Jorge Vital de Brito Moreira
Gostaria de compartilhar com os leitores
de “Novas Pensatas”,
quatro importantes enunciados ideológicos que têm colaborado para configurar o modo
de ser politicamente alienado de indivíduos e classes sociais nos Estados
Unidos da América na atualidade, ajudando, na minha opinião, a manter a
hegemonia da classe dominante sobre a maioria da população do país.
Os enunciados (slogans)
são discursos ideológicos repetidos diariamente no país e podem ser
sintetizados pelas seguintes sentenças: “It
is just a job” (É apenas um trabalho); “Get the job done” (Faça o trabalho); “The greatest democracy in the world” (A sociedade mais democrática
do mundo); “All politicians lie”
(Todos os políticos mentem).
(Como o leitor poderá
observar este texto procura estabelecer relações entre discursos ideológicos e
interesses políticos e sociais, utilizando a noção de ideologia como “ideias que permitem legitimar um poder
político dominante numa sociedade formada e dividida pelas lutas entre classes
sociais”).
“It is just a job” (É apenas um trabalho)
Vivendo nos EUA, fico
cansado de ler, escutar e de assistir a personalidades públicas (militares,
políticos, contadores, advogados e artistas) deste país afirmarem nos jornais,
nas revistas e na TV, que profissionalmente estão fazendo o impossível para o
bem estar da sociedade, da cultura e do seu povo.
Também tenho escutado esse
mesmo tipo de declaração do estadunidense médio, ou seja, das bocas de vizinhos,
de pessoas normais, de colegas de profissão (professores universitários), porem
o que mais me surpreende é observar as reações que essas pessoas mostram quando
se questiona a natureza duvidosa dos seus trabalhos.
Seja porque o que fazem é
eticamente reprovável, de controvertida ilegalidade ou porque implica uma possível
criminalidade. Cada vez que ouvem criticas às suas atividades profissionais,
elas tomam uma posição defensiva e reagem ao questionamento, apelando para o slogan
“It is just a job” (É apenas um
trabalho). Este é o modo habitual que
eles encontram para justificar as funções negativas de suas atividades .
Mesmo que os implicados
saibam ou tenham alguma intuição de que seus trabalhos estão vinculados ao
objetivo de uma guerra para exterminar centenas de milhares de pessoas no
Oriente Médio, na Ásia, na África ou na América Latina, eles apelarão para o
mantra ideológico e dirão: “It is just a
job”.
Assim, me parece que elas
usam o slogan para tratar de escapar da responsabilidade moral, legal e
política de suas atividades ou livrar-se do sentimento de culpa pelas desgraças
que seus trabalhos infligem a outros seres humanos: os que são as suas vítimas.
Essa é a forma geral usado
pela sociedade civil dos EUA do slogan
especifico “I was Just following orders”
(eu apenas obedeci as minhas ordens) utilizado pelos militares de quase todo o
mundo para justificar a sua violência ou seus crimes contra outros seres
humanos.
Convém destacar que entre
os grupos de profissionais que mais apelam ao “it is just a job”, encontram-se, alem dos militares, os políticos, os
contadores e advogados das grandes corporações e dos grandes bancos e os
produtores de armas de guerra. Não tenho nenhum respeito por estes profissionais
e indivíduos que sempre procuram escapar do julgamento publico, recorrendo
constantemente ao uso e abuso do slogan
It’s just a job, que sem dúvida, é um dos mais eficientes para naturalizar e legitimar
ideologicamente o lado escuro e sombrio das suas atividades profissionais e das
instituições do sistema capitalista.
“Get the job done” (Faça o trabalho)
Outro enunciado (slogan ou mantra ideológico) que tenho
escutado sistematicamente no país é aquele que os indivíduos (os políticos
sobretudo) utilizam para se auto promover quando estão competindo por cargos
nas eleições públicas ou numa seleção de candidatos para postos bem remunerados
dentro do sistema: “I am the one who can
get the job done” (Eu sou o cara que realiza e conclui os trabalhos).
Algumas vezes pode-se
observar que os políticos deste pais fazem alguma pequena variação em torno do
tema central que geralmente toma a seguinte forma discursiva :”I am the candidate who gets the job done” ou ainda “I am
the man (or woman) who gets the job done”.
Mas o slogan está tão banalizado que
poucos são os críticos que se dão conta da sua eficácia ideológica.
Um destes críticos, Paul
Craig Roberts, é um destacado analista da política e da cultura estadunidense.
Certa feita, ele publicou um artigo na famosa revista estadunidense Counterpoint, onde revelou que quase nenhum funcionário público deste
país falava a verdade pois vive com medo de perder o emprego, perder o cargo no trabalho ou perder a
carreira profissional.
