quarta-feira, 11 de abril de 2012

A farsa eleitoral nos EUA


O professor Jorge Vital de Brito Moreira nos envia direto dos Estados Unidos esta análise sobre as eleições primárias naquele país.

Confesso que tenho que lutar muito e me esforçar bastante para vencer meu sentimento de indignação e repulsa, para escrever sobre as eleições do suposto “sistema democrático” dos EUA que (digamos sem papas na língua), de “democrático” não tem nada, a não ser a mítica palavra.
Como se fosse pouca a manipulação ideológica em torno da palavra “democracia”, o termo “democrata” é também usado para dar nome a um partido político (extremamente demagógico e oportunista) que junto ao partido republicano, detém o monopólio de ganhar todas as eleições que se realizam nos EUA.
Esta realidade é mais que suficiente para que possamos afirmar que não existe sistema democrático no país. O que realmente existe é uma ditadura de dois partidos onde ambos servem e defendem igualmente os interesses da plutocracia estadunidense, ou seja, daqueles que possuem ou controlam os grandes bancos, as grandes companhias de petróleo e a indústria armamentista.
Para o jovem leitor que ainda não sabe, informo que os EUA possui a campanha eleitoral mais cara e corrupta do mundo e este ano o seu custo econômico baterá todos os recordes anteriores, ultrapassando a casa dos muitos bilhões de dólares. Com a única exceção do candidato Mitt Romney (que é um dos homens mais ricos dos EUA), todos os outros candidatos, incluindo o presidente Barack Obama, dependem e dependerão do dinheiro das grandes corporações para financiar as suas campanhas eleitorais e para serem eleitos.
Assim, não existe nenhuma diferença essencial e real entre o partido democrata e o republicano. Ambos são profundamente corruptos e completamente anti democráticos.
 Somente dentro das coordenadas anteriores é que se pode realmente entender o que é (dentro do sistema estadunidense), uma eleição primária (as primárias) pois ela é definida, em abstrato e “inocentemente”, como uma eleição interna a cada um dos dois partidos políticos para selecionar um candidato à eleição presidencial.
Como se pode deduzir, não existe nada de importante ou sério relacionado com as eleições primárias. Nem as eleições primárias nem as eleições oficiais mudarão coisa alguma no sistema político e anti democrático deste país. É sempre a mesma repetição do mesmo velho sistema capitalista liberal corrompido de sempre (same old, same old and let’s get back to the business as usual).
E apesar dessa absurda realidade, alguns pensam que se a maioria dos estadunidenses não estivessem tão estupidificados pela indústria cultural e ideológica do entretenimento (TV, rádio, imprensa corporativas e os filmes de Hollywood entre outros), provavelmente se dariam conta de que as eleições nos EUA (primárias ou oficiais) não passam de um grande espetáculo midiático para continuar estupidificando (com a sua aparência de coisa importante e decisiva para a população alienada), os indivíduos votantes,  reproduzindo a mesma dominação de uma minoria (1%) sobre a grande maioria dos estadunidenses (99%).
Em poucas palavras, nem a escolha de Barack Obama para um segundo período presidencial pelo partido democrata, ou de um dos candidatos republicanos (Rick Santorum, Mitt Romney, Newt Gingrich, Ron Paul) que será escolhido pelas eleições primárias terão as condições ou a vontade política para mudar a produção e reprodução do atual estado de coisas (a crise econômica, por exemplo) que acontecem dentro ou fora dos EUA.
Assim, farei um resumo breve da biografia dos cinco candidatos para que o leitor tenha uma ideia mais aproximada dos interesses políticos e econômicos que eles representarão se forem eleitos presidente dos EUA.
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Willard Mitt Romney, nascido em Detroit em 12 de março de 1947, é um político do Partido Republicano que foi pré candidato à presidência dos Estados Unidos para a eleição de 2008, mas perdeu o assento para o candidato republicano John McCain. Ele foi governador de Massachusetts entre 2002 a 2007, e é membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (conhecida como a Igreja Mórmon).
Neste 2012, Romney, um superbilionário, voltou a concorrer nas eleições primárias, colocando-se atualmente como o pré candidato com o maior numero de votos e com grande probabilidade de ser o escolhido para disputar a presidência dos Estados Unidos nas próximas eleições pelo Partido Republicano.
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John Richard “Rick” Santorum, nascido na Virginia em 10 de maio de 1958 é um político que no passado foi eleito duas vezes para representar o estado da Pensilvânia: a primeira vez na Câmara dos Deputados (1991-1995) a no Senado (1995-2007) dos EUA. Ele é identificado por assumir fortes posições conservadoras. Santorum é um católico praticante (ligado ao “Opus Dei”) que tem condenado sempre o casamento homossexual no país. No momento é o segundo candidato mais votados nas primárias.
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Newt Gingrich, nascido em Harrisburgo, Pensilvania, é um político que se destacou como forte líder republicano quando o partido tomou, em 1994, o controle da Câmara dos Representantes pela primeira vez depois de 40 anos. Gingrich tornou-se então presidente da Câmara em 1995 e foi considerado a “Personalidade do Ano” pela revista Time.
Gingrich  tem sido denunciado como um político hipócrita e corrupto mas que continua a ser uma figura influente no Partido Republicano;  no entanto, até agora, ele não  é considerado como um dos favoritos para a nomeação republicana para as eleições presidenciais de 2012.
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Ron Paul, nascido em Pittsburgh em 20 de agosto de 1935 é um político do partido republicano na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Ron Paul foi candidato à presidência dos Estados Unidos em 1988 e 2008 (sem sucesso), mas voltou a ser candidato nas eleições de 2012.
