sexta-feira, 13 de junho de 2014

O Concerto Musical dos Rolling Stones no País do Apartheid




Em momento difícil para mim, devido ao falecimento de uma querida irmã, Jorge Vital de Brito Moreira envia para Novas Pensatas esta oportuna postagem sobre um assunto polêmico.

No dia 4 de Junho de 2014, os Rolling Stones realizaram pela primeira vez um concerto em Tel-Aviv, Israel. O concerto dos Stones, no entanto, foi interpretado por muitos seguidores não apenas como uma falta de solidariedade para com o povo palestino mas como falta de respeito contra o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que tem tido o apoio de diversos artistas internacionais. 

Não foi por falta de conhecimento (ou por falta de aviso) da terrível condição humana em que vive o povo palestino. No mês passado, por exemplo, o contrabaixista Roger Waters (1) e o baterista Nick Mason, líderes do extraordinário grupo musical Pink Floyd, publicaram uma carta aberta dirigida à banda de Mick Jagger e Keith Richards, pedindo que eles não tocassem suas músicas no país acusado de cometer apartheid contra o povo palestino: “Pedimos a vocês, colegas artistas, que se perguntem o que vocês fariam caso fossem forçados a viver sob regras militares e leis discriminatórias durante décadas”, dizia um trecho da carta (... we encourage you, fellow artists, to ask yourselves what you would do if forced to live under military rule and discriminatory laws for decades) (2).

É surpreendente que os Rolling Stones ignorem o trabalho por parte da resistência internacional aos crimes de guerra do Estado de Israel contra o povo palestino (apartheid, limpeza étnica, invasão e roubo de terra, entre outros crimes), e tenha viajado para realizar o show musical naquele país. Naturalmente muito fãs da banda musical continuam indignados e decepcionados diante desta condenável ação dos Stones.
Olhando para o passado recente, o concerto no país Israelita também aparece como uma grave contradição ideológica-política dos Stones, pois, em 2004, eles compuseram uma música de rock intitulada "Sweet Neo Con" (3) contra o grupo de ultradireita, os Neo Conservadores (The New Conservatives =The Neo Cons) dos EUA: um grupo formado principalmente por políticos e intelectuais de origem judia e orientação sionista (4).
Assim, muitos dos seus seguidores perguntam surpresos e indignados: como é possível que os Rolling Stones sejam, em  2014, capazes de ignorar a própria posição política anterior (que tinham quando escreveram o rock "Sweet Neo Con") para realizar um concerto num país  hegemonizado por Neo-conservadores e sionistas?

Foi devido ao conhecimento da importância e da influência cultural e ideológica da música “Sweet Neo Con” que uma parte significativa dos fãs dos Rolling Stones no mundo ocidental e os membros da banda Pink Floyd, reagiram contra a ação contraditória e inconsistente da banda de Mick Jagger.

Em resumo, a falta de solidariedade com o povo palestino, e a falta de respeito contra o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) por parte dos Rolling Stones é uma tendência ideológica inteiramente retrograda e uma ação político-cultural completamente condenável que não deveria receber nenhuma justificativa ética ou estética no sentido de legitimar e justificar politicamente tão indignante prática musico-cultural por parte dos Rolling Stones.


1) Previamente, Roger Waters fez um discurso diante dos delegados no Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, pois esse dia marcava um importante desenvolvimento no projeto dos palestinos de serem reconhecidos como um Estado observador não-membro da ONU.
Atualmente sabemos que o contrabaixista do Pink Floyd, Roger Waters também tem se destacado como um importante ativista cultural e político do tribunal criado pelo filosofo Bertrand Russell (O Tribunal Russell) para lutar pela defesa dos povos oprimidos pelo imperialismo americano e judeu. Assim, no dia 29 de novembro de 2012, Waters, falando em nome do Tribunal Russell, denunciou na ONU, os crimes contra a humanidade (apartheid e limpeza ética) do Estado de Israel contra o povo palestino. 

2) O conteúdo integral da carta de Rogers e Mason, intitulada  “Pink Floyd’s Roger Waters and Nick Mason: Why Rolling Stones shouldn’t play in Israel”  pode ser encontrado na revista americana Salon no link:


3) A música “Sweet Neo Con” está  na 13 faixa do disco Bigger Bang, o último álbum de músicas inéditas gravadas em estúdio pela banda britânica The Rolling Stones, que foi lançado pela Virgin Records em setembro de 2005.

4) O Neoconservadorismo é um movimento político-ideológico de ultradireita que nasceu durante os anos 1960 nos EUA que chegou à fama política durante as administrações presidenciais republicanas do recente passado e atingiu o clímax de sua influência durante a presidência de George W. Bush.
Entre os mais proeminentes neoconservadores da administração de G.W. Bush, se encontram nos EUA, o ex-vice presidente Dick Cheney, o ex-secretário da defesa, Donald Rumsfeld, o ex-subsecretario israelita Paul Wolfowitz e outros judeus extremistas de direita tais como, Elliott Abrams, Richard Perle, além de  John Bolton e Paul Bremer. Como sabemos, os New Cons, baseado em falsas alegações, graves mentiras e massiva mistificação, desempenharam um papel fundamental na promoção da abominável invasão e a guerra do EUA contra o povo do Iraque.


Nenhum comentário: