O
Manifesto e a história universal
Neste
domingo publico uma reflexão sobre o "Manifesto Comunista" de Domenico Losurdo (foto acima),
publicado
originalmente na revista Lutas Sociais no NEILS,
PUC-SP, com o título “150 anos do Manifesto Comunista,
150 anos da História mundial”.
Relendo o Manifesto Comunista a cento cinquenta
anos de sua publicação, procuramos nos interrogar sobre as novidades teóricas e
políticas fundamentais apresentadas pelo texto de Marx e Engels. Estas
novidades não residem na tomada de consciência da não naturalidade do conflito
social entre proletariado e burguesia, nem na afirmação de que este conflito
foi precedido historicamente pela luta de classes entre escravos e senhores e
entre servos da gleba e proprietários feudais. Alguns anos antes, Tocqueville
havia sintetizado a situação de Inglaterra nesses termos: “aqui, o escravo, lá
o patrão; aqui, a riqueza de alguns; lá, a miséria da maioria”. Em seguida, o
liberal francês chegou a advertir para o perigo das “guerras servis”.
Assim,
a condição operária se encontra comparada à escravidão. Antes de Marx e Engels,
esta comparação era feita, de maneira consciente, pelos pensadores liberais.
Locke não teve nenhum problema para constatar que a maior parte da humanidade
havia sido “transformada em escrava” pelas condições objetivas de vida e de
trabalho. Mandeville não tinha nenhuma dúvida de que a “parte mais pobre e mais
desprovida da nação” estava destinada para sempre a executar um “trabalho sujo
e semelhante ao de um escravo”. E foram os próprios discípulos de Cobden e de
Bright que compararam os operários fabris a “escravos brancos”. Neste caso, era
absurdo — concluiu Benjamin Constant — conceder direitos políticos ao
trabalhador assalariado: ele está privado da “renda necessária para não viver na
total dependência da vontade de outro”; “os proprietários são os senhores da
existência do trabalhador assalariado, porque podem recusar o trabalho deste”.
Porém,
nada disso perturba a boa consciência da burguesia liberal. Afinal —
argumentavam eles — as relações de produção e as condições materiais de vida
remetem a uma esfera extra(e pré)-política (tese que, em nossos dias, foi
radicalizada por Hannah Arendt). Totalmente distinto é o pensamento de Marx,
que, já em seus escritos de juventude, se permite uma observação irônica: aos
olhos da sociedade e da teoria política burguesas, as relações sociais “só
possuem uma significação privada e nenhuma significação política”; em sua forma
mais desenvolvida, o Estado burguês se contenta em “fechar os olhos e declarar
que certas oposições reais não possuem caráter político, que elas não o
incomodam”.
E, no
entanto, a liberdade está em questão. O Manifesto
Comunista chama a atenção para a realidade da fábrica
capitalista. Aqui, nós podemos pôr o dedo no “despotismo”: os operários são
“organizados militarmente” e, “são colocados como soldados rasos sob a
supervisão de uma hierarquia inteira de suboficiais e oficiais” (Marx e Engels,
1997: 15).
1.
Como se vê, não se trata, absolutamente, de liquidar a liberdade formal ou negativa porque ela seria negligenciável e puramente burguesa — digo isto sem querer ofender a vulgata “marxista”, nem os teóricos liberais (Berlin, Bobbio, etc.), que crêem poder definir o contraste existente entre as duas tradições de pensamento aqui confrontadas sobre a base da preferência ou proeminência atribuída à liberdade negativa ou positiva, à freedom from ou à freedom to. Dir-se-ia que a vulgata marxista e a alta cultura liberal terminam por convergir em uma interpretação essencialmente economicista de Marx e Engels — os quais, na realidade, exigem a intervenção política no quadro das relações de produção não porque consideram que a liberdade negativa é puramente formal e burguesa, mas porque, totalmente ao contrário, eles a vêem esmagada por uma organização fundamentalmente militar e despótica, como a fábrica capitalista, à qual toda uma classe social não pode escapar, a menos que prefira morrer de inanição.
