domingo, 4 de setembro de 2011

Pensatas de domingo, xadrez, cadela e alguns morangos silvestres...

Na cena Victor Sjöström e Bibi Anderson em “Morangos silvestres”
A situação na Líbia transformou-se de uma guerra aberta em um complexo jogo de xadrez em que ganhará aquele que tiver maior habilidade em mover as peças. Ora, as muitas tribos que se aliaram e conduziram o levante estão a se degladiar e a Otan está começando a olhar com desconfiança a “aliança” entre elas. Claro que os imperialistas não pretendem deixar de lado a conquista de importantes reservas de petróleo e gás, mas... Aí é que entra a questão, quem dá mais? Kadafi não está totalmente descartado nesta avaliação. Afinal já houve acordos passados entre o império e o ditador... E apesar deste estar com as peças pretas e em total desvantagem, depois que vazou a informação de que membros da AlQaeda estão infiltrados entre os opositores, coisas surpreendentes podem acontecer nos próximos lances. Afinal, a burguesia não tem pudores.

Não muito longe dali, a Siria se complicou, simplesmente porque Israel está tremendo de medo de que armas químicas em poder da ditadura (favorável ao ocidente) de duas gerações, possa cair em mãos de forças “terroristas” aproveitando-se do caos reinante, e que poderiam vir a usá-las contra eles (Israel). Nada que a CIA, o MI-6 ou o Mossad não possam resolver, mas há um risco eminente. Podem crer, caso os EUA e seus capangas venham a intervir militarmente a razão será esta. Caso contrário ficarão na retórica e nas medidas dos chamadas “bloqueios”.

Após ter sido acusada de “cadela” por Rafinha Bastos no CQC da Band, Daniela Albuquerque, a “primeira dama” da RedeTV, passou por uma tremenda “saia justa” em seu próprio programa na emissora. No dia 30 de agosto, último dia da apresentadora Keila Lima, sua parceira e “professora”, ao despedir-se do programa “Manhã Maior”, abriu o jogo e “caiu de pau” (com o maior alto nível) tanto na “parceira” quanto, sutilmente na Rede TV (1). Quanto ao caso do Rafinha, este pediu “desculpas” formais no programa seguinte. Claro que após uma reunião entre o presidente da RedeTV , marido da dita “cadela” --que tem três vezes menos a idade dele-- e o presidente da Band.

Rever “Smultronstället” (1957) após longos anos em que o assisti por completo pela última vez (talvez há uns 15 anos), foi uma overdose de emoções. Ainda me lembrava da primeira vez que o vi no velho e saudoso “Alvorada” no posto seis, salinha pequena, mas cuja designação vinha subtitulada como “Cinema de Arte”. Eu devia ter uns 18 anos e fiquei pasmo com Bergman, a sua capacidade de narração, de aprofundar o ser humano naquilo que os religiosos vêm como “alma”, ou “espírito”, mas que eu no meu ateísmo simplório classifico apenas como “essência”.
Pena mesmo que por alguns anos me afastei do diretor, acometido de uma doença de “esquerdismo infantil”, sectário e tolo que julgava a arte apenas pelo cunho social (engajado) contido nela (2). Coisa que, ainda bem, durou apenas alguns anos, pois quando voltei a admirá-lo –, até por ver o engano quanto ao meu julgamento--, aprofundei-me em sua obra, voltando a assistir com outros olhos obras como “O sétimo selo”, “A fonte da donzela”, entre tantas, incluindo este magistral “Morangos silvestres”, cuja tradução mais precisa, segundo soube por alguém, faz pouco tempo (e nada entendo de sueco) seria “alguns” morangos silvestres.
Mas falei tudo isto apenas para dizer que considero este o seu melhor filme (3)... Se bem que, no entanto sou daqueles que defendem a ideia de que gênios como Bergman e outros do seu naipe, não podem ter algo maior do que o conjunto de seu trabalho.

Notícia publicada ontem à noite no UOL, levanta que pelo menos um montante equivalente à economia da Bolívia foi desviado dos cofres públicos do governo federal entre 2002 e 2008. Com o referido nível de recursos seria possível elevar em 23% o número de beneficiados pelo Bolsa Família (em torno de 13 milhões de famílias). Ou reduzir à metade o número de casas sem saneamento básico, que são cerca de 25 milhões de moradias.
Coisas do Brasil!

