O professor Jorge Vital de
Brito Moreira nos envia direto dos Estados Unidos esta análise sobre as eleições
primárias naquele país.
Confesso que tenho que lutar muito
e me esforçar bastante para vencer meu sentimento de indignação e repulsa, para
escrever sobre as eleições do suposto “sistema democrático” dos EUA que
(digamos sem papas na língua), de “democrático” não tem nada, a não ser a
mítica palavra.
Como se fosse
pouca a manipulação ideológica em torno da palavra “democracia”, o termo
“democrata” é também usado para dar nome a um partido político (extremamente
demagógico e oportunista) que junto ao partido republicano, detém o monopólio
de ganhar todas as eleições que se realizam nos EUA.
Esta
realidade é mais que suficiente para que possamos afirmar que não existe
sistema democrático no país. O que realmente existe é uma ditadura de dois
partidos onde ambos servem e defendem igualmente os interesses da plutocracia
estadunidense, ou seja, daqueles que possuem ou controlam os grandes bancos, as
grandes companhias de petróleo e a indústria armamentista.
Para o jovem
leitor que ainda não sabe, informo que os EUA possui a campanha eleitoral mais
cara e corrupta do mundo e este ano o seu custo econômico baterá todos os
recordes anteriores, ultrapassando a casa dos muitos bilhões de dólares. Com a
única exceção do candidato Mitt Romney (que é um dos homens mais ricos dos
EUA), todos os outros candidatos, incluindo o presidente Barack Obama, dependem
e dependerão do dinheiro das grandes corporações para financiar as suas
campanhas eleitorais e para serem eleitos.
Assim, não
existe nenhuma diferença essencial e real entre o partido democrata e o
republicano. Ambos são profundamente corruptos e completamente anti democráticos.
Somente dentro das coordenadas anteriores é
que se pode realmente entender o que é (dentro do sistema estadunidense), uma eleição primária (as primárias) pois
ela é definida, em abstrato e “inocentemente”, como uma eleição
interna a cada um dos dois partidos políticos para selecionar um candidato à
eleição presidencial.
Como se pode
deduzir, não existe nada de importante ou sério relacionado com as eleições primárias.
Nem as eleições primárias nem as eleições oficiais mudarão coisa alguma no
sistema político e anti democrático deste país. É sempre a mesma repetição do
mesmo velho sistema capitalista liberal corrompido de sempre (same old, same old and let’s get back to the
business as usual).
E apesar
dessa absurda realidade, alguns pensam que se a maioria dos estadunidenses não
estivessem tão estupidificados pela indústria cultural e ideológica do
entretenimento (TV, rádio, imprensa corporativas e os filmes de Hollywood entre
outros), provavelmente se dariam conta de que as eleições nos EUA (primárias ou
oficiais) não passam de um grande espetáculo midiático para continuar
estupidificando (com a sua aparência de coisa importante e decisiva para a
população alienada), os indivíduos votantes,
reproduzindo a mesma dominação de uma minoria (1%) sobre a grande
maioria dos estadunidenses (99%).
Em poucas palavras, nem a escolha
de Barack Obama para um segundo período presidencial pelo partido democrata, ou
de um dos candidatos republicanos (Rick Santorum, Mitt Romney, Newt Gingrich,
Ron Paul) que será escolhido pelas eleições primárias terão as condições ou a
vontade política para mudar a produção e reprodução do atual estado de coisas
(a crise econômica, por exemplo) que acontecem dentro ou fora dos EUA.
Assim, farei um resumo breve da
biografia dos cinco candidatos para que o leitor tenha uma ideia mais
aproximada dos interesses políticos e econômicos que eles representarão se
forem eleitos presidente dos EUA.
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Willard Mitt Romney,
nascido em Detroit em 12 de março de 1947, é um político do Partido Republicano
que foi pré candidato à presidência dos Estados Unidos para a eleição de 2008,
mas perdeu o assento para o candidato republicano John McCain. Ele foi
governador de Massachusetts entre 2002 a 2007, e é membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias (conhecida como a Igreja
Mórmon).
Neste
2012, Romney, um superbilionário, voltou a concorrer nas eleições primárias,
colocando-se atualmente como o pré candidato com o maior numero de votos e com
grande probabilidade de ser o escolhido para disputar a presidência dos Estados
Unidos nas próximas eleições pelo Partido Republicano.
