terça-feira, 15 de maio de 2012

Farsas e frases de fachada nos EUA



Jorge Vital de Brito Moreira

Gostaria de compartilhar com os leitores de “Novas Pensatas”, quatro importantes enunciados ideológicos que têm colaborado para configurar o modo de ser politicamente alienado de indivíduos e classes sociais nos Estados Unidos da América na atualidade, ajudando, na minha opinião, a manter a hegemonia da classe dominante sobre a maioria da população do país.  
Os enunciados (slogans) são discursos ideológicos repetidos diariamente no país e podem ser sintetizados pelas seguintes sentenças: “It is just a job” (É apenas um trabalho); Get the job done” (Faça o trabalho); “The greatest democracy in the world” (A sociedade mais democrática do mundo); “All politicians lie” (Todos os políticos mentem).
(Como o leitor poderá observar este texto procura estabelecer relações entre discursos ideológicos e interesses políticos e sociais, utilizando a noção de ideologia como “ideias que permitem legitimar um poder político dominante numa sociedade formada e dividida pelas lutas entre classes sociais”).

It is just a job (É apenas um trabalho)

Vivendo nos EUA, fico cansado de ler, escutar e de assistir a personalidades públicas (militares, políticos, contadores, advogados e artistas) deste país afirmarem nos jornais, nas revistas e na TV, que profissionalmente estão fazendo o impossível para o bem estar da sociedade, da cultura e do seu povo.
Também tenho escutado esse mesmo tipo de declaração do estadunidense médio, ou seja, das bocas de vizinhos, de pessoas normais, de colegas de profissão (professores universitários), porem o que mais me surpreende é observar as reações que essas pessoas mostram quando se questiona a natureza duvidosa dos seus trabalhos.
Seja porque o que fazem é eticamente reprovável, de controvertida ilegalidade ou porque implica uma possível criminalidade. Cada vez que ouvem criticas às suas atividades profissionais, elas tomam uma posição defensiva e reagem ao questionamento, apelando para o slogan “It is just a job” (É apenas um trabalho).  Este é o modo habitual que eles encontram para justificar as funções negativas de suas atividades .
Mesmo que os implicados saibam ou tenham alguma intuição de que seus trabalhos estão vinculados ao objetivo de uma guerra para exterminar centenas de milhares de pessoas no Oriente Médio, na Ásia, na África ou na América Latina, eles apelarão para o mantra ideológico e dirão: “It is just a job”.
Assim, me parece que elas usam o slogan para tratar de escapar da responsabilidade moral, legal e política de suas atividades ou livrar-se do sentimento de culpa pelas desgraças que seus trabalhos infligem a outros seres humanos: os que são as suas vítimas. 
Essa é a forma geral usado pela sociedade civil dos EUA do slogan especifico “I was Just following orders” (eu apenas obedeci as minhas ordens) utilizado pelos militares de quase todo o mundo para justificar a sua violência ou seus crimes contra outros seres humanos.
Convém destacar que entre os grupos de profissionais que mais apelam ao “it is just a job”, encontram-se, alem dos militares, os políticos, os contadores e advogados das grandes corporações e dos grandes bancos e os produtores de armas de guerra. Não tenho nenhum respeito por estes profissionais e indivíduos que sempre procuram escapar do julgamento publico, recorrendo constantemente ao uso e abuso do slogan It’s just a job, que sem dúvida, é  um dos mais eficientes para naturalizar e legitimar ideologicamente o lado escuro e sombrio das suas atividades profissionais e das instituições do sistema capitalista.

Get the job done (Faça o trabalho)

Outro enunciado (slogan ou mantra ideológico) que tenho escutado sistematicamente no país é aquele que os indivíduos (os políticos sobretudo) utilizam para se auto promover quando estão competindo por cargos nas eleições públicas ou numa seleção de candidatos para postos bem remunerados dentro do sistema: “I am the one who can get the job done” (Eu sou o cara que realiza e conclui os trabalhos).
Algumas vezes pode-se observar que os políticos deste pais fazem alguma pequena variação em torno do tema central que geralmente toma a seguinte forma  discursiva :”I am the candidate who gets the job done” ou ainda  “I am the man (or woman) who gets the job  done”. Mas o slogan está tão banalizado que poucos são os críticos que se dão conta da sua eficácia ideológica.
Um destes críticos, Paul Craig Roberts, é um destacado analista da política e da cultura estadunidense. Certa feita, ele publicou um artigo na famosa revista  estadunidense Counterpoint, onde revelou que quase nenhum funcionário público deste país falava a verdade pois vive com medo de perder o emprego,  perder o cargo no trabalho ou perder a carreira profissional.

