sábado, 26 de fevereiro de 2011

Países imaginários



Publiquei esta postagem em outubro de 2007, no antigo (e desaparecido) “Pensatas”. Achei conveniente republicá-lo pelo momento histórico vivido pelas ex colônias europeias no continente. Podem notar que às vésperas da Grande Guerra (1914/17) o vasto continente africano era dividido por colônias pertencentes a países europeus e a Libia está nele como território italiano.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, desfeito o Império Turco-Otomano, as potências européias apossaram-se de regiões até então quase que desconhecidas para elas. É sabido que nesta ocasião foram criadas fronteiras para determinar as “colônias” nas áreas recém conquistadas.
Por extrema ignorância histórica, tais fronteiras foram estabelecidas sem o menor conhecimento de quem as habitavam, seus costumes, etnias e religiões. Anteriormente, os mesmos colonizadores já haviam feito na África subsaariana divisões do gênero, sem o menor estudo de suas tradições, e até suas diversidades culturais e antagonismos. Ao final, juntavam-se povos que anteriormente eram inimigos entre si dentro de uma fronteira criada ao sabor de interesses dos conquistadores. Guerras civis prolongadas e sangrentas, foram a conseqüência mais notada após a independência destes territórios, principalmente a partir da segunda metade do século XX. Angola é um dos exemplos mais evidentes.
Conta a lenda que o mapa do Iraque foi traçado em um gabinete na cinzenta, sisuda e distante Londres, usando-se réguas e lápis coloridos, sem a menor compreensão de quem ou porque estava dentro daquelas linhas. E neste caso, três etnias e religiões foram ali colocadas sem a menor possibilidade de permanecerem juntas. Se formos fazer uma análise não tão profunda, o Iraque deveria ser constituido de pelo menos três países. Um xiita, um sunita e um terceiro curdo.
Para nós brasileiros, habituados a uma visão multiracial e multireligiosa, este tipo de pensamento pode parecer absurdo. O problema, no entanto é mais complexo em locais onde as diferenças são milenares e muito mais complexas. Agravando-se o fato de que tenham sido impostas de fora para dentro, ou seja pelos poderes coloniais.
Por isso, estamos assistindo à invasão da Turquia ao território iraquiano (1). No caso aos curdos do Iraque, que fazem parte de um grupo étnico que se considera como sendo nativo de uma região referida como Curdistão, e que inclui partes do Irã, Iraque, Síria e Turquia. Além disso, comunidades curdas também podem ser encontradas no Líbano, Armênia e Azerbaijão. Como os Bascos (da Espanha), eles desejam formar o seu país em definitivo. Com fronteiras demarcadas, hino e bandeira. A Turquia, sentindo-se pressionada, chegou ao ponto desta intervenção armada.
Tudo herança direta da forte imaginação de ingleses, franceses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que acharam que brincar de fazer mapinhas com “inocentes” réguas de madeira não teriam efeitos no futuro.

(1) Importante relembrar que em 2007 estava acontecendo isto devido à situação no Iraque, pós invasão pelos Estados Unidos.

4 comentários:

Arlete Antunes disse...

Eu imagino aqueles inglezinhos, gordinos, cabelos cheios de brilahantina, bigode idem, fazendo e traçando mapinhas para dividir o mundo com reguinhas, esquadros e compaços.
E está ai o resultado da brincadeira.
Mas o pior é pensar que os lusitanos também fizeram isso. Viu no que deu?

Jonga Olivieri disse...

No caso dos ingleses, provaram que o "British Empire" não os fez entender nada do mundo em que estavam. Estavam? Será que aqueles "bárbaros” estiveram em algum lugar, alguma época na vida?
Bom deixa pra lá, mas já que eu estou em cima de um caixote: “Sua majestade Elizabeth II é uma filha da puta e de um gago!” (Vejam o filme em cartaz)...
Os portugueses... Ah, estes são diferentes. Para além de serem colônia dos Bretões, copiavam tudo deles. Inclusive mantendo o último e tardio grande império, o “colonial português”.
Bem, Salazar o manteve até que morreu. E só nâo caiu com ele porque, justamente havia morrido. Deu-lhe o apelido de "províncias" d'ultra maire. Mas foi a principal razão de sua queda com o Movimento dos Capitães (conhecido como Revolução dos Cravos) que destronaram Marcelo Caetano –o seu sucessor, que foi morrer aonde? Claro que neste “país de merda” chamado Brasil, outra colônia, desta feita dos Estados Unidos.
Um império vasto, mas bem menos charmoso do que o da Rainha Victoria. Também os tempos mudam. Havia charme no século XIX, mas não houve tanto no pós II Guerra, exaemente quando os estadunidenses assumiram o “comando do mundo”. E, em conjunto com o sr. Ming (imperador de Mongo), de todo o universo!

Rui de Alencastro disse...

Realmente, nós portugueses vivenciamos a decadência de nosso Império(???).
Mas Salazar era um visionário fora d'época. Devia ter vivido nos tempos de Nun'Alvares. Talvez ainda suportaria o exílio com Dona Maria (a Louca) e seu filho Dom João VI e a ida para o Brasil.
O que importa é que no final, Portugal, pobre e a passar necessidades era obrigado a manter tropas em África a duras penas.
Até que os Capitães de Abril entraram em cena.

Jonga Olivieri disse...

Aquilo foi dramático! Um país falido mantendo as suas tropas a altos custos em despesas e perdas humanas "além mar", somente para se orgulhar de seu Império, o último da Europa...