Mais um ensaio do professor Jorge
Moreira direto dos Estados Unidos...
Na quinta feira
à noite (um dia depois da quarta feira de cinzas), enquanto falava num
seminário sobre a cultura brasileira, uma aluna me perguntou o que eu pensava
do carnaval brasileiro. Respondi dizendo que o carnaval era um assunto muito
amplo e que não dispunha de tempo suficiente para analisá-lo. No entanto, para
não deixar a pergunta sem resposta, trataria de falar um pouco sobre um dos
aspectos que me parecia dos mais importantes para entender não somente a forma capitalista
neo liberal do carnaval mas para entender a forma capitalista neo liberal de quase todas as atividades socioeconômico
culturais na sociedade brasileira.
Então comecei
a falar da relação entre a concentração da riqueza nos bolsos de uma minoria de
brasileiros (e a decorrente injustiça social para a maioria) e a apropriação do
carnaval pelos donos do poder. Para facilitar as minhas idéias, utilizei como
exemplo concreto a reportagem intitulada CARNAVAL
DO APARTHEID (1)
da Revista da Metrópole que
contem informações e dados atualizados sobre o carnaval da cidade de Salvador
no estado da Bahia, Brasil.
Certamente
que os dados revelados pela reportagem da Revista
da Metrópole (desconhecidos pela maioria da população) foram colocadas em
vários blogues brasileiros e não
apresentam uma boa imagem das autoridades governamentais nem das
instituições carnavalescas ou da minoria de “espertos” exploradores que lucram
às custas da alienação popular.
No final da
minha fala, uma aluna comentou que ela conhecia brasileiros nos EUA que faziam
apologia do carnaval, do samba e do futebol; que nas festas e celebrações
sempre cantavam a música Pais Tropical
(“Moro num pais tropical abençoado por deus e bonito por natureza. Mais que
beleza! Em fevereiro tem carnaval... Sou flamengo...”); que eu era o primeiro
brasileiro que ela conhecia que não fazia apologia do carnaval, do samba ou do
futebol do Brasil. Porque? Perguntou ela.
Então lhe
disse que eu também gostava do Brasil e da música País tropical de Jorge Ben mas que não tinha que fazer apologia da
cultura brasileira pois eu não trabalhava para a Secretaria de Turismo, nem
para o Consulado brasileiro, nem para agência de viagens, nem era um cantor
popular que necessitasse vender milhões de CDs ou DVDs para as massas.
Uma boa parte
dos assistentes riram da minha irônica resposta, mas não disseram nada. De repente, outra aluna me perguntou o
que eu pensava da reportagem do jornal New
York Times que informava que brasileiros milionários e bilionários estavam
comprando os apartamentos mais caros da cidade de Nova Iorque, pagando à vista
e sem discutir seus preços, que variaram entre cinco milhões e quinze milhões
de dólares.
Para os que não puderam ler, informo que o jornal estadunidense New York Times de 16 de fevereiro de
2012 dedicou uma extensa reportagem intitulada “Brazil
Booms, and Brokers Smile” sobre a invasão de brasileiros
ricos em Nova Iorque e Miami. Estes brasileiros compram imóveis milionários por
preços que superam os do mercado estadunidense. Entre os compradores,
destacam-se executivos dos setores de finanças e commodities, entre 30 e 40 anos de idade, afirma o NYT.Eu falei
para a aluna que tinha lido o New York
Times e que a reportagem do jornal estadunidense reforçava tudo aquilo que
eu tinha dito sobre a concentração de renda nos bolsos de uma minoria de
privilegiados e a forma capitalista atual da sociedade nacional.
Também falei que deveríamos perguntar: Quem são estes bilionários
e de onde vem esta camada rica do Brasil, “o pais
tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”? Em que classe social
eles se originam? E que modelo de desenvolvimento socioeconômico cultural é este
que só beneficia um grupo bem reduzidos de privilegiados na sociedade
brasileira?
Os
poucos brasileiros que não ficaram cegos pela propaganda neo liberal, demagógica
e populista do governo e da mídia brasileira, compreenderão que grande
porcentagem de riqueza acumulada por essa minoria privilegiada foi realizada
durante o governo de Fernando Henrique Cardoso do PSDB (2) (Partido da Social Democracia Brasileira) e do Luiz Inácio Lula da
Silva, o “Lula” do PT (Partido dos Trabalhadores).
Não
são poucos os brasileiros que acreditam e falam que governo Lula reduziu a taxa
de pobreza do Brasil, mas isso não passa, na minha opinião, de uma grande mistificação. Ganhar US$ 3 dólares
por dia representa apenas um dólar em cima do nível de pobreza definido pelo
Banco Mundial (3) mas isto não significa nenhuma derrota da pobreza ou da
injustiça social do país.
Devido
ao enriquecimento dos setores beneficiados pelos gigantescos lucros da
especulação financeira, das exportações de grãos, da exportação de carne, da
superexploração da força de trabalho, e da corrupção administrativa, o país tem
sido vitima nestes anos de governo PSDB e PT da maior concentração de
bilionários da sua história.
Graças
ao modelo neo liberal brasileiro de F. H. Cardoso, de Lula da Silva e agora de
Dilma Rousseff, estamos sob um modelo socioeconômico cultural que favorece a
intensa concentração da riqueza nos bolsos de uma classe super rica que agora
tem o poder de estender seu consumo à escala global e no estilo predatório
estadunidense: o mesmo modo de consumo que tem levado a sistemática destruição
da natureza e as sistemáticas guerras imperialistas contra os países pobres do
mundo.
Assim,
quando os brasileiros e estrangeiros falam sobre "o sucesso do
Brasil", se esquecem de mencionar que os brasileiros beneficiados pelo sucesso
pertencem exclusivamente a um setor da cúpula da nossa sociedade; um setor que
representa apenas 5% da população nacional.
