domingo, 20 de maio de 2012

Pensatas de domingo


Quando pensamos no que de fato aconteceu com os caminhos da revolução no século passado, principalmente nos desvios que a levaram a sucumbir frente à história, não podemos esquecer Leon Trotsky e sua crítica veemente a Stalin e à burocracia implantada na União Soviética.
Certamente nos encontramos numa encruzilhada, na qual o capitalismo faliu mas não existe um contraponto imediato à sua sucessão, simplesmente porque o que foi implantado naquele período levou ao desfecho que hoje conhecemos muito bem.
A esquerda em todo o mundo procura novos caminhos, em meio à massificação da propaganda --por parte da classe dominante-- do fim das ideologias, quiçá da própria história. E indo de encontro à dura realidade de que o socialismo real no século 20 foi um real fracasso (1).
Para isto, escolhi dois pequenos trechos de dois livros marcantes que podem servir de exemplo ao que pensava de tudo isto o fundador da IV Internacional.

Neste, do livro “A Revolução permanente” [1929], por exemplo, Trotsky deixa muito clara a sua visão em relação aos caminhos do socialismo em um momento no qual o stalinismo, por conta da teoria de “construção do socialismo em um só país”, afastava-se a cada instante da essência internacionalista das relações de produção necessário a um novo sistema sócio econômico.

“Em seu terceiro aspecto, a teoria da revolução permanente implica o caráter internacional da revolução socialista que resulta do estado da economia e da estrutura social da humanidade. O internacionalismo não é um princípio abstrato: ele não é senão o reflexo político e teórico do caráter mundial da economia, do desenvolvimento mundial das forças produtivas e do ímpeto mundial da luta de classes. A revolução socialista começa no âmbito nacional mas nele não pode permanecer. A revolução pro1etária não pode ser mantida em limites nacionais senão sob a forma de um regime transitório, mesmo que este dure muito tempo, como o demonstra o exemplo da União Soviética. No caso de existir uma ditadura proletária isolada, as contradições internas e externas aumentam inevitavelmente e ao mesmo passo que os êxitos. Se o Estado proletário continuar isolado, ele, ao cabo, sucumbirá vítima dessas contradições. Sua salvação reside unicamente na vitória do proletariado dos países avançados. Deste ponto de vista, a revolução nacional não constitui um fim em si, apenas representa um elo da cadeia internacional. A revolução internacional, a despeito de seus recuos e refluxos provisórios, representa um processo permanente.”

Já no parágrafo abaixo, extraído do livro “A Revolução traída” [1936], ele aborda diretamente a burocracia e o comportamento corrosivo desta “nova classe” que levou à destruição da URSS.

“Paralelamente à degenerescência política do partido, acentuou-se a corrupção de uma burocracia que escapava a qualquer controle. Aplicada ao grande funcionário privilegiado, o termo “sovbour” - burguês soviético - entrou em boa hora no vocabulário operário. Com a NEP, as tendências burguesas beneficiaram de um campo mais favorável. Lênin punha em guarda o XI Congresso do partido, em março de 1922, contra a corrupção dos meios dirigentes. ‘Mais de uma vez aconteceu na História’, dizia ele, ‘ter o vencedor adotado a civilização do vencido, se esta era superior. A cultura da burguesia e da burocracia russas era miserável, sem dúvida. Mas as novas camadas dirigentes não são ainda superiores a essa cultura. Quatro mil e setecentos comunistas responsáveis dirigem em Moscou a máquina governamental. Quem dirige e quem é dirigido? Tenho muitas dúvidas que se possa dizer que são os comunistas quem dirigem’. Lênin nunca mais pôde tomar a palavra nos congressos do partido. Mas todo o seu pensamento, nos últimos meses da sua vida, se dirigiu para a necessidade de precaver e armar os operários contra a opressão, o arbítrio e a corrupção burocrática. Contudo, nunca chegou a observar senão os primeiros sintomas do mal.”

1. Pode para muitos parecer dura demais esta frase, mas ela reflete o que de fato aconteceu com o “pseudo socialismo stalinista”, pois se por um lado o surgimento da URSS refletiu-se positivamente no mundo inteiro, colocando a burguesia contra a parede a tentar reformas para enfrentar o “perigo”, por outro, a burocratização progressiva do sistema ali implantado minou suas bases, levando-o a uma deturpação e à criação de um regime corrupto e, em resumo, nada mais do que um “capitalismo de estado”, tão cruel quanto o capitalismo vigente no ocidente.

2 comentários:

André Setaro disse...

Trotsky foi 'apagado' das imagens de 'Outubro' ('Oktiabre, 1927), de Sergei Eisenstein, porque, quando o filme ficou pronto, já estava postergado por Stálin. O que seria da União Soviética se Trotsky tivesse subido ao poder?

Jonga Olivieri disse...

Apagaram Trotsky de dezenas de fotos oficias. E naquele tempo não tinha Photoshop... Quer dizer, dava uma trabalheira dos diabos!
Quanto á sua pergunta, é uma incógnita. Mas certamente com ele o caminho seria outro. Masmo que isto levasse ao fim da URSS, pois o que justamente "ferrou" tudo foi tentar construir o "socialismo em um só país". País é um conceito burguês...