“The greatest democracy in the
world” (A
sociedade mais democrática do mundo)
Este é outro slogan que continua tendo um grande
poder de impedir o pensamento critico nos EUA. E surpreendente constatar que
embora as pessoas vivam num país onde a maioria delas atuam intimidadas e
aterrorizadas pelo medo de represálias, sigam afirmando,
sem nenhuma dúvida, que “vivem na
sociedade mais democrática do mundo”.
Na minha opinião, tudo isso não passa de uma grande farsa, pois,
na minha opinião, os indivíduos que
atuam sob o signo do medo, da prisão e da tortura, deveriam dar-se conta da
manipulação ideológica, negando-se a prosseguir com a propaganda de que vivem
na sociedade mais democrática do mundo
“All politicians lie” (Todos os políticos
mentem)
Outro enunciado (máxima ou
slogan) ideológico, que a maioria dos
estadunidenses repete diariamente para evitar tomar conhecimento, fazer reflexão
ou a participar politicamente na sua sociedade é aquela que diz : “All politicians lie” (Todos os políticos
mentem).
Desta forma, o indivíduo
evita o esforço para avaliar as diferenças entre os diversos tipos de mentiras
que existem no país: é inacreditável que eles nem sequer querem diferenciar
entre as mentiras que matam, das que não matam; as mentiras que provocam o genocídio
de milhões de seres humanos, das que tratam de evitar o sofrimento humano
daqueles que, por exemplo, padecem de câncer terminal.
Mesmo sendo em geral contra
qualquer tipo de mentira e particularmente contra as mentiras dos dois partidos
(democrata e republicano) no poder, não posso deixar de notar que existem
diferenças entre as mentiras, por exemplo, de um Bill Clinton (quando afirmou
não ter tido relação sexual com Monica Lewinsky, depois que ela praticou sexo
oral na Casa Branca), das mentiras de George W. Bush e Dick Chenney quando inventaram que Saddam Hussein tinha
armas de destruição massiva com o objetivo de invadir e iniciar a guerra contra
o Iraque (para se apropriar ilegalmente
dos seus poços de petróleo).
Na minha opinião, existe
uma grande diferença entre a mentira de um sujeito que diz que não possui 20 dólares
para emprestar ao vizinho, da mentira de um médico que, depois de assustar ao
paciente sobre sua situação de saúde, recomenda-lhe
uma caríssima cirurgia para tomar o
dinheiro do cara.
Repito: em geral, tenho
ficado estupefato ao descobrir que o estadunidense médio que não reconhece a
existência de diferentes tipos de mentiras está buscando um forte pretexto,
covarde e conformista, para não sair de cima do muro; para fugir da responsabilidade
moral e política de suas próprias decisões como cidadão do país.
Não querer diferenciar
entre os tipos de mentiras indica, na minha opinião, a absurda má fé dos
votantes, pois estão procurando escapar da responsabilidade das terríveis
decisões políticas de um governo que eles ajudaram a colocar no poder com seu
voto.
Enquanto o votante se
alienar de sua responsabilidade de levar o poder a sério, o governo
estadunidense continuará a contar suas mentiras quando quer obter consenso do
votante para produzir novas guerras, expandir a injustiça social, ou aumentar o
apoio às ditaduras sanguinárias no terceiro mundo.
Assim, devemos concluir: o
americano médio que repete estes slogans
ideológicos e regala o poder do seu voto ao político eleito (seja George W.
Bush ou Barack Obama), está colaborando para reproduzir a guerra, a fome e a injustiça
social, que tal político executa (fora de controle popular) em nome do povo de
uma nação. É por isso que, na minha opinião, o votante complacente não tem o direito a falar que o que acontece
de ruim na sociedade dos EUA, não é da sua responsabilidade. Eu diria que acontece ao contrario: tudo o que acontece de ruim dentro e fora da
sociedade capitalista estadunidense tem a co-responsabilidade social,
econômica, política, moral e cultural do americano médio.
Gostaria de concluir compartindo
com os leitores uma generalização que está baseada nas minhas experiências de
viagens pela América do Sul, América Central e América do Norte.
Tenho vivido em diferentes
países das três Américas e visitado muitos outros. Tenho, nestes países,
conhecido, direta ou indiretamente, a diversos tipos de pessoas que falam
línguas diferentes, que pertencem a distintas religiões, a diferentes
nacionalidades, a distintas classes sociais, a diferentes princípios éticos,
porém nunca conheci um país onde a hipocrisia, a desonestidade, o cinismo e a
mentira fossem as características predominantes
do modo de ser ideológico, político, social da maioria dos indivíduos como a
que observo e experimento dentro dos EUA.
Um comentário:
Um feliz resumo das frases feitas. Valeu.
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