatiza
seu mito, para evocar e celebrar os mortos ilustres das nações indígenas da
nações do Alto Xingú.
Aqui,
neste espaço textual, eu gostaria de
fazer um momento de silêncio para evocar o ritual "Kuarup"; para
evocar a memória de Antônio Callado, um dos mortos ilustres do povo brasileiro:
Antônio Callado, não foi apenas um dos grandes artistas e intelectuais do nosso
tempo, foi um homem imprescindível, que dedicou grande parte da sua vida
lutando em defesa da vida e da cultura dos indígenas, dos explorados e dos
oprimidos da grande nação brasileira.
( 2 )
Quarup. Rio de Janeiro: Nova Fronteira , 1984.
(3) A este
grupo notável de homens ilustres heróis da nossa gente, pertencem o antropólogo
brasileiro Darcy Ribeiro, o escritor, romancista, líder-criador do "Cinema
Novo" Glauber Rocha, o compositor Heitor Villa Lobos, o educador Paulo Freire,
o arquiteto criador de Brasília Oscar Niemeyer, o líder do movimento modernista
brasileiro Oswald de Andrade, os irmãos indianistas Claudio, Orlando e Leonardo
Villas Boas entre outros.
(4) Até onde
chega o nosso conhecimento, Callado foi o único repórter brasileiro que
arriscou sua vida para viajar ao Extremo Oriente para informar honestamente
sobre a Guerra do Vietnã, e o resultante genocídio perpetrado pelo governo dos
EUA contra o povo vietnamita. O relato da viagem e guerra transformou-se no
livro de Antônio Callado, Vietnã do norte: advertência aos agressores. São
Paulo: Paz e Terra, 1977.
(5) Os noves
romances são: A assunção de Salviano (1954); A Madona de Cedro (1957); Quarup
(1967); Bar Don Juan (1971); Reflexos do baile (1976); Sempreviva (1981); A Expedição
Montaigne (1982); Concerto Carioca (1985); Memórias de Aldenham House ( 1989).
(6) O fígado
de Prometeu (1951); A Cidade assassinada (1954); Frankel (1955) Pedro Mico
(1957); O Colar de Coral (1957 ); O
Tesouro de Chica da Silva (1962); Forró no engenho Cananéia (1964) A Revolta da
cachaça (1983).
(7) Entre as
grandes reportagens de Callado que se encontram publicadas em livros estão:
Esqueleto na Lagoa Verde ( 1953) , Os da Industriais Seca (1960); Tempo de
Arraes (1965); Vietnã do Norte: advertência anos agressores (1969); Entre Deus
e a vasilha (1985).
(8) Entre as
obras de Callado que foram adaptadas para o cinema e televisão estão: "A
Madona de Cedro" (TV mini-series) , 1994; "Kuarup" (filme )
1989; "Pedro Mico" (filme) 1985; “A Madona de Cedro" (filme)
1968.
(9) Para
simplificar o trabalho, coloco em seguida uma lista com todos os títulos dos
seus romances com os dados das edições brasileiras que conheço, para ajudar aos
leitores que desejem lê-las.
Assunção de
Salviano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960.
A Madona de
Cedro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
Quarup . Rio
de Janeiro: Nova Fronteira , 1984.
Bar Don
Juan. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira , 1971.
Reflexos do
Baile . Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1977.
Sempre Viva
. Rio de Janeiro: Nova Fronteira , 1981.
Expedição
Montaigne. Rio de Janeiro: Nova Fronteira , 1982.
Concerto
Carioca . Rio de Janeiro: Nova Fronteira , 1985.
Memórias de
Aldenham House. Rio de Janeiro: Nova Fronteira , 1989.
(10) Para
simplificar, relaciono abaixo os títulos dos mais importantes textos e ensaios
de críticos literários brasileiros sobre Antônio Callado para os leitores que desejem
consegui-los .
Rocha,
Glauber. Entrevista. Patrulhas ideológicas. Heloisa Buarque de Holanda et al.
São Paulo: Ed.Brasiliense de 1980. 28-33 .
Gullar
Ferreira. "Quarup, Um ensaio de deseducação para Brasileiro virar gente”.
Revista Brasileira Civilização, 15 ( 1967) : 251-258 .
Oliveira,
Franklin. "Mito e Símbolo”. A
Fantasia Exata. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959.
Peregrino,
Helio. " Quarup, o Nascimento do Herói Novo". Jornal do Brasil .
Houaiss, Antônio.
"Prefácio”. Reflexos do Baile de Antônio Callado. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1977.
Arrigurci
Jr. , Davi. "O Baile das Trevas e das Águas ". Achados e Perdidos.
São Paulo: Editora Polis, 1979.
Leite, Ligia
Chiappini Moraes. Antônio Callado. Rio de Janeiro: Editora Abril , 1982. (Prêmio
Casa de las Américas).
11) Ditadura militar e
oposição estética: marianismo como modo de resistencia cultural ao '64' na
fiçção de Antonio Callado.
Vital de Brito Moreira, Jorge. 1996. 255
leaves ; 28 cm. Thesis (Ph. D.)--University of Minnesota, 1996
2 comentários:
Gente, mas o Professor Jorge Moreira entrevistou o Antonio Callado.
Gosfei muito desta matéria.
O Professor Jorge Moreira é um especialista em Antonio Callado, com tese de doutorado defendida nos Estados Unidos. Excelente a 'pensata'! Para ler e guardar
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