Algum tempo atrás, um grupo de milionários alemães
se dirigiu ao governo de Angela Merkel com uma proposta: pagar mais
impostos. Eles achavam que estavam pagando menos do que deveriam e poderiam. O
dinheiro a mais taxado, argumentavam, poderia bancar programas sociais numa
época de prolongada crise econômica.
Enquanto isso, no Brasil …
A família mais rica do país, os Marinhos, da Globo,
entrou em 2015 com um editorial contra a taxação das grandes fortunas. É o
clássico caso em que o interesse pessoal se disfarça de interesse público. Ou
por determinação dos patrões ou por servilismo voluntário, jornalistas da casa
trataram imediatamente de reproduzir o editorial em seus blogs. Foi o caso de Ricardo Noblat e Jorge Bastos Moreno.
Os argumentos da família Marinho são os de sempre.
Taxar fortunas levaria seus donos a tirar seu dinheiro do país e colocá-lo a
salvo de impostos. Mas algumas perguntas nascem desse lugar comum. Primeiro: onde
os ricos vão encontrar guarida para seu dinheiro? Há um cerco crescente,
comandado pelas economias mais poderosas, contra os paraísos fiscais. Não há
economia que resista quando suas principais empresas deslocam seu faturamento
para países em que a taxa é zero ou perto disso. O combate aos paraísos fiscais
está no topo da agenda dos líderes globais mais importantes. Isso quer dizer o
seguinte: não vai ser fácil tirar o dinheiro do Brasil e encontrar um destino
em que ele não seja taxado tanto ou mais que na terra de origem.
Há, também, uma questão de imagem. Suponha que os
Marinhos façam isso: tirem seu dinheiro do Brasil. Eles ganharam cada centavo
aqui. Apenas o governo federal tem colocado em anúncios de estatais cerca de
600 milhões de reais por ano na Globo. Qual seria o impacto de uma fuga de
capital pelos Marinhos na imagem e nos negócios da Globo? É difícil acreditar
que o dinheiro de publicidade federal continuasse a jorrar na Globo caso seus
donos retirassem sua fortuna do Brasil. Há também questões mais prosaicas. Você
tira o dinheiro de um país e acaba tendo que ir para o local que escolheu. Mas
onde nossos milionários vão encontrar as mamatas que têm no Brasil?
Continuemos com os Marinhos. Eles têm enorme poder
e influência no Brasil. Mas o que seriam nos Estados Unidos? Teriam lá o acesso
que teem sobre os ministros da Suprema Corte, ou sobre o presidente, ou sobre
os parlamentares? Que aconteceria com a família Marinho se, na Alemanha, fosse
encontrada uma fraude contábil como a realizada na aquisição de direitos da
Copa de 2002? A resposta cabe numa palavra: cadeia. Ir embora é muito mais uma
bravata e uma ameaça do que uma intenção. Um antigo presidente da Fiesp chegou
a falar, anos atrás, que 800 mil empresários deixariam o Brasil caso Lula
ganhasse. Quantos deixaram quando Lula venceu? Há no entanto que levar em
consideração uma coisa. Taxar as grandes fortunas pode ficar para depois. Urgente,
mesmo, é cobrar o imposto devido e, frequentemente, sonegado. Mais uma vez, os
Marinhos simbolizam essa verdade comezinha.
Um comentário:
Realmente os argumentos da família Marinho são os de que taxar grandes fortunas levaria seus donos a tirarem seu dinheiro do país e colocá-lo a salvo em paraísos fiscais. Inclusive eles, obviamente.
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