terça-feira, 6 de março de 2012

O carnaval dos brasileiros nos EUA: comprar Nova Iorque e Miami a preço de diamantes


Mais um ensaio do professor Jorge Moreira direto dos Estados Unidos...

Na quinta feira à noite (um dia depois da quarta feira de cinzas), enquanto falava num seminário sobre a cultura brasileira, uma aluna me perguntou o que eu pensava do carnaval brasileiro. Respondi dizendo que o carnaval era um assunto muito amplo e que não dispunha de tempo suficiente para analisá-lo. No entanto, para não deixar a pergunta sem resposta, trataria de falar um pouco sobre um dos aspectos que me parecia dos mais importantes para entender não somente a forma capitalista neo liberal do carnaval mas para entender a forma capitalista  neo liberal de quase todas as atividades socioeconômico culturais na  sociedade brasileira.
Então comecei a falar da relação entre a concentração da riqueza nos bolsos de uma minoria de brasileiros (e a decorrente injustiça social para a maioria) e a apropriação do carnaval pelos donos do poder. Para facilitar as minhas idéias, utilizei como exemplo concreto a reportagem intitulada CARNAVAL DO APARTHEID (1) da Revista da Metrópole que contem informações e dados atualizados sobre o carnaval da cidade de Salvador no estado da Bahia, Brasil.
Certamente que os dados revelados pela reportagem da Revista da Metrópole (desconhecidos pela maioria da população) foram colocadas em vários blogues brasileiros e não  apresentam uma boa imagem das autoridades governamentais nem das instituições carnavalescas ou da minoria de “espertos” exploradores que lucram às custas da alienação popular.
No final da minha fala, uma aluna comentou que ela conhecia brasileiros nos EUA que faziam apologia do carnaval, do samba e do futebol; que nas festas e celebrações sempre cantavam a música Pais Tropical (“Moro num pais tropical abençoado por deus e bonito por natureza. Mais que beleza! Em fevereiro tem carnaval... Sou flamengo...”); que eu era o primeiro brasileiro que ela conhecia que não fazia apologia do carnaval, do samba ou do futebol do Brasil. Porque?  Perguntou ela.
Então lhe disse que eu também gostava do Brasil e da música País tropical de Jorge Ben mas que não tinha que fazer apologia da cultura brasileira pois eu não trabalhava para a Secretaria de Turismo, nem para o Consulado brasileiro, nem para agência de viagens, nem era um cantor popular que necessitasse vender milhões de CDs ou DVDs para as massas.
Uma boa parte dos assistentes riram da minha irônica resposta, mas não disseram  nada. De repente, outra aluna me perguntou o que eu pensava da reportagem do jornal New York Times que informava que brasileiros milionários e bilionários estavam comprando os apartamentos mais caros da cidade de Nova Iorque, pagando à vista e sem discutir seus preços, que variaram entre cinco milhões e quinze milhões de dólares.
Para os que não puderam ler, informo que o jornal estadunidense New York Times de 16 de fevereiro de 2012 dedicou uma extensa reportagem intitulada “Brazil Booms, and Brokers Smile sobre a invasão de brasileiros ricos em Nova Iorque e Miami. Estes brasileiros compram imóveis milionários por preços que superam os do mercado estadunidense. Entre os compradores, destacam-se executivos dos setores de finanças e commodities, entre 30 e 40 anos de idade, afirma o NYT.Eu falei para a aluna que tinha lido o New York Times e que a reportagem do jornal estadunidense reforçava tudo aquilo que eu tinha dito sobre a concentração de renda nos bolsos de uma minoria de privilegiados e a forma capitalista atual da sociedade nacional.
Também falei que deveríamos perguntar: Quem são estes bilionários e de onde vem esta camada rica do Brasil, “o pais tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”? Em que classe social eles se originam? E que modelo de desenvolvimento socioeconômico cultural é este que só beneficia um grupo bem reduzidos de privilegiados na sociedade brasileira?
Os poucos brasileiros que não ficaram cegos pela propaganda neo liberal, demagógica e populista do governo e da mídia brasileira, compreenderão que grande porcentagem de riqueza acumulada por essa minoria privilegiada foi realizada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso do PSDB (2)  (Partido da Social Democracia Brasileira)  e do Luiz Inácio Lula da Silva, o “Lula” do PT (Partido dos Trabalhadores). 
Não são poucos os brasileiros que acreditam e falam que governo Lula reduziu a taxa de pobreza do Brasil, mas isso não passa, na minha opinião,  de uma grande mistificação. Ganhar US$ 3 dólares por dia representa apenas um dólar em cima do nível de pobreza definido pelo Banco Mundial (3) mas isto não significa nenhuma derrota da pobreza ou da injustiça social do país.
Devido ao enriquecimento dos setores beneficiados pelos gigantescos lucros da especulação financeira, das exportações de grãos, da exportação de carne, da superexploração da força de trabalho, e da corrupção administrativa, o país tem sido vitima nestes anos de governo PSDB e PT da maior concentração de bilionários da sua história.
Graças ao modelo neo liberal brasileiro de F. H. Cardoso, de Lula da Silva e agora de Dilma Rousseff, estamos sob um modelo socioeconômico cultural que favorece a intensa concentração da riqueza nos bolsos de uma classe super rica que agora tem o poder de estender seu consumo à escala global e no estilo predatório estadunidense: o mesmo modo de consumo que tem levado a sistemática destruição da natureza e as sistemáticas guerras imperialistas contra os países pobres do mundo.
Assim, quando os brasileiros e estrangeiros falam sobre "o sucesso do Brasil", se esquecem de mencionar que os brasileiros beneficiados pelo sucesso pertencem exclusivamente a um setor da cúpula da nossa sociedade; um setor que representa apenas 5% da população nacional.  Deste modo, não existe duvida de que estamos diante do mesmo modelo socioeconômico cultural (capitalista e neo liberal) de classes polarizadas que tem conduzido a gigantesca concentração de riqueza, às crises econômico financeiras e a ruína geral de maior parte da população de trabalhadores e pobres do Brasil e do mundo.
Mas quando e como falar de classes sociais polarizadas e de luta de classes no Brasil se o PT, seu governo, seus funcionários, a bolsa família e a sua mídia domesticada vivem para construir um discurso demagógico e populista com o objetivo de convencer a Nação e ao povo brasileiro de que as lutas de classes desapareceram da realidade brasileira?