Ron Paul é o pai do senador Rand Paul, do Kentucky, reconhecido com um líder linha dura do Tea Party. No Congresso, Ron Paul adere a princípios conservadores e libertários e é o candidato menos votado entre os competidores.
Como Já mencionamos, nenhum dos candidatos do partido republicano apresenta características pessoais, políticas ou econômicas, nem se evidencia pela tendência ou atividade (ações) para mudar as regras do jogo ou o próprio jogo estabelecido.
Por último, vamos dar uma olhada no candidato Barack Obama e fazer uma rápida revisão dele como presidente (o candidato único do partido democrata nas eleições presidenciais de 2012) para poder melhor situá-lo do lado opositor aos candidatos republicanos.
Barack Obama, nascido em Honolulu, Havaí, em 1961, é um político dos Estados Unidos que foi eleito senador democrata para representar o estado de Chicago na câmara alta.Em 2008, concorreu às eleições primárias do Partido Democrata, enfrentando a Hillary Clinton, quando ganhou as primárias e passou a enfrentar o republicano John McCain rumo à presidência da república. Obama venceu as eleições elegendo-se como o 44 º presidente estadunidense e o primeiro presidente negro da história dos EUA. Eleito pelo Partido Democrata, começou a governar o país em 2008 e  terminará a sua gestão neste 2012.Se decidirmos avaliar o presidente Barack Obama depois de quatro anos de atuação na área política, social e econômica do país, o resultado será, na minha opinião, profundamente negativo e quase que inteiramente condenável.Vamos mencionar apenas uns poucos acontecimentos da política interna e externa dos EUA durante o sua administração. O primeiro que devemos reconhecer politicamente é que o Governo Barack Obama consiste em uma continuação e em um aprofundamento das políticas da extrema direita executadas pelo seu antecessor, George W. Bush. Em muitos sentidos, o governo Obama realiza uma administração (quem imaginaria?) ainda mais desumana que a de George W. Bush.Internamente (dentro dos EUA), as políticas econômicas do presidente Barack Obama que têm sido executadas para resgatar os CEOs criminosos de Wall Street (à custa de detentores de hipotecas estadunidenses) se caracterizam por ser um prolongamento das políticas econômicas do seu antecessor; tais políticas vêm destruindo as esperanças de milhões de estadunidenses de algum dia poder realizar o “sonho americano”: já existem dois milhões de famílias jogadas na rua por causa dessa política, e calcula-se que as vítimas desta fraude gigantesca serão em torno de cinco milhões nos próximos dois ou três anos.Externamente (fora dos EUA), o presidente Barak Obama, ganhador do premio Nobel da Paz, tem prolongado descaradamente as guerras imperialistas iniciadas por G.W. Bush contra o Iraque, o Afeganistão e o Pasquistão, ordenando os assassinatos de cidadãos estrangeiros e estadunidenses pelo mundo afora. Como se fora pouco, o presidente Obama tem se submetido radicalmente aos interesses políticos do governo de Israel (de Natanyahu e do AIPAC, o maior lobby israelita nos EUA) para o Oriente Médio.Como sabemos, Obama continua ordenando o envio de aviões não tripulados –drones– para massacrar milhares de pessoas indefesas e a opinião pública estadunidense (enganada pela mídia corporativa e pela indústria cultural) não sabe de nada. A opinião publica dos EUA não toma conhecimento da barbárie que o país tem implantado nos países do terceiro mundo com um objetivo fundamental: defender e expandir, através das guerras imperialistas, os interesses econômicos das corporações petrolíferas, do Complexo Industrial Militar e do capital financeiro (dos grandes bancos estadunidenses). Assim, de alguma maneira, a imagem de Barack Obama como individuo “progressista” não tem sido afetada pela realidade das abomináveis ações do presidente dos EUA no exterior.Para lograr este objetivo imperial, o presidente Obama não titubeia em sacrificar, restringir ou cortar constantemente (day after day) as liberdades civis que foram estabelecidas pela Constituição dos Estados Unidos para os cidadãos estadunidenses.O mais irônico é o fato que o denominado "progressista" Barack Obama já superou o espantoso recorde de seu antecessor, George Bush, em termos de violações da justiça e dos direitos humanos nacionais e internacionais; e as promessas, feitas durante sua campanha presidencial, todas foram levadas pelo vento (Gone with the Wind). Por exemplo, Guantánamo e outros centros de tortura dos EUA, nunca foram fechados. Parte das tropas estacionadas no Iraque foram retiradas, mas o presidente deixou um grande número de "assessores" (mercenários) para prolongar a ocupação territorial, alem de continuar as guerras no Afeganistão e as hostilidades no Paquistão.Para enriquecer o currículo do presidente prêmio Nobel da paz, o jornal New York Times revelou que, por detrás das aparências, Washington foi principal ator da Guerra contra a Líbia, ou seja, o país é o responsável, junto à OTAN, do massacre e dos crimes cometidos contra o povo líbio para “livrá-lo” do governo de  Muammar Khaddafi.Poderíamos continuar com a lista quase interminável das monstruosas decisões executivas realizadas pela administração atual dos EUA mas o tempo e o espaço que temos não seria suficiente para analisá-las.
Em resumo, nas próximas eleições dos EUA, nenhum dos candidatos que for eleito presidente, preencherá os requisitos para realizar um governo realmente democrático. Em poucas palavras, se dependermos de candidatos que representam os interesses da plutocracia capitalista não haverá nenhuma luz no fim do túnel para a humanidade trabalhadora (estadunidenses ou não).  Enquanto a produção e reprodução da sociedade depender de rituais públicos fraudulentos para legitimar a exploração econômica e a dominação política de uma classe social minoritária sobre a classe trabalhadora não haverá nenhuma esperança para a espécie humana num futuro próximo.