Como se vê, não se trata, absolutamente, de liquidar a liberdade formal ou negativa porque ela seria negligenciável e puramente burguesa — digo isto sem querer ofender a vulgata “marxista”, nem os teóricos liberais (Berlin, Bobbio, etc.), que crêem poder definir o contraste existente entre as duas tradições de pensamento aqui confrontadas sobre a base da preferência ou proeminência atribuída à liberdade negativa ou positiva, à freedom from ou à freedom to. Dir-se-ia que a vulgata marxista e a alta cultura liberal terminam por convergir em uma interpretação essencialmente economicista de Marx e Engels — os quais, na realidade, exigem a intervenção política no quadro das relações de produção não porque consideram que a liberdade negativa é puramente formal e burguesa, mas porque, totalmente ao contrário, eles a vêem esmagada por uma organização fundamentalmente militar e despótica, como a fábrica capitalista, à qual toda uma classe social não pode escapar, a menos que prefira morrer de inanição.
2.
Portanto,
uma profunda mudança se impõe. Mas qual é o sujeito social chamado a
realizá-la? Aqui aparece uma outra grande novidade teórica e política, que se
trata, outra vez, de precisar. Não é difícil encontrar, na tradição liberal,
descrições lúcidas dos efeitos do embrutecimento produzidos pela fábrica
capitalista. Obrigado à repetição obsessiva de “um pequeno número de operações
extremamente simples, frequentemente uma ou duas”, o operário — observa Smith —
termina por se tornar “tão estúpido e ignorante como o pode ser uma criatura
humana”; ele não chega a elaborar “um julgamento correto mesmo sobre um bom
número de deveres comuns da vida privada” e é melhor não falar com ele sobre questões
políticas. Se existe um remédio para esta situação, ele só pode ser trazido do
alto e do exterior, por uma burguesia esclarecida e filantrópica.
Para Marx,
ao contrário, o embrutecimento só representa um aspecto das coisas. Se nos
colocamos em um outro ângulo, é precisamente a dura experiência, cotidiana e
coletiva, da exploração e do despotismo na fábrica que capacita a classe
operária a se apresentar como o sujeito central da transformação. Em Smith, o
operário parece perder até suas características mais propriamente humanas: ele
se torna incapaz de não apenas de sentir prazer ou de participar de qualquer
conversação racional, mas mesmo de experimentar qualquer sentimento generoso,
nobre e terno”. Para Marx, o proletariado é o próprio “coração” da emancipação
humana. Trata-se de uma novidade radical que ainda hoje se tem dificuldade para
compreender. Que se pense em Hannah Arendt, que opõe ao trabalho produtivo e à
luta operária e popular por melhores condições de vida, a “felicidade pública”
que decorre da ação (Handlung) e da comunicação política como fim em sim mesmo.
A autora vê aí uma dimensão que, segundo ela, teria ficado totalmente estranha
a Marx e ao materialismo histórico. Na realidade, Hannah Arendt não percebe que
é justamente no movimento contra a opressão material da qual é vítima que toda
uma classe social descobre e sente o gosto e a paixão pela ação política. “De
tempos em tempos — observa o Manifesto —
os trabalhadores saem vitoriosos. Mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro
resultado de suas lutas não é o sucesso imediato, mas a união crescente”(p.
17). Pelo único fato de quebrar , por meio da ação sindical e política, o
isolamento no qual a burguesia gostaria de lhe impor, toda uma classe social
encontra sua dignidade antes mesmo de ter obtido resultados concretos. É o que
impressiona Engels durante sua viagem à Inglaterra. Dirigindo-se aos operários,
o jovem revolucionário manifesta sua alegria de “discutir com vocês sobre sua
condição e seus tormentos, de ser testemunha de suas lutas contra o poder
político e social de seus opressores”. Quanto a Hannah Arendt, ela permanece
fiel ao ponto de vista de Smith.
Não somente
o proletariado pode projetar e construir um sistema social diferente do sistema
dominante, mas, no interior do próprio capitalismo, ele pode ser a força
dirigente na derrubada do antigo regime e na realização da democracia política.