1. O CARNAVAL DO APARTHEID:
Faturamento de um camarote de carnaval: R$ 14,4 milhões. Taxa que paga à prefeitura: R$10,58.
Ser empresário de bloco ou camarote no Carnaval, na Bahia, não tem preço!
Números reveladores do Carnaval da Bahia, foram publicados na Revista da
Metrópole desta sexta:
O bloco Camaleão fatura, sozinho, apenas com a venda de abadás, R$ 6,65 milhões.
O Me Abraça fatura R$ 5,4 milhõesdo mesmo jeito, fora patrocínios.
O Corujas fatura 4,94 milhões.
Tudo isso em apenas três dias.
Já os camarotes faturam assim:
O do Reino, R$ 7,2 milhões;
Nana Banana, R$ 6,2 milhões;
Camarote Salvador, R$ 14,4 milhões.
Tudo isso fora os patrocínios.
Mas, por outro lado, sabem quanto um empresário paga de taxa à Prefeitura para montar um camarote no circuito do Carnaval?
R$ 10,58 de taxa inicial e mais 42,34 por metro quadrado. Uma pechincha. Um achado. Uma oportunidade da China. Ou seja, os empresários não bancam, nem de longe, o custo da festa.
Então, quem banca? O Governo do Estado e a Prefeitura investem R$ 30 milhões para colocar polícia na rua, realizar a limpeza, montar e desmontar toda infra-estrutura, pagar equipes de saúde, etc, etc, etc.
Porém lembrem-se: o dinheiro do Governo do Estado e da Prefeitura sai do nosso bolso.
ENQUANTO ISSO!!!... O hospital “Martagão Gesteira” declara que a Prefeitura de Salvador há dois meses não paga sua dívida de R$ 2 milhões e o hospital corre o risco de fechar este mês e 700 crianças ficarão sem tratamento, mas para o carnaval nos bairros da Barra Ondina foram gastos sem titubear R$ 60 milhões  pelos gestores municipal e estadual.
O carnaval é prioritário, a saúde não!
E considerando que a pesquisa divulgada recentemente no A Tarde constatou que 76% da população de Salvador não pula carnaval, e mesmo os 24% que pulam ficam espremidos entre tapumes e cordas de blocos, bancar essa festa imensa com dinheiro público fica mais injusto ainda. Tá na hora dessa conta mudar de mãos: quem fatura com o Carnaval é que tem que bancar a festa.
Vejam no link: http://www.r2cpress.com.br/v1/2011/04/03/carnaval-do-apartheid/
Se quiser consultar outros blogs  vejam o link:

2. O livro recente “A Privataria Tucana” do jornalista Amaury Ribeiro Jr. denuncia ampla e contundentemente os esquemas de corrupção (corruptos e corruptores) do PDS no governo de Fernando Henrique Cardoso, José Serra e afiliados.
Vejam no link: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-“privataria-tucana”-de-amaury-ribeiro-jr-chega-as-bancas-cartacapital-relata-o-que-ha-no-livro/

3. Vejam os dados da pobreza no mundo e na America Latina de acordo ao Banco Mundial no link abaixo:

5 comentários:

Anônimo disse...

Amigo, você tem que prestar atenção numa coisa: os seus seguidores estacionaram.
Pois bem, na verdade você está bloqueado por alguém. Não, não se trata de nada paranormal, de olho gordo nem nada no gênero. É um bloqueio invasivo bem real... alguém que conseguiu fazer isto usando a própria Blogger.
Se quiser saber, publique seu email pessoal que eu entro em contato com você e dou as dicas de como localizar quem está provocando o problema.

Jonga Olivieri disse...

Vamos tirar as dúvidas.
Meu e-mail é: olivieri.joao71@gmail.com
Taí, fiquei curioso e aguardo as dicas...

Joelma disse...

Muito abranjente a matéria do professor em que aborda a concentração de renda no Brasil, independente da ascenção da Classe C, coisa que vem acontecendo apenas porque podem "enriquecer" sem ameaçar a riqueza absoluta dos mais abastados.
Na verdade os privilégios não deixaram de existir. As classes menos favorecidas se expandem para proporcionar mais consumo.
É o fim definitivo do semi-feudalismo e o a consolidação do capitalismo no Brasil.

prof. disse...

Prof. Jorge,
não esqueça que a miséria extingue qualquer sentimento de nobreza, justeza ou outro "eza" qualquer nas pessoas. O Lula e a Dilma aumentaram o prato de comida na mesa dos milhões miseráveis do Brasil. Por causa disto ganharam e ainda ganharão muitas eleições. Enquanto isto a selvageria capitalista tupiniquim toma conta do Brasil com algumas proezas lá fora.Digo isto com o perdão dos selvagens que são animais pacíficos, ordeiros e solidarios. Israel Pinheiro

André Setaro disse...

Radiografia perfuratriz feita pelo Professor Jorge Moreira. Deveria estar publicada em todos os jornais brasileiros.