4 comentários:

Simey Lopes disse...

A pergunta é: o que os estadunidenses podem fazer para mudar isso? se podem... será que vai adiantar?

Jonga Olivieri disse...

É uma questão delicada.
Jeito até tem. Mas não dentro do sistema estabelecido em que as cartas estão marcadas para o 1% da população mais poderosa.
Os 99% tem que se mobilizar e tentar mudar alguma coisa. Como já está sendo feito através dos movimentos "Ocupar Wall Street", etc...

André Setaro disse...

O Professor Jorge Moreira costuma dar à luz. Explico melhor: fazer ver os labirintos da pretensa democracia estadunidense e, porque um scholar, dotado de suas ferramentas marxistas, esclarece as contradições do capitalismo e revela aspectos que não são propagados pela mídia tradicional. Seus textos revelam sempre o gosto pelas análises perfuratrizes, contribuindo sempre para o esclarecimento. Nesse ponto é que digo que ele nos dá à luz.

Marcos Pinto Basto disse...

A Plutocracia Yankee é representada pelo Pica-Pau dos desenhos animados, mas na falta do mesmo, não hesitam em travestir um urubu para fazer os mesmos malabarismos que saem mais violentos porque urubu só se sente bem no meio da carniça!
Aqui embaixo, a nossa plutocacracia é mais modesta e sem criatividade, escolheram o tucano para os representar e na falta desta ave ou sua recusa em participar da farsa, entregaram o papel aos ratos, hienas, piranhas, ariranhas, tatus e a seres unicelulares como o Treponema Pallidum! Estamos fritos e cozidos do mesmo jeito!