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John Richard “Rick” Santorum,
nascido na Virginia em 10 de maio de 1958 é um político que no passado foi
eleito duas vezes para representar o estado da Pensilvânia: a primeira vez na
Câmara dos Deputados (1991-1995) a no Senado (1995-2007) dos EUA. Ele é
identificado por assumir fortes posições conservadoras. Santorum é um católico
praticante (ligado ao “Opus Dei”) que
tem condenado sempre o casamento homossexual no país. No momento é o segundo
candidato mais votados nas primárias.
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Newt Gingrich,
nascido em Harrisburgo, Pensilvania, é um político que se destacou como forte
líder republicano quando o partido tomou, em 1994, o controle da Câmara dos
Representantes pela primeira vez depois de 40 anos. Gingrich tornou-se então
presidente da Câmara em 1995 e foi considerado a “Personalidade do Ano” pela
revista Time.
Gingrich tem sido denunciado como um político
hipócrita e corrupto mas que continua a ser uma figura influente no Partido
Republicano; no entanto, até agora, ele
não é considerado como um dos favoritos
para a nomeação republicana para as eleições presidenciais de 2012.
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Ron Paul,
nascido em Pittsburgh em 20 de agosto de 1935 é um político do partido
republicano na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Ron Paul foi
candidato à presidência dos Estados Unidos em 1988 e 2008 (sem sucesso), mas
voltou a ser candidato nas eleições de 2012.
Ron
Paul é o pai do senador Rand Paul, do Kentucky, reconhecido com um líder linha dura
do Tea Party. No Congresso, Ron Paul adere
a princípios conservadores e libertários e é o candidato menos votado entre os
competidores.
Como
Já mencionamos, nenhum dos candidatos do partido republicano apresenta
características pessoais, políticas ou econômicas, nem se evidencia pela tendência
ou atividade (ações) para mudar as regras do jogo ou o próprio jogo
estabelecido.
Por
último, vamos dar uma olhada no candidato Barack Obama e fazer uma rápida
revisão dele como presidente (o candidato único do partido democrata nas
eleições presidenciais de 2012) para poder melhor situá-lo do lado opositor aos
candidatos republicanos.
Barack Obama,
nascido em Honolulu, Havaí, em 1961, é um político dos Estados Unidos que foi
eleito senador democrata para representar o estado de Chicago na câmara alta.Em 2008,
concorreu às eleições primárias do Partido Democrata, enfrentando a Hillary
Clinton, quando ganhou as primárias e passou a enfrentar o republicano John
McCain rumo à presidência da república. Obama venceu as eleições elegendo-se
como o 44 º presidente estadunidense e o primeiro presidente negro da história
dos EUA. Eleito pelo Partido Democrata, começou a governar o país em 2008
e terminará a sua gestão neste 2012.Se
decidirmos avaliar o presidente Barack Obama depois de quatro anos de atuação
na área política, social e econômica do país, o resultado será, na minha
opinião, profundamente negativo e quase que inteiramente condenável.Vamos
mencionar apenas uns poucos acontecimentos da política interna e externa dos
EUA durante o sua administração. O primeiro que devemos reconhecer
politicamente é que o Governo Barack Obama consiste em uma continuação e em um
aprofundamento das políticas da extrema direita executadas pelo seu antecessor,
George W. Bush. Em muitos sentidos, o governo Obama realiza uma administração
(quem imaginaria?) ainda mais desumana que a de George W. Bush.Internamente
(dentro dos EUA), as políticas econômicas do presidente Barack Obama que têm
sido executadas para resgatar os CEOs criminosos de Wall Street (à custa de detentores
de hipotecas estadunidenses) se caracterizam por ser um prolongamento das
políticas econômicas do seu antecessor; tais políticas vêm destruindo as
esperanças de milhões de estadunidenses de algum dia poder realizar o “sonho
americano”: já existem dois milhões de famílias jogadas na rua por causa dessa
política, e calcula-se que as vítimas desta fraude gigantesca serão em torno de
cinco milhões nos próximos dois ou três anos.Externamente
(fora dos EUA), o presidente Barak Obama, ganhador do premio Nobel da Paz, tem
prolongado descaradamente as guerras imperialistas iniciadas por G.W. Bush
contra o Iraque, o Afeganistão e o Pasquistão, ordenando os assassinatos de
cidadãos estrangeiros e estadunidenses pelo mundo afora. Como se fora pouco, o