Em circunstâncias determinadas — assinala o Manifesto — essas tarefas podem se misturar em
uma unidade indissolúvel:
“Os
comunistas dirigem sua atenção principalmente para a Alemanha, porque o país
está às vésperas de uma revolução burguesa e porque essa reviravolta ocorre sob
as condições avançadas da civilização européia, com um proletariado muito mais
desenvolvido que o da Inglaterra do século XVII e o da França do século XVIII.
Por isso, a revolução burguesa alemã pode ser o prelúdio de uma revolução
proletária” (p. 41).
Por meio
deste olhar voltado para um país ainda relativamente atrasado no plano
econômico e político, é evocada a possibilidade de uma revolução socialista que
se desenvolve na onda de uma revolução antifeudal, ou democrático-burguesa sob
a hegemonia do proletariado. É esta teoria da revolução que se revelou
historicamente eficaz, e não a que se encontra na bem célebre página de O Capital
onde a revolução socialista é vista como uma consequência
imediata e automática da consumação do processo de acumulação capitalista.
3.
Sim, no
século XX, revoluções de orientação socialista se desenvolveram em países ainda
aquém do desenvolvimento, ou antes, da maturidade capitalista. Mas foi fora do
quadro geográfico levado em consideração pelo Manifesto. Para seus autores, a Europa é sinônimo
de civilização e o Oriente, de barbárie. Não que Marx e Engels se alinhassem
inteiramente com a tradição liberal, ocupada, nesta época, com Tocqueville e
Mill, em celebrar com lirismo até as guerras do ópio. O Manifesto é mais
problemático: o que o Ocidente impõe é o que ele chama “civilização”, isto é,
as relações “burguesas”. Um artigo escrito alguns anos depois se exprime de
modo bem mais incisivo: denunciando o horror da expansão colonial, observa que
este horror esclarece, no mesmo momento, a verdadeira natureza da metrópole
capitalista: “A profunda hipocrisia, a barbárie intrínseca da civilização
burguesa se oferecem aos nossos olhos sem disfarces, quando, das grandes
metrópoles, onde elas adquirem formas respeitáveis, nós voltamos os olhos para
colônias, onde elas circulam em toda a sua nudez”.
E, todavia,
apesar dos horríveis crimes que a maculam, a conquista inglesa da Índia aparece a Marx
como “a única revolução
social que a Ásia conheceu”. Se a ideia da subjetividade
revolucionária da classe operária é totalmente estranha a Smith, Marx e Engels
não souberam, a não ser excepcionalmente, apreender a subjetividade
revolucionária dos povos coloniais. Para que isto acontecesse, seria preciso
esperar, em uma situação distinta e objetivamente mais avançada, Lenin. Com ele
um processo ulterior chega a seu termo. Locke celebra a liberdade, mas
considera a escravidão dos negros nas colônias como evidente; Mill condena o
despotismo, mas celebra sua eficiência pedagógica desde que se trate de “raças”
que ele considera como “não maiores”. Duras cláusulas de exclusão acompanham a
celebração da liberdade no campo da tradição liberal. Tocqueville descreve de
maneira lúcida o horrível tratamento reservado, na América, aos índios e aos
negros e, entretanto, os Estados Unidos continuam, aos olhos do autor, os país
da “democracia, viva, ativa, triunfante”. Nos três casos, a democracia é
definida como tal, independentemente da sorte dos excluídos.
Pode-se
descobrir traços desta atitude nos próprios Marx e Engels. É verdade que, em diversas
ocasiões, eles escreveram que um povo que oprime outro não pode ser livre.
Entretanto, se nos atemos à Ideologia
Alemã e A miséria da
Filosofia, os Estados Unidos representam o “país da
emancipação política consumada” ou, ainda, “o exemplo mais perfeito do Estado
moderno”, que assegura a dominação burguesa sem excluir a priori nenhuma classe
social do usufruto dos direitos políticos. Na realidade, contrariamente ao que
pensavam Tocqueville, Marx e Engels, a discriminação pelo dinheiro, bem longe
de ter desaparecido, se traduzia, no outro lado do Atlântico, pela
discriminação étnica e racial e, sob esta forma, ela será muito mais forte do
que na Europa.
