domingo, 29 de julho de 2012

Pensatas de domingo e a utopia da democracia


Gostaria de abordar o conceito de ditadura desde os tempos romanos, quando surgiu, até a ditadura nos dias de hoje. Mas existe também um abismo entre o conceito de democracia grega (ateniense), a romana e o que temos e assistimos atualmente. Para fazermos uma análise disto, precisamos descer às suas origens e depois compará-las ao presente.

Os cidadãos gregos adultos masculinos nascidos em Atenas, passaram a decidir os destinos da cidade na Ágora (a praça pública). Era a “democracia direta”. Demokratia: os cidadãos (demos) detinham o poder político (kratos) do Estado. Segundo Péricles: “o regime ateniense se chama democracia, pois o governo do estado não está nas mãos de poucos, mas de muitos”.

Durante séculos a democracia foi jogada ao ostracismo, esquecida. O poder imperial romano a enterrou, a Idade Média a execrou e ela só veio ressurgir com mais força no século XVIII, através da Revolução Americana, dos Iluministas e da Revolução Francesa. Desta época em diante foi crescendo em termos de presença e diversas formas, reincorporando-se ao dicionário político.

Vivemos um período histórico em que o significado da palavra sofreu uma imensa vulgarização e deturpação. Por outro lado, nunca foi tão mal interpretada, e de forma tão extensa. A democracia atrelada ao poder econômico não é democracia. Por que? Antes de mais nada, a confusão gerada entre democracia e o simples ato de votar em alguém caiu no jargão popular. E democracia não é apenas votar. Democracia é um estado de coisas que deve gerir a liberdade de expressão, e tantas outras. E não somente liberdade de expressão daquilo que não incomoda de fato o estado vingente, mas teoricamente, de tudo. Atingi-la é uma tarefa árdua. Impossível na forma em que a conhecemos.

Hoje, votam-se em parlamentares, que se julgam representantes. Mas representantes de quem? O povo pode considerar seu representante o eleito por ele, mas que antes de mais nada está atrelado aos seus compromissos com quem o financiou. Pode um parlamentar, eleito com as verbas de uma empresa ou um grupo de empresas votar contra os interesses desta ou destas? Este é o “calcanhar de Aquiles” da “democracia” nos estados modernos. Os eleitos são apenas fantoches daqueles que realmente os elegeram. E este alguém não é o povo, que foi apenas um instrumento adequado para a concretização da ação pelo voto numa grande farsa montada. Os interesses que elegeram estes “representantes”, é que, na verdade manipulam os seus atos.

Democracia passou a ser uma forma do sistema influenciar a opinião pública em defesa da propriedade privada. Por outro lado, é a grande propriedade a forma menos democrática de distribuição de renda e a maior geradora das desigualdades. A partir do momento em que a humanidade estabeleceu-se, cultivou terras, apoderou-se delas, as injustiças começaram a surgir e se aprofundar em escala sempre progressiva. Surgiram o senhor e o escravo, as religiões e seus sacerdotes defendendo a propriedade. E culminamos com o domínio do grande capital. Vivemos a época dos impérios econômicos em que alguns poucos concentram a fortuna e o poder. Em que estes mesmos poucos se aproveitam do uso indevido do que chamamos de democracia como forma de defesa de seus interesses.

Outrossim, “verdade absoluta” é uma forma de pensamento anti democrático por excelência, pois marginaliza aqueles que estão em desacordo com os parâmetros estabelecidos e impostos como “verdadeiros”. Foi assim na Idade Média, através do Sacro Santo Império, que provocou com a Inquisição a maior carnificina até hoje conhecida. Também foi assim na Alemanha do III Reich e nos governos pseudo socialistas burocráticos do século passado. E continua assim no capitalismo neo liberal pós moderno, com sua muralha de conceitos e preconceitos estabelecidos e “inquestionáveis” que nos tornam prisioneiros, amarrados em verdadeiras camisas de força.

Enquanto isso, a democracia continua sendo a grande utopia inatingível...

2 comentários:

Joelma disse...

Melhor que esta democracia era o sistema eleitoral nos países socialistas (que vigora aé hoje em Cuba) em que se elegem os frepresentantes a partir da fábrica, do escritório, do bairro, da cidade, e aí pór diante.
O defeito é a vigência de um partido único, o que caracteriza um sistema totalitário.
Mas Marx não imaginou assim. Apenas em expurgar os partidos da burguesia, estes sim os verdeiros corruptores do comportamento políico.

Mário disse...

Um raciocínio claro e suscinto, como aliás é sua característica. E que não deixa dúvida alguma quanto a corrupção reinante na "democracia" (entre aspas mesmo) ocidental.