presidente Obama tem se submetido radicalmente aos interesses políticos do
governo de Israel (de Natanyahu e do AIPAC, o maior lobby israelita nos EUA) para o Oriente Médio.Como
sabemos, Obama continua ordenando o envio de aviões não tripulados –drones–
para massacrar milhares de pessoas indefesas e a opinião pública estadunidense
(enganada pela mídia corporativa e pela indústria cultural) não sabe de nada. A
opinião publica dos EUA não toma conhecimento da barbárie que o país tem
implantado nos países do terceiro mundo com um objetivo fundamental: defender e
expandir, através das guerras imperialistas, os interesses econômicos das
corporações petrolíferas, do Complexo Industrial Militar e do capital
financeiro (dos grandes bancos estadunidenses). Assim, de alguma maneira, a imagem
de Barack Obama como individuo “progressista” não tem sido afetada pela
realidade das abomináveis ações do presidente dos EUA no exterior.Para
lograr este objetivo imperial, o presidente Obama não titubeia em sacrificar,
restringir ou cortar constantemente (day
after day) as liberdades civis que foram estabelecidas pela Constituição
dos Estados Unidos para os cidadãos estadunidenses.O
mais irônico é o fato que o denominado "progressista" Barack Obama já
superou o espantoso recorde de seu antecessor, George Bush, em termos de
violações da justiça e dos direitos humanos nacionais e internacionais; e as
promessas, feitas durante sua campanha presidencial, todas foram levadas pelo
vento (Gone with the Wind). Por
exemplo, Guantánamo e outros centros de tortura dos EUA, nunca foram fechados.
Parte das tropas estacionadas no Iraque foram retiradas, mas o presidente
deixou um grande número de "assessores" (mercenários) para prolongar
a ocupação territorial, alem de continuar as guerras no Afeganistão e as
hostilidades no Paquistão.Para
enriquecer o currículo do presidente prêmio Nobel da paz, o jornal New York Times
revelou que, por detrás das aparências, Washington foi principal ator da Guerra
contra a Líbia, ou seja, o país é o responsável, junto à OTAN, do massacre e
dos crimes cometidos contra o povo líbio para “livrá-lo” do governo de Muammar Khaddafi.Poderíamos
continuar com a lista quase interminável das monstruosas decisões executivas
realizadas pela administração atual dos EUA mas o tempo e o espaço que temos
não seria suficiente para analisá-las.
Em resumo, nas próximas eleições dos EUA, nenhum dos
candidatos que for eleito presidente, preencherá os requisitos para realizar um
governo realmente democrático. Em poucas palavras, se dependermos de candidatos
que representam os interesses da plutocracia capitalista não haverá nenhuma luz
no fim do túnel para a humanidade trabalhadora (estadunidenses ou não). Enquanto a produção e reprodução da sociedade
depender de rituais públicos fraudulentos para legitimar a exploração econômica
e a dominação política de uma classe social minoritária sobre a classe
trabalhadora não haverá nenhuma esperança
para a espécie humana num futuro próximo.
4 comentários:
A pergunta é: o que os estadunidenses podem fazer para mudar isso? se podem... será que vai adiantar?
É uma questão delicada.
Jeito até tem. Mas não dentro do sistema estabelecido em que as cartas estão marcadas para o 1% da população mais poderosa.
Os 99% tem que se mobilizar e tentar mudar alguma coisa. Como já está sendo feito através dos movimentos "Ocupar Wall Street", etc...
O Professor Jorge Moreira costuma dar à luz. Explico melhor: fazer ver os labirintos da pretensa democracia estadunidense e, porque um scholar, dotado de suas ferramentas marxistas, esclarece as contradições do capitalismo e revela aspectos que não são propagados pela mídia tradicional. Seus textos revelam sempre o gosto pelas análises perfuratrizes, contribuindo sempre para o esclarecimento. Nesse ponto é que digo que ele nos dá à luz.
A Plutocracia Yankee é representada pelo Pica-Pau dos desenhos animados, mas na falta do mesmo, não hesitam em travestir um urubu para fazer os mesmos malabarismos que saem mais violentos porque urubu só se sente bem no meio da carniça!
Aqui embaixo, a nossa plutocacracia é mais modesta e sem criatividade, escolheram o tucano para os representar e na falta desta ave ou sua recusa em participar da farsa, entregaram o papel aos ratos, hienas, piranhas, ariranhas, tatus e a seres unicelulares como o Treponema Pallidum! Estamos fritos e cozidos do mesmo jeito!
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