É Lenin que
fará a liquidação definitiva das cláusulas de exclusão da tradição liberal,
assim como de toda visão da democracia que pretendia definir este regime
independentemente da sorte dos excluídos. Eis porque o Outubro bolchevique
imprime uma virada radical ao desenvolvimento da subjetividade entre os povos
coloniais e ex-coloniais.
4.
Foi assim
que surgiu o “campo socialista”, que se desenvolveu em condições de dupla
“barbárie” (para empregar a linguagem do Manifesto), a saber: o pesado atraso do Oriente e,
sobretudo, o horror dos dois conflitos mundiais e da guerra total. É claro que
Marx e Engels não previram de modo algum semelhante tentativa de construção de
uma sociedade pós-capitalista.
Convém
acrescentar que sua visão do socialismo e do comunismo certamente não favoreceu
o sucesso e a evolução democrática desta tentativa. No Manifesto já começa a se desenhar
a utopia exaltada de uma sociedade não somente sem classes, mas também sem
Estado e sem fronteiras nacionais, sem mercado, sem religiões, sem qualquer
conflito de qualquer tipo. É a dialética objetiva de todo processo
revolucionário, brilhantemente exposta, em outras circunstâncias, especialmente
por Engels. No arrebatamento da luta contra uma situação sentida como
intolerável e no esforço para suscitar o entusiasmo necessário para derrotar os
terríveis obstáculos que se interpõem à derrubada do regime existente, todo
processo revolucionário tende ver o futuro que ele se propõe a construir em
termos, de um certo modo, tão exaltados e a representá-lo como uma espécie de
fim da história. Esta exaltação se revela fecunda na fase de destruição, porém
funesta na fase seguinte. A tentativa de construção de uma sociedade pós-capitalista
oscilou entre dois polos: o do estado de exceção permanente e o de uma utopia
exaltada, a qual, por sua vez, terminou por prolongar e, em consequência,
exacerbar o estado de exceção.
Para tomar
um só exemplo: qual o sentido de se incomodar em construir um Estado
democrático se o Estado estava destinado a se extinguir?
5.
Mas, após a
derrocada do “campo socialista”, eis que se produz uma situação que, outra vez,
nos leva de volta ao Manifesto: em
um texto que apareceu há 150, é possível ler uma análise cuja atualidade é
surpreendente:
“As
indústrias nacionais tradicionais foram, e ainda são, a cada dia, destruídas.
São substituidas por novas indústrias, cuja introdução se tornou essencial para
todas as nações civilizadas. Essas indústrias não utilizam mais matérias-primas
locais, mas matérias-primas provenientes das regiões mais distantes, e seus
produtos não se destinam apenas ao mercado nacional, mas também a todos os
cantos da Terra. Ao invés das necessidades antigas, satisfeitas por produtos do
próprio país, temos novas demandas supridas por produtos dos países mais
distantes, de climas os mais diversos. No lugar da tradicional auto suficiência
e do isolamento das nações, surge uma circulação universal, uma
interdependência geral entre os países. No lugar da tradicional auto suficiência
e do isolamento das nações surge uma circulação universal, uma interdependência
geral entre os países. E isso tanto na produção material quanto na
intelectual”. (pp. 11-12).
Não se
poderia descrever melhor a mundialização da qual todo mundo fala atualmente.
Esta homogeneização tende a investir mesmo sobre o que resta do “campo
socialista”. Novamente, um texto de idade venerável assume aspectos proféticos.
Parece que não se pode frear a expansão da burguesia:
“Os preços
baratos de suas mercadorias são a artilharia pesada com a qual ela derruba todas
as muralhas da China e faz capitular até os povos bárbaros mais hostis aos
estrangeiros. Sob a ameaça da ruína, ela obriga todas as nações a adotarem o
modo burguês de produção; força-as a introduzir a assim chamada civilização,
quer dizer, a se tornar burguesas. Em suma, ela cria um mundo à sua imagem e
semelhança” (p. 12).
