O que está em curso na Venezuela é o chamado “golpe em câmera lenta”, que consiste em debilitar gradualmente o governo até gerar as condições para o assalto direto ao poder. O atual líder oposicionista, Leopoldo López, não esconde esse objetivo, ao pregar aos seus partidários que permaneçam nas ruas até o que ele chama de “La Salida”, ou seja, a derrubada do governo. O roteiro golpista, elaborado com a participação de agentes dos Estados Unidos, combina as manifestações pacíficas com atos violentos, como a destruição de patrimônio público, bloqueio de ruas e atentados à vida de militantes chavistas. A mídia venezuelana e internacional tem um papel de destaque nesse plano, ao difundir uma versão distorcida dos fatos. A aposta da direita é tornar o país ingovernável. Trata-se de criar uma situação de caos até o ponto em que se possa dizer que o país está “à beira da guerra civil” e pedir uma intervenção militar de estrangeiros. Outro tópico desse plano é a tentativa de atrair uma parcela das Forças Armadas para a via golpista. Mas isso, até agora, tem se mostrado difícil.
Mentira: A Venezuela é um
regime autoritário, que impõe sua vontade sobre os cidadãos e reprime as
manifestações opositoras.
Verdade: Existe ampla
liberdade política no país, que é regido por uma Constituição democrática,
elaborada por uma assembleia livremente eleita e aprovada em plebiscito. Nos 15
anos desde a chegada de Hugo Chávez à presidência, já se realizaram 19
consultas à população – entre eleições, referendos e plebiscitos – e o chavismo
saiu vitorioso em 18 delas. Foram eleições limpas e transparentes, aprovadas
por observadores estrangeiros das mais diferentes tendências políticas,
inclusive de direita. O ex-presidente estadunidense Jimmy Carter, que monitorou
uma dessas eleições, declarou que o sistema de votação venezuelano é “dos
melhores do mundo”. Esse mesmo sistema eleitoral viabilizou a conquista de
inúmeros governos estaduais e prefeituras pela oposição. Há no país plena
liberdade de expressão.
Mentira: Quem está
protestando contra o governo é porque “não aguenta mais” os problemas do país.
Verdade: A tentativa
golpista, na qual se inserem as manifestações da direita, reflete o desespero
da parcela mais extremista da oposição, que não se conforma com o resultado das
eleições de 2013. Esse setor desistiu de esperar pelas próximas eleições
presidenciais, em 2019, ou mesmo pelas próximas eleições legislativas, em 2016,
ou ainda pela chance de convocar um referendo sobre o mandato do presidente
Nicolás Maduro, no mesmo ano. Essas são as regras estabelecidas pela
Constituição – qualquer coisa diferente disso é golpe de Estado. A direita
esperava que, com a morte de Chávez, o processo de transformações sociais
conhecido como Revolução Bolivariana, impulsionado pela sua liderança, entrasse
em declínio. Apostava também na divisão das fileiras chavistas, abrindo caminho
para seus inimigos. A vitória de Maduro – o candidato indicado por Chávez – nas
eleições de abril de 2013, ainda que por margem pequena, frustrou essa
expectativa. Uma última cartada da oposição foi lançada nas eleições municipais
de dezembro do ano passado. Seu líder, Henrique Capriles (duas vezes derrotado
em eleições presidenciais), disse que elas significariam um “plebiscito” sobre
a aprovação popular do governo federal. Mas os votos nos candidatos chavistas
superaram os dos opositores em mais de 10%, e o governo ganhou em quase 75% dos
municípios. Na época, a economia do país já apresentava os problemas que agora
servem de pretexto para os protestos, e ainda assim a maioria dos venezuelanos
manifestou sua confiança no governo de Maduro. Diante disso, um setor expressivo
da oposição resolveu apelar para o caminho golpista.
Mentira: O governo está
usando violência para reprimir os protestos.
Verdade: Nenhuma
manifestação foi reprimida. O único confronto entre policiais e opositores
ocorreu no dia 17 de fevereiro, quando, ao final de um protesto, grupos de
choque da direita atacaram edifícios públicos no centro de Caracas, incendiando
a sede da Procuradoria- Geral da República e ferindo dezenas de pessoas. Nestas
últimas semanas, as ações violentas da oposição teem se mul tiplicado pelo país.
A casa do governador (chavista) do Estado de Táchira foi invadida e depredada.
Caminhões oficiais e postos de abastecimento têm sido destruídos. Recentemente,
duas pessoas, que transitavam de motocicleta, morreram devido aos fios de arame
farpado que opositores estendem a fim de bloquear as ruas.
Mentira: O governo controla
a mídia.
Verdade: Cerca de 80% dos
meios de comunicação pertencem a empresas privadas, quase todas de orientação
opositora. Mas o governo recebe o apoio das emissoras estatais e também de
centenas de rádios e TVs comunitárias, ligadas aos movimentos sociais e às
organizações de esquerda. Isso garante a pluralidade política e ideológica na
mídia venezuelana – algo que, infelizmente, não existe no Brasil, onde a direita
controla quase totalmente os meios de comunicação.