Deste modo, não existe duvida de que estamos diante do mesmo modelo
socioeconômico cultural (capitalista e neo liberal) de classes polarizadas que
tem conduzido a gigantesca concentração de riqueza, às crises econômico financeiras
e a ruína geral de maior parte da população de trabalhadores e pobres do Brasil
e do mundo.
Mas
quando e como falar de classes sociais polarizadas e de luta de classes no Brasil
se o PT, seu governo, seus funcionários, a bolsa família e a sua mídia
domesticada vivem para construir um discurso demagógico e populista com o
objetivo de convencer a Nação e ao povo brasileiro de que as lutas de classes
desapareceram da realidade brasileira?
1. O CARNAVAL DO APARTHEID:
Faturamento de um camarote de
carnaval: R$ 14,4 milhões. Taxa que paga à prefeitura: R$10,58.
Ser empresário de bloco ou camarote no
Carnaval, na Bahia, não tem preço!
Números
reveladores do Carnaval da Bahia, foram publicados na Revista da
Metrópole
desta sexta:
O bloco Camaleão fatura, sozinho,
apenas com a venda de abadás, R$ 6,65 milhões.
O Me
Abraça fatura R$ 5,4 milhõesdo mesmo jeito, fora patrocínios.
O Corujas fatura 4,94 milhões.
|
Tudo isso em apenas três dias.
Já os camarotes faturam assim:
O do Reino, R$ 7,2 milhões;
Nana Banana, R$ 6,2 milhões;
Camarote Salvador, R$ 14,4 milhões.
Tudo isso fora os patrocínios.
Mas, por outro lado, sabem quanto um
empresário paga de taxa à Prefeitura para montar um camarote no circuito do
Carnaval?
R$ 10,58 de taxa inicial e mais 42,34
por metro quadrado. Uma pechincha. Um achado. Uma oportunidade da China. Ou
seja, os empresários não bancam, nem de longe, o custo da festa.
Então, quem banca? O Governo do Estado e
a Prefeitura investem R$ 30 milhões para colocar polícia na rua, realizar a
limpeza, montar e desmontar toda infra-estrutura, pagar equipes de saúde, etc,
etc, etc.
Porém lembrem-se: o dinheiro do Governo
do Estado e da Prefeitura sai do nosso bolso.
ENQUANTO ISSO!!!... O hospital “Martagão
Gesteira” declara que a Prefeitura de Salvador há dois meses não paga sua
dívida de R$ 2 milhões e o hospital corre o risco de fechar este mês e 700 crianças
ficarão sem tratamento, mas para o carnaval nos bairros da Barra Ondina
foram gastos sem titubear R$ 60 milhões pelos gestores municipal e
estadual.
O carnaval é prioritário, a saúde não!
E considerando que a pesquisa divulgada
recentemente no A Tarde constatou que 76% da população de Salvador não pula
carnaval, e mesmo os 24% que pulam ficam espremidos entre tapumes e cordas de
blocos, bancar essa festa imensa com dinheiro público fica mais injusto ainda.
Tá na hora dessa conta mudar de mãos: quem fatura com o Carnaval é que tem que
bancar a festa.
Vejam no link: http://www.r2cpress.com.br/v1/2011/04/03/carnaval-do-apartheid/
Se quiser consultar outros blogs vejam o link:
2. O livro recente “A Privataria
Tucana” do jornalista Amaury Ribeiro Jr. denuncia ampla e contundentemente os
esquemas de corrupção (corruptos e corruptores) do PDS no governo de Fernando
Henrique Cardoso, José Serra e afiliados.
Vejam no link: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-“privataria-tucana”-de-amaury-ribeiro-jr-chega-as-bancas-cartacapital-relata-o-que-ha-no-livro/
3. Vejam os dados da pobreza no mundo e
na America Latina de acordo ao Banco Mundial no link abaixo:
5 comentários:
Amigo, você tem que prestar atenção numa coisa: os seus seguidores estacionaram.
Pois bem, na verdade você está bloqueado por alguém. Não, não se trata de nada paranormal, de olho gordo nem nada no gênero. É um bloqueio invasivo bem real... alguém que conseguiu fazer isto usando a própria Blogger.
Se quiser saber, publique seu email pessoal que eu entro em contato com você e dou as dicas de como localizar quem está provocando o problema.
Vamos tirar as dúvidas.
Meu e-mail é: olivieri.joao71@gmail.com
Taí, fiquei curioso e aguardo as dicas...
Muito abranjente a matéria do professor em que aborda a concentração de renda no Brasil, independente da ascenção da Classe C, coisa que vem acontecendo apenas porque podem "enriquecer" sem ameaçar a riqueza absoluta dos mais abastados.
Na verdade os privilégios não deixaram de existir. As classes menos favorecidas se expandem para proporcionar mais consumo.
É o fim definitivo do semi-feudalismo e o a consolidação do capitalismo no Brasil.
Prof. Jorge,
não esqueça que a miséria extingue qualquer sentimento de nobreza, justeza ou outro "eza" qualquer nas pessoas. O Lula e a Dilma aumentaram o prato de comida na mesa dos milhões miseráveis do Brasil. Por causa disto ganharam e ainda ganharão muitas eleições. Enquanto isto a selvageria capitalista tupiniquim toma conta do Brasil com algumas proezas lá fora.Digo isto com o perdão dos selvagens que são animais pacíficos, ordeiros e solidarios. Israel Pinheiro
Radiografia perfuratriz feita pelo Professor Jorge Moreira. Deveria estar publicada em todos os jornais brasileiros.
Postar um comentário