Mas para acabar o domingo em alto astral, lembrei de uma piadinha antiga pra dedéu, mas que vale a pena.
O sujeito entrou no bonde (um banco longo e contínuo), e ia sentar-se quando uma senhora o interpelou dizendo:
“Senhor, cuidado com os ovos!”.
O cara interrompeu o ato de sentar-se a tempo de ver um embrulho em papel jornal, o pegou e ao passar para a velhinha exclamou:
“Pesados...”
Ao que ela, imediatamente respondeu:
“Claro, são pregos!”

Mas queria lembrar mesmo era daquela piadinha mais antiga ainda, do sujeito que virou neto dele mesmo. Veio-me à cabeça, por razões óbvias, quando revia “Volver” (2006) de Pedro Almodóvar.
Neurônios queimados à parte, um bom domingo para todos!

1. A quem interessar possa, assista no link abaixo a saia justa da “cadela” da RedeTV:

2. Nada a ver com teses como a do “realismo socialista”, pois desde 1966 me posicionei como trotskista, o que me afastava das teses de Stalin. Mas uma distorção mesmo da visão do que seja uma arte revolucionária. Até o dia em que entendi que esta arte revolucionária tem pouco a ver com posição política, mas com a visão do artista frente ao mundo partindo se seu prisma. Claro que há artistas reacionários, mas no caso de Bergman, a “existência em si” é o seu ponto de partida, o que o torna um Humanista.

3. Para além de Victor Sjöström, o filme conta com as presenças da maravilhosa Ingrid Thulin e da encantadora Bibi Anderson. Sjöström foi um dos pioneiros do cinema sueco, dono de uma filmografia respeitável como diretor e ator, e veio a realizar este filme, retratando um velho professor e médico no ocaso de sua vida. Coincidentemente ele faleceu cerca de três anos depois.

8 comentários:

André Setaro disse...

Coincidentemente, revi, ontem, "Gritos e sussurros", do grande Ingmar Bergman (que está a fazer muita falta no cinema contemporâneo). A coincidência está em Ingrid Thulin, a maravilhosa atriz sueca, bergmaniana por excelência, que, mais jovem, e mais bonita (tenho atração inexplicável por ela, por seus lábios, por seu olhar), é uma das principais personagens de "Morangos silvestres" (Smultronstallet, 1957) no papel da cunhada do velho Victor Sjostrom. Há quem diga que um grande autor tem apenas uma obra em sua vida, sendo os filmes singulares apenas uma variação sobre o mesmo tema. Em Bergman: as relações entre os homens, a urgência da morte, o silêncio de Deus, a humilhação como constante etc.

E a foto postada é clássica, antológica.

Jonga Olivieri disse...

"Gritos e Sussurros" também é outra obra prima de Bergman.
E concordo mesmo no curso de sua obra o foco voltado para dentro do indivíduo e o comportamento humano em suas partiularidades e amplitude.
Idem quanto a Ingrid Thulin. Creio que o seu charme é irresistível.
Mas Bibi Anderson (outra das atrizes bergmanianas) também é bela e de uma grande leveza.

Joelma disse...

Será? Será que este jogo de xadrez pode dar uma reviravolta dessas?
O ponto alto desta postagem é mesmo o filme "Morangos Silvestres". Por coincidência também venho comprando a coleção da Folha e tenho assitido filmes maravilhosos. E esse é fora-de-série mesmo. Que beleza, que poesia sobre o viver e o envelhecer!
Mas falando em fofocas a da 'cadela" da Rede TV por acaso eu acompanhei. É puro lixo cultural mas valeu a sua nota.

Jonga Olivieri disse...

Em jogo de xadrez tido é possível.
Quanto à coleção, tenho alguns e portanto não precisarei comprar todos, mas se não tiver, aconselho que vá adquirindo porque é muito boa.
E a "cadela"...

Jonga Olivieri disse...

Porém, acho difícil o Kadafi fazer algum "gambito" de sucesso a essa altura, mas aguardemos os próximos movimentos.

Anônimo disse...

Excelente "Pensata"! De fio a pavio.
J.P.

Jonga Olivieri disse...

Obrigado J.P. Fiz com o intento de que fosse bem abrangente mesmo! Como você bem o disse: "de fio a pavio"...

Anônimo disse...

Gostei da piada!