Mentira: Os Estados Unidos
acompanham a situação à distância, preocupados com os direitos humanos e os
valores democráticos, para que não sejam violados.
Verdade: Desde a primeira
posse de Chávez, em 1999, o governo estadunidense tem se esforçado para
derrubar o governo venezuelano e devolver o poder aos políticos de direita.
Está amplamente comprovado o envolvimento dos Estados Unidos no golpe de 2002,
quando Chávez foi deposto por uma aliança entre empresários, setores militares
e emissoras de televisão. Desde então, a oposição tem recebido dinheiro e
orientação de Washington.
Mentira: Os problemas no
abastecimento transformaram a vida cotidiana num inferno.
Verdade: Existe, de fato, a
falta constante de certos bens de consumo, como roupas, produtos de higiene e
limpeza e peças para automóveis, mas o acesso aos produtos essenciais
(principalmente alimentos e medicamentos) está garantido para o conjunto da
população. Isso ocorre graças à existência de uma rede de 23 mil pontos de
venda estatais, espalhados por todo o país, sobretudo nos bairros pobres. Lá,
os preços são pelo menos 50% menores do que os valores de mercado, devido aos
subsídios oficiais. É importante ressaltar que o principal motivo da escassez
não é nem a inexistência de dinheiro para realizar importações nem a
incapacidade do governo na distribuição dos produtos. Grande parte das
mercadorias em falta são contrabandeadas para a Colômbia por meio de uma rede
clandestina à qual estão ligados empresários de oposição.
Mentira: A atual onda de
protestos é protagonizada pela juventude, que está em rebelião contra o
governo.
Verdade: Os jovens que
participam dos protestos pertencem, na sua quase totalidade, a famílias das
classes alta e média alta, que constituem a quarta parte da população. Isso
pode facilmente ser constatado pela imagem dos estudantes que aparecem na
mídia. São, quase todos, brancos – grupo étnico que não ultrapassa 20% da
população venezuelana, cuja marca é a mistura racial. E não é por acaso que os
redutos dos jovens oposicionistas sejam as faculdades particulares e as
universidades públicas de elite. Os jovens opositores são minoria. Do
contrário, como se explica que o chavismo ganhe as eleições em um país onde 60%
da população têm menos de 30 anos? Uma pesquisa recente, com base em 10 mil
entrevistas com jovens entre 14 e 29 anos, revelou que 61% deles consideram o
socialismo como a melhor forma de organização da sociedade, contra 13% que
preferem o capitalismo.
Mentira: A insegurança
pública está cada vez pior.
Verdade: A Venezuela
enfrenta altos níveis de criminalidade, assim como outros países latinoamericanos,
inclusive o Brasil. Esse tema é uma das prioridades do governo Maduro, que
chegou a mobilizar tropas do Exército no policiamento de certas áreas urbanas,
com bons resultados. A melhoria da segurança pública foi justamente o tema do
diálogo entre o governo e a oposição, iniciado no final do ano passado, por
iniciativa do presidente. O próprio Chávez, em seu último mandato, criou a
Polícia Nacional Bolivariana, a fim de compensar as deficiências do aparato de
segurança tradicional, famoso pela corrupção. Outra estratégia é o diálogo com
as “gangues” juvenis a fim de afastá-las do narcotráfico e atraí-las para atividades
úteis, como o trabalho na comunidade e a produção cultural. A grande diferença
entre a Venezuela e o Brasil, nesse ponto, é que lá o combate à criminalidade
ocorre num marco de respeito aos direitos humanos. A política de segurança
pública venezuelana descarta o extermínio de jovens nas regiões pobres, como
ocorre no Brasil.
Um comentário:
Jonga, seu texto “Verdades e Mentiras sobre a Venezuela” é excelente. Estou completamente de acordo com a honestidade e a lucidez com que você informa aos leitores sobre o incessante ataque da direita venezuelana (composta por grupos de políticos, de milionários e de mercenários, financiados pela CIA, pela USAID e pela Secretaria de Estado dos EUA, que contam com ajuda da maioria das ONGs que trabalham para os EUA em Venezuela) para dar um novo golpe militar contra a Venezuela chavista em o governo de Nicolás Maduro.
Somente uns poucos blogues independentes, como Novas Pensatas, Rebelion.org, Democracy now, e alguns outros, teem tido a coragem e a lucidez de apresentar e denunciar as ações terroristas que governo imperialista de U.S.A com a ajuda da media coorporativa (corrompida pelas corporações multinacionais), e da media ideologicamente comprometida com o infame modelo capitalista neoliberal, podem seguir mentindo descaradamente sobre Venezuela para a aplicação de golpe de estado da direita venezuelana.
Jorge
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