O
fundador do WikiLeaks concedeu, no
dia 30 de agosto, a primeira entrevista desde que fugiu de sua prisão
domiciliar e pediu asilo político à Embaixada do Equador.
Na
conversa com o jornalista Jorge Gestoso, transmitida pelo Canal Multiestatal TeleSur e pela equatoriana Gama TV, Assange qualificou a decisão do Equador de conceder-lhe
asilo como “correta”, porque é uma pessoa “perseguida política pelos Estados
Unidos e seus aliados”. O jornalista australiano afirmou que se uma pessoa
fizer algo que “vai de encontro à vontade dos Estados Unidos, algo de mal vai
acontecer com ela”.
A
entrevista aconteceu nas dependências da embaixada do Equador no Reino Unido,
onde Assange está alojado desde 19 de junho, data na qual deixou a prisão
domiciliar e pediu asilo político ao governo de Rafael Correa. A resposta
positiva para o pedido veio no dia 16 de agosto, momentos após o chanceler
equatoriano, Ricardo Patiño, alegar que o governo britânico pretendia invadir a
representação diplomática para prender o jornalista. O governo britânico negou-se
a conceder um salvo-conduto para o jornalista deslocar-se até o aeroporto e
seguir para Quito. “Eles (EUA) já disseram em documentos oficiais que não se
trata somente de acusar Julian Assange por espionagem, mas de parar as
atividades do Wikileaks”, relatou
Assange.
Em
um dos momentos da entrevista, o ativista australiano afirmou que está em
marcha uma espécie de “totalitarismo transnacional”, a partir da espionagem
deliberada de todos os dados pessoais disponíveis na internet, assim como todas
as ligações telefônicas. “Agora podem interceptar tudo, não é necessário
preocupar-se com algum suspeito. Simplesmente interceptam-se todos e
armazena-se tudo”, disse.
Ele
afirmou que empresas de espionagem já possuem tecnologia para armazenar todos
os dados pessoais e fornecer pesquisas cruzando informações. “O jogo novo é a
interceptação, registra-se tudo, é mais barato registrar tudo desde os EUA e
armazenar. Dentro de alguns anos, se te transformas em uma pessoa interessante
para as agências dos EUA e seus amigos, dizem: revisemos o que estava fazendo o
senhor Assange nestes últimos anos, quem são seus amigos, com quem ele se
comunicou”, explicou o jornalista, denominado o tal “totalitarismo
transnacional”, porque, para ele, não só os EUA estão praticando esse
monitoramento, mas também a Alemanha e outras importantes economias mundiais.
“Quando
fazemos uma pesquisa no Google, ele
registra tudo. O Google trabalha
desde os EUA e te conhece melhor do que você mesmo. Se você não recorda o que
buscava há dois dias, há três horas, o Google
recorda. Conhece-te melhor que tua mãe. Essas informações são armazenadas pelo Google, mas também são interceptadas
pelo Conselho Nacional de Segurança dos Estados
Unidos”, contou.
No
início de agosto, o WikiLeaks
publicou uma lista de 170 companhias de espionagem que atualmente já prestam
estes serviços para diversos governos ocidentais. O jornal britânico MailOnline publicou reportagem em 14 de
agosto onde descreve que, segundo e-mails
de funcionários da empresa de espionagem Strator,
vazados pelo Wikileaks, qualquer
pessoa que aponte uma câmara para algum monumento em Nova Iorque será
registrado como suspeito de terrorismo e será fotografado pela vasta rede de
câmeras conectadas ao governo estadunidense. Segundo o e-mail, a empresa que fornece este serviço é a estadunidense Abraxas e o sistema, chamado TrapWire, já funciona no Reino Unido,
Canadá e vários estados dos EUA.
Nas
últimas semanas, o Equador recebeu o apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) e da União de Nações Sul-americanas (Unasul)
pela concessão do asilo a Assange. O jornalista elogiou e agradeceu a posição
dos países da América Latina em apoiar a decisão do Equador ao conceder-lhe
asilo político. “Penso que é importante essa solidariedade latinoamericana”,
disse. O jornalista vê a América Latina como um bloco alternativo a estes
movimentos autoritários e de ameaças às liberdades individuais.
O
entrevistador, Jorge Gestoso, também perguntou a Assange sobre a acusação que
pesa sobre ele de “abuso sexual”. Ele lembra que nenhuma mulher compareceu a
uma delegacia para apresentar queixa contra ele, mas apenas a própria polícia
suíça. O jornalista não quis falar com mais detalhes sobre a acusação,
afirmando que são esdrúxulas, e comparou o caso com os porcos. “Quando uma
acusação como essa circula nos meios de comunicação, não se pode responder.
Porque é como lutar com um porco, você se suja com lama, mas isso convém às
pessoas que lançam a lama”, explicou.
Afirmando
que acredita na diplomacia, Assange calcula que poderá sair da embaixada do
Equador em “seis a doze meses", dependendo dos acontecimentos
internacionais. Diz também que deve continuar “a luta” de uma “organização que
crê nos direitos humanos”, como descreveu o Wikileaks.
3 comentários:
A que ponto chegaram na sua decadência.
Já não conseguem disfarçar o fascismo residente no capitalismo, coisa que fizeram bem durante quase todo o Século XX.
Quando dizem textualmente: “Eles (EUA) já disseram em documentos oficiais que não se trata somente de acusar Julian Assange por espionagem, mas de parar as atividades do Wikileaks” provam que a liberdade é permitida até não incomodar de fato, como você sempre se refere.
Pelo que ele (Assange) relata, isso tudo virou uma trama de ficção-científica em que somos vigiados e catalogados a cada instante pela internet.
Apavorante, esta é a realidade, mas parece um filme de terror!
De facto chegamos a George Orwell!
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