Espraiando
sua ação homogeneizante em escala planetária, a burguesia, na realidade, impõe
não somente sua potência econômica e ideológica, como afirma o Manifesto, mas também sua potência
política e militar (é um aspecto do imperialismo do qual Lenin fala). Países
como a China e Cuba encontram-se, assim, expostos às mais diversas formas de
pressão: embargo, guerra econômica e ameaça de guerra econômica, intimidações
militares, campanhas ideológicas internacionais que podem recorrer a um
impressionante poder de fogo multimídia. Toda forma de resistência se revela
difícil, tanto mais que este países são obrigados a reinventar a transição para
uma sociedade pós-capitalista através de experiências e erros e, evidentemente,
sem recorrer a fórmulas miraculosas ou às indicações precisas de um clássico
qualquer.
6.
Do lado da
burguesia, geralmente se acusa Marx de ter tido uma visão catastrófica do
desenvolvimento histórico. Na realidade, ao menos no que se refere à política
internacional, ele não se engajou a fundo na desmistificação da ideologia
harmonizadora da burguesia de seu tempo, a qual celebrava sua expansão
planetária como a marcha triunfal da civilização e da paz. São os anos em que
Constant profetisa a desaparição ou o declínio do fenômeno da guerra na sequência
da expansão do comércio. Mais tarde, Spencer verá a figura do
industrial-comerciante suplantar a do guerreiro, no exato momento em que a
expansão industrial e comercial da metrópole europeia se realiza não apenas sob
o signo de guerras sangrentas nas colônias, mas também sob o de uma rivalidade
crescente entre as próprias potências industriais comerciais, rivalidade que
iria ter uma influência nada desprezível no desencadeamento da primeira guerra
mundial.
Trata-se de
uma concepção que, às vezes, aparece mesmo no Manifesto Comunista. Na metrópole, um processo de
pacificação geral parece iniciar-se: “As diferenças e contradições entre os
povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, com a
liberdade de comércio, com o mercado mundial, com a uniformização da produção
industrial e das condições de vida que lhe são correspondentes” (p. 26).
Parece que
se assiste a um declínio do fenômeno da guerra já na sociedade burguesa
desenvolvida, sem que seja preciso esperar o comunismo e “com o fim do
antagonismo de classes no interior das nações, desaparece também a hostilidade
entre as nações” (p. 26). Apenas alguns meses mais tarde, a Nova Gazeta Renana ironiza
Ruge por não compreender que o fenômeno da guerra não desaparecia com a
extinção do regime feudal e que os países nos quais domina a burguesia não são
absolutamente “aliados naturais”, pois estão separados por uma concorrência
impiedosa, cuja saída só pode ser justamente a guerra.
De qualquer
modo, logo a história demonstraria de maneira trágica que a “interdependência
universal” produzida pelo capitalismo não está, absolutamente, em contradição
com o fenômeno da “guerra industrial de extermínio”. É uma lição que não convém
esquecer.
Novos
perigos dramáticos nascem em nossos dias, após o “final da guerra fria”,
enquanto o conflito entre capital e trabalho se estende ao nível planetário,
levado por uma mundialização que, para dizer mais uma vez com o Manifesto,implica transformar a
população de todo o planeta em “instrumentos de trabalho cujo preço varia
conforme a idade e o sexo” (p. 15), que são “obrigados a se vender diariamente”
(p. 14) e que, submetidos, como as outras mercadorias, “a todas as vicissitudes
da concorrência, a todas as turbulências do mercado” (p. 14), vêem sua vida
oscilar entre “despotismo” de fábrica e desemprego.
Domenico Losurdo nasceu em 1941, na Itália. Professor de História da
Filosofia na Universidade de Urbino, doutorou-se com uma tese sobre Karl
Rosenkranz. Escreveu, entre outros livros: A linguagem do império: léxico da
ideologia estadunidense (Boitempo, 2010), Democracia ou bonapartismo (Unesp, 2004), Nietzsche, o rebelde aristocrata (Revan,
2009).
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