sábado, 15 de setembro de 2012

Obama mostra-se amigável ao empreendorismo, antes que a próxima labareda venha lamber tudo


Sandra Starling*
Publicado em 13/09/2012 na “Tribuna da Internet” e transcrito neste blogue.

Acompanhei pela TV, nos EUA, a recente convenção do Partido Democrata, realizada em Charlotte, Carolina do Norte. O entusiasmo já não era o mesmo da convenção anterior, ocorrida em Denver, há quatro anos. Os jornalistas informaram a presença de 25 mil delegados no centro de convenções; em 2008, eram mais de 100 mil militantes num estádio de futebol. Não houve surpresas. O nome de Barack Obama como candidato à presidência foi confirmado unanimamente. Agora, o slogan “Forward” (em frente) substitui o batido “Yes, we can” (sim, nós podemos).
O que realmente surpreende é uma candidatura moderada ser acusada pelos oponentes republicanos de “socialista”. Obama não permitiu sequer que a palavra “Deus” deixasse de constar da plataforma do partido. Da mesma forma, exigiu que fosse escrito no programa, como sempre aconteceu, que Jerusalém deve ser considerada a capital do Estado de Israel. É bom esclarecer que nenhum governo norte-americano, até hoje, deu passos concretos para retirar a embaixada de Tel Aviv.
A estrategista da campanha republicana, Mary Matalin, registrou que Obama tem procurado, o tempo todo, mostrar-se amigável ao empreendedorismo. Em suas referências à criação de novos empregos (mais de 4 milhões, mas com salários mais baixos do que os concedidos antes da crise de 2008), sempre destaca que são postos no setor privado. Tudo para desfazer a imagem de esquerdista, o que, efetivamente, ele não é.
No ideário democrata, todos os discursos giram em torno de uma expressão mágica: “classe média”.

É A CLASSE MÉDIA, ESTÚPIDO
  
Afinal, o novo mantra de James Carville, estrategista democrata (e ainda marido da mencionada Mary Matalin), é: “It´s the middle class, stupid!”. Em sua carismática fala, o ex-presidente Bill Clinton reforçou o clichê da doutrina neokeynesiana. Por sua vez, Joe Biden, o vice de Obama, tentou definir, em seu pronunciamento, o que é ser da classe média. De suas redondilhas e seus circunlóquios, pode-se deduzir o que seja isso: dê-me algum emprego, um seguro-saúde e um financiamento subsidiado para a universidade de meu filho, e pronto! Nada mais me importa.
Isso se parece com as palavras de Lula, ao dizer que o pobre se contenta com pouco. Pensar que as sociedades possam ser organizadas de uma forma diferente é algo complicado, que não cabe a qualquer um.
As pesquisas vêm indicando a aprovação do governo Obama (53%), e, se não houver nenhum acidente de percurso, o democrata deverá ser reeleito.
Curiosamente, leio, ao mesmo tempo, a tão citada matéria da “Forbes” sobre a presidente Dilma Rousseff. Carville volta à cena como autor do próximo livro a ser lido pela chefe de governo brasileira, definida, agora, como uma “ex-marxista que estimula o empreendedorismo”. Resta saber até quando essa história de “classe média” dará certo nos EUA e no Brasil.
O mais bizarro é que até alguns oráculos do capitalismo têm revisitado os livros de Marx em busca de uma resposta consistente, antes que a labareda da próxima crise, como diria Jards Macalé, venha lamber tudo!

(*) Aos 38 anos, Sandra Starling foi a primeira candidata do PT ao governo de Minas Gerais. Depois foi deputada estadual, federal, secretária municipal de educação e secretária executiva do Ministério do Trabalho e Emprego, advogada e professora de Sociologia, Metodologia e Direito.
Em junho de 2010 desligou-se do PT, alegando que: “o erro do partido foi ter se locupletado do que encontrou. E que o Ministério Público Federal não durma distraído…” aliando-se então ao Movimento Marina Silva.


2 comentários:

Misael de Silva Costa disse...

"It´s the middle class, stupid!"´é uma das melhores conclusões a que se pode chegar.
Afinal a classe média é a pequeno burguesia. E Marx já havia falado sobre a sua estupidez!

Joelma disse...

Excelente este texto da Sandra Starling!