Quando pensamos no que de fato
aconteceu com os caminhos da revolução no século passado, principalmente nos
desvios que a levaram a sucumbir frente à história, não podemos esquecer Leon
Trotsky e sua crítica veemente a Stalin e à burocracia implantada na União
Soviética.
Certamente nos encontramos numa
encruzilhada, na qual o capitalismo faliu mas não existe um contraponto
imediato à sua sucessão, simplesmente porque o que foi implantado naquele
período levou ao desfecho que hoje conhecemos muito bem.
A esquerda em todo o mundo
procura novos caminhos, em meio à massificação da propaganda --por parte da
classe dominante-- do fim das ideologias, quiçá da própria história. E indo de
encontro à dura realidade de que o socialismo real no século 20 foi um real fracasso
(1).
Para isto, escolhi dois pequenos
trechos de dois livros marcantes que podem servir de exemplo ao que pensava de
tudo isto o fundador da IV Internacional.
Neste, do livro “A Revolução
permanente” [1929], por exemplo, Trotsky deixa muito clara a sua visão em
relação aos caminhos do socialismo em um momento no qual o stalinismo, por
conta da teoria de “construção do socialismo em um só país”, afastava-se a cada
instante da essência internacionalista das relações de produção necessário a um
novo sistema sócio econômico.
“Em seu terceiro aspecto, a teoria da revolução
permanente implica o caráter internacional da revolução socialista que resulta
do estado da economia e da estrutura social da humanidade. O internacionalismo
não é um princípio abstrato: ele não é senão o reflexo político e teórico do
caráter mundial da economia, do desenvolvimento mundial das forças produtivas e
do ímpeto mundial da luta de classes. A revolução socialista começa no âmbito
nacional mas nele não pode permanecer. A revolução pro1etária não pode ser
mantida em limites nacionais senão sob a forma de um regime transitório, mesmo
que este dure muito tempo, como o demonstra o exemplo da União Soviética. No
caso de existir uma ditadura proletária isolada, as contradições internas e
externas aumentam inevitavelmente e ao mesmo passo que os êxitos. Se o Estado
proletário continuar isolado, ele, ao cabo, sucumbirá vítima dessas
contradições. Sua salvação reside unicamente na vitória do proletariado dos
países avançados. Deste ponto de vista, a revolução nacional não constitui um
fim em si, apenas representa um elo da cadeia internacional. A revolução
internacional, a despeito de seus recuos e refluxos provisórios, representa um
processo permanente.”
Já no parágrafo abaixo, extraído
do livro “A Revolução traída” [1936], ele aborda diretamente a burocracia e o
comportamento corrosivo desta “nova classe” que levou à destruição da URSS.
“Paralelamente à
degenerescência política do partido, acentuou-se a corrupção de uma burocracia
que escapava a qualquer controle. Aplicada ao grande funcionário privilegiado,
o termo “sovbour” - burguês soviético - entrou em boa hora no vocabulário
operário. Com a NEP, as tendências burguesas beneficiaram de um campo mais
favorável. Lênin punha em guarda o XI Congresso do partido, em março de 1922,
contra a corrupção dos meios dirigentes. ‘Mais de uma vez aconteceu na
História’, dizia ele, ‘ter o vencedor adotado a civilização do vencido, se esta
era superior. A cultura da burguesia e da burocracia russas era miserável, sem
dúvida. Mas as novas camadas dirigentes não são ainda superiores a essa
cultura. Quatro mil e setecentos comunistas responsáveis dirigem em Moscou a
máquina governamental. Quem dirige e quem é dirigido? Tenho muitas dúvidas que
se possa dizer que são os comunistas quem dirigem’. Lênin nunca mais pôde tomar
a palavra nos congressos do partido. Mas todo o seu pensamento, nos últimos
meses da sua vida, se dirigiu para a necessidade de precaver e armar os
operários contra a opressão, o arbítrio e a corrupção burocrática. Contudo,
nunca chegou a observar senão os primeiros sintomas do mal.”
1. Pode para muitos parecer dura demais esta frase,
mas ela reflete o que de fato aconteceu com o “pseudo socialismo stalinista”,
pois se por um lado o surgimento da URSS refletiu-se positivamente no mundo
inteiro, colocando a burguesia contra a parede a tentar reformas para enfrentar
o “perigo”, por outro, a burocratização progressiva do sistema ali implantado
minou suas bases, levando-o a uma deturpação e à criação de um regime corrupto
e, em resumo, nada mais do que um “capitalismo de estado”, tão cruel quanto o
capitalismo vigente no ocidente.
2 comentários:
Trotsky foi 'apagado' das imagens de 'Outubro' ('Oktiabre, 1927), de Sergei Eisenstein, porque, quando o filme ficou pronto, já estava postergado por Stálin. O que seria da União Soviética se Trotsky tivesse subido ao poder?
Apagaram Trotsky de dezenas de fotos oficias. E naquele tempo não tinha Photoshop... Quer dizer, dava uma trabalheira dos diabos!
Quanto á sua pergunta, é uma incógnita. Mas certamente com ele o caminho seria outro. Masmo que isto levasse ao fim da URSS, pois o que justamente "ferrou" tudo foi tentar construir o "socialismo em um só país". País é um conceito burguês...
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