The greatest democracy in the world (A sociedade mais democrática do mundo)

Este é outro slogan que continua tendo um grande poder de impedir o pensamento critico nos EUA. E surpreendente constatar que embora as pessoas vivam num país onde a maioria delas atuam intimidadas e aterrorizadas pelo medo de represálias,  sigam  afirmando, sem  nenhuma dúvida, que “vivem na sociedade mais democrática do mundo”.
Na minha opinião,  tudo isso não passa de uma grande farsa, pois, na minha opinião, os indivíduos  que atuam sob o signo do medo, da prisão e da tortura, deveriam dar-se conta da manipulação ideológica, negando-se a prosseguir com a propaganda de que vivem na sociedade mais democrática do mundo

All politicians lie (Todos os políticos mentem)

Outro enunciado (máxima ou slogan) ideológico, que a maioria dos estadunidenses repete diariamente para evitar tomar conhecimento, fazer reflexão ou a participar politicamente na sua sociedade é aquela que diz : “All politicians lie” (Todos os políticos mentem).  
Desta forma, o indivíduo evita o esforço para avaliar as diferenças entre os diversos tipos de mentiras que existem no país: é inacreditável que eles nem sequer querem diferenciar entre as mentiras que matam, das que não matam; as mentiras que provocam o genocídio de milhões de seres humanos, das que tratam de evitar o sofrimento humano daqueles que, por exemplo, padecem de câncer terminal.
Mesmo sendo em geral contra qualquer tipo de mentira e particularmente contra as mentiras dos dois partidos (democrata e republicano) no poder, não posso deixar de notar que existem diferenças entre as mentiras, por exemplo, de um Bill Clinton (quando afirmou não ter tido relação sexual com Monica Lewinsky, depois que ela praticou sexo oral na Casa Branca), das mentiras de George W. Bush e Dick Chenney  quando inventaram que Saddam Hussein tinha armas de destruição massiva com o objetivo de invadir e iniciar a guerra contra o Iraque (para  se apropriar ilegalmente dos seus poços de petróleo).
Na minha opinião, existe uma grande diferença entre a mentira de um sujeito que diz que não possui 20 dólares para emprestar ao vizinho, da mentira de um médico que, depois de assustar ao paciente sobre sua situação de saúde,  recomenda-lhe uma caríssima cirurgia para  tomar o dinheiro do cara.
  
Repito: em geral, tenho ficado estupefato ao descobrir que o estadunidense médio que não reconhece a existência de diferentes tipos de mentiras está buscando um forte pretexto, covarde e conformista, para não sair de cima do muro; para fugir da responsabilidade moral e política de suas próprias decisões como cidadão do país.
Não querer diferenciar entre os tipos de mentiras indica, na minha opinião, a absurda má fé dos votantes, pois estão procurando escapar da responsabilidade das terríveis decisões políticas de um governo que eles ajudaram a colocar no poder com seu voto.
Enquanto o votante se alienar de sua responsabilidade de levar o poder a sério, o governo estadunidense continuará a contar suas mentiras quando quer obter consenso do votante para produzir novas guerras, expandir a injustiça social, ou aumentar o apoio às ditaduras sanguinárias no terceiro mundo.
Assim, devemos concluir: o americano médio que repete estes slogans ideológicos e regala o poder do seu voto ao político eleito (seja George W. Bush ou Barack Obama), está colaborando para reproduzir a guerra, a fome e a injustiça social, que tal político executa (fora de controle popular) em nome do povo de uma nação. É por isso que, na minha opinião, o votante complacente  não tem o direito a falar que o que acontece de ruim na sociedade dos EUA, não é da sua responsabilidade.  Eu diria que acontece ao contrario:  tudo o que acontece de ruim dentro e fora da sociedade capitalista estadunidense tem a co-responsabilidade social, econômica, política, moral e cultural do americano médio.
Gostaria de concluir compartindo com os leitores uma generalização que está baseada nas minhas experiências de viagens pela América do Sul, América Central e América do Norte.
Tenho vivido em diferentes países das três Américas e visitado muitos outros. Tenho, nestes países, conhecido, direta ou indiretamente, a diversos tipos de pessoas que falam línguas diferentes, que pertencem a distintas religiões, a diferentes nacionalidades, a distintas classes sociais, a diferentes princípios éticos, porém nunca conheci um país onde a hipocrisia, a desonestidade, o cinismo e a mentira fossem as características  predominantes do modo de ser ideológico, político, social da maioria dos indivíduos como a que observo e experimento dentro dos EUA.

Um comentário:

Joelma disse...

Um feliz resumo das frases